Apostila de Anatomia do Pé Biomecânica Básica
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- Mauro Costa Vilaverde
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3 Apostila de Anatomia do Pé Biomecânica Básica
4 Anatomia e Biomecânica de MMII 4 Curso de Especialização em Podologia
5 SUMÁRIO CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ANATOMIA Introdução Nomenclatura Anatômica Terminologia Descritiva Normal e Variação Anatômica Anomalia e Monstruosidade Divisão do Corpo Humano Planos Anatômicos do Corpo Humano...9 CAPÍTULO 2 - SISTEMA LOCOMOTOR Osso Sistema Esquelético Ossos MMII Sistema Articular Estruturas das Articulações Sinoviais Sistema Muscular Contração Sistema Muscular...21 CAPÍTULO 3 -SISTEMA NERVOSO Introdução Estrutura e Funções Organização do SNC Organização do SNP Meninges...28 CAPÍTULO 4 - INTRODUÇÃO À BIOMECÂNICA DE MMII Conceito Tipos de Movimento Movimentos Articulares Termos Patológicos Comuns Graus de Liberdade Sistemas Dinâmicos Alavancas Ação muscular...38 CAPÍTULO 5 - MARCHA Introdução Ciclos da marcha Divisões do ciclo...39 Curso de Especialização em Podologia 5
6 Anatomia e Biomecânica de MMII 5.4 Passada e passo...40 CAPÍTULO 6 -POSTURA CORPORAL Definição de postura Curvas primárias e secundárias da coluna vertebral Alterações posturais com a idade Alinhamento postural História Clínica Avaliação postural Causas de postura incorreta...43 CAPÍTULO 7 - QUADRIL Estrutura do quadril: Ângulo de inclinação do Fêmur Ângulo de torção do Fêmur Movimentos do quadril Função muscular no quadril Pelve...48 CAPÍTULO 8 - JOELHO Estrutura do joelho Artrologia Estrutura Articular Estruturas Ligamentares Movimento do joelho Função muscular no joelho Articulação patelofemoral...57 CAPÍTULO 9 - COMPLEXO TORNOZELO- PÉ Introdução Tornozelo- pé Função Anatomia óssea Regiões do pé Arcos do pé Articulações Fáscia Plantar Músculos Inervação...69 Referências Bibliográficas: Curso de Especialização em Podologia
7 Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Anatomia CAPITULO 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ANATOMIA Ao te curvares com a rígida lâmina de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas, cresceu embalado pela fé e pela esperança daquela que em seu seio o agasalhou. Sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens. Por certo amou e foi amado, esperou e acalentou um amanhã feliz e sentiu saudades dos outros que partiram. Agora jaz na fria lousa, sem que por ele se tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome, só Deus sabe. Mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir à humanidade. A humanidade que por ele passou indiferente (Rokitansky, 1876) 1.1 Introdução A anatomia refere-se ao estudo da estrutura e das relações entre estas estruturas. No seu conceito mais amplo, a Anatomia é a ciência que estuda, macro e microscopicamente, a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados. A palavra Anatomia é derivada do grego, (ana = em partes; tomein = cortar). Etimologicamente corresponde à dissecação. A dissecação na área da anatomia humana é o ato de explorar o corpo humano, ou seja através de cortes possibilitar a visualização anatômica dos órgãos e regiões que existem no corpo humano e assim possibilitar o seu estudo. Através da dissecação foi possível identificar e melhorar a área médica, através de conhecimentos básicos como a localização de vasos, nervos, ossos, músculos, com suas origens e inserções. Seu estudo tem uma longa e interessante história, desde os primórdios da civilização humana. Inicialmente limitada ao observável a olho nu e pela manipulação dos corpos, expandiu-se, ao longo do tempo, graças a aquisição de tecnologias inovadoras. 1.2 Nomenclatura Anatômica Como toda ciência, a Anatomia tem sua linguagem própria. Ao conjunto de termos empregados para designar e descrever o organismo ou suas partes, dá-se o nome de Nomenclatura Anatômica. Com o extraordinário acúmulo de conhecimentos no final do século passado, graças aos trabalhos de importantes escolas anatômicas (sobretudo na Itália, França, Inglaterra e Alemanha), as mesmas estruturas do corpo humano recebiam denominações diferentes nestes centros de estudos e pesquisas. Curso de Especialização em Podologia 7
8 Anatomia e Biomecânica de MMII Em razão desta falta de metodologia e de inevitáveis arbitrariedades, mais de termos anatômicos chegaram a ser consignados (hoje reduzidos a poucos mais de 5.000). A primeira tentativa de uniformizar e criar uma nomenclatura anatômica internacional ocorreu em Em sucessivos congressos de Anatomia em 1933, 1936 e 1950 foram feitas revisões e finalmente em 1955, em Paris, foi aprovada oficialmente a Nomenclatura Anatômica, conhecida sob a sigla de P.N.A. (Paris Nomina Anatomica). Revisões subseqüentes foram feitas em 1960, 1965 e 1970, visto que a nomenclatura anatômica tem caráter dinâmico, podendo ser sempre criticada e modificada, desde que haja razões suficientes para as modificações e que estas sejam aprovadas em Congressos Internacionais de Anatomia. 1.3 Terminologia Descritiva Posição anatômica: O corpo está numa postura ereta (em pé, posição ortostática ou bípede) com os membros superiores estendidos ao lado do tronco e as palmas das mãos voltadas para a frente. A cabeça e pés também estão apontados para frente e o olhar para o horizonte. Posição fundamental: É a mesma posição anatômica só que as palmas da mão olham para o corpo, ou seja antebraço está em posição neutra, entre prono e supino. Termos de direção e posição: I. Lateral/ Medial: a ulna está no lado medial do antebraço e o rádio está no lado lateral. II. Anterior/ Posterior: o esterno é anterior em relação á escápula, que é posterior. III. Proximal/ Distal: o ombro é proximal em relação ao cotovelo. O cotovelo é distal em relação ao ombro e proximal em relação ao punho. IV. Superior/ Inferior: O joelho é superior em relação ao tornozelo. V. Superficial / Profunda: O umbigo é superficial em relação ao estômago. Posição Anatômica 8 Curso de Especialização em Podologia
9 Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Anatomia 1.4 Normal e Variação Anatômica Normal, para o anatomista, é o estatisticamente mais comum, ou seja, o que é encontrado na maioria dos casos. Variação anatômica é qualquer fuga do padrão sem prejuízo da função. Assim, a artéria braquial mais comumente divide-se na fossa cubital. Este é o padrão. Entretanto, em alguns indivíduos esta divisão ocorre ao nível da axila. Como não existe perda funcional, esta é uma variação. 1.5 Anomalia e Monstruosidade Quando ocorre prejuízo funcional, trata-se de uma anomalia e não de uma variação. Se a anomalia for tão acentuada que deforme profundamente a construção do corpo, sendo em geral, incompatível com a vida, é uma monstruosidade. 1.6 Divisão do Corpo Humano O corpo humano divide-se em cabeça, pescoço, tronco e membros. A cabeça corresponde à extremidade superior do corpo estando unida ao tronco por uma porção estreitada, o pescoço. O tronco compreende o tórax e o abdome, com as respectivas cavidades torácica e abdominal; a cavidade abdominal prolonga-se inferiormente na cavidade pélvica. Dos membros, 2 são superiores ou torácicos e 2 inferiores ou pélvicos. Cada membro apresenta uma raiz, pela qual está ligada ao tronco, e uma parte livre. MMSS são divididos em ombro, braço, antebraço e mão. MMII são divididos em quadril, coxa, perna e pé. 1.7 Planos Anatômicos do Corpo Humano Têm o objetivo de separar o corpo em partes, para facilitar o estudo e nomear as estruturas anatômicas com relação espacial. Plano Sagital Divide o corpo simetricamente em partes direita e esquerda. As ações articulares ocorrem em torno de um eixo frontal e incluem os movimentos de flexão e extensão. Curso de Especialização em Podologia 9
10 Anatomia e Biomecânica de MMII Plano Frontal Divide o corpo em partes, anterior (ventral) e posterior (dorsal). As ações articulares ocorrem em torno de um eixo sagital, e incluem a abdução e a adução. Plano Transversal Divide o corpo em partes, superior (cranial) e inferior (caudal). As ações articulares ocorrem em torno de um eixo longitudinal, e incluem a rotação medial/lateral e pronação/ supinação. Obs: O ponto onde esses 3 planos se cruzam é chamado de Centro de Gravidade (CG) do indivíduo. O CG caracteriza-se como o centro virtual de concentração de toda a massa corpórea, ou o ponto de equilíbrio do corpo. No corpo humano esse ponto encontra-se na linha mediana aproximada-mente no nível da 2ª VT sacral. 10 Curso de Especialização em Podologia
11 Capítulo 2 Sistema Locomotor CAPÍTULO 2 SISTEMA LOCOMOTOR ESQUELÉTICO ARTICULAR MUSCULAR 2.1 Osso Osso é um órgão formado principalmente por tecido conjuntivo ósseo Æ também encontram-se presentes outros tipos de tecidos conjuntivos, além de tecido epitelial de revestimento, vasos sangüíneos e tecido nervoso. Tecido conjuntivo ósseo: Características: tecido vivo com alto grau de rigidez e resistência à pressão; vascularizado e inervado. Componentes: 1. Matriz Óssea (adulto): 50% orgânica (95% correspondem às fibras colágenas); 50% inorgânica (principalmente fosfato e cálcio). 2. Células: osteoblastos, osteócitos, osteoclastos. Osso esponjoso: apresenta espaços medulares mais amplos, sendo formado por várias trabéculas, que dão aspecto poroso ao tecido. Curso de Especialização em Podologia 11
12 Anatomia e Biomecânica de MMII Osso compacto: praticamente não apresenta espaços medulares, existindo, no entanto, além dos canalículos, um conjunto de canais que são percorridos por nervos e vasos sangüíneos: canais de Volkmann e canais de Havers. Por ser uma estrutura inervada e irrigada, os ossos apresentam grande sensibilidade e capacidade de regeneração. 2.2 Sistema Esquelético Além de dar sustentação ao corpo, o esqueleto protege os órgãos internos e fornece pontos de apoio para a fixação dos músculos. Ele se constitui de peças ósseas e cartilaginosas articuladas, que formam um sistema de alavancas movimentadas pelos músculos. O esqueleto adulto tem 206 ossos. 12 Curso de Especialização em Podologia
13 Capítulo 2 Sistema Locomotor Funções: Pode ser dividido em duas partes: I. Esqueleto axial: formado pela caixa craniana, coluna vertebral e caixa torácica. Os ossos do crânio são chatos e, com exceção da mandíbula, articulam-se entre si por junturas que não permitem mobilidade. Curso de Especialização em Podologia 13
14 Anatomia e Biomecânica de MMII A coluna vertebral é composta por 33 ossos Æ vértebras. Distribuídas em 5 grupos: vértebras cervicais (7); vértebras torácicas (12); vértebras lombares (5); vértebras sacrais (5); vértebras coccígeas (4). A caixa torácica/ tórax é formada por ossos e cartilagens. Contém os principais órgãos da respiração e circulação e cobre parte dos órgãos abdominais. É formada pela região torácica da coluna vertebral, osso esterno e costelas, que são em número de 12 de cada lado, sendo as 2 últimas flutuantes (com extremidades anteriores livres, não se fixando ao esterno). 14 Curso de Especialização em Podologia
15 Capítulo 2 Sistema Locomotor II. Esqueleto apendicular: compreende a cintura escapular (formada pelas escápulas e clavículas); cintura pélvica (formada pelos ossos da bacia) e o esqueleto dos membros (superiores e inferiores). Cada membro superior é composto de braço, antebraço e mão. O osso do braço úmero articula-se no cotovelo com os ossos do antebraço: rádio e ulna. O punho constitui-se de ossos pequenos e maciços, o carpo. A palma da mão é formada pelos metacarpos e os dedos, pelas falanges. Cada MI compõe-se de coxa, perna e pé. O osso da coxa é o fêmur, o mais longo do corpo. No joelho, ele se articula com os 2 ossos da perna: a tíbia e a fíbula. A região frontal do joelho está protegida por um pequeno osso circular: a patela / rótula. Ossos pequenos e maciços, chamados ossos do tarso, formam o tornozelo. A planta do pé é constituída pelos metatarsos e os dedos dos pés (artelhos), pelas falanges. Curso de Especialização em Podologia 15
16 Anatomia e Biomecânica de MMII DIFERENÇAS NO ESQUELETO 2.3 Ossos MMII 16 Curso de Especialização em Podologia
17 Capítulo 2 Sistema Locomotor Curso de Especialização em Podologia 17
18 Anatomia e Biomecânica de MMII 2.4 Sistema Articular Articulações ou junturas são as uniões funcionais entre os diferentes ossos do esqueleto. É a conexão existente entre quaisquer partes rígidas do esqueleto, quer sejam ossos ou cartilagens. São divididas nos seguintes grupos, de acordo com sua estrutura e mobilidade: Articulações Fibrosas (Sinartroses) ou imóveis- As articulações fibrosas incluem todas as articulações onde as superfícies dos ossos estão quase em contato direto, como nas articulações entre os ossos do crânio. Não há movimento. Articulações Cartilagíneas (Anfiartroses) ou com movimentos limitados- Nas articulações cartilaginosas, os ossos são unidos por cartilagem. Pelo fato de pequenos movimentos serem possíveis nestas articulações, elas também são chamadas de anfiartroses. A articulação entre os ossos púbicos e a articulação entre os corpos vertebrais, são exemplos de cartilagíneas. Pouco movimento. Articulações Sinoviais (Diartroses) ou articulações de movimentos amplos- As articulações sinoviais incluem a maioria das articulações do corpo. As superfícies ósseas são recobertas por cartilagem articular, revestidos por membrana sinovial e unidas por ligamentos. Possuem cápsula articular, cavidade articular e líquido sinovial. Exemplos: Ombro, Cotovelo, Punho, Quadril, Joelho, Tornozelo, etc. Amplo movimento. 2.5 Estruturas das Articulações Sinoviais Ligamentos: são constituídos por fibras colágenas. São maleáveis e flexíveis para permitir perfeita liberdade de movimento, porém são muito fortes. Os ossos de uma articulação mantêm-se no lugar por meio dos ligamentos. Os ligamentos estão firmemente unidos às membranas que revestem os ossos. 18 Curso de Especialização em Podologia
19 Capítulo 2 Sistema Locomotor Cápsula Articular: membrana conjuntiva que envolve as articulações sinoviais. Apresenta-se com 2 camadas: a membrana fibrosa (externa) e a membrana sinovial (interna). A membrana fibrosa (cápsula fibrosa) é mais resistente e pode estar reforçada, em alguns pontos por ligamentos capsulares, destinados a aumentar sua resistência. Tem por finalidade manter a união entre os ossos. A membrana sinovial é a mais interna das camadas da cápsula articular. É bastante vascularizada e inervada sendo encarregada da produção de líquido sinovial que lubrifica as articulações. Bursas : bolsas localizadas em áreas de atrito excessivo, sob tendões e proeminências ósseas. Curso de Especialização em Podologia 19
20 Anatomia e Biomecânica de MMII 2.6 Sistema Muscular Tipos de músculo: Liso, Estriado cardíaco, Estriado esquelético. Músculos Lisos: Localizado nos vasos sangüíneos, vias aéreas e maioria dos órgãos da cavidade abdômino-pélvica. Ação involuntária controlada pelo sistema nervoso autônomo. Músculo Estriado Cardíaco: Representa a arquitetura cardíaca. É um músculo estriado, porém involuntário. Músculos Estriados Esqueléticos: contraem-se por influência da nossa vontade, ou seja, são voluntários. O tecido muscular esquelético é chamado de estriado porque faixas alternadas claras e escuras (estriações) podem ser vistas no microscópio óptico. No corpo humano existe uma enorme variedade de músculos, dos mais variados tamanhos e formatos, onde cada um tem a sua disposição conforme o seu local de origem e de inserção. O músculo vivo é de cor vermelha. Essa coloração denota a existência de pigmentos e de grande quantidade de sangue nas fibras musculares. Os músculos esqueléticos se inserem sobre os ossos e sobre as cartilagens e contribuem, com a pele e o esqueleto, para formar o invólucro exterior do corpo. Constituem aquilo que vulgarmente se chama a carne, e podem ser comandados pela nossa vontade, por isso são chamados de voluntários. Quantidade: 600 músculos. Macroscopia Ventre Conexões terminais - Tendões - Aponeuroses 20 Curso de Especialização em Podologia
21 Capítulo 2 Sistema Locomotor Ventre Muscular é a porção contrátil do músculo, constituída por fibras musculares que se contraem. Tendão é um elemento de tecido conjuntivo, rico em fibras colágenas e que serve para fixação do músculo em ossos, possuem aspecto morfológico de fitas ou de cilindros. Aponeurose é uma estrutura formada por tecido conjuntivo. Geralmente apresenta- -se em forma de lâminas ou em leques. 2.7 Contração Sistema Muscular Os músculos cruzam uma ou mais articulações, e pela sua contração são capazes de transmitir-lhes movimento. Este é efetuado por células especializadas denominadas fibras musculares, que são comandadas pelo sistema nervoso. Os músculos são capazes de transformar energia química em energia mecânica. Cada músculo possui o seu nervo motor, o qual divide-se em muitos ramos para poder controlar todas as células do músculo. As divisões destes ramos terminam em um mecanismo conhecido como placa motora. O sistema muscular é capaz de efetuar grande variedade de movimento, onde todas essas contrações musculares são controladas e coordenadas pelo sistema nervoso. Curso de Especialização em Podologia 21
22 Anatomia e Biomecânica de MMII 22 Curso de Especialização em Podologia
23 Capítulo 3 Sistema Nervoso CAPÍTULO 3 SISTEMA NERVOSO 3.1 Introdução O sistema nervoso é responsável pelo ajustamento do organismo ao ambiente. Sua função é perceber e identificar as condições ambientais externas, bem como as condições reinantes dentro do próprio corpo e elaborar respostas que adaptem a essas condições. O sistema nervoso se divide em duas partes; o sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é uma porção de recepção de estímulos, de comando e desencadeamento de respostas. O SNP é formado pelas vias que conduzem os estímulos ao SNC ou que levam até aos órgãos efetuadores, as ordens emanadas da porção central. DIVISÃO PARTES FUNÇÕES GERAIS Sistema nervoso central (SNC) Encéfalo Medula espinhal Processamento e integração de informações Sistema nervoso periférico (SNP) Nervos Gânglios Terminações nervosas. Condução de informações entre órgãos receptores de estímulos (SNC) e órgãos efetuadores (glândulas, músculos, etc). 3.2 Estrutura e Funções O tecido nervoso é constituído por células nucleadas especiais, denominadas neurônios, com longos prolongamentos capazes de captar estímulos exteriores como calor, frio, dor. Possuem morfologia complexa, mas quase todos apresentam três componentes. Os dendritos são prolongamentos numerosos, cuja função é receber os estímulos do meio ambiente, de células epiteliais sensoriais ou de outros neurônios. O corpo celular é o centro do tráfego dos impulsos nervosos da célula. O axônio é um prolongamento único, especializado na condução de impulsos que transmitem informações do neurônio para outras células nervosas, musculares e glandulares. Curso de Especialização em Podologia 23
24 Anatomia e Biomecânica de MMII A transmissão do impulso nervoso de um neurônio a outro depende de estruturas altamente especializadas: as sinapses. Os axônios estão envoltos em uma camada gelatinosa que funciona como isolante e denomina-se bainha de mielina. O conjunto de axônios corresponde às fibras nervosas, cuja união forma os feixes do sistema nervoso central e os nervos do sistema nervoso periférico. A junção dos corpos neuronais constitui uma substância cinzenta denominada córtex. Diagrama de um neurönio 24 Curso de Especialização em Podologia
25 Capítulo 3 Sistema Nervoso Sinapses: transmissão do impulso nervoso entre células. Um impulso é transmitido de uma célula a outra através das sinapses (ação de juntar). A sinapse é uma região de contato muito próximo entre a extremidade do axônio de um neurônio e a superfície de outras células. 3.3 Organização do SNC O SNC é representado pelo encéfalo e medula espinhal, respectivamente localizados no interior da caixa craniana e coluna vertebral. O encéfalo é constituído pelo cérebro, diencéfalo, cerebelo e tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo) e sua parte central é constituída por uma substância branca; a externa, por uma substância cinzenta. Cérebro: divide-se em duas partes simétricas (hemisférios direito e esquerdo) cuja troca de impulsos é feita pelo corpo caloso. É o órgão mais importante do sistema nervoso, pois é ele que controla os movimentos, recebe e interpreta os estímulos sensitivos, coordena os atos da inteligência, da memória, do raciocínio e da imaginação. Sua superfície evidencia pregas (giros) e reentrâncias (sulcos e fissuras) do córtex cerebral. Curso de Especialização em Podologia 25
26 Anatomia e Biomecânica de MMII Os sulcos e fissuras dividem os hemisférios em lobos responsáveis por funções específicas - como sensitivas, auditivas, visuais, movimentação voluntária, memória, concentração, raciocínio, linguagem, comportamento, entre outras. 26 Curso de Especialização em Podologia
27 Capítulo 3 Sistema Nervoso Cerebelo: controla os movimentos, a tonicidade muscular e participa da manutenção do equilíbrio do corpo. Situa-se embaixo e na parte posterior do cérebro. Da mesma forma que o cérebro, o cerebelo apresenta substância cinzenta na parte exterior e branca no interior. É o responsável pela manutenção do equilíbrio corporal, é graças a ele que podemos realizar ações complexas, como andar de bicicleta, tocar violão, por exemplo. Tronco encefálico: une todas as partes do encéfalo à medula espinhal. Desempenha funções especiais de controle, dentre outras, da respiração, do sistema cardiovascular, da função gastrintestinal, de alguns movimentos estereotipados do corpo, do equilíbrio, dos movimentos dos olhos. Serve como estação de retransmissão de sinais de comando provenientes de centros neurais ainda mais superiores que comandam o tronco cerebral para que este inicie ou modifique funções de controle específico por todo o corpo. Medula espinhal: A medula espinhal encontra-se no interior do canal formado pelas vértebras da coluna vertebral. Dela irradiam-se 31 pares de nervos espinhais, à direita e à esquerda, que inervam o pescoço, tronco e membros, ligando o encéfalo ao resto do corpo e vice-versa. É também mediadora da atividade reflexa (atos instantâneos, realizados independentemente da consciência). Estende-se da base do crânio até o nível da segunda vértebra, lombar, pouco acima da cintura. A substância cinzenta da medula espinhal tem o formato da letra H, cujas extremidades são a raiz anterior, de onde saem às fibras motoras, e raiz posterior, local de saída das fibras sensitivas. 3.4 Organização do SNP Por sua vez, o SNP consiste nos nervos cranianos e espinhais. Emergindo do tronco encefálico, há 12 pares de nervos cranianos que exercem funções específicas. A partir dos órgãos dos sentidos e dos receptores (terminações nervosas sensitivas) presentes em várias Curso de Especialização em Podologia 27
28 Anatomia e Biomecânica de MMII partes do corpo, o SNP conduz impulsos nervosos para o SNC, e deste para os músculos e glândulas. Os nervos espinhais são divididos e denominados de acordo com sua localização na coluna vertebral: 8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 6 sacrais. Nervos raquidianos: São 31 pares de nervos que partem da medula espinhal e se ramificam por todo o corpo. Os nervos raquidianos são formados pelas raízes nervosas que se iniciam nos ramos que formam o H da substância cinzenta da medula espinhal. OS nervos raquidianos são mistos, pois são formados por duas raízes nervosas: a raiz anterior, que é motora, e a raiz posterior, que é sensitiva. Nervos cranianos: são constituídos por doze pares de nervos que saem do encéfalo e se distribuem pelo corpo. Podem ser sensitivos, motores ou mistos. São responsáveis pela intervenção dos órgãos do sentido, dos músculos e glândulas da cabeça, e também de alguns órgãos internos. 3.5 Meninges O encéfalo e a medula espinhal estão protegidos por estruturas ósseas: crânio (para o encéfalo) e as vértebras (para a medula). Mas nem o encéfalo entra em contato direto com os ossos do crânio, nem a medula toca diretamente as vértebras. Envolvendo esses órgãos, existem três membranas chamadas meninges. Dura-máter - é a membrana externa que fica em contato com os ossos. Pia-máter - é a membrana interna, que envolve diretamente os órgãos. Aracnóide - é a membrana intermediária entre as outras duas. Entre a pia-máter e a aracnóide existe um líquido, chamado, líquido cefalorraquidiano. Ele protege os órgãos do sistema nervoso central contra choques mecânicos. 28 Curso de Especialização em Podologia
29 Capítulo 4 Introdução à Biomecânica de MMI CAPÍTULO 4 INTRODUÇÃO À BIOMECÂNICA DE MMII 4.1 Conceito Biomecânica: disciplina que usa princípios físicos para estudar como as forças (internas e externas) atuam no corpo. Aplicação dos princípios da mecânica para estudar os organismos vivos. Cinesiologia: é o estudo do movimento. Reúne os campos de anatomia, fisiologia, física e geometria e os relaciona com o movimento humano. 4.2 Tipos de Movimento Movimento linear: Todas as partes do objeto percorrem a mesma distância, na mesma direção e ao mesmo tempo. Movimento linear retilíneo - ocorre em linha reta. Movimento linear curvilíneo - ocorre numa trajetória curva. Movimento angular: o movimento de um objeto em relação a um ponto fixo. Todas as partes do objeto se movem através do mesmo ângulo, na mesma direção e ao mesmo tempo. Não percorrem a mesma distância. 4.3 Movimentos Articulares As articulações se movem em muitas direções diferentes. O movimento ocorre em torno dos eixos e planos da articulação. Movimentos: I. Flexão - quando um segmento corporal é movido num plano de tal modo que sua face anterior ou posterior aproxima-se da face anterior ou posterior do segmento corporal adjacente. Diminui o ângulo da articulação. II. Extensão - é o contrário. Parte-se de uma posição fletida para posição anatômica, ou mesmo, ultrapassando, se isto for possível. Aumenta o ângulo da articulação. III. Abdução - é o movimento de um segmento corporal para longe (afastando-o) da linha central do corpo (linha mediana). IV. Adução - é o contrário. Parte-se de uma abdução, retornando à posição anatômica, ou mesmo, ultrapassando, se isto for possível. V. Rotação Medial - ocorre quando a face anterior do segmento volta-se para o Curso de Especialização em Podologia 29
30 Anatomia e Biomecânica de MMII plano mediano do corpo. VI. Rotação Lateral - é o contrário. A face anterior do segmento volta-se para o plano lateral do corpo. VII. Circundução - é o movimento no qual uma parte do corpo descreve um cone cujo o vértice está na articulação e a base na extremidade distal da parte. Casos Especiais: Pronação do Antebraço - Rotação medial. Supinação do Antebraço - Rotação lateral. Desvio Ulnar - Adução do punho. Desvio Radial - Abdução do punho. Rotação Medial do Tornozelo - Inversão Rotação Lateral do Tornozelo Eversão 4.4 Termos Patológicos Comuns I. Fratura é a interrupção na continuidade de um osso. Ela pode ser causada por quedas, impactos fortes ou movimentos violentos. Há vários tipos de fraturas. Fratura fechada é assim chamada quando a pele não é rompida pelo osso quebrado. Fratura aberta ou exposta ocorre quando o osso atravessa a pele e fica exposto. A possibilidade de infecção neste tipo de fratura é muito grande e, portanto, deve ser observada com atenção. Fratura completa abrange toda a espessura do osso. Fratura incompleta engloba parte da espessura do osso. II. Luxação é o deslocamento de um osso da articulação, geralmente acompanhado de uma lesão de ligamentos e da cápsula articular. Isso resulta no posicionamento anormal dos dois ossos da articulação. III. Entorse é uma lesão que ocorre quando se ultrapassa o limite normal de movimento de uma articulação. Normalmente, ocasiona laceração parcial ou completa das fibras de um ligamento. IV. Tendinite é uma inflamação aguda ou crônica que pode afetar qualquer tendão do corpo. V. Tenossinovite é a inflamação da bainha do tendão, um tecido que recobre um grupo de tendões. VI. Sinovite é uma inflamação da membrana sinovial. VII. Bursite é uma inflamação da bursa, um tecido que atua como uma pequena almofada localizada no interior de uma articulação, evitando o atrito entre o tendão e o osso. VIII. Capsulite é uma inflamação da cápsula articular. 30 Curso de Especialização em Podologia
31 Capítulo 4 Introdução à Biomecânica de MMI 4.5 Graus de Liberdade As articulações também podem ser descritas pelos graus de liberdade ou pelo número de planos nos quais podem se mover. Classificação Funcional das Articulações O movimento das articulações depende essencialmente da forma das superfícies que entram em contato e dos meios de união que podem limitá-lo. Na dependência destes fatores as articulações podem realizar movimentos de um, dois ou três eixos. Este é o critério adotado para classificá-las funcionalmente. Articulação Monoaxial: quando uma articulação realiza movimentos apenas em torno de um eixo (1 grau de liberdade). Articulação Biaxial: quando uma articulação realiza movimentos em torno de dois eixos (2 graus de liberdade). Articulação Triaxial: quando uma articulação realiza movimentos em torno de três eixos (3 graus de liberdade). 4.6 Sistemas Dinâmicos Cinéticos: são aquelas forças que produzem o movimento. Parte da biomecânica que lida com as forças que atuam no movimento. O conhecimento das forças é necessário para se entender as causas do movimento. Forças: Representação das forças que agem sobre um sistema (forças internas e externas) FORÇAS INTERNAS FORÇAS EXTERNAS: resistência do ar - peso corporal - atrito do chão - inércia Cinemáticos: são os aspectos de tempo, de espaço e de massa de um sistema de movimento. Parte da mecânica que lida com a descrição do movimento. Não se preocupa com as forças que causam o movimento. O corpo humano pode assumir muitas posições diferentes, que parecem serem difíceis de descrever ou classificar. A cinemática é a ciência relacionada com a descrição das posições e os movimentos do corpo no espaço. Tipos de movimento: osteocinemática e artrocinemática. Curso de Especialização em Podologia 31
32 Osteocinemática (movimento ossos) Flexão, extensão, abdução, adução, rotação externa, interna, etc. Anatomia e Biomecânica de MMII Artrocinemática (movimento nas superfícies articulares) Rolamento: múltiplos pontos fazem contatos com múltiplos pontos na outra face. (Pneu rolando no asfalto). Deslizamento: ponto único faz contatos com múltiplos pontos. (Pneu derrapando na neve). Rotação: ponto único girando sobre um ponto único (Peão rodando no chão). Diversos movimentos que ocorrem no corpo humano envolvem mais de um tipo de movimento articular. 4.7 Alavancas Alavancas de 1ª classe (interfixas) Alavancas de 2ª classe (inter-resistentes) Alavancas de 3ª classe (interpotentes) Alavancas Musculoesqueléticas: barra suspensa sobre uma articulação que tem a função de converter força em torque. Torque: capacidade da força de causar movimento da alavanca. É o produto da magnitude da força aplicada (f) pela distância (d) perpendicular da linha de ação dessa força em relação ao eixo. 32 Curso de Especialização em Podologia
33 Capítulo 4 Introdução à Biomecânica de MMI T = f x d ( Braço de Alavanca) Alavanca de 1ª Classe (INTERFIXA) - Eixo de rotação entre as forças de oposição. Forças atuam em direções lineares semelhantes produzindo torques em posições opostas. Nas alavancas de 1ª classe (INTERFIXAS) o ponto de apoio está entre o ponto de aplicação da força de ação e o da força de resistência. Curso de Especialização em Podologia 33
34 Anatomia e Biomecânica de MMII A Alavanca de 2ª Classe (INTER-RESISTENTE) - Eixo de rotação localizado em uma das extremidades possuindo as forças internas maiores vantagens mecânicas. Gera mais força. Nas da 2ª classe (INTER-RESISTENTES), o ponto de aplicação da força de resistência está entre o da força de ação e o ponto de apoio. 34 Curso de Especialização em Podologia
35 Capítulo 4 Introdução à Biomecânica de MMI Alavanca de 3ª Classe (INTERPOTENTE) - Eixo de rotação localizado em uma das extremidades possuindo as forças externas maiores vantagens mecânicas. Mais comum no corpo humano. Mais ADM. Nas da 3ª classe (interpotentes), a força de ação está aplicada entre a de resistência e o ponto de apoio. Curso de Especialização em Podologia 35
36 Anatomia e Biomecânica de MMII Alavancas do Corpo humano Vantagem Mecânica: A eficiência de uma alavanca para mover uma resistência é VM = BF/BR. BF- distância do eixo até a força / Braço de Momento (BF) é a distância entre o eixo de uma articulação e o ponto de aplicação de força muscular (inserção do músculo). BR- distância do eixo até a resistência. A grande maioria das alavancas do nosso corpo, por serem de 3ª classe e terem as inserções dos músculos próximas das articulações, apresentam baixa força. O corpo humano como um sistema de alavancas: os músculos e os ossos juntamente com as articulação formam alavancas que nos permitem executar atividades corriqueiras como por exemplo: levantar objetos, andar e mastigar. Para cada movimento, há pelo menos 2 músculos que trabalham antagonicamente: quando um se contrai, o outro se distende. Por exemplo, ao flexionar o antebraço, há uma contração do bíceps e uma distensão do tríceps. 36 Curso de Especialização em Podologia
37 Capítulo 4 Introdução à Biomecânica de MMI Cadeias cinéticas Constituídas por uma combinação de várias articulações unindo segmentos sucessivos. Cadeia cinética aberta: segmentos podem mover-se independentemente. Articulação distal livre. Cadeia cinética fechada: o movimento de um segmento exige que os outros segmentos se movam. Articulação distal fixa. Importante para sabermos qual segmento está movendo. Tipos de contração muscular Isométricas: ocorrem quando a tensão desenvolvida é dentro do músculo, mas os ângulos articulares permanecem constantes. Servem para estabilizar as articulações enquanto outras são movidas. Gera tensão mus-cular sem realizar movimentos. Isotônicas: envolvem desenvolvimento de tensão por parte do músculo para originar ou controlar o movimento articular. A variação no grau de tensão dos músculos faz com que os ângulos articulares mudem. (Concêntrica e Excêntrica). Concêntrica: o músculo se encurta e traciona outra estrutura, como um tendão, reduzindo o ângulo de uma articulação. Excêntrica: quando aumenta o comprimento total do músculo durante a contração. ADM (amplitude de movimento) Movimento completo possível. Complexidade do movimento humano (estruturas envolvidas). Pacientes com afecções ortopédicas. Curso de Especialização em Podologia 37
38 Anatomia e Biomecânica de MMII Estruturas envolvidas: Cápsula articular, ligamentos, músculos, tendões, bursas, meniscos, fáscia, pele, sistema nervoso intacto. Pré-requisitos de mobilidade normal: movimentos artrocinemáticos, osteocinemáticos e coordenação neuromuscular. 4.8 Ação muscular As fixações musculares são descritas como origem e inserção. Quando um músculo contrai e encurta, uma de suas extremidades geralmente permanece fixa, enquanto a outra extremidade (mais móvel) é puxada em direção a ele, resultando em movimento. Geralmente a inserção (osso mais móvel) se move em direção à origem (osso mais estável). A origem geralmente é a extremidade proximal do músculo e que permanece fixa durante a contração, ou seja, é a extremidade presa ao osso que não se desloca (ponto fixo). A inserção é a extremidade distal do músculo que se movimenta durante a contração, ou seja, é a extremidade presa ao osso que se desloca (ponto móvel). Exemplo: quando o bíceps contrai, o antebraço se move em direção ao úmero. O úmero é mais estável porque está fixado no esqueleto axial. O antebraço é mais móvel porque está ligado à mão, que é muito móvel. Reversão da Ação Muscular: se fizermos o mesmo movimento mas com a parte distal fixa (flexão de braço), aí será o contrário: a origem se move em direção à inserção. O úmero se moveria em relação ao antebraço. Classificação funcional dos músculos esqueléticos Agonista: é o agente principal na execução de um movimento. Antagonista: é aquele que se opõe ao trabalho de um agonista Sinergista: aquele que atua no sentido de eliminar algum movimento indesejado que poderia ser produzido pelo agonista. Fixador: fixam um segmento do corpo para permitir um apoio básico nos movimentos executados por outros músculos. Importante: estes conceitos são dinâmicos, ou seja, um músculo que em determinado momento é agonista em outro pode ser antagonista ou fixador ou sinergista. 38 Curso de Especialização em Podologia
39 Capítulo 5 Marcha CAPÍTULO 5 MARCHA 5.1 Introdução A postura corporal e a locomoção normal exigem integridade da função visual, vestibular, proprioceptiva e um equilíbrio músculo-esquelético. Qualquer alteração em algum desses sistemas, determinará um comprometimento durante as fases da marcha. Necessidade básica de se mover de um lugar ao outro. Atividade mais comum realizada no cotidiano. Tarefa aparentemente fácil mas, somente com 7 anos de idade nos conseguimos uma marcha refinada. No final da vida a marcha novamente pode se tornar um desafio. 5.2 Ciclos da marcha Durante a marcha realizamos uma seqüência de movimentos para movermos o corpo para frente. Simultaneamente o corpo se adapta para manter a postura estável. Ao movermos o corpo para frente um membro serve como fonte móvel de apoio e o outro membro avança para a posição de apoio. Essa seqüência é chamada de ciclo de marcha e por definição ela tem início a partir do contato inicial. 5.3 Divisões do ciclo Cada ciclo é dividido em 2 períodos que são chamados de fases da marcha. Apoio Período do qual o pé está em contato com a superfície. Tem início com o contato inicial do calcanhar. Pode ser dividido em três intervalos: duplo apoio inicial, apoio simples e duplo apoio terminal. Balanço Tem início quando o pé é elevado da superfície. O termo é usado para o momento em que o pé está no ar para o avanço do membro inferior. Curso de Especialização em Podologia 39
40 Duração Distribuição normal: 60% para o apoio e 40% para o balanço. 5.4 Passada e passo Anatomia e Biomecânica de MMII O ciclo da marcha também pode ser chamado de passada. Ciclo: atividade que ocorre entre o tempo que o calcanhar de um membro toca o solo e o tempo que o mesmo pé toca o solo novamente. Um passo é a metade de um passo largo. Segundo Magee (2002): Andar é o simples ato de cair para frente e apoiar-se. Um pé sempre está em contato com o solo. Já na corrida, existe um período de tempo em que nenhum dos pés encontra-se em contato com o solo, período denominado de dupla flutuação. 40 Curso de Especialização em Podologia
41 Capítulo 6 Postura Corporal CAPÍTULO 6 POSTURA CORPORAL 6.1 Definição de postura Postura é uma composto das posições das diferentes articulações do corpo num dado momento. A postura correta é a posição na qual um mínimo de estresse é aplicado em cada articulação (Magee, 2002). A postura correta consiste no alinhamento do corpo com eficiências fisiológicas e biomecânicas máximas, o que minimiza os estresses e as sobrecargas sofridas ao sistema de apoio pelos efeitos da gravidade (Palmer & Apler, 2000). 6.2 Curvas primárias e secundárias da coluna vertebral Numa pessoa adulta normal a coluna vertebral deve ter basicamente quatro curvaturas, sendo duas primárias e duas secundárias. As curvaturas primárias, chamadas assim por formarem-se primeiro, são as cifoses. As secundárias, que são quebras angulares das primárias, são as lordoses que aparecem mediante as forças impostas sobre a coluna durante a infância. Curso de Especialização em Podologia 41
42 Anatomia e Biomecânica de MMII 6.3 Alterações posturais com a idade Com o passar dos anos, o sistema muscular esquelético, responsável pela sustentação e manutenção da postura do corpo, vai perdendo a sua tonicidade e enfraquecendo. Em consequência disso, as atividades diárias se tornam mais difíceis e são realizadas de forma mais lenta. Algumas alterações encontradas em pessoas idosas: Aumento das curvaturas da coluna: lombar, cervical e torácica; diminuição da densidade mineral óssea; redução da força muscular; desabamento do arco plantar do pé (conhecido como a planta do pé); redução da altura. 6.4 Alinhamento postural Na vista lateral, a linha de referência vertical, divide o corpo em secções anterior e posterior. O ponto de referência fixo é levemente anterior ao maléolo externo e representa o ponto básico do corpo em alinhamento ideal. 42 Curso de Especialização em Podologia
43 Capítulo 6 Postura Corporal Na vista posterior, a linha de referência vertical, divide o corpo em secções direita e esquerda. Na vista posterior, o ponto fica a meio caminho entre os calcanhares e representa o ponto básico do corpo em alinhamento ideal. 6.5 História Clínica Qual é a idade do paciente? Qual é a ocupação? Há um histórico de traumatismo? A família tem qualquer histórico de problemas na coluna? Existe antecedente de doença, cirurgia ou lesões graves que tenham ocorrido com o paciente? O sapato faz diferença para a postura ou os sintomas do paciente? Se uma deformidade estiver presente, ela é progressiva ou estacionária? Qual é a natureza, extensão, tipo e duração da dor? Existem posturas ou ações que aumentam ou diminuam a dor? Qual a atividade ou lazer habitual do paciente? Que atividades agravam e aliviam a dor? 6.6 Avaliação postural A avaliação postural deve determinar se um segmento corporal ou articulação desvia- -se de um alinhamento /postura ideal. O paciente deve sentir-se à vontade e evitar rigidez e posições não-naturais. Deve ser visualizado o equilíbrio global do corpo; É importante verificar as alterações de tempos em tempos para certificar-se dos dados, se a posição não mudou, porque o paciente pode corrigir sua alteração momentaneamente. 6.7 Causas de postura incorreta Traumatismo Patologias que limitam a perda funcional da força muscular e a mobilidade Hábitos de postura viciosa Fraqueza muscular Atitude Mental Hereditariedade Curso de Especialização em Podologia 43
44 Anatomia e Biomecânica de MMII 44 Curso de Especialização em Podologia
45 Capítulo 7 Quadril CAPÍTULO 7 QUADRIL 7.1 Estrutura do quadril: O quadril é a mais proximal das articulações dos MMII. Muito importante na sustentação do peso e nas atividades de locomoção. O quadril, ou articulação coxo-femoral é formado pelo osso da bacia (pelve) e o fêmur (o mais longo osso do corpo). Assemelha-se a uma esfera dentro de uma taça invertida. A esfera é a parte de cima do fêmur, ou cabeça do fêmur, e a taça é o acetábulo (de acetabulum do latim). Entre os dois ossos existe uma camada de cartilagem que possibilita o deslizamento com mínimo atrito e a lubrificação entre estas superfícies, além de espessos ligamentos, que mantém a articulação firmemente unida. Promove movimento simultâneo entre os MMII e a pelve. Suas características anatômicas propiciam uma boa estabilidade tanto na posição estática quanto em movimento. Na borda do acetábulo existe uma estrutura de cartilagem fibrosa parecida com um lábio (no latim: labrum). Esta estrutura tem funções importantíssimas na manutenção do selo articular, na lubrificação, na distribuição homogênea de carga na cartilagem, na propriocepção. Curso de Especialização em Podologia 45
46 Anatomia e Biomecânica de MMII Possuem poderosos músculos que permitem que adotemos a postura bípede. Estes músculos por sua vez possuem fortes tendões e pequenas bolsas interpostas: bursas, reduzindo o atrito e possibilitando um melhor deslizamento. O quadril proporciona movimento e estabilidade ao corpo, atuando de forma sincronizada durante a marcha com toda a musculatura dos membros inferiores, coluna e pelve. O quadril suporta grandes pressões durante a marcha, podendo chegar numa caminhada normal até a 3 vezes o peso do corpo e até cerca de 8 vezes o peso do corpo numa corrida rápida. Membrana sinovial reveste a parte interna da cápsula articular. A face externa é reforçada pelos ligamentos: iliofemoral, pubofemoral e isquiofemoral. Iliofemoral: Limitar a hiperextensão e a rotação externa. Pubofemoral: Limitar a hipertextensão e a abdução. Isquiofemoral: Limitar a adução, rotação interna e hiperextensão. Bursas localizadas em áreas de atrito excessivo, sob tendões e proeminências ósseas. Bursa trocantérica: trocânter maior e tensor da fáscia lata. Bursa iliopectínea: sobre a articulação do quadril e iliopsoas. Bursa isquiática: sobre a tuberosidade isquiática, glúteo e ísquiotibiais. 7.2 Ângulo de inclinação do Fêmur Descreve o ângulo no plano frontal entre o colo e o corpo do fêmur. Nascimento 140 a 150 graus. Idade adulta 125 graus.( ângulo de alinhamento ótimo) Coxa vara: inclinação menor que 125 graus. Coxa valga: inclinação maior que 125 graus. Alteração nesse ângulo altera a biomecânica do quadril. 46 Curso de Especialização em Podologia
47 Capítulo 7 Quadril 7.3 Ângulo de torção do Fêmur Ângulo entre o corpo e o colo do fêmur no plano trans-verso. Normal: 15 a 25 anteversão. Anteversão excessiva: maior que 25. A anteversão é um ângulo aumentado e pode resultar na marcha com os dedos do pé virados medialmente. Retroversão: menor que 15. Retroversão é um ângulo diminuído e pode resultar na marcha com os dedos do pé virados lateralmente. O padrão de marcha apresentado em um paciente com anteversão da cabeça do fêmur pode levar a uma rotação interna exagerada do quadril e hálux valgo. A) Anteversão excessiva B) Anteversão excessiva com metatarso aduto C) Anteversão normal D) Retroversão Curso de Especialização em Podologia 47
48 Anatomia e Biomecânica de MMII 7.4 Movimentos do quadril Articulação triaxial do tipo bola-e-soquete (esferóide). Movimento ocorre nos 3 planos. Plano sagital: flexão, extensão e hiperextensão. Plano frontal: adução e abdução. Plano transverso: rotação interna e externa. Movimento alterado no quadril pode indicar uma doença nessa estrutura e causar limitações na marcha. Movimentos ADMS Flexão 0 a 120 Extensão 0 a 30 Abdução 0 a 45 Adução 0 a 30 Rotação externa 0 a 45 Rotação interna 0 a Função muscular no quadril AÇÃO Flexão Extensão Abdução Adução Rotação interna Rotação externa Combinação de flexão e abdução Combinação de Flexão, abdução e rotação externa MÚSCULO Reto femoral, iliopsoas. Glúteo máximo, semitendinoso, semimembranoso e bíceps femoral. Glúteo médio e glúteo mínimo. Adutor curto, longo, magno, pectíneo e grácil Glúteo mínimo Glúteo máximo, OOGGPQ TFL Sartório 7.6 Pelve Alguns ossos se unem para formar extremidade inferior do tronco, a pelve, popularmente conhecida como bacia. Ossos: Sacro- Cóccix- Ílio- Ísquio- Púbis. 48 Curso de Especialização em Podologia
49 Capítulo 7 Quadril Curso de Especialização em Podologia 49
50 Anatomia e Biomecânica de MMII 50 Curso de Especialização em Podologia
51 Capítulo 8 Joelho Capítulo 8 JOELHO 8.1 Estrutura do joelho Considerado a maior articulação do corpo humano, com pouca estabilidade no esqueleto ósseo e muita flexibilidade. Formado por 2 ossos: o fêmur (coxa) e a tíbia (perna). Articulação entre os côndilos femorais convexos e os côndilos levemente côncavos da tíbia. Estabilizador dessa articulação: quadríceps. Articulação sinovial em dobradiça - com componente rotacional. Os movimentos funcionais do joelho são: flexão, extensão, rotação medial (rodar internamente) e rotação lateral (rodar externamente). Forte inter-relação com o quadril e o pé (vários músculos cruzam o quadril e o joelho). Possui funções biomecânicas muito importantes que podemos observar na marcha e na corrida. Função: diminuir o comprimento do MI, absorção de choque, conservação e transmissão de forças. Configuração óssea do joelho confere pouca estabilidade. Estabilidade: Tecido mole e contrátil. Lesões comuns no joelho: lesão cartilaginosa (osteoartrose) e lesão ligamentar. Região distal do fêmur: Côndilo lateral e medial; Fossa intercondilar; Epicôndilo lateral e medial. Curso de Especialização em Podologia 51
52 Anatomia e Biomecânica de MMII Patela: forma de polia articulando com o fêmur (articulação patelofemoral). Face articular posterior: recoberta com cartilagem. Articula-se com a face intercondilar do fêmur. Fíbula: Não sustenta peso, mas ajuda a manter o alinhamento da tíbia. 52 Curso de Especialização em Podologia
53 Capítulo 8 Joelho Tíbia: Eminência intercondilar; Tuberosidade da tíbia; Platô tibial. Faces articulares são levemente côncavas. 8.2 Artrologia Fêmur ligeiramente curvado medialmente devido ao ângulo de inclinação da cabeça do fêmur. Normal: joelho levemente valgo. Joelho com ângulo lateral maior que 180 graus: joelho varo (cambota). Joelho com ângulo menor que 170 graus: joelho valgo excessivo (perna torta). Curso de Especialização em Podologia 53
54 Anatomia e Biomecânica de MMII 8.3 Estrutura Articular Articulação entre os côndilos (convexos) do fêmur com os côndilos (côncavos) da tíbia. Estabilidade articular é fornecida pelos músculos, ligamentos, cápsula, meniscos e pelo peso corporal. Envolve a articulação do joelho e a articulação patelofemoral. Reforçada pelos ligamentos, músculos e fáscias musculares. Parte interna da cápsula: membrana sinovial: Bursas: 13/14 bolsas formam junção entre os tecidos que entram em atrito durante o movimento. Função: reduzirem o atrito. Forças excessivas e repetitivas podem levar a uma bursite. Meniscos: Discos fibrocartilaginosos semilunares que estão localizados na articulação do joelho. Fixam na tíbia e na cápsula articular. São relativamente livres para se movimentar dentro da articulação. 54 Curso de Especialização em Podologia
55 Capítulo 8 Joelho Função: Aumentar a congruência articular. Reduzir o estresse articular. Reduzir o atrito. Conduzir a artrocinemática do joelho. 8.4 Estruturas Ligamentares Ligamentos colaterais: Função: limitar os movimentos no plano frontal. Estão tensionados na extensão total do joelho Flexão dos joelhos: relativamente relaxados Ligamentos cruzados: LCA: Limitam o deslizamento anterior excessivo da tíbia ou deslizamento posterior do fêmur. Extensão excessiva do joelho. Extremos: varo, valgo e rotação. LCP: Limitam o deslizamento posterior excessivo da tíbia e o deslizamento anterior do fêmur. Fibras tensas na extensão completa e nos extremos de varo, valgo e rotação. Curso de Especialização em Podologia 55
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