Proteção e Segurança Radiológica em Medicina Nuclear
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- Mateus Augusto Campos Peres
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1 Proteção e Segurança Radiológica em Medicina Nuclear Luís Freire (luis.freire@estesl.ipl.pt)
2 1. Introdução 1.1 Noções gerais Perceção do risco: A perceção do risco potencial associado a uma determinada atividade humana é, por vezes, errada. Em particular, as pessoas têm a noção de que todas as atividades relacionadas com a saúde são inerentemente seguras. No entanto, o (des)conhecimento crescente em relação à utilização de radiações (eletromagnéticas) em várias atividades humanas - não só em medicina mas também nas telecomunicações, no transporte e produção de energia cria grandes desconfianças em relação a essas mesmas atividades. Atente-se no seguinte exemplo: 1.02
3 1. Introdução 1.1 Noções gerais Ordem alfabética Aviação Comercial Armas de fogo Tabaco Bebidas alcoólicas Caça Veículos motoriz. Energia nuclear Raios-X Natação Caminhos de ferro Vacinas Combate incêndios Pesticidas Alunos universitários Energia nuclear Armas de fogo Tabaco Pesticidas Veículos motoriz. Bebidas alcoólicas Combate incêndios Aviação Comercial Raios-X Caça Caminhos de ferro Vacinas Natação Seguradoras Tabaco (150k) Bebidas alcoólicas (100k) Veículos motoriz. (50k) Armas de fogo (17k) Natação (3k) Raios-X (2.3k) Caminhos de ferro (2k) Caça (0.8k) Combate incêndios (195) Aviação Comercial (130) Energia nuclear (100) Vacinas (10) Pesticidas 1.03
4 1. Introdução 1.1 Noções gerais Outra forma de relacionar o risco potencial de uma dada atividade é através da perda média de esperança de vida; atente na seguinte tabela: Fumar um cigarro Trabalho na construção civil Acidentes domésticos Mineiro desde os 20 anos Excesso de peso de 20% 10 minutos 94 dias 95 dias 155 dias 2,7 anos Os valores nela contidos permitem, entre outras coisas, perceber que os resultados devem ser devidamente contextualizados (geográfica, social e economicamente) e que a nossa perceção pode ser errada. 1.04
5 1. Introdução 1.1 Noções gerais Para as exposições a radiação ionizantes, também é possível fazer uma estimativa da perda média de esperança de vida: 1 mrad de radiação 1,5 minutos 10 msv de exposição ocupacional 1 dia 5 msv/ano desde os 20 anos 7 dias 50 msv/ano desde os 20 anos 68 dias 1.05
6 1. Introdução 1.2 Fontes de radiação ionizante Antes de continuarmos, vejamos os diferentes tipos de fontes de radiação que existem. Fontes naturais: Radiação cósmica - protões (90%), partículas (9%) e eletrões (1%); Radioisótopos naturais (por exemplo, gás de 222 Rn libertado das paredes nas casas graníticas); K-40 presente no cimento. 1.06
7 1. Introdução 1.2 Fontes de radiação ionizante Fontes artificiais: aparelhos de raios-x utilizados em diagnóstico (responsáveis por 90%* da irradiação artificial da espécie humana); Aparelhos de raios X destinados à investigação e à indústria; Medicina Nuclear e Radioterapia; Radioisótopos produzidos em: navios de propulsão nuclear; aceleradores; centrais nucleares; armas e ensaios nucleares (fallout). Lâmpadas de radiação ultravioleta. *Fonte: National protocol for patient dose measurements in diagnostic radiology,
8 1. Introdução 1.2 Fontes de radiação ionizante % msv/ano Radiação cósmica 14 0,40 Radiação terrestre 16 0,46 Radioisótopos presentes no corpo 8 0,23 Rn-222 e descendentes 49 1,41 Exposições médicas 11 0,31 Exposições ocupacionais 0,2 0,005 Fallout 0,4 0,01 Outros 0,4 0,01 Total 100 ~
9 1. Introdução 1.2 Fontes de radiação ionizante 1.09
10 1. Introdução 1.3 Radiação ionizante (classificação IARC) Importância Biológica: Radiação X e causa danos biológicos (Grupo 1 da classificação IARC international agency for research in cancer). Classificação IARC: - Radiação Solar (Grupo 1), - UV-A (Grupo 2A) - UV-B (Grupo 2A) - UV-C (Grupo 2A) - Lâmpadas solares e solários (Grupo 1) - Exposição a luz fluorescente (Grupo 3) Evidências de carcinogénese: Grupo 1 (suficientes), Grupo 2A (provável), Grupo 2B (possível), Grupo 3 (inadequadas), Grupo 4 (não cancerígeno). 1.10
11 2. Princípios de proteção radiológica 2.1 Grandezas dosimétricas As grandezas dosimétricas podem-se dividir em três grandes grupos: físicas (incluindo a radioatividade); de proteção; operacionais. 2.01
12 2. Princípios de proteção radiológica 2.1 Grandezas dosimétricas (Radio)atividade (física): A (radio)atividade é uma medida da taxa de desintegração nuclear (decaimento) de um determinado radioisótopo. A unidade do sistema métrico é o Becquerel, [Bq], que tem dimensões de frequência [s -1 ], ou seja, número de desintegrações por segundo. Tradicionalmente, era utilizado o curie [Ci], que se relaciona com o [Bq] através da expressão: 1 Ci = 3, Bq 2.02
13 2. Princípios de proteção radiológica 2.1 Grandezas dosimétricas Exposição (física): A exposição mede a ionização do ar produzida por radiação X ou gama de energia inferior a 3 MeV, por unidade de massa do ar. A ionização é expressa em unidades de carga elétrica (Coulomb [C] = [As]). A unidade do sistema métrico é, por isso, [C/kg] (coulombs por quilograma de ar). Esta grandeza é, frequentemente, referida como exposição no ar. No sistema tradicional, era utilizado o Roentgen, [R], o qual se define como: 1 R = 2, C/Kg 2.03
14 2. Princípios de proteção radiológica 2.1 Grandezas dosimétricas Dose absorvida média (proteção): A dose absorvida média, D T, mede a energia depositada pela radiação ionizante por unidade de massa de um determinado material. Considerando um órgão ou tecido T, D T é calculada através da expressão: D T 1 m T D dm [ J] em que m T é a massa do tecido ou órgão e D a dose absorvida no elemento de massa dm. 2.04
15 2. Princípios de proteção radiológica 2.1 Grandezas dosimétricas A unidade da dose absorvida média (daqui em diante referida apenas como dose absorvida), é o Gray, [Gy]. Como a energia tem dimensões de Joule [J] e a massa de quilograma [Kg], o Gray (Gy) é definido como: 1 (Gy) = 1 (J/Kg). Tradicionalmente, era utilizado o rad (radiation absorbed dose). A sua relação com o Gray é dada por: 1 Gy = 100 rad. 2.05
16 2. Princípios de proteção radiológica 2.1 Grandezas dosimétricas Dose equivalente (proteção): A dose equivalente, H T, permite quantificar a dose recebida num dado órgão ou tecido, T, no caso de um campo de irradiação misto. Para isso, é definido um parâmetro de ponderação w R adimensional para cada tipo de radiação, obtendo-se: H T wrdt, R R em que D T,R é a dose absorvida (média) no tecido T devido ao tipo de radiação R. 2.06
17 2. Princípios de proteção radiológica 2.1 Grandezas dosimétricas A unidade do sistema métrico para a dose equivalente é o Sievert (Sv), o qual também tem dimensões de [J/Kg]. A unidade tradicional é o rem (radiation equivalent man), que se relaciona com o Sievert da seguinte forma: 1 Sv = 100 rem O parâmetro w R é obtido através da tabela apresentada no slide seguinte. Para neutrões, pode-se ainda utilizar a expressão apresentada a seguir à tabela (obtida de acordo com a última publicação da ICRP). 2.07
18 2. Princípios de proteção radiológica 2.1 Grandezas dosimétricas 2.08
19 2. Princípios de proteção radiológica 2.1 Grandezas dosimétricas Dose efetiva (proteção): É sabido que certos tecidos são mais sensíveis à radiação; por exemplo, olhos, medula e gónadas. Para que o tecido seja tomado em consideração, pode-se calcular a dose efetiva (ou eficaz). Esta é obtida multiplicando a dose equivalente em cada órgão por um fator característico desse órgão. A unidade é a mesma da dose equivalente [Sv]. E wt HT wt wrdt, R T T R em que T indica o tecido celular. 2.09
20 2. Princípios de proteção radiológica 2.1 Grandezas dosimétricas 2.10
21 2. Princípios de proteção radiológica 2.1 Grandezas dosimétricas Exemplo 1: Durante um acidente nuclear, um trabalhador recebeu, em diferentes órgãos, as seguintes doses: - Pulmões: 0,2 Gy ( ), 0,3 Gy (n, E = 120 kev); - Pele: 0,9 Gy ( ), 0,3 Gy ( ); - Tiroide: 0,8 Gy (X), 0,3 Gy (n, E = 80 kev). Calcule a dose equivalente para cada órgão e a dose eficaz (de acordo com a publicação ICRP 60). Respostas: 6,2 Sv, 6,9 Sv, 3,8 Sv; 1,003 Sv 2.11
22 2. Princípios de proteção radiológica 2.1 Grandezas dosimétricas 1 R = 2, C/Kg 1 Gy = 100 rad 1 rad = 0,01 Gy 1 Sv = 100 rem 1 rem = 0,01 Sv 1Ci = 3, Bq Dose equivalente: Dose eficaz: Equivalente de dose: R tipo de radiação H T wrdt, R R E T w T H T r H T QRDT, R R N T tipo de tecido 2.12
23 2. Princípios de proteção radiológica 2.2 Noções de Radiobiologia Na Radiobiologia, existem algumas noções básicas que ajudam a compreender não só a interação da radiação com as estruturas biológicas, mas também as principais limitações subjacentes aos estudos realizados nesta área. Assim, sabe-se que: 1) efeitos biológicos das radiações ocorrem ao nível celular ou sub-celular; 2) todas as interações da radiação com as estruturas biológicas são descritas por funções de probabilidade. Por esse motivo, eventos individuais não podem ser previstos; apenas eventos globais podem ser descritos. 2.13
24 2. Princípios de proteção radiológica 2.2 Noções de Radiobiologia 3) dada a ordem de tempo em que estas interações ocorrem (entre os e os 10-5 segundos), é impossível medir, instantaneamente, o que está a acontecer. 4) a interação da radiação ionizante com a célula pode ser de ionização (eletrão é removido do átomo) ou de excitação (eletrão transita para um nível mais elevado). 5) o dano biológico (efeitos estocásticos) causado pela radiação X ou não pode ser distinguido do dano causado por outras fontes (ex: reações químicas, calor). 6) os efeitos da radiação podem-se manifestar após períodos que variam entre os segundos e as décadas (período de latência); 2.14
25 2. Princípios de proteção radiológica 2.2 Noções de Radiobiologia 7) a interação da radiação com as estruturas celulares pode ser direta (15% a 30%) ou indireta (70% a 85%): 7.1) Interação direta: Ocorre quando a energia da radiação ionizante é absorvida por biomoléculas (DNA, RNA, enzimas, proteínas estruturais), originando alterações estruturais/funcionais da célula; Tal acontece preferencialmente com radiação de elevada TLE (ex: neutrões rápidos, partículas ), mas os efeitos da radiação X e podem ser consideráveis; Em certos casos, o dano biológico pode não ser fatal, permitindo a reparação da célula; Se o dano ocorrer no DNA, pode transformar-se em mutação genética, passando para as futuras gerações da célula. 2.15
26 2. Princípios de proteção radiológica 2.2 Noções de Radiobiologia 7.2) Interação indireta: As interações indiretas ocorrem por radiólise (i.e., quebra por radiação) da molécula de água: HOH HOH e - O eletrão libertado pode recombinar-se com o HOH+ ou então juntar-se a uma molécula de água não ionizada, criando um radical livre ( ) HOH. Estas moléculas de HOH são quimicamente instáveis e tendem a separar-se em OH - e num radical livre de hidrogénio, H. HOH OH H 2.16
27 2. Princípios de proteção radiológica 2.2 Noções de Radiobiologia Os radicais H tendem a combinar-se com o oxigénio formando radicais de hidroperóxil, os quais podem provocar dano biológico, ou separar-se em peróxido de hidrogénio e oxigénio: H O 2 HO HO 2 2 H 2 O 2 O 2 Por outro lado, o ião HOH+ pode interagir com outra molécula de água, criando um radical hidróxilo OH e H 3 O, ou pode separarse num ião de hidrogénio e num radical hidróxilo: HOH HOH OH H3O HOH H OH 2.17
28 2. Princípios de proteção radiológica 2.2 Noções de Radiobiologia Nestes dois casos, os radicais hidróxilo podem combinar-se com outros radicais hidróxilo, formando peróxido de hidrogénio H 2 O 2. 2/3 de todo o dano biológico são provocados pelo H 2 O 2 resultante destes dois processos. Teoriza-se que a presença de oxigénio na terceira reação apresentada contribui para o facto de o nível de oxigenação celular afetar a radiossensibilidade do tecido. Este facto pode ser aproveitado, por exemplo, em Radioterapia, fazendo com que o paciente respire uma atmosfera rica em oxigénio (o que fará com que as células tumorais fiquem mais radiossensíveis). 2.18
29 2. Princípios de proteção radiológica 2.3 Efeitos estocásticos e determinísticos Os efeitos da radiação sobre as estruturas biológicas podem-se dividir em dois grupos: estocásticos e determinísticos. Efeitos estocásticos: São efeitos cuja probabilidade de ocorrência aumenta com a dose de radiação, mantendo-se, no entanto, improváveis. São descritos por curvas dose-resposta sem limite inferior (não thresholded). Exemplos: efeitos hereditários e carcinogénicos da radiação. Analogia: lotaria, totoloto, viajar de avião. 2.19
30 2. Princípios de proteção radiológica 2.3 Efeitos estocásticos e determinísticos Efeitos determinísticos: São efeitos que sucedem garantidamente para certos níveis de dose (doses elevadas). No entanto, para doses baixas, nenhum efeito é induzido. Estes efeitos são, geralmente, descritos por curvas doseresposta com limite inferior (thresholded). Exemplos: indução de cataratas, indução de danos na pele após sessões de radiologia de intervenção, alterações ao nível da fertilidade, radioterapia. Analogia: dinheiro investido no banco com depósito mínimo. 2.20
31 2. Princípios de proteção radiológica 2.3 Efeitos estocásticos e determinísticos Veja que se uma pessoa receber uma dose de radiação elevada na pele, isso pode provocar o aparecimento de efeitos determinísticos sem que, no entanto, isso dê lugar ao aparecimento de qualquer efeito estocástico. Pelo contrário, outra pessoa pode receber uma dose menor na pele, incapaz de dar lugar ao aparecimento de qualquer efeito determinístico, mas capaz de despoletar um efeito estocástico. O objetivo da Proteção Radiológica é evitar a ocorrência de efeitos determinísticos e minimizar a ocorrência de efeitos estocásticos decorrentes da utilização de radiações ionizantes para fins pacíficos. 2.21
32 2. Princípios de proteção radiológica 2.4 Lei de Bergonié e Tribondeau A lei de Bergonié e Tribondeau postula que a radiossensibilidade de uma célula é diretamente proporcional à sua atividade reprodutiva e inversamente proporcional ao seu grau de diferenciação. A atividade reprodutiva está relacionada com o nível de metabolismo. Logo, os maiores danos são observados em células de baixa maturidade e especialização, que se dividem rapidamente. Esta lei foi inicialmente postulada para células germinais, mas verificou-se a sua validade para outros tipos de células. 2.22
33 3. Proteção e segurança radiológica 3.1 Princípios de proteção radiológica Risco vs. benefício para o paciente: A realização de um exame de diagnóstico utilizando radiação ionizante comporta um risco que terá de ser sempre inferior ao benefício que advém do exame. A consciência deste risco por parte do paciente é importante, e chama a atenção dos médicos e técnicos para as suas funções de comunicadores e educadores. Quando se realiza um exame de diagnóstico utilizando radiação ionizante, deve-se minimizar sempre o risco a que o paciente está sujeito, sem nunca comprometer a qualidade do exame (benefício). 3.01
34 3. Proteção e segurança radiológica 3.1 Princípios de proteção radiológica Existem 3 princípios fundamentais que devem ser observados durante a utilização de radiações ionizantes para fins pacíficos, ou em resultado de acidentes ou catástrofes radiológicas ou nucleares: Princípio da justificação (das práticas): Nenhuma prática, envolvendo exposição a radiações, deve ser adotada se dessa prática não resultar um claro benefício para o homem ou para a sociedade. No caso de exposições médicas, este princípio é aplicável aos pacientes. 3.02
35 3. Proteção e segurança radiológica 3.1 Princípios de proteção radiológica Princípio da limitação da dose: A exposição dos indivíduos deve ser sujeita a limites de dose estabelecidos ou, no caso de exposições potenciais, ao controlo do risco, de modo a assegurar que nenhum indivíduo seja exposto a riscos de radiação julgados inaceitáveis para estas práticas em situações normais. No caso das exposições médicas, este princípio não é aplicável aos pacientes, mas apenas aos profissionais expostos. 3.03
36 3. Proteção e segurança radiológica 3.1 Princípios de proteção radiológica Otimização (ALARA): Todas as exposições às radiações e o número de indivíduos expostos devem ser mantidos a um nível tão baixo quanto razoavelmente possível, tendo em atenção diversos fatores de natureza económica e social. ALARA é o acrónimo de (as low as reasonably achievable). No caso das exposições médicas, este princípio é aplicável não só aos pacientes, mas também aos trabalhadores profissionalmente expostos. Este princípio foi recentemente mudado para ALARP (as low as reasonably possible). 3.04
37 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação A proteção dos médicos, técnicos e de outro pessoal deve ser feita através da: minimização do tempo de exposição; maximização da distância à fonte; otimização da blindagem de proteção; comunicação com o paciente. A proteção do paciente deve ser feita através: da efetiva comunicação com este; da seleção de parâmetros técnicos adequados; do correto posicionamento e utilização de dispositivos de imobilização sempre que necessários; 3.05
38 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação Tempo: Os médicos e técnicos devem minimizar a quantidade de tempo despendida na área da fonte de radiação. A exposição (dose) à radiação é diretamente proporcional ao tempo de exposição, de acordo com a expressão: I 1 t2 I2 t1 Exame RF Act. [mci] T [min] X [mr] Osso (Cintigrafia óssea) 99m Tc ,15 Coração (Cintigrafia de Perfusão) 99m Tc ,45 Pulmão (Cintigrafia de Perfusão) 133 Xe ,11 Coração (Cintigrafia de Perfusão) 201 Tl 2,2 32 0,
39 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação Distância: A distância é o meio mais eficaz (de entre os três mencionados primeiramente) de reduzir a exposição à radiação. A variação da intensidade de exposição (dose recebida pelo profissional de saúde) é inversamente proporcional ao quadrado da distância à fonte (primária ou secundária). Esta é dada segundo a expressão: I I 1 2 em que d 1 e d 2 são, respetivamente, as distâncias à fonte na primeira e segunda exposições. d d
40 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação A expressão anterior é válida se forem mantidas as outras variáveis (tempo e blindagem). Exemplo 2: Se um profissional é exposto a uma dose efetiva de 0,3 mrem estando à distância de 2 metros da fonte, qual é a dose efetiva se estiver a 1 metro (assumindo todos os outros fatores constantes)? Resposta: 1,2 mrem. 3.08
41 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação Blindagem: É feita através do uso de estruturas fixas (feitas em chumbo ou betão), ou de dispositivos móveis e pessoais de proteção feitos em chumbo ou noutros materiais com número atómico elevado. O chumbo (Z = 82) é utilizado devido à sua grande capacidade em absorver fotões por efeito fotoelétrico. As estruturas são classificadas como primárias, se forem colocadas para proteger do feixe principal (ex: parede atrás do paciente), ou como secundárias, se forem colocadas para proteger da radiação difusa (ex: teto, sala de comando). 3.09
42 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação A blindagem é medida em termos de HVL (x 1/2 ) e varia com a energia da radiação. No caso de um feixe monoenergético, com N 0 fotões, incidente sobre uma placa de espessura x, o feixe será atenuado em N fotões, de acordo com a expressão: N N0 x 3.10
43 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação em que é constante de proporcionalidade. Resolvendo a equação anterior, obtém-se a expressão: N N 0 e x emque ln2 x 1 2 Exemplo 3: Sabendo que um feixe de radiação X com 120 kev atravessa uma placa de chumbo com 0,8 mm, calcule o valor da atenuação. Resposta: a atenuação é de 95,4%. 3.11
44 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação Os dispositivos de proteção pessoal compreendem: Avental: É um dispositivo fundamental na proteção contra a radiação difusa, sendo geralmente feito à base de chumbo e borracha ou vinil. Este dispositivo cobre cerca de 80% da medula óssea. Para que funcione corretamente não deve apresentar vincos, pelo que não deve nunca ser dobrado. 3.12
45 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação Luvas: As luvas são geralmente feitas de chumbo, fornecendo uma proteção de chumbo equivalente a, pelo menos, 0,25 mm. O seu uso é fortemente aconselhado a quem tem de manusear material radioativo. 3.13
46 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação Proteções para a tiroide: Estudos de dosimetria mostram que uma das zonas do organismo do técnico sujeitas a maiores doses é a zona da tiroide (até 6 mrad por exame). Por isso, o uso de proteções para a tiroide é fortemente aconselhável, sobretudo nas mulheres, pois pode reduzir a dose absorvida na região do pescoço por um fator de
47 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação Proteções para a face e olhos: Pode ainda ser aconselhável o uso de óculos protetores, os quais são, geralmente, feitos à base de elementos com elevado número atómico (ex: chumbo ou bário). Esta preocupação deve-se ao facto de a radiação ter propriedades cataratogénicas. A proteção da face pode ser feita recorrendo a máscaras feitas à base de chumbo ou através de um vidro colocado por forma a proteger toda a cara. Estes dispositivos fornecem uma proteção equivalente àquela que seria proporcionada por 0,75 mm de chumbo. 3.15
48 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação Na Medicina Nuclear, as fontes radioativas devem ser guardadas em locais blindados. Devem ainda ser utilizadas seringas blindadas durante a preparação e administração do radiofármaco, se tal não prejudicar significativamente o tempo de manipulação do produto. Geradores de materiais radioativos deverão igualmente estar protegidos com uma blindagem de chumbo especialmente concebida para o efeito. Durante a preparação/manuseamento de radiofármacos, devem ser utilizados vidros blindados, os quais proporcionam uma proteção razoável para os olhos e tronco
49 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação No caso de manipulação de substâncias radioativas emissoras de partículas (eletrões) ( 32 P), devem ser utilizados dispositivos de blindagem de plástico ou Lucite. Dispositivos de blindagem feitos chumbo aumentariam a dose recebida pelo técnico, devido à produção de radiação de travagem (bremsstrahlung) mecanismo físico semelhante ao que acontece no ânodo de uma ampola de raios X. 3.17
50 3. Proteção e segurança radiológica 3.2 Proteção contra fontes externas de radiação A comunicação com o paciente constitui uma das principais maneiras dos médicos e técnicos se protegerem a si mesmos (e, obviamente, de proteger o paciente). Ao estabelecer a comunicação, baixam-se os níveis de ansiedade do paciente, garante que este compreende e executará os seus pedidos, e cumpre-se, caso seja lhe seja solicitada qualquer informação, a sua função de formador. Diminui-se assim, a probabilidade de repetição do exame, e contribui-se para que os pacientes fiquem mais esclarecidos sobre a Medicina Nuclear. Além disso, ao comunicar-se com o paciente, transmitese uma imagem de competência e à vontade. 3.18
51 3. Proteção e segurança radiológica 3.3 Proteção contra fontes internas de radiação Exposição interna: Os profissionais de Medicina Nuclear podem ser sujeitos a exposições internas motivadas pela inalação, ingestão ou absorção cutânea de substâncias radioativas. Este tipo de exposição não é facilmente monitorado. Devem ser tomadas medidas de precaução que incluem a proibição de comer, beber, fumar ou aplicar cosméticos em áreas aonde são usadas substâncias radioativas. Soluções preparadas com iodo radioativo são particularmente perigosas devido ao facto do iodo ser pouco solúvel em água, o que potencia a formação de vapor de iodo o qual pode ser, posteriormente, inalado. 3.19
52 3. Proteção e segurança radiológica 3.3 Proteção contra fontes internas de radiação A administração e a realização de estudos de ventilação com 133 Xe ou aerossóis de 99m Tc deve igualmente ser feita em salas com um bom sistema de ventilação, afim de reduzir a exposição interna (dos técnicos e de outros pacientes) por inalação. Segurança de uma médica/técnica grávida: Durante o período de gestação, o embrião/feto não deve receber uma dose superior a 1 msv (valor válido para qualquer trabalhadora profissionalmente exposta). 3.20
53 3. Proteção e segurança radiológica 3.4 Segurança durante a gravidez Antes da gravidez, as candidatas a mãe devem monitorar a dose mensal, assegurando-se que esta não excede 1 msv. No caso de isto acontecer, deverá ser feita a monitorização da dose nas gónadas. Após suspeitado/conhecido o estado de gravidez, uma médica/técnica de Medicina Nuclear não deverá trabalhar com o gerador de radionuclídeos ou ministrar tratamentos com iodo radioativo. A monitorização da dose deverá ser feita recorrendo a TLD s. Deve ter-se em conta que a exposição da superfície do abdómen sobrestima a dose fetal. O risco devido à radiação é mínimo quando comparado com outros riscos. 3.21
54 3. Proteção e segurança radiológica 3.5 Classificação dos trabalhadores expostos Os trabalhadores profissionalmente expostos podem ser classificados em duas categorias, consoante o nível de radiação recebido. Categoria A: dose efetiva anual 6 msv. dose equivalente: cristalino pele mãos, pés > 45 msv; > 150 msv; > 150 msv. Categoria B: qualquer trabalhador não incluído na categoria A. 3.22
55 3. Proteção e segurança radiológica 3.6 Proteção do paciente Antes da realização de qualquer exame, o registo clínico do paciente deverá ser consultado. No caso de dúvidas acerca do exame pretendido, o técnico deverá procurar esclarecimentos junto do médico, de forma a evitar expor o paciente a procedimentos desnecessários ou a utilizar procedimentos alternativos mais eficazes. A colocação de questões não deve ser encarada como um ato que põe em causa o trabalho de quem prescreveu o exame ou projetou o tratamento. Pelo contrário, deve ser visto como um ato que visa garantir o melhor para o paciente. 3.23
56 3. Proteção e segurança radiológica 3.6 Proteção do paciente Certas patologias, terapias ou medicações podem levar ao aparecimento de alterações na distribuição do radiofármaco. O conhecimento antecipado destas situações pode sugerir a mudança do exame, a aquisição de outras imagens ou complementar a interpretação dos resultados. É importante manter a noção de que o órgão que se pretende visualizar pode não ser o órgão mais irradiado. Nestes casos, é a dose nesse órgão crítico que vai influenciar a programação do exame. 3.24
57 3. Proteção e segurança radiológica 3.6 Proteção do paciente A correta instrução do paciente é outra maneira de aplicar o princípio ALARA. Uma falha na transmissão das instruções ou erros na avaliação da capacidade do paciente em cooperar resultam, por vezes, na necessidade de repetir o exame. 3.25
58 3. Proteção e segurança radiológica 3.6 Proteção do paciente Na maioria dos casos, o resultado do exame é comprometido devido ao facto do paciente: não parar de tomar certos medicamentos; não se abster de comer certos alimentos; não respeitar o horário estabelecido para a aquisição de outras imagens. O médico/ técnico deve igualmente encorajar o paciente a beber muitos líquidos ou a ingerir laxantes depois do exame. Doses mais elevadas do que o recomendado são prejudiciais; doses mais pequenas são contraproducentes (eventualmente mais prejudiciais). 3.26
59 3. Proteção e segurança radiológica 3.6 Proteção do paciente Em certas situações, como por exemplo após terapia com radionuclídeos, é aconselhável uma redução no contacto com outras pessoas, especialmente crianças. Mães em fase de aleitamento deverão interrompê-lo após realizarem um exame de Medicina Nuclear, não só devido à radiação gama emitida pela mãe, mas também ao facto do leite materno poder conter radionuclídeos. 3.27
60 3. Proteção e segurança radiológica 3.6 Proteção do paciente Sempre que for necessário imobilizar o paciente, deverse-á recorrer a dispositivos de imobilização apropriados. Por vezes, a utilização de dispositivos de imobilização é criticada, alegando-se que se deve procurar acalmar o paciente (geralmente crianças) até se conseguir realizar o exame. Como não há uma resposta clara para este problema, os médicos e os técnicos deverão continuar a refletir acerca deste problema e a adaptar-se à situação. 3.28
61 3. Proteção e segurança radiológica 3.6 Proteção do paciente Em termos de equipamento, estes deverão estar precisamente calibrados de maneira a que as medidas sejam o mais fidedignas possível. A calibração deve ser feita tendo em conta parâmetros de uniformidade, resolução e sensibilidade (e geometria). Os equipamentos, radiofármacos e doses devem estar otimizados de maneira a permitir a aquisição do exame no menor tempo possível e com a máxima qualidade, o que permite reduzir o desconforto para o paciente. 3.29
62 3. Proteção e segurança radiológica 3.7 Resíduos radioativos No caso de resíduos radioativos com períodos de semidesintegração reduzidos e baixas atividades (típicos da Medicina Nuclear), deve-se proceder ao seu armazenamento para decaimento. Estes resíduos devem ser separados por períodos de semi-desintegração. Após o decaimento radioativo, os resíduos são monitorados e os símbolos de radioatividade removidos. A partir desta altura, os resíduos são tratados como quaisquer outros resíduos. 3.30
63 3. Proteção e segurança radiológica 3.7 Resíduos radioativos Assim, resíduos com materiais perigosos como agulhas ou seringas devem ser incinerados; líquidos com atividades baixas podem ser eliminados pelo esgoto. Resíduos com períodos de semi-desintegração superiores a 65 dias devem ser entregues a empresas especializadas. Os gases com baixa atividade podem ser eliminados diretamente para a atmosfera. Em estudos de perfusão pulmonar são usados gases radioativos de Xe, ou aerossóis de 99m Tc que exigem cuidados redobrados de maneira a evitar uma contaminação. 3.31
64 3. Proteção e segurança radiológica 3.7 Resíduos radioativos Uma vez que administração destes gases tem de ser feita recorrendo a sistemas de ventilação em circuito fechado, deve-se despender o tempo necessário para que o paciente apreenda a maneira correta de o fazer. Por vezes, a cooperação do paciente pode ser difícil. Estes exames deverão ser realizados numa sala ventilada e mantida a uma pressão atmosférica inferior às salas contíguas. Este segundo requisito garante que, num caso de fuga em que exista comunicação direta com a sala de exame, o ar desta não sai para as salas contíguas, sendo expelido para a atmosfera. 3.32
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