DIAGNÓSTICO SOBRE A SUSTENTABILIDADE NA ESCOLA: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR
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- Rafaela de Sequeira Furtado
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1 DIAGNÓSTICO SOBRE A SUSTENTABILIDADE NA ESCOLA: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR Resumo Valéria Bumiller Bini 1 - UFPR Franciele Baja 2 - UFPR Márcia Cristina Vital de Campos 3 - UFPR Grupo de Trabalho - Educação e Meio Ambiente. Agência financiadora: CAPES Este artigo apresenta a primeira etapa desenvolvida pelo projeto Interdisciplinaridade III: A temática ambiental na escola: uma proposta interdisciplinar do PIBID na Universidade Federal do Paraná (UFPR), voltado ao desenvolvimento da educação ambiental no Colégio Estadual do Paraná (CEP). Esta etapa correspondeu à realização de um diagnóstico para subsidiar a elaboração do projeto de educação ambiental mais adequado para o Colégio, que proporcione, simultaneamente, uma prática educativa para os alunos de licenciatura da UFPR e um legado para o colégio, se efetivando como um processo educativo capaz de contribuir para a transformação da realidade socioambiental. A realização desse diagnóstico, procedimento utilizado em algumas metodologias de pesquisas interdisciplinares voltadas ao meio ambiente, ocorreu em agosto de Neste sentido, antes de propor ações, o Projeto realizou o diagnóstico socioambiental, que indicou possibilidades de ações de educação ambiental afins ao Colégio. Foram obtidas informações sobre a estrutura física, e institucional; o consumo (água, luz, alimentos, materiais em geral); as características sociais da comunidade escolar; os projetos relacionados ao meio ambiente e educação ambiental existentes no colégio, dentre outras. Do diagnóstico realizado foi elaborada uma representação gráfica das possibilidades de vias de inserção de ações de educação ambiental no Colégio, como ferramenta para às decisões tomadas sobre a escolha destas ações. Uma delas surgiu da identificação de projetos e ações pontuais voltados à formação de ações sustentáveis já existentes no Colégio, entre as quais foi selecionada o projeto de resíduos sólidos ao qual o projeto PIBID se vinculou para o desenvolvimento de ações de educação ambiental. Palavras-chave: Diagnóstico socioambiental. Educação ambiental. Educação ambiental escolar. 1 Graduanda do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná (bacharelado e licenciatura). E- mail: valeriabumiller@gmail.com 2 Graduanda do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná (bacharelado e licenciatura). E- mail: franbajinha@gmail.com 3 Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (bacharelado e licenciatura). campovital@ig.com.br ISSN
2 23032 Introdução A necessidade da interdisciplinaridade surge como forma de organização que supera a visão fragmentada da produção e socialização do conhecimento. Essa proposta metodológica de abordagem do conhecimento pressupõe que os campos de estudo sejam delimitados, porém não fragmentados. (THIESEN, 2008) Historicamente as áreas do conhecimento científico se dividiram de acordo com suas especializações. A proposta interdisciplinar pautada em inúmeras definições, sustenta a perspectiva de oposição à fragmentação das ciências, oferecendo resistência a saberes parcelados. Fundamentalmente a ideia não coloca em xeque o caráter disciplinar de todo conhecimento, mas propõe profundo diálogo, troca e integração entre os diferentes campos do saber (THIESEN, 2008). O diálogo de saberes proporcionado pela interdisciplinaridade consegue oferecer um suporte para a complexidade que se revela no processo da educação ambiental que objetiva a construção de uma outra forma de relação da sociedade com a natureza e, consequentemente, o enfrentamento da questão ambiental (LIMA, 2011). A adoção de princípios e práticas, tendo como referência a utopia da sustentabilidade (BURSZTYN e BURSZTYN, 2012), pode orientar esta outra relação. A educação ambiental na escola pode atuar neste sentido de diferentes formas. Uma delas é a transformação da própria escola em um espaço sustentável, no qual seus hábitos e lógica de funcionamento se transformam, reduzindo seu impacto ambiental e tornando-se uma referência de sustentabilidade para a comunidade escolar e para a comunidade em geral, ao ampliar suas ações para além da sala de aula (BORGES, 2011). Além disso, a educação ambiental de início acompanha e sustenta o surgimento e a concretização de um projeto de um melhoramento da relação de cada um com o mundo, cujo significado auxilia a construir, em função das características de cada contexto em que intervém. Numa expectativa de conjunto, a educação ambiental contribui para o desenvolvimento de sociedades responsáveis (SAUVÉ, 2005). Esta comunicação apresenta a primeira etapa desenvolvida pelo o projeto A temática ambiental na escola: uma proposta interdisciplinar do PIBID na Universidade Federal do Paraná (UFPR), voltado ao desenvolvimento da educação ambiental no Colégio Estadual do Paraná (CEP), no qual se desenvolve o projeto CEP Sustentável que visa tornar o Colégio um espaço sustentável. A primeira etapa é a realização de um diagnóstico para perceber qual o projeto de educação ambiental mais adequado para o Colégio, e que proporcione, simultaneamente, uma prática educativa para os alunos de licenciatura da UFPR e um legado
3 23033 duradouro para o colégio, se efetivando como um processo educativo capaz de contribuir para a transformação da realidade socioambiental. Diagnóstico Para desenvolver ações efetivas, adequadas à realidade, a metodologia da problematização com o Arco de Maguerez, oferece suporte organizacional e orienta o processo de extração de problemas, como evidenciado na Figura 1, estabelecendo o ponto de partida e chegada, bem como o objeto da transformação social, nas mais distintas áreas do saber, podendo se tornar um caminho metodológico para a constituição de um projeto de educação ambiental. (BERBEL, 2012) Figura 1 - Arco de Maguerez Fonte: Bordenave e Pereira (1982) No sentido da importância de conhecer o meio antes de determinar os planos de ação, é que se baseou todo o processo de diagnóstico realizado no Colégio. Através de observações, entrevista com a diretora, questionários para professores, dados colhidos na secretaria e com professores, as seguintes informações foram coletadas: o
4 23034 Colégio Estadual do Paraná é o maior colégio público do Estado do Paraná. O prédio é tombado pelo IPHAN e constitui um Patrimônio da Cidade. Atende em média cinco mil alunos do ensino fundamental, médio e profissionalizante. Cerca de sete mil pessoas circulam diariamente por esta instituição, entre estudantes, professores, funcionários, visitantes e comunidade escolar que frequentam as atividades ofertadas pela escola como, a escolinha de artes, esportes, e centros de línguas. A Comunidade do CEP é formada por alunos de praticamente todos os bairros de Curitiba e das cidades da região metropolitana, oriundos de diferentes classes sociais. No que se refere a ações de educação ambiental, e diante da sua dimensão, o colégio demonstra preocupação e conhecimento sobre os impactos ambientais pela geração de resíduos, refletindo sobre a necessidade de implementação dos compromissos com a Lei /10. Esta preocupação foi identificada pelo projeto interdisciplinar como um espaço para o desenvolvimento da educação ambiental. Uma comissão formada por pais professores, alunos e representantes da Vice Governadoria, elaboraram o projeto CEP Sustentável, que está sendo implementado desde 2012 e que prevê ações totais na área ambiental. O projeto foi elaborado com o objetivo de prever ações nas áreas de energia, saneamento, resíduos sólidos, patrimônio cultural, restauração dos edifícios, recuperação do espaço olímpico (piscina, pista de atletismo, quadras), merenda orgânica. Um dos eixos desse projeto é o PGRS, (Programa de Gestão de Resíduos Sólidos), que visa minimizar os impactos ambientais produzidos por estes resíduos produzidos pelo Colégio. A produção de resíduos sólidos no CEP é significativa: kg de lixo por média total de geração de lixo por material: 114 kg/mês de plástico; 506 kg/mês de papel; 567 kg/mês de restos de alimentos; 33 kg/mês de alumínio, 1502 kg/mês de resíduos de banheiro, 780 kg/mês de rejeito 1,418 kg/mês de argila, dos resíduos gerados nas salas de aula e no setor administrativo somente é separado o papelão, que é destinado à Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF). Os demais resíduos não são tratados de forma adequada para reduzir os impactos ambientais por eles produzido. Ainda, foi percebido pelos bolsistas que as salas de aula e o pátio possuem lixo jogado no chão, apesar de existirem latas de lixo espalhadas pelo Colégio. Para o diagnóstico, também foi realizado um questionário com 30 professores da instituição. Dentre outros resultados obtidos, destaca-se a relação entre o desenvolvimento de atividades interdisciplinares para abordar a temática ambiental, a opinião sobre a necessidade desta temática fazer parte do ensino básico e sobre a própria capacitação para abordá-la nas atividades educativas, conforme gráfico representado na Figura 2.
5 23035 Figura 2 Gráfico apresentando a combinação entre receptividade docente para o desenvolvimento de atividades interdisciplinares, inserção da temática ambiental no Ensino Básico e capacitação para a sua abordagem. Fonte: Autores. Mesmo diante do reduzido número amostral, o cruzamento dos dados coletados sugere que há a possibilidade de que sejam desenvolvidas atividades que combinem práticas interdisciplinares de educação ambiental, inclusive a capacitação de professores, às ações de educação ambiental voltadas à gestão de resíduos sólidos no Colégio. Um limitante, porém, é apresentado a essa integração entre interdisciplinaridade e a Educação Ambiental e evidenciada entre a realidade docente: os professores queixam-se que, com a atual formação, não estariam preparados para uma atuação interdisciplinar, postura inerente aos Projetos de Educação Ambiental. Apontam para a importância, valorizando-a, da atividade de pesquisa para poderem melhor trabalhar interdisciplinarmente e para a necessidade do envolvimento com outras instituições, mesmo que os projetos até então implementados, em parte, tenham obtido esta amplitude (CHAVES, 2005, p. 70). A Lei Estadual nº /2013 que institui a Política Estadual de Educação Ambiental, revisada pelo Decreto Estadual nº em janeiro de 2014, torna obrigatória e menciona em seu Capítulo III a necessidade da promoção da Educação Ambiental em todos os níveis de
6 23036 ensino. No entanto, a limitação acima aliada a outros fatores externos e internos ao Colégio, são fatores de resistência. Contudo, para identificar possibilidades e adequações para o desenvolvimento da educação ambiental e interdisciplinar, o diagnóstico identificou também elementos híbridos (elementos que estão na interface entre a sociedade e a natureza) (RAYNAUT, 2011) que poderiam constituir situações para a abordagem interdisciplinar, além da identificação das dimensões que eles abrangem no Colégio (gestão, pesquisa, ensino, etc). Em decorrência do diagnóstico, optou-se por desenvolver nos espaços de aulas destinados à disciplina de ciências e, posteriormente da geografia, atividades que introduzissem o conceito de meio ambiente como um sistema. A definição de meio ambiente escolhida para abordar com os alunos foi a de acordo com Bursztyn e Bursztyn (2012, p. 42): em termos amplos, o meio ambiente inclui e transcende os elementos do mundo natural, como a fauna, a flora, a atmosfera, o solo e os recursos hídricos. Engloba, também, as relações entre as pessoas e o meio onde vivem. Portanto, tratar a questão ambiental demanda conhecimentos sobre os meios físico e biótico e a dimensão socioeconômica e cultural, tudo isso circunscrito a um dado contexto políticoinstitucional, onde aqueles aspectos interagem. (BURSZTYN e BURSZTYN, 2012, p.42). Mas também, este deverá ser considerado um lugar de pertencimento. Segundo Sauvé (2005, p. 318), o meio ambiente assim considerado: é o ambiente da vida cotidiana, na escola, em casa, no trabalho etc. Uma primeira etapa de educação ambiental consiste em explorar e redescobrir o lugar em que se vive, ou seja, o aqui e agora das realidades cotidianas, com um olhar renovado ao mesmo tempo apreciativo e crítico (...) O lugar em que se vive é o primeiro cadinho do desenvolvimento de uma responsabilidade ambiental, onde aprendemos a nos tornar guardiães, utilizadores e construtores responsáveis do Oïkos, nossa casa de vida compartilhada (SAUVÉ, 2005, p.318). A partir dessas considerações, o projeto teria como eixo um reconhecimento do meio e o sentimento de pertencimento ao meio, neste caso o extenso espaço escolar do Colégio Estadual do Paraná. Introduzindo a questão dos resíduos sólidos para o aproveitamento do projeto já existente no mesmo. Conclusão Quando se fala na implantação de um projeto interdisciplinar em escolas, um leque de possibilidades se abre e nem sempre as ações que imaginamos são, de fato, adequadas à escola em questão. Bem como, sabe-se que um projeto de educação ambiental é de difícil
7 23037 realização. Ele requer o envolvimento de toda a sociedade educativa: escolas, museus, parques, empresas, etc. Segundo Sauvé, cabe a cada autor definir seu nicho educacional na educação ambiental, em função do contexto particular de sua intervenção, do público alvo, dos recursos disponíveis. Trata-se de escolher objetivos e estratégias de modo oportuno e realista, sem esquecer, contudo, do conjunto de outros objetivos e estratégias possíveis (SAUVÉ, 2005). Portanto, a metodologia para conhecer o ambiente escolar antes de implantar um plano de ação, com um diagnóstico detalhado, permite a identificação de características propícias ao desenvolvimento da educação ambiental de forma interdisciplinar, aproveitando potencialidades e identificando os obstáculos apresentados pela escola. No CEP, o diagnóstico permitiu a identificação do CEP Sustentável, com foco nos resíduos sólidos, como ponto de partida para processos educativos que exigem a interdisciplinaridade e são potencialmente espaços de articulação entre diferentes dimensões da escola (gestão, ensino, atividades de pesquisa, etc). Além disso, o mesmo ponto de partida permite e exige o desenvolvimento de reflexões e ações voltadas ao questionamento da relação entre a sociedade e a natureza na sociedade contemporânea e sua necessidade de mudança visando a utopia da sustentabilidade. A educação ambiental política e epistemologicamente comprometida com a emancipação e a transformação (LIMA, 2011), encontra nas situações identificadas pelo diagnóstico efetivas condições de desenvolvimento. REFERÊNCIAS BERBEL, NEUSI APARECIDA NAVAS; GAMBOA, SÍLVIO ANCIZAR SÁNCHEZ. A metodologia da problematização com o Arco de Maguerez uma perspectiva teórica e epistemológica. Filosofia e Educação,[S.l.] v. 3, n. 2, p , BORDENAVE, Juan E. Díaz; PEREIRA, Adair Martins. Estrategias de enseñanza-- aprendizaje: orientaciones didácticas para la docencia universitaria. [S.l.]: IICA, BORGES, C. O que são espaços educadores sustentáveis. Espaços Educadores Sustentáveis. Salto para o Futuro, ano 21, boletim 07, BURSZTYN, Maria Augusta, BURSZTYN, Marcel. Fundamentos de Política e gestão ambiental: caminhos para a sustentabilidade. Rio de Janeiro: Garamond, CHAVES, ANDRÉ LOUREIRO; FARIAS, MARIA ELOÍSA. Meio ambiente, escola e a formação dos professores. Ciência & Educação, [S.l.], v. 11, n. 1, p , LIMA. Gustavo da Costa. Educação ambiental no Brasil: formação, identidades e desafios. Campinas,SP: Papirus, 2011
8 23038 PARANÁ. Conselho Estadual de Educação. Conselho Pleno. Deliberação nº 04/13. Normas Estaduais para a Educação Ambiental no Sistema Estadual de Ensino do Paraná com fundamento na Lei Federal nº 9.795/1999, Lei Estadual nº /2013 e Resolução CNE/CP nº. 02/2012. Curitiba, RAYNAUT, Claude. Interdisciplinaridade: mundo contemporâneo, complexidade e desafios à produção e à aplicação de conhecimentos. In PHILIPPI Jr. A., SILVA NETO, Antônio J., Interdisciplinaridade em ciência, tecnologia e inovação. Barueri, SP: Manole, 2011 p SAUVÉ, L. Educação ambiental: possibilidades e limitações. Educação e Pesquisa,[S.l.] v. 31, p , THIESEN, JUARES DA SILVA. A interdisciplinariedade como um movimento articular no processo ensino-aprendizagem. Revista Brasileira de Educação, [S.l.] v. 13 n. 39 set./dez
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