.s1..--1! TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL ACÓRDÃO HABEAS CORPUS N CLASSE 16 CORDEIRO - RIO DE JANEIRO
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1 .s1..--1! TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL ACÓRDÃO HABEAS CORPUS N CLASSE 16 CORDEIRO - RIO DE JANEIRO Relator: Ministro Marcelo Ribeiro Impetrante: Devair Torres de Almeida Paciente: Devair Torres de Almeida Advogado: Dominique Sander Leal Guerra órgão coator: Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro Habeas corpus. Ação penal. Trancamento. Crimes contra a honra. Descrição. Condutas típicas. Procedimento. Código de Processo Penal. Aplicação subsidiária. Adoção. Necessidade. Código Eleitoral. Norma específica. Ordem parcialmente concedida. 1. O trancamento da ação penal na via do habeas corpus somente é possível quando, sem a necessidade de reexame do conjunto fático-probatório, evidenciar-se, de plano, a atipicidade da conduta, a ausência de indícios para embasar a acusação ou, ainda, a extinção da punibilidade, hipóteses não verificadas in casu. Precedentes. 2. No processamento das infrações eleitorais devem ser observadas as disposições específicas dos arts. 359 e seguintes do Código Eleitoral, devendo ser aplicado o Código de Processo Penal apenas subsidiariamente. 3. Ordem parcialmente concedida, para determinar a observância do procedimento previsto na lei eleitoral específica. Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em conceder parcialmente a ordem, nos termos das notas de julgamento. Brasília, 16 de novembro de MINISTRO MARCELO RIBEIRO - RELATOR
2 HC n /RJ 2 RELATÓRIO O SENHOR MINISTRO MARCELO RIBEIRO: Senhor Presidente, Devair Torres de Almeida impetrou habeas corpus, com pedido de liminar, em seu favor, "em face do TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO DE JANEIRO, por ato praticado nos autos do Habeas Corpus n " (fl. 2). Informou que o paciente foi denunciado pelos crimes de calúnia e difamação (arts. 324 e 325 do Código Eleitoral), tendo sido adotado o rito procedimental do Código de Processo Penal (CPP), em detrimento do rito próprio previsto no Código Eleitoral, em manifesto prejuízo à defesa, além de inexistir justa causa para o prosseguimento da ação penal. Sustentou, em síntese, que: a) "o código eleitoral glosa, no art. 357 e seguintes, disciplina procedimental própria para os delitos nele previstos de modo que, s.m.j., a existência desse procedimento es pecial afasta a aplicação da regra geral do códi go de processo penal, salvo de forma subsidiária" (fl. 5), sendo que a edição da Lei n , que alterou o rito do processo penal comum, não teve o condão de modificar o processamento dos feitos eleitorais, tal como decidiu esta Corte Superior no julgamento do HC n 652, DJEde , rei. Mm. Arnaldo Versiani; b) ao contrário do consignado pelo Tribunal Regional, a adoção do rito comum acarretou prejuízo à defesa, uma vez que "as novas disposições do Código de Processo Penal, que obrigam a apresentação de defesa processual e de mérito na fase inicial do julgamento (antes da manifestação final do MP), que encurtam o prazo para apresentação de rol de testemunhas e que retardam o interrogatório para depois da instrução dificultam mais a defesa do que o procedimento mais elástico previsto no Código Eleitoral" (fis. 9-10); c) não há justa causa para o prosseguimento da ação penal, porquanto, em relação ao crime de calúnia, não foi imputada à vítima a prática
3 HC n /RJ do crime de corrupção eleitoral, tal como indicado na denúncia, e, em relação à difamação, as expressões usadas pelo paciente, "em tese não se trata de difamação, mas de calúnia" (fl. 13), o que inviabiliza a propositura de exceção da verdade; d) a Corte Regional não fundamentou sua decisão em relação à tese de atipicidade da conduta, o que acarretou violação ao art. 92, IX, da Constituição Federal. Ressaltou que o "fumus boni juris deriva do posicionamento, não só deste Colendo TSE, mas da própria dicção da norma legal que estabelece o procedimento específico, sobre a violação do art. 359, C.E., e o periculum in mora se caracteriza pelo prejuízo a defesa técnica do paciente que agora está com a obrigação de manifestar-se com inversão da ordem processual antes do momento oportuno" (fl. 14). Requereu "a concessão de medida liminar para sustar o curso da ação penal originária até o julgamento em definitivo deste writ ante a evidência do erro em proceder na escolha do rito para tramitação da causa" (fl. 14), bem como a concessão da ordem para anular o processo a partir do recebimento da denúncia e trancar a ação penal. Em deferi parcialmente a liminar para determinar a adoção do rito previsto no Código Eleitoral (fls ). àsfls Informações prestadas pelo Presidente do TRE/RJ Opina a Procuradoria-Geral Eleitoral pela concessão parcial da ordem (fls ). É o relatório.
4 HC no /RJ VOTO O SENHOR MINISTRO MARCELO RIBEIRO (relator): Senhor Presidente, no que se refere ao pedido de trancamento da ação penal, conforme assentei na decisão liminar, é cediço o entendimento de que a falta de justa causa para a ação penal só pode ser reconhecida quando, de pronto, sem a necessidade de reexame do conjunto fático-probatório, evidenciar-se a atipicidade do fato, a ausência de indícios a fundamentar a acusação ou, ainda, a extinção da punibilidade - hipóteses não verificadas in casu (Acórdãos nos 654/RS, DJE de , de minha relatoria; 669/RJ, DJE de , rei. Mm. Carmen Lúcia; 662/ES, DJE de , rei. Mm. Fernando Gonçalves). Ademais, o réu se defende dos fatos descritos na peça acusatória e não da capitulação jurídica apresentada na denúncia, sendo que eventual equívoco na capitulação da conduta imputada em nada modificará a situação processual do paciente, que poderá formular sua defesa a partir dos fatos narrados na exordial (Acórdão/STJ n /RS, DJE de , rei. Mm. Felix Fischer). No caso vertente, depreende-se que os fatos narrados configuram, em tese, os crimes contra a honra descritos nos arts. 324 a 326 do Código Eleitoral, conforme se extrai dos termos da denúncia (fls ): No dia 24 de setembro de 2008, em horário não precisado, durante um comício da Coligação Cordeiro - Povo Participativo, realizado no bairro Pirazzo, Cordeiro/RJ, o denunciado, então candidato ao cargo de Vice-Prefeito de Cordeiro, agindo de forma livre e consciente, caluniou Jader Maranhão, à época candidato ao cargo de Prefeito de Cordeiro pela Coligação adversária, durante ato de propaganda eleitoral, imputando-lhe falsamente fato definido como crime, em tese tipificado no art. 299 do Código Eleitoral, ao afirmar: "Porque ele chega num bairro humilde e paga para o pessoal colocar faixa e paga para o pessoal dizer que vai votar nele, mas eu tenho certeza que a população vai dar o troco nele, não votando nele nem no Vice-Prefeito", visando desta forma, atingir a honra do candidato adversário, influenciando negativamente a opinião do eleitorado. O denunciado, nas mesmas circunstâncias de tempo e local, de forma livre e consciente, também difamou Jader Maranhão, à época candidato ao cargo de Prefeito de Cordeiro pela Coligação adversária, durante ato de propaganda eleitoral, imputando-lhe fato
5 HC n /RJ 5 ofensivo à sua reputação, ao afirmar: "Ele não tem direito de ir a Brasília nem ao Rio de Janeiro pedir verba, porque ele foi cassado pelo Tribunal, então ele está afastado da política como Vereador e também vai ser afastado como Prefeito, porque ele vai perder a eleição" e ainda: "se ele for no comércio local, ele vai levantar que ele deve uma grande fortuna com cheques sem fundos. Primeiramente ele teria que cumprir suas obrigações com o comércio e o povo de Cordeiro, para depois se candidatar a Prefeito da cidade" visando, desta forma, atingir a honra do candidato adversário, influenciando negativamente a opinião do eleitorado". Os crimes eleitorais foram cometidos na presença de várias pessoas, durante um comício no bairro Pirazzo. Em virtude de assim ter agido, encontra-se o denunciado incurso nas sanções dos artigos 324 e 325 c/c 327, III, do Código Eleitoral, na forma do art. 70 do Código Penal. No entanto, em relação ao rito processual adotado, creio que assiste parcial razão aos impetrantes, motivo pelo qual deferi parcialmente a liminar pleiteada. Ao receber a denúncia o magistrado adotou o rito previsto no CPP, em detrimento da disciplina própria estabelecida no Código Eleitoral. Sobre a questão, assim decidiu o Tribunal a quo (fls ): Da análise dos presentes autos, depreende-se que o Juízo da 52a Zona Eleitoral, ao receber a denúncia oferecida em desfavor do paciente, adotara o rito previsto no Código de Processo Penal, com as alterações introduzidas pela Lei , não aplicando, por conseqüência, o consignado no Código Eleitoral, em seus artigos 359 e seguintes. Ocorre que o procedimento adotado pelo juízo coator está em estrita consonância com a jurisprudência desta Corte, conforme se extrai, por exemplo, do seguinte julgado [... ] Além disso, a aplicação do novo rito previsto na lei processual penal ao procedimento criminal eleitoral encontra amparo em uma interpretação literal do 40 do artigo 394 do aludido Código, o qual reproduzo a seguir: "As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados por este Código" Sendo assim, aplicável ao feito em referência tais dispositivos legais, os quais se referem aos procedimentos de recebimento da denúncia, de apresentação de defesa prévia e de possível absolvição sumária. Desse modo, não há que se falar em violação ao devido processo legal, nem mesmo em prejuízo para a defesa. Ao revés, o rito processual penal comum foi alterado justamente para se conferir a
6 HC n /RJ Es máxima eficácia às garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa, alterando o momento dos atos processuais. Ocorre que há previsão específica no Código Eleitoral do procedimento criminal a ser seguido no juízo de primeiro grau, a teor do art. 359, que assim dispõe: Art Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para o depoimento pessoal do acusado, ordenando a citação deste e a notificação do Ministério Público. Parágrafo único. O réu ou seu defensor terá o prazo de 10 (dez) dias para oferecer alegações escritas e arrolar testemunhas. Ademais, a aplicação subsidiária do CPP no âmbito eleitoral é preceito que se extrai do próprio CPP, bem como do Código Eleitoral, nos dispositivos que assim rezam: Código de Processo Penal: Art O procedimento será comum ou especial. lq O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo: 2 Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposições em contrário deste Código ou de lei especial. [... ] 42 As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código. 5 Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário." (NR) (Destaquei). Código Eleitoral: Art No processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos comuns que lhes forem conexos, assim como nos recursos e na execução, que lhes digam respeito, aplicar-se-á, como lei subsidiária ou supletiva, o Código de Processo Penal. Frise-se que, no julgamento do HC n o 652/BA, DJE de , rei. Mm. Arnaldo Versiani, esta Corte, ao se pronunciar sobre a incidência no âmbito eleitoral dos arts. 394 e 395 do CPP, que sofreram alteração em razão da edição da Lei n , assentou que:
7 HC n o /RJ. 1 [...] as indigitadas inovações legislativas só incidiriam em relação ao rito estabelecido em lei especial, caso não houvesse disposições específicas, o que não é o caso em exame. Nesse sentido, pronunciou-se a douta Procuradoria-Geral Eleitoral E...]: O cerne da controvérsia cinge-se a verificar a aplicação da lei geral posterior em detrimento da lei especial, já que esta prevê a aplicação daquela nas hipóteses em que não lhe seja contrária. Conforme entendimento consolidado em nosso ordenamento jurídico, continua em vigor a lei especial, reguladora de matéria disposta em lei geral posterior, desde que esta última não revogue expressamente as determinações daquela, segundo inteligência do art. 2 11, 201 da LICC. [...] Desta feita, como a alteração se deu, de modo pontual, em relação ao Código de Processo Penal, as leis especiais mantêm-se integralmente, não havendo que se cogitar em derrogação. Nessa esteira, entendo deva ser obedecido, in casu, a disciplina do Código Eleitoral. Diante de todo o exposto, mantenho os termos da decisão liminar e voto no sentido de conceder parcialmente a ordem para determinar a observância dos arts. 359 e seguintes do Código Eleitoral, que disciplinam o processamento das infrações eleitorais. É o voto.
8 HC n o /RJ 8 EXTRATO DA ATA HC n /RJ. Relator: Ministro Marcelo Ribeiro. Impetrante: Devair Torres de Almeida. Paciente: Devair Torres de Almeida (Advogado: Dominique Sander Leal Guerra). Órgão coator: Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. Decisão: O Tribunal, por unanimidade, concedeu parcialmente a ordem, nos termos do voto do relator. Presidência do Ministro Ricardo Lewandowski. Presentes a Ministra Cármen Lúcia, os Ministros Marco Aurélio, Aldir Passarinho Junior, Hamilton Carvalhido, Marcelo Ribeiro, Arnaldo Versiani e o Procurador-Geral Eleitoral, Roberto Monteiro Gurgel Santos. SESSÃO DE
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