DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

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1 CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COMISSÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA EVENTO: Seminário N : 0904/08 DATA: 16/06/2008 INÍCIO: 9h34min TÉRMINO: 12h57min DURAÇÃO: 3h23min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 3h23min PÁGINAS: 61 QUARTOS: 41 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO CRISTOVAM BUARQUE - Senador da República, Presidente da Comissão de Educação e Cultura, do Senado Federal. NILMAR RUIZ - Deputada Federal, representante da Frente Parlamentar de Apoio à Educação a Distância. FREDRIC MICHAEL LITTO - Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância ABED. FLÁVIO ROBERTO SABBADINI - Vice-Presidente do Sistema CNC/SESC/SENAC. HÉLIO CHAVES - Secretário de Educação a Distância Adjunto, do Ministério da Educação. PAUL BACSICH - Diretor-Gerente da Media Matic Ltd; Diretor de Pesquisa do Projeto Re.VICa, criado pelo Programa de Educação Permanente da União Européia e desenvolvido pela Associação Européia de Universidades Ativas em E-Learning EuroPACE. FRANÇOIS MARCHESSOU - Consultor internacional em tecnologia educacional e educação a distância. SUMÁRIO: Solenidade de Abertura do Seminário Internacional sobre Educação a Distância. Painel 1: O Cenário Global de Educação a Distância EAD. Painel 2: O Cenário da EAD na América Latina. OBSERVAÇÕES 2º Ciclo de Seminários Internacionais Educação no Século XXI: Modelos de Sucesso, promovido pela Comissão de Educação e Cultura, da Câmara dos Deputados, em parceria com o Sistema CNC/SESC/SENAC, com o apoio da Frente Parlamentar de Apoio à Educação a Distância e da Associação Brasileira de Educação a Distância ABED. Houve exibição de vídeo. Houve exibição de imagens. Há exposição em inglês com tradução simultânea. Há falha na gravação. Houve intervenções fora do microfone. Inaudíveis. Há expressões ininteligíveis.

2 O SR. APRESENTADOR (David Rayol) - Autoridades presentes, representantes do Sistema CNC/SESC/SENAC, estudantes, universitários, senhoras e senhores, bom dia. Tem início, neste momento, a solenidade de abertura do Seminário Internacional sobre Educação a Distância, parte integrante do 2º Ciclo de Seminários Internacionais Educação no Século XXI: Modelos de Sucesso, promovido pela Comissão de Educação e Cultura, da Câmara dos Deputados, em parceria com o Sistema CNC/SESC/SENAC, com o apoio da Frente Parlamentar de Apoio à Educação a Distância e da Associação Brasileira de Educação a Distância ABED. Senhoras e Senhores, neste instante são convidadas para compor a Mesa de Honra as seguintes autoridades: Exmo. Sr. Deputado João Matos, Presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados; Exma. Sra. Deputada Nilmar Ruiz, em representação neste ato à Frente Parlamentar de Apoio à Educação a Distância; Exmo. Sr. Senador Cristovam Buarque, Presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, do Senado Federal; Sr. Hélio Chaves, Secretário de Educação a Distância Adjunto, representando neste ato o Exmo. Sr. Ministro de Estado da Educação, Fernando Haddad; Sr. Flávio Roberto Sabbadini, Vice-Presidente do Sistema CNC/SESC/SENAC; e Sr. Fredric Michael Litto, Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância. (Palmas.) Convidamos os ilustres componentes da Mesa para ocuparem seus lugares, por favor. (Pausa.) Senhoras e Senhores, este seminário está sendo transmitido ao vivo pela TV Câmara, em Brasília; em UHF, pelo canal 27; pelo canal 28 da Skynet; pelo canal 14 da Net; pelo canal 235 da DirectTV; e pelo canal 16 da TECSAT. Em sua segunda edição, o Ciclo de Seminários Internacionais terá mais 2 eventos programados para este ano: Seminário sobre Financiamento do Ensino Superior, em 13 de outubro; e Seminário Internacional sobre Fronteiras do Ensino Profissional, a 10 de novembro. Com a participação de especialistas da Europa, Ásia e Américas, os seminários objetivam apresentar evidências de sucesso sobre a moderna educação no mundo, contribuindo, assim, para a construção de soluções estruturais para o sistema educacional brasileiro. 2

3 Senhoras e Senhores, neste momento, abrindo os atos protocolares desta solenidade de abertura, fará uso da palavra o Exmo. Sr. Senador Cristovam Buarque, Presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, do Senado Federal. (Palmas.) O SR. SENADOR CRISTOVAM BUARQUE - Bom dia a cada uma e a cada um de vocês. É minha satisfação estar aqui com uma Mesa de personalidades que podem dar uma grande contribuição para pensar sobre um dos assuntos que eu considero dos mais fundamentais no processo educacional, hoje, no mundo: a passagem do ensino tradicionalmente presencial para o ensino a distância, seja ou não com parte presencial. Quero deixar claro, desde já, que sou um radical defensor do ensino a distância, e por 3 razões principais. Primeiro, porque é o caminho da universalização. De outra maneira não dá para trazermos todos para dentro da sala de aula. A escola tem que ir aonde os alunos estão. Segundo, porque é graças ao ensino a distância que podemos ter um maior atrativo para fazer com que a educação sensibilize as pessoas, e não só porque ela vai aonde elas estão, mas também porque usa um instrumento, a mídia, que temos de reconhecer, nós professores é mais atrativa do que nós próprios, porque há uma geração inteira criada que gosta mais de nos ver pelo monitor do que presencialmente. É uma realidade que os jovens vivem hoje. E, finalmente, porque estou convencido de que, na quase totalidade dos cursos, o ensino a distância pode trazer mais qualidade do que o ensino tradicional. Eu sei que a maior parte dos pedagogos ou boa parte dos professores resiste a isso. E quero começar a explicar a razão. A escola não nasceu com qualquer recurso pedagógico, além da fala do professor. Sócrates não tinha quadro-negro. Não havia banca para sentarem os alunos; não havia livros; não havia bibliotecas. Era ele e seus discípulos. E isso durou muitos séculos. Durante muitos séculos a escola foi o tutor e o discípulo. O livro foi um grande salto. O professor passou a ser auxiliado por uma instituição chamada biblioteca, que é uma forma de ensino a distância. A biblioteca é um ensino a distância: o aluno tem aula presencial com o professor; depois vai ler 3

4 seu livro, seja em casa, seja numa biblioteca, separado do professor. Esse foi um grande salto. Podemos dizer que aqui houve um marco fundamental no processo pedagógico mundial, quando o livro e a biblioteca passaram a ser elementos auxiliares do trabalho pedagógico. Mas foi necessário esperar muitos séculos para que surgisse o segundo salto: o quadro-negro. O quadro-negro, para nós, parece que já estava na Bíblia, como uma criação direta de Deus. Não estava. Ele foi criado, não faz 250 anos, por um professor escocês de geografia, ao mesmo tempo em que dava sua aula, não esperando inclusive que o aluno fosse para a biblioteca. O quadro-negro permitiu de imediato aumentar o número de alunos de 5, 6, 7 para 30, 40, 50. Mas não foi só isso; permitiu também o casamento de algo mágico: a fala e a imagem, que muda completamente a maneira de ensino. O professor fala e desenha aquilo que quer dizer. Vocês podem imaginar o que seria dar aulas de matemática, geografia, física, sem quadro-negro. É possível que antes alguns desenhassem nas areias das praias da Grécia para explicar o Teorema de Pitágoras. Mas é muito complicado fazer isso na areia da praia. Depois houve um pequeno avanço, que foi o microfone, que permitiu que aumentasse o número de alunos na sala de aula. E, daí, outros pequenos truques que não passam de quadros-negros, só que diferentes: transparências, por exemplo, que muitos dos mais jovens nem sabem mais o que são, mas que nós as usamos. Mas o grande salto, a grande revolução pedagógica, se não a última porque é muita pretensão de uma geração dizer que foi no seu tempo que aconteceu a última, é aquele ensino possibilitado pelo casamento da televisão com a informática: a teleinformática. Eles nasceram juntos, embora a televisão tenha alguns anos mais. Mas antigamente havia a televisão fechada, a televisão limitada. Agora é televisão a cabo, televisão digital, com a imensa gama de alternativas que surgiu com a informática. Não é possível mais o ensino ser igual, porque a informática criou o quadro-negro inteligente, que é completamente diferente do quadro-negro tradicional, que podemos chamar de burro, porque ele está ali, preto ou verde, esperando que a gente nele desenhe algo. O quadro-negro no computador é o quadro-negro inteligente. Não que ele pense, não que ele possa trabalhar sem 4

5 dezenas, centenas de professores por trás dele e apenas um na frente; mas porque ele é um computador em que se aperta um botão e ele mostra o sistema solar se movendo, o que é impossível fazer com o quadro-negro comum. Uma aula de astronomia, por exemplo, num quadro-negro: o professor faz um pontinho com o giz e diz: Este é o Sol. Faz uma elipse, faz outro pontinho e diz: Esta é a Terra. Não existe aluno hoje que agüente acreditar que aquilo é a Terra, enquanto ele está vendo o sistema solar pelo Hubble, ao vivo, diretamente, em algumas transmissões da Discovery ou da National Geographic. Hoje há possibilidade de se botar tudo isso, dinamicamente, colorido, num terminal de computador. Depois disso, não se pode mais ser igual. E, claro, hoje, com os smart boards, em que se tem um quadro inteirinho, que é apenas o monitor de um computador, o professor nem de giz precisa, porque com um dedo ele desenha, com um dedo ele puxa as imagens de um lugar para outro. E, quando ele quer buscar alguma coisa que não está ali, ele aperta o botão e traz a biblioteca inteira para esse moderno quadro-negro. Ele quer dar uma aula de História e quer falar de um personagem? Ele então traz à tela o retrato da personagem. É difícil desenhar o retrato de alguém com giz, e era complicado projetar retratos com as transparências de 30 anos atrás. Hoje o computador faz tudo isso. Se quisermos nos referir ao discurso de determinado personagem histórico, posterior ao tempo das gravações, basta apertarmos um botão e esse personagem começa a falar. A partir daí pode-se discutir o discurso dele com os alunos. Mudou! Não há mais possibilidade de dizermos que uma boa sala de aula é aquela que tem quadro-negro, mesmo tendo giz colorido. A informática nos trouxe fenomenal libertação do processo pedagógico do ponto de vista da qualidade do trabalho do professor. Agora, quando isso se junta com a televisão, aí há outra revolução, a de que o planeta pode ser uma imensa escola. A escola pode ser do tamanho do planeta Terra, para nós que a habitamos. Mas os astronautas, lá em cima, também podem ter aula. Se um astronauta quiser aproveitar os 10 dias dele, quando não tem o que fazer se é que algum deles tem tempo livre para estudar, por exemplo, um idioma, ele podem fazê-lo lá em cima com um professor. Nós universalizamos os professores. Durante a Idade Média, que foi a primeira internacionalização, um professor de uma universidade, para ir dar 5

6 aula em outra universidade, caminhava durante semanas inteiras em cima do lombo de um cavalo ou a pé. Hoje, para um professor de Oxford dar aula na América Latina, ele o faz online, simultaneamente; ouve os alunos e responde a suas perguntas. Antes eram necessárias semanas para ir de Oxford à Sorbonne. Aliás, eram necessários dias para ir de Cambridge a Oxford, que era uma distância pertinha. Atualmente, o professor não precisa estar onde mora o aluno, o que gera uma superdemocratização. Porque, se a democratização é restrita aos países, criamos agora uma democratização planetária. Pena que a política não consiga fazer isso, porque as políticas nacionais não conseguem enfrentar o problema do meio ambiente, não conseguem enfrentar o problema do aumento da desigualdade em escala mundial. A verdade é que a educação se universalizou antes da política, e temos de aproveitar isso. É um instrumento portanto de planetarização do ensino. As universidades em breve não terão mais endereço geográfico; terão apenas endereço eletrônico. Ninguém saberá onde está fisicamente o campus; saberá onde está o site. É questão de alguns anos mais. Professor nenhum vai ser dos alunos da sua universidade. O professor vai ser de todos aqueles que quiserem ser seus alunos, não importa onde nasçam, não importa onde vivam. Além disso, eu estou convencido de que, com exceção de alguns cursos que exigem muita prática direta na presença do professor, como, por exemplo, cirurgia, vai ser difícil fazermos cirurgia com um mouse, e sozinhos, como alunos isolados; digo difícil, mas não impossível, com exceção de algumas disciplinas, hoje eu acho que uma aula a distância pode ter melhor qualidade do que uma aula presencial. E, quando digo qualidade, digo da capacidade que fica no cérebro do aluno depois que a aula termina. Isso é que indica eficiência. Quanto fica na cabeça do aluno depois que o professor sai da aula convencional? Quanto fica na cabeça do aluno depois que ele desliga o monitor? Portanto, eu acho que a qualidade pode melhorar. Recentemente, preparei uma aula a distância e foram 7 horas de gravação. Dessas 7 horas será preciso trabalhar pelo menos mais 3 vezes para transformar aquela minha gravação em um aula verdadeira, enquanto que minha aula amanhã, 6

7 na UnB, talvez pela minha idade e experiência, eu a possa preparar ao ir de casa para lá, durante a viagem de carro. Mas com a aula a distância não existe isso. E é um trabalho coletivo, que é o futuro da educação vai haver o professor coletivo. O professor não vai ser mais um artesão que fabrica a sua aula; ele vai ser a combinação de alguém que entende da disciplina, de alguém que entende de programação visual para colocar a aula dentro do computador, de maneira bonita, agradável; de alguém que saiba levar isso à rede, para o mundo inteiro. Por tudo isso, o ensino a distância é o salto maior que já deu a Pedagogia, salvo, como já disse porque sempre é possível alguma coisa a mais, salvo se daqui a algumas décadas nós tivermos a biopedagogia: em vez de o aluno ir para a sala de aula, ele entra numa sala de cirurgia e sai falando inglês, ou saia falando inglês porque lhe foi colocado um chip na cabeça! (Risos.) Eu não duvido de que isso aconteça, não duvido mesmo. Mas serão necessárias muitas décadas. E, enquanto isso não acontecer o que eu, aliás, não sei se comemoraria, porque acho que seria um pouco de desumanização do ser humano, seria um pouco de clonagem do saber, vamos mergulhar no uso, na prática e na melhoria do ensino a distância. E, para não ficar só no otimismo, eu quero dizer que há um risco hoje. O risco do ensino a distância não é a de perda de qualidade, porque ele tende a ter uma elevadíssima qualidade. O risco está em que, no meio do processo de algo maravilhoso, possam surgir grandes deformações de pessoas, de grupos, que, em vez de quererem fazer um ensino a distância, queiram apenas transformar o ensino a distância numa fonte de renda a qualquer custo. Aí a qualidade desaparece, aí a qualidade morre! (Muito bem!) E, aí, a qualidade morre no ensino a distância como morre em qualquer outra atividade, como, por exemplo, na saúde, em que maravilhosas invenções estão deixando de dar resultados porque são usadas para servir apenas ao lucro. (Palmas.) Eu não sou contra que haja lucro em qualquer atividade que gere efeito social. Se um grande empreendedor é capaz de transformar algo positivo em algo generalizado, e, com isso, é capaz de transformar algo positivo em algo generalizado, e com isso ganha o lucro, parabéns para essa pessoa. Ótimo! Aí o lucro é uma boa coisa. O que não se pode é fazer com que as boas coisas sejam 7

8 regidas conforme o interesse do lucro. O lucro tem que ser uma conseqüência e não pode ser a razão de ser do processo do ensino à distância. Se deixarmos que isso aconteça, aí a qualidade não crescerá, como não crescerá nas universidades presenciais tampouco. E aí o mau exemplo terminará desmoralizando uma grande invenção. O automóvel foi uma das maiores invenções do mundo. Depois de 1 século, está desmoralizado, porque hoje se leva mais tempo para ir de um lugar a outro de automóvel do que ir de metrô, do que ir de transporte público. Todas as grandes invenções podem ser desmoralizadas, mas o ensino a distância, fazendo parte da pedagogia, tem uma sacralidade tão grande, que é nosso maior desafio, além de praticá-lo, fazer com que ele continue sagrado, servindo à educação e não apenas ao lucro. Era isso o que tinha a dizer para os senhores, com um rasgo de grande otimismo e crença e uma ponta de preocupação que aqui deixo para que reflitam. Um bom seminário e um grande abraço para cada uma e para cada um! (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (David Rayol) - Este cerimonial registra e agradece a presença do Exmo. Sr. Senador Adelmir Santana, prestigiando este evento. Neste instante, anunciamos o pronunciamento da Sra. Deputada Nilmar Ruiz, em representação neste ato à Frente Parlamentar de Apoio à Educação a Distância. A SRA. DEPUTADA NILMAR RUIZ - Bom dia a todos os presentes. Quero cumprimentar o nosso Presidente da Comissão de Educação e Cultura, da Câmara dos Deputados, Deputado João Matos; quero cumprimentar meu querido amigo e mestre, que sempre nos encanta com suas palavras sobre educação, nosso Prof. Cristovam Buarque, Presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, do Senado Federal; quero cumprimentar o Prof. Hélio Chaves, Secretário de Educação a Distância, aqui representando o Exmo. Sr. Ministro da Educação, Fernando Haddad; quero cumprimentar o Prof. Flávio Roberto, Vice-Presidente do Sistema da Confederação Nacional do Comércio, nosso parceiro neste evento e em tantos outros; quero cumprimentar o Sr. Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância; quero cumprimentar o nosso Senador Adelmir Santana, companheiro; e quero cumprimentar todos os educadores e todas as educadoras aqui presentes, nossos parceiros na educação. 8

9 Quero, Sr. Presidente, mais uma vez, parabenizá-lo por esta iniciativa. É muito importante que a Comissão de Educação e que a Frente Parlamentar de Educação a Distância, que aqui represento em nome do nosso Presidente, Deputado Eduardo Barros, possam colaborar com o nosso País neste momento em que a educação é um grande desafio para todos nós. Sabemos que o desenvolvimento do País, sabemos que a felicidade do nosso povo vem de saber fazer com que a escola ensine e o aluno aprenda, vem de vencer o desafio de aumentar a escolaridade do nosso povo. Porque sabemos muito bem, Senador Cristovam Buarque, que é através da educação que as transformações acontecem, que é através da educação que a economia se desenvolve, que um país cresce e que as pessoas vivem mais felizes. Quero parabenizar, Sr. Presidente, a Comissão de Educação por mais uma vez colocar a educação a distância como tema dos nossos seminários, porque isso mostra nossa preocupação em democratizar o ensino, a educação em nosso País, um país tão grande, um país com tanta diversidade, um país que tem municípios como São Paulo, como a nossa Capital, mas que tem também Municípios como Carrasco Bonito, lá no norte do meu Estado do Tocantins, como também no Nordeste, onde as necessidades são muito grandes. Assim, não podemos falar em democratizar a educação no nosso País sem falar em educação a distância, porque a educação a distância, Prof. Hélio, não começou agora; a educação a distância já tem mais de 100 anos. Ela nasceu com os primeiros cursos através de correspondência; depois, com a rádio, com a televisão. E agora, como o Prof. Cristovam colocou, com a Internet. Então, o avanço tecnológico faz com que possamos levar uma aula de qualidade a qualquer lugar deste Brasil tão distante e tão diverso. Quero dizer que educação é feita, sim, pelo Poder Público. Mas não podemos deixar de destacar o que vem sendo feito em educação no Brasil por todos os segmentos. Nossa escola de 2º Grau, lá no Rio de Janeiro, vem mostrando como se formam líderes numa escola de qualidade. Temos os cursos que a CNC vem fazendo dentro das nossas penitenciárias, através da educação a distância. Vemos a formação do nosso povo para o mercado de trabalho através dos nossos cursos de qualificação e também de cursos em nível superior. Temos hoje no Brasil quase 9

10 730 mil alunos só no ensino superior. Ano passado, tivemos 2,5 milhões de alunos na educação a distância. Prof. Hélio, quero que leve ao nosso Ministro da Educação, Fernando Haddad, parabéns pelas iniciativas do Ministério, no que se refere ao aumento de oportunidades através da educação a distância em nosso País, com a nossa Universidade Aberta do Brasil, que pode ampliar o número de pessoas com curso superior. Quero que o senhor leve ao nosso Ministro nossos parabéns pelo esforço que vem sendo feito pelo Ministério para normatizar a educação a distância, porque, se por um lado queremos democratizar o ensino, também queremos um ensino de qualidade. Queremos, como o Prof. Cristovam colocou muito bem, cursos de qualidade que possam formar realmente nossa sociedade. Portanto, Prof. Hélio, quero que leve à sua equipe no Ministério, ao nosso Ministro, nossa preocupação também em agilizar os procedimentos e reduzir a burocracia dentro do Ministério, para que as entidades de ensino particular, que há tanto tempo também fazem educação a distância no nosso País, possam ter seus cursos rapidamente aprovados, para que não tenhamos que esperar de um ano para outro para abrir o vestibular, enfim, para que possamos, com o trabalho do Ministério, apoiar essas instituições, fiscalizar essas instituições, dar-lhes condições para que possam continuar seu trabalho, levando em consideração nossas dificuldades e nossa diversidade. Fui Secretária de Educação do Estado do Tocantins. Há 8 anos, tivemos a oportunidade de iniciar um grande projeto de capacitação dos nossos professores através da educação a distância. Tínhamos os 10 anos da LDB para aumentar o nível de escolaridade dos nossos professores, e não havia outra forma. Não poderíamos esperar que através do ensino presencial a universidade chegasse até as nossas aldeias indígenas, lá em Carrasco Bonito, lá em São Bento do Tocantins. E foi através da educação a distância que pudemos, sim, oferecer curso superior aos nossos professores. E deu tão certo a educação a distância no nosso Estado que tivemos a oportunidade de ampliar, e o modelo ali instalado eu posso falar porque o Carlos Carmacho está aqui, que nos ajudou a implantar no nosso Estado a educação a 10

11 distância faz com que hoje tenhamos, só através daquela experiência, mais de 200 mil alunos sendo beneficiados em todo o País. Quero aqui parabenizar a iniciativa e dizer da importância de nos unirmos, Roberto, de podermos juntar todo o Sistema S, como já se vem fazendo, para que possamos cada vez mais ampliar a educação no nosso País e entender que a educação a distância é uma grande forma de democratizarmos o ensino no País. Eu quero, mais do que com palavras, mostrar-lhes cenas que me sensibilizaram, educadora que sou, professora que sou sou Deputada Federal, e já fui Prefeita da Capital do Tocantins, e que me fizeram vir aqui. Na realidade, ainda estou de licença médica por peguei dengue. Estava acamada. Saí do aeroporto direto para cá. Saí da nossa Capital hoje, segunda-feira, no meio do processo de uma pré-campanha eleitoral para a Prefeitura da nossa Capital, para estar aqui com o nosso grupo, testemunhando o que representa a educação no nosso País, testemunhando o que representa a educação a distância no processo de democratização e elevação de escolaridade da nossa gente. Peço que passem o vídeo que retrata um pouco o que foi feito de educação a distância no Estado do Tocantins e o que tem sido feito no Brasil inteiro, que tanto amamos, neste Brasil que, acreditamos, de justiça social, porque todos têm de ter acesso à educação para que tenham as mesmas oportunidades. Realmente, vamos fazer, Prof. Cristovam, com que a escola seja do tamanho do planeta Terra, e que a escola seja do tamanho deste imenso País que tanto amamos! Muito obrigada. (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (David Rayol) - Vamos agora assistir ao vídeo. (Exibição de vídeo.) O SR. APRESENTADOR (David Rayol) - Senhoras e senhores, neste instante, tem a palavra o Sr. Fredric Michael Litto, Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância. O SR. FREDRIC MICHAEL LITTO - Sr. Presidente da Comissão, demais autoridades da Mesa, senhoras e senhores, na década de 1960, o homem que concebeu a idéia de controle de qualidade, William Edwards Deming, diz mais ou menos o seguinte: em Deus nós acreditamos; todos os outros trazem dados. Moral da história: quem acusa a educação a distância de ser uma forma de aprendizagem 11

12 de segunda qualidade, dizendo que falta isso, falta aquilo, agora tem que demonstrar para nós. Porque o ônus da prova cabe a quem acusa. A gente não precisa enlouquecer para defender mais a educação a distância. Os resultados do ENADE, aquele exame de desempenho dos estudantes de cursos superiores no País, como o vídeo acabou de mostrar, demonstram que, em 9 das 13 áreas de conhecimento testadas, o ensino a distância saiu-se melhor. Temos mais de 40 anos de experiência no Brasil pelo Sistema S e outras entidades, mostrando seu sucesso. O SENAC, na década de 1940, tinha um programa de educação a distância no rádio chamado Universidade do Ar. Depois disso continuou com a educação a distância. O SENAI também: o Telecurso 2000 foi um sucesso. Como vamos ouvir os convidados do exterior hoje, os sucessos quantitativos e qualitativos da educação a distância estão consagrados. A gente não precisa ficar paranóico sobre isso. Em nome dos associados da ABED, uma sociedade científica sem fins lucrativos que procura aumentar constantemente a qualidade da prática de educação a distância no País, quero apontar para a importância deste Seminário. Este Seminário dará aos educadores de EAD uma visão das aspirações dos representantes do povo o que eles esperam da educação a distância, e, aos legisladores do nosso País, uma visão das melhores práticas da educação a distância dentro e fora do Brasil. Ele vai dar ao público, em geral, uma visão atualizada sobre os assuntos mais críticos da área. Com isso, quero dar parabéns à Câmara dos Deputados, parabéns ao CNC e desejar boa jornada para todos! (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (David Rayol) - Acabamos de ouvir a fala do Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância, Sr. Fredric Michael Litto. Agora tem a palavra o Sr. Flávio Roberto Sabbadini, Vice-Presidente do Sistema CNC/SESC/SENAC. O SR. FLÁVIO ROBERTO SABBADINI - Cumprimento o Presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, Deputado João Matos; o Sr. Hélio Chaves Filho, Secretário de Educação a Distância Adjunto, representando o Sr. Ministro da Educação Fernando Haddad; o Sr. Presidente da 12

13 Comissão de Educação, Cultura e Desporto do Senado Federal, Senador Cristovam Buarque; a Deputada Nilmar Ruiz, representando o Presidente da Frente Parlamentar de Apoio à Educação a Distância; o Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância, Fredric Michael Litto. Senhoras e Senhores, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo tem o prazer e a honra de estar hoje presente a este evento e manter parceria com a Frente Parlamentar de Ensino a Distância e a Comissão de Educação e Cultura, da Câmara Federal, em especial junto com seus braços operacionais, SESC e SENAC, trazendo seu apoio, de forma consistente, para manutenção e andamento do trabalho do ensino a distância. A CNC, em especial o SENAC, um ano após a sua formação, em 1946, já ingressava no mundo da EAD. Como disse muito bem meu antecessor, promovia, à época, usando as ondas do rádio, a Universidade do Ar. Oitenta mil alunos foram qualificados até a década de 60 com a utilização desse veículo muito importante para nós. Hoje, de forma sólida, estamos nos 27 Estados brasileiros tanto o SESC quanto o SENAC, atuando em prol da educação, da qualidade, da produtividade do trabalhador brasileiro, buscando sua assimilação ao empreendedorismo, que é bastante forte neste País. Nesse sentido, SESC e SENAC são estruturas importantes que estão à disposição de cada um das senhoras e dos senhores para lhes mostrar o trabalho feito nessas instituições em busca da educação e da qualidade de vida dos trabalhadores brasileiros. Nossas portas estão abertas. É nesse sentido que o nosso Presidente Antônio Oliveira Santos deixa um abraço forte abraço às senhoras e aos senhores, desejando que o dia de hoje seja de grande aprendizagem e que possamos transmitir a distância a todo o Brasil. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (David Rayol) - Senhoras e senhores, em representação ao Sr. Ministro de Estado da Educação, tem a palavra, neste momento, o Sr. Hélio Chaves, Secretário de Educação a Distância Adjunto, do Ministério da Educação. (Palmas.) O SR HÉLIO CHAVES - Bom dia a todos. 13

14 É com prazer que neste evento represento o Ministro Fernando Haddad. Gostaria de saudar os membros da Mesa, na pessoa do excelentíssimo educador Senador Cristovam Buarque, e ao Deputado João Matos, à Deputada Nilmar Ruiz e ao meu amigo Fredric Litto. Neste momento, quero propor uma discussão que seja também tema de fundo deste importante seminário que se realiza nesta Casa sobre as necessidades de entrarmos cada vez mais na educação a distância, com propriedade e qualidade. Hoje, no âmbito do Ministério da Educação, temos diversas ações que contemplam fortemente a educação a distância, a formação de professores, a produção de conteúdos, em parceria com outros Ministérios, o desenvolvimento de metodologias, o financiamento de pesquisas, o financiamento de possibilidades de instrumentalização de nossas escolas e das nossas universidades, para que a educação a distância saia do campo teórico, torne-se uma realidade e se desenvolva com propriedade. Avançamos muito nos últimos anos, desenvolvemos bons modelos, temos profissionais qualificados e capacitados, continuamos numa curva ascendente de qualificação de pessoal exemplo disso é o seleto público presente neste seminário. Isso mostra que estamos numa ascendente de qualificação da modalidade de EAD. Embora tenhamos avançado, muito ainda nos falta galgar. A cada menção positiva que vejo para a educação a distância, sinto um peso muito grande nas costas do Ministério da Educação em relação a essa qualificação. Dados os temas que serão debatidos, quero chamar a atenção desta Casa para a garantia de qualidade que o Poder Público deve dar para a modalidade de EAD. Gostaria muito que este seminário contribuísse fortemente para a discussão de novas regras, de novos marcos de regulação que atendam às necessidades de um país tão diverso como o nosso, mas que, ao mesmo tempo, ao atender a essa diversidade, não possibilite que instituições que atuam na linha do que foi bem apresentado pelo Senador Cristovam Buarque utilizem a educação como bem material. 14

15 Precisamos, então, estabelecer uma política de atualização, de regulamentação da educação a distância, de verificação da forma como ela está se desenvolvendo no País, para que, aí sim, tenhamos alunos com formação de qualidade. Nesse aspecto, quero chamar a atenção para o marco jurídico regulatório em curso no País e que vai se consolidar muito em breve. O Brasil conta com pouco mais de uma centena de instituições credenciadas. Dessas instituições, temos aproximadamente pontos de atendimento a estudantes. Tudo isso gera um cenário bastante complexo. E o MEC passa a atuar agora com a Secretaria de Educação a Distância na supervisão desse sistema. Tudo o que queremos é ter bases autênticas, legais e democráticas a fim de que a atuação das instituições credenciadas para a EAD se dêem com qualidade, para que não tenhamos, por exemplo, tantas queixas, como no passado, de alunos que foram lesados, que não conseguiram concluir seus cursos superiores a distância. Nessa linha, todo esforço coletivo é muito bem-vindo. E quero deixar as portas da Secretaria de Educação a Distância abertas para que possamos construir esse marco regulatório, para que possamos construir uma dimensão de educação a distância de qualidade, não só em ensino superior, mas também em ensino básico, onde for possível, visando sempre à melhoria das condições do País. Gostaria de acrescentar mais alguns ingredientes à nossa discussão em relação às perspectivas para a EAD. Devemos, por exemplo, levar em conta o fato de no Brasil termos menos de 17% da população com acesso regular à Internet em casa. O acesso, quando se verifica, é majoritariamente no ambiente de trabalho ou nas escolas. Precisamos lembrar que não temos oferta regular de ensino presencial superior, por exemplo, em mais de 35% dos nossos Municípios. Em outras palavras, 70% do Brasil ainda não tem oferta de ensino presencial regular em educação superior. Isso mostra que a EAD tem de consolidar-se e ser uma possibilidade para atendimento e democratização desse nível de ensino. É nessa linha que precisamos enxergar todo o cenário, com uma abordagem sistêmica do nosso País, para que não tenhamos iniciativas ruins imiscuídas em 15

16 iniciativas boas e que geram, por exemplo, aqueles patamares de avaliação anunciados pelo ENADE. Aliás, os dados anunciados são bastante importantes para nós neste momento de consolidação da modalidade, para informar que educação a distância é uma possibilidade real, concreta e de qualidade, ao contrário do que está no imaginário da maioria da nossa população. Temos áreas bem avaliadas, estudantes formados com qualificação boa, comparativamente ao ensino presencial. Precisamos, então, explorar esses caminhos todos, rumo à consolidação de uma rede de educação superior a distância de qualidade no País. Quero parabenizar a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados por esta iniciativa. Espero que ela se repita com mais freqüência e que possamos debater outros temas, como indicadores de qualidade para a educação a distância, novas metodologias, área de regulamentação, área jurídica, enfim, ter sempre um foro privilegiado e qualificado de debates sobre esses grandes temas. Mais uma vez, parabéns a todos e sucesso aos participantes. Que tenham uma boa jornada de debates em relação à educação a distância. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (David Rayol) - Senhoras e senhores, anunciamos, neste instante, a chegada a este local de S.Exa. o Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Arlindo Chinaglia, que, após cumprimentar os integrantes da Mesa, fará uso da palavra. (Palmas.) (Pausa.) O SR. PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS (Arlindo Chinaglia) - Bom dia a todos os presentes. Quero cumprimentar o Deputado João Matos, Presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados; o Senador Cristovam Buarque, Presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal; a Deputada Nilmar Ruiz, que aqui representa a Frente Parlamentar de Apoio à Educação a Distância; o Sr. Hélio Chaves, Secretário de Educação a Distância Adjunto, representando o Exmo. Sr. Ministro da Educação, Fernando Haddad; o Sr. Flávio Roberto Sabbadini, Vice-Presidente do Sistema CNC/SESC/SENAC; e o Sr. Fredric Michael Litto, Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância. 16

17 Inicialmente, quero parabenizar o Deputado João Matos e a Comissão de Educação e Cultura pela realização do seminário, que tem se caracterizado como uma das atividades mais importantes desta Comissão. Ou seja, ao mesmo tempo em que é uma inovação, configura também uma continuidade em relação ao aprofundamento do tema. Na verdade, ao fazer esta referência, quero ressaltar que, no ano passado, foram realizados 3 eventos de enorme repercussão: um sobre as reformas educativas, outro sobre ensino médio diversificado e outro ainda sobre educação infantil. Agora, a Comissão de Educação reedita parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o Serviço Social do Comércio e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial para abordar outros 3 temas candentes da educação brasileira: educação a distância, financiamento do ensino superior e fronteiras do ensino profissional. Evidentemente, esta reunião com representantes de outras nações aos quais cumprimento, bem como os demais Senadores e Deputados, Senadoras e Deputadas presentes, ao final, produzirá sínteses e propostas. Mas eu quero me ater apenas ao tema do primeiro seminário, porque, como disse, ao final, haverá uma conjugação dos 3 temas aqui abordados. Em 1996 há exatamente 12 anos, o Congresso Nacional aprovou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, incluindo em seu art. 80 a determinação de que o Poder Público incentivasse o desenvolvimento da educação a distância. A expectativa era a de que essa modalidade cumprisse papel relevante na democratização do acesso ao ensino e na ampliação da escolaridade da nossa população. O Plano Nacional de Educação, aprovado em 2001, traduziu essa expectativa em diretrizes e metas. A princípio, as ações governamentais estiveram mais voltadas para disponibilizar as novas tecnologias de informação e comunicação nas escolas públicas, servindo ora como instrumento para capacitação de professores, ora como recurso didático. 17

18 Assim, o enfoque esteve mais centrado nos sistemas ensinantes, com a preocupação de produzir e distribuir materiais de forma aberta e sem a obrigatoriedade de utilização. Outro capítulo do desenvolvimento da educação a distância foi inaugurado recentemente. Ele pode ser constatado nas estatísticas de crescimento das matrículas e cursos na instituição da Universidade Aberta do Brasil e da Escola Técnica Aberta do Brasil e no novo marco regulatório do setor. Em 2000, quando foram divulgados pela primeira vez dados relativos à graduação a distância, o Censo da Educação Superior registrou matrículas e pouco mais de 400 concluintes. Em 2006, eram cerca de 200 mil alunos e 26 mil concluintes nos cursos de graduação a distância. A expansão foi especialmente significativa entre 2003 e Houve um aumento de 571% no número de cursos e de 315% no número de matrículas. Esse crescimento tende a se acentuar com a consolidação da Universidade Aberta do Brasil, o que é um marco histórico para a educação. A Universidade Aberta reafirma o caráter estratégico da educação a distância para atender a duas grandes demandas, ambas expressas na legislação. A primeira diz respeito à formação de professores em nível superior, pois pelo menos um terço das funções docentes da educação básica pública ainda são ocupadas por profissionais com nível fundamental ou médio. Por outro lado, também precisamos investir na formação continuada daqueles que já detêm escolaridade em nível superior, seja pela sua constante atualização, seja para suprir as deficiências das graduações a que muitos foram submetidos para atender às determinação da LDB. A OAB é também uma alternativa para ampliar a oferta de educação superior. Em recente estudo sobre a juventude brasileira, o IPEA apontou que, em uma década, saímos de 5,8% de taxa de freqüência líquida na educação superior para 12,6% no ano de Mesmo assim, há pouco mais de 3 anos do fim da vigência do PNE, ainda estamos longe de alcançar a meta de ofertar ensino superior a pelo menos 30% dos jovens na faixa etária de 18 a 24 anos. 18

19 A dimensão do sistema educacional brasileiro e a enormidade do número de pessoas excluídas dele exigem ações educacionais inovadoras e políticas públicas capazes de responder às demandas da sociedade. Outra iniciativa que tem importante caráter inclusivo e deverá colaborar para fortalecer a modalidade da educação a distância no País é a Escola Técnica Aberta, que ofertará formação profissional técnica para milhares de alunos. Nesse projeto, busca-se aliar a excelência da rede pública de educação profissional ao ensino a distância para democratizar o acesso à escola. Destaquei essas opções porque acredito serem especialmente relevantes se pensarmos no contingente populacional que está fora de estabelecimentos escolares. Apenas na faixa etária de 15 a 29 anos são quase 30 milhões de brasileiros. Como essa parcela da população enfrentará a crescente exigência do mercado de trabalho de formação escolar completa? Como e quando integrarão uma sociedade baseada no conhecimento, em que a educação permanente tornouse imprescindível? E aqui quero fazer a terceira pergunta: como o nosso País poderá enfrentar as disputas do mercado internacional? Como o Brasil poderá apoiar-se no conhecimento para um outro ciclo de desenvolvimento não apenas apoiado, por exemplo, nas commodities? Evidentemente, não podemos pensar a curto prazo, ainda que medidas de curto prazo, como essas, tenham sido imprescindíveis, e continuam imprescindíveis, e, é evidente, não podemos cobrar resultados imediatos, ainda que eles estejam acontecendo. Do ponto de vista do País, do investimento no conhecimento, na ciência, na tecnologia, eu diria que até para ações comezinhas de saneamento básico o conhecimento é imprescindível. É claro que eu ainda teria vários assuntos a abordar, mas vou concluir e agradeço a boa vontade da Mesa, porque os senhores começaram esta reunião no horário, e eu os parabenizo por isso. Em outros seminários, eu sempre vinculo o benefício da educação que é um direito das populações excluídas, no caso à educação a distância e a outros temas que aqui estão sendo discutidos a um projeto de País. A informação, de 19

20 forma abstrata, é sempre relevante. Não há prejuízo na informação. Mas, para um país como o nosso, carente de recursos e ainda extremamente atrasado no que tange à educação, creio que é extremamente útil combinar educação com um projeto de Nação. Podemos dar um exemplo bem atual: no Brasil de hoje faltam engenheiros para atender à demanda do crescimento econômico. Isso fala por si só. Por quê? E aí há uma grande discussão. Quando se discute o papel do Estado, parte ou grande parte do empresariado reage, grande parte da mídia reage. Sim, mas não há empresa que não planeje as suas atividades. Então, como podemos conceber uma nação onde o Estado não planeja a partir, inclusive, da própria educação? Portanto, ao cumprimentar mais uma vez os 2 Presidentes das Comissões de Educação das duas Casas, quero dizer que talvez, no Congresso Nacional, devêssemos agir com maior ousadia, produzindo uma síntese, e não ficarmos quase eternamente dependentes da iniciativa do Poder Executivo de projetos de educação de forma global. Não queremos excluí-lo. O que eu estou defendendo é que o Congresso Nacional, a partir de sua capilaridade com a sociedade, a partir da experiência que ele é capaz de recolher por sua representação em todos os Estados brasileiros, avance em propostas para o debate, antecipando-se não à mudança pela mudança, até porque ocorrem mudanças demais, mas para ir consolidando o conhecimento. Já tive opinião diferente da que tenho hoje. Eu imaginava que o Executivo concentrasse mais e melhor as experiências. Não é bem assim. A burocracia do Executivo concentra. Todavia, do ponto de vista político, é o Congresso Nacional que concentra mais. Ainda que, a cada 4 anos, haja grande rotatividade entre os Parlamentares, o fato é que, politicamente, os partidos são cobrados, são exigidos diariamente. E isso obriga os partidos cada vez mais a se preocuparem especificamente com propostas, para que a disputa no Brasil seja feita num nível superior, seja feita num nível em que a população possa escolher entre os projetos apresentados. É claro que eu não quero excluir outro tipo de disputa, mas eu prefiro esta, até para que a população possa acompanhar o que é apresentado na época da campanha e o que é realizado no Governo, porque não há discurso que supere a realização. 20

21 Portanto, eu encerro minha fala cumprimentando todos os senhores, agradecendo a presença e, talvez um pouco atrasado, dando-lhe as boas-vindas da Casa. Um abraço a todos e sucesso nessa empreitada. (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (David Rayol) - Senhoras e senhores, concluído o pronunciamento do Exmo. Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, neste momento, devido ao cumprimento da agenda oficial de trabalho, S.Exa. retira-se deste local. (Pausa prolongada.) O SR. APRESENTADOR (David Rayol) - Senhoras e senhores, neste momento, para o encerramento dos atos protocolares desta solenidade de abertura, fará uso da palavra o Exmo. Sr. Deputado João Matos, Presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado João Matos) - Exmo. Sr. Senador Cristovam Buarque, Presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal; Deputada Nilmar Ruiz, representando a Frente Parlamentar de Apoio à Educação a Distância; Sr. Hélio Chaves, Secretário de Educação a Distância Adjunto, representando o Sr. Ministro da Educação Fernando Haddad; Sr. Flávio Roberto Sabbadini, Vice-Presidente do Sistema CNC/SESC/SENAC; Sr. Fredric Michael Litto, Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância; nobre Senador Adelmir Santana; nobre Deputado Átila Lira; senhoras e senhores, em nome da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, venho darlhes as boas-vindas a esta abertura de mais um ciclo de seminários internacionais Educação no Século XXI: Modelos de Sucesso. É com grande satisfação que damos prosseguimento a esta iniciativa que, com o apoio do sistema Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e turismo CNC, do Serviço Social do Comércio SESC e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SENAC, busca trazer experiências internacionais exitosas sobre questões de grande relevância para a educação em todo o mundo, de forma a contribuir para o aprofundamento do debate sobre educação no Brasil e para a construção de soluções estruturais para o aprimoramento do sistema educacional brasileiro. 21

22 Após discutir, em 2007, temas chave para a educação básica brasileira reforma educativa, ensino médio diversificado e educação infantil, o ciclo de seminários internacionais apresenta nesta segunda edição experiências que podem estimular o debate e nortear a formulação de políticas em outras 3 áreas voltadas para o avanço tecnológico e para o desenvolvimento da qualidade social da educação brasileira: educação a distância, nesta data; financiamento do ensino superior, em outubro; e fronteiras do ensino profissional, em novembro. No encontro de hoje, o primeiro desta nova rodada de seminários, serão apresentadas experiências internacionais e nacionais que permitirão traçar um panorama da educação a distância no mundo, numa perspectiva comparada, abordando desde as características da metodologia dessa modalidade até a gestão de sistemas de ensino a distância, principalmente no que tange às práticas de credenciamento de cursos e instituições e à sua regulamentação. A educação a distância é a modalidade de ensino que pressupõe a sincronia espaço temporal entre aluno e professor para o desenvolvimento das atividades de ensino e aprendizagem. Isto é, as mesmas são desenvolvidas sem a necessidade de o aluno e o professor estarem presentes no mesmo local e no mesmo momento. Apesar dessa evidente característica favorável à flexibilidade, a educação a distância ainda enfrenta muitas resistências para sua aceitação no meio educacional brasileiro, sendo alvo de preconceitos por parte da sociedade em geral e de certos setores acadêmicos e organizacionais e de críticas de natureza pedagógica, de gestão e em relação à qualidade dos cursos. Mesmo com todas as dificuldades, a educação a distância vem ganhando terreno no Brasil. Exemplo disso são os cursos superiores a distância que passaram de 52 para 349, de 2003 para 2006, perfazendo um aumento percentual de 571% na oferta. No entanto, esse número correspondia à época uma tímida participação de 4,4% no universo dos estudantes do ensino superior, ainda muito aquém das possibilidades que a educação a distância permite alcançar no Brasil. É sabido que, em meio às inúmeras exigências das sociedades modernas, a educação vem se transformando em processo cada vez mais complexo, que deverá ser desenvolvido ao longo de toda a vida do indivíduo e incorporado às diversas dimensões da vida humana intelectuais, profissionais, sociais, afetivas e éticas, 22

23 entre outras. Assim, o acesso das pessoas à educação é condição básica para a inclusão social, devendo ser cada vez mais facilitado pelas políticas educacionais. Nesse cenário, a educação a distância representa alternativa viável e eficaz para tornar a educação mais acessível a toda a sociedade. Antes, porém, há que se superar alguns obstáculos, como a mudança de cultura das organizações, dos governos, dos profissionais e da sociedade em geral. Há que se democratizar o acesso aos recursos tecnológicos e, conseqüentemente, o acesso à informação. Há que se vencer as dificuldades econômicas, geográficas, de maturidade e de motivação das pessoas. A educação a distância deve ser vista como um dos potenciais instrumentos que podem nos ajudar a desatar alguns dos nós da educação brasileira, como a ampliação das vagas no ensino superior, a formação profissional técnica de nível médio e superior e a formação de professores para a educação básica, cuja carência em algumas disciplinas já começa a prejudicar o desempenho dos alunos, principalmente no ensino médio. Na qualidade de Presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, agradeço a todos a presença, reiterando o empenho desta Comissão em contribuir para o debate sobre a educação no País e para a construção de soluções que tornem possível uma educação de qualidade para todos. Desejo a todos um proveitoso dia de debates e reflexões. Desta forma, declaro encerradas as atividades desta sessão de abertura do nosso seminário internacional sobre educação a distância. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. APRESENTADOR (David Rayol) - Senhoras e senhores, concluído o pronunciamento do Sr. Presidente da Comissão de Educação e Cultura, neste momento desfaz-se a Mesa de Honra. Solicitamos a todos que permaneçam em seus lugares, pois, logo após o deslocamento das autoridades que compuseram a Mesa de Honra, iniciaremos os trabalhos técnicos desta manhã. (Pausa prolongada.) 23