Estudo de Caso na Abordagem do Psicodrama
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- Yasmin Castanho Marques
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1 Estudo de Caso na Abordagem do Psicodrama Júlia Linéia Schapuiz Acadêmica e Estagiária de Psicologia Ms. Evandir Bueno Barasuol Professora e Orientadora O presente estudo trata-se de um caso clínico do Serviço de Clínica-Escola de Psicologia da SETREM (SERCEPS). Importante ressaltar que todos os cuidados foram tomados para que fosse preservada a identidade do paciente e de seus familiares. Além disso, os pais também assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Cleiton¹, 13 anos de idade, vem encaminhado pelo psiquiatra local. O adolescente apresenta terror noturno, e chama a mãe para dormir consigo durante a madrugada. Essa cena se repete todas as noites. Quando amanhece o dia, Cleiton vai à escola, mas está sonolento e indisposto, não consegue prestar atenção nos conteúdos passados pela professora e os pais de Cleiton também se queixam da irritabilidade do adolescente. O método psicoterapêutico utilizado para o atendimento de Cleiton é o Psicodrama, criado por Jacob Levy Moreno por volta de A sessão de Psicodrama tem uma estruturação composta pelo aquecimento, dramatização e compartilhamento. Dessa forma, a intervenção do caso foi realizada baseando-se na linha teórica do Psicodrama, em que se utilizou o Psicodrama Bipessoal² introduzindo técnicas psicodramáticas apropriadas para cada situação. Dentre estas, a que mais utilizamos nos atendimentos de Cleiton foi a Técnica de Construção de Imagens com Tecidos, que é uma contribuição teórico-prática de Rojas-Bermúdez ao psicodrama e, mais
2 especificamente, à etapa de dramatização e à compreensão de sua dinâmica (Khouri & Machado, 2008, p. 80). É no aqui agora que o sujeito constrói uma imagem com tecidos, na qual não é incluído. Dito de outra forma, o autor cria algo que pode analisar de longe. O principal fator terapêutico é a experiência emocional corretiva. Se a pessoa viveu uma experiência traumática importante na primeira infância, essa experiência é fixada na memória implícita e pode produzir algum tipo de sintoma na vida posterior. Re-vivenciando com toda intensidade a situação traumática, o sintoma é reproduzido no espaço seguro do palco psicodramático e sua realidade suplementar. (...) Aí se encena a experiência traumática da mesma forma como está armazenada na memória implícita do protagonista (Tarashoeva & Marinova, 2008, p.28). No Psicodrama, com a utilização da Técnica de Construção de Imagens constróise uma nova memória referente à experiência traumática, esta é positiva, tendo a mesma força que a antiga. Dessa forma, as duas constituem um paralelo e se equilibram, consequentemente, o circuito associativo do sintoma é interrompido, e este desaparece. Guimarães (2012) aponta que transformar as imagens mentais em imagens psicodramáticas estimula a construção de novos circuitos neuronais, produzindo novas aprendizagens cognitivas, emocionais e comportamentais.
3 Podemos pensar, dessa forma, que durante a transformação da imagem mental em imagem psicodramática, novos sentidos são conferidos às imagens psicodramáticas, onde seus significados encobertos são capazes de modificar o comportamento do sujeito em determinada situação de conflito. A construção de imagens possibilita uma compreensão estrutural e linear, e não apenas linear intelectual, obedecendo a uma lógica própria, mais livre das determinações sociais. É a diferença entre argumentar (palavra) e pensar (imagem). Rojas- Bermúdez enuncia que em muitos casos, quando o método de imagens é utilizado, algo acontece, fazendo que os sintomas desapareçam. Enquanto vai construindo a imagem, a pessoa pode comparar e reajustar suas imagens externa e interna (mental). Esse processo, denominado re-aferência, é favorecido pela permanência das imagens durante a sessão e por sua semelhança com as imagens mentais. A re-aferência integra o motor (ação) e aspectos visuais, além de reorganizar os conteúdos mentais. Em particular, acontece primeiramente baseada em atos do corpo e em feedback visual (Khouri & Machado, 2008 pg. 99). Pela re-aferência é possível desdobrar a imagem criada e transformá-la em outras, com conteúdos diferenciados, possibilitando dessa forma, um aprofundamento do conteúdo originalmente abordado.
4 CONTEXTUALIZAÇÃO DO CASO: O PALCO CLÍNICO E OS TRANSBORDAMENTOS DE SI MESMO Iniciei os atendimentos utilizando alguns objetos intermediários dentre eles, desenhos, botões e almofadas, a seguir, utilizei a Técnica de Construção de Imagens (TCI) de Bermúdez Construção de Imagens com Tecidos (CIT), também a tomada de papeis, entrevista de papel e inversão de papeis. Dentre 15 sessões, considero pontuais para a evolução, e foram as questões centrais do caso, as seguintes: A espontaneidade no primeiro entreolhar Em março iniciei o atendimento do adolescente. Inicialmente solicitei para que ele fizesse um desenho mostrando como foram suas férias, respectivamente, o que lhe aconteceu de melhor, o que na gostou, trazendo os sentimentos que compuseram esses momentos. Cleiton foi muito rápido e objetivo, fazendo todos os desenhos agilmente, e ressaltou que queria desenhar que lhe deu medo. Enquanto concluía os desenhos, relatou que o desenho mais difícil de fazer foi o que aconteceu de melhor a ele nas férias. Um dos desenhos que chamou atenção foi sobre os seus medos, em que desenhou uma cobra e uma aranha. Pronto! disse Cleiton. - Hum... Então esses são seus medos... Tem mais algum para acrescentar? Pergunto. Então, ele volta a desenhar. Acrescenta ainda o medo do escuro, o medo de dormir sozinho e o medo de morrer. Após o término, conversamos sobre os desenhos, e outros assuntos que Cleiton trazia. Onde o medo não me encontra
5 Sugiro, mais uma vez, que Cleiton desenhe seu maior medo. O desenho ilustra o menino sentado na cama e um homem a sua frente, intitulado: o menino que não dorme sozinho. Junto com o desenho, vem a descrição do homem que está a sua frente: ele tem uma arma na cintura e usa roupa preta e uma touca que cobre seu rosto. Após terminar o desenho, Cleiton conta que quando dorme na casa de sua irmã, apesar de acordar de madrugada, não sente medo, pois imagina que o homem não irá encontrá-lo. Dos panos e almofadas que acolhem Cleiton chega para a sessão contando que dormiu sozinho na noite passada. Pedi para que ele olhasse os desenhos que fez no encontro passado, perguntei se gostaria de acrescentar mais algo, ele diz que era dessa forma que acontecia. Então, sugeri que colocássemos em cena a madrugada sem dormir. O adolescente usou dois travesseiros e um lençol branco que foi sua cama, e no aqui-e-agora reproduziu a cena que ilustrava Cleiton acordando pela madrugada examinando o quarto e vendo o homem. Na entrevista no papel, Cleiton diz que sente medo, mais nada. Nisso, toma o papel do homem. Utilizo, novamente, a técnica da entrevista no papel para saber mais sobre o homem que causa medo a Cleiton. Esse homem chama-se José e veio para fazer medo no Cleiton, pois não tinha nada mais para fazer. Cleiton volta a assumir o seu papel, senta-se na cama e diz que de hoje em diante não vai mais sentir medo dele. Então, Cleiton assume o papel de José. Pergunto se ele ouviu o que Cleiton lhe disse. Respondeu que sim, e que a partir de hoje teria que
6 procurar outras crianças para assustar. Também questiono da sua arma na cintura, ele responde que nunca havia usado e que servia só para dar medo. Após esse movimento, sentamo-nos para o momento de compartilhar as experiências que foram vivenciadas e Cleiton diz que daqui pra frente não vai mais sentir medo desse homem, pois se sentia envergonhado por isso. O medo cai no sono Cleiton está feliz, pois na última semana tem dormido sozinho. Sugiro então que criemos uma imagem que fizesse alusão a semana que passou. O menino cria a imagem dele dormindo sozinho, e José atrás dele. Depois de pronta a imagem, ficamos em pé e observamos. Cleiton diz que o homem está atrás de sua cama, pois está indo embora, já não vai mais assustá-lo. O título dessa imagem é: o homem que deixou de assustar crianças. Para finalizar a sessão, digo para Cleiton despedir-se de José. Cleiton então pega na mão de José e se despede: Tchau José, nunca mais quero te ver... Nunca mais assusta ninguém! Cleiton entra no papel de José e responde: Nunca mais vou te assustar. Verificou-se que os sintomas e as queixas trazidas no início do tratamento, aos poucos foram desaparecendo, e a melhora de Cleiton foi confirmada pelas palavras da mãe: Hoje o Cleiton dorme sozinho a noite inteira, parou com o uso de medicamentos, está mais calmo e aceita melhor as coisas. Além da mãe, Cleiton também pontua: Hoje eu tenho mais amigos e as professoras da escola me elogiam, dizendo que hoje estou mais empenhado nos estudos.
7 Constatou-se que a abordagem terapêutica, embasada no método psicodramático com a Técnica de Construção de Imagens, possibilitou que Cleiton entrasse em contato com seus conflitos internos e reelaborasse seus medos. De acordo com os fenômenos de neuroplasticidade e re-aferência citados anteriormente, podemos entender que para que houvesse uma melhora significativa nos sintomas que Cleiton apresentava foi necessário haver uma re-elaboração dos conteúdos trabalhados, permitindo a re-aferência de imagens mentais, possibilitando assim, a ativação de novos padrões neurais que nortearão comportamentos no aqui-e-agora e no futuro, privilegiando a substituição de imagens mentais negativas por imagens mentais positivas, direcionando o exercício para a espontaneidade criadora (Guimarães, 2012). Referências Tarashoeva, G. & Marinova, P. (2008) Neuroplasticidade e mudança terapêutica. In: Fleury, J. H., & Khouri, S. G., & Hug, E. (2008). Psicodrama e Neurociência: Conribuições para mudança terapêutica. São Paulo: Ágora. Guimarães, A. L. (2012). Percurso Neural da Imagem para Além das Sombras. Khouri, S. G. & Machado, L. M. (2008). Imagem Psicodramática e a técnica da construção de imagens. In: Fleury, J. H., & Khouri, S. G., & Hug, E. (2008). Psicodrama e Neurociência: Contribuições para mudança terapêutica. São Paulo: Ágora.
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