Diego da Luz Rocha 1. Palavras-chave: circuito inferior, subdesenvolvido, espaço informal, produção, bancas. 1 Introdução

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1 O circuito inferior da economia na indústria calçadista em Birigui/SP: Divisão do trabalho e terceirização em espaços de produção informais o caso das bancas e a participação das mulheres como gestoras. Diego da Luz Rocha 1 Resumo: Com os avanços das tecnologias para atender as necessidades do sistema vigente para produção de variados produtos que aumentaram ao longo dos anos, tendo como palco principal os grandes centros urbanos, que de certa forma, afeta as cidades de países subdesenvolvidos e os em desenvolvimentos, onde o custo da produção é bem mais barato para empresas multinacionais, explorando o máximo a mão-de-obra. Todo esse arranjo produtivo acontece dentro de um sistema com dois processos diferentes, mas com a mesma finalidade, onde convenhamos chamar de circuito superior e inferior da produção econômica urbana. Mas a proposta desse trabalho é discutir a inserção da mulher no setor da terceirização da produção calçadista do município de Birigui/SP, onde o espaço é configurado de grandes empresas do setor, tendo como suporte da produção no sentido de baratear o produto, as inúmeras bancas distribuídas por toda cidade. A utilização de mulheres como gestoras do espaço informal produtivo é uma realidade no município, sendo o mesmo considerado o maior produtor nacional de calçado infantil. Por ser uma proposta de uma pesquisa inicial, o trabalho não irá apresentar resultados práticos. Palavras-chave: circuito inferior, subdesenvolvido, espaço informal, produção, bancas. 1 Introdução Segundo Souza (2006, p ) a indústria de calçados de Birigui teve origem no final da década de 50, mais especificamente no ano de 1958, época da instalação da primeira empresa de calçados infantis da cidade: a Ramos & Assumpção, de propriedade dos irmãos Assumpção. Ao longo dos anos Birigui vem se configurando desde a segunda metade do século XX como o principal polo da produção de calçados infantis da América Latina. As empresas de maior destaque (com renomes internacionais) se destacam no espaço urbano de Birigui através da magnitude de suas plantas industriais e dos fluxos de 1 Licenciado em Geografia e cursando Bacharel pela Universidade Estadual de Londrina. 1

2 logística e pessoas cotidianamente presenciados na realidade econômica, política e cultural do município. Alguns estudos realizados sobre a economia calçadista biriguiense somente abordaram as manifestações modernas de sua atuação: maquinários de acabamento dos produtos, quantidade produzida, exportação e outras intensivas em inovação, capitalizadas e de administração profissional. Contudo, uma faceta muito importante do processo de produção executado pelo setor é negligenciada nessas análises: atividades de acabamentos, montagem parcial, bordados e outras intensivas em mão de obra, tecnicamente simples e organizadas em espaços informais que nunca foram temáticas principais de estudos tanto na Geografia como na Economia, Administração e outras ciências afins. Por serem atividades ilegais, parte-se do pressuposto de que não existissem, ou melhor, não pudessem existir. Daí a justificativa de não serem estudada. No nosso caso, ao entendermos que a realidade (principalmente dos países subdesenvolvidos) vai além daquilo entendido como legal, ao partir da abordagem que compreende a existência de dois circuitos em suas economias, apreendemos como de fundamental importância o estudo das manifestações comumente praticadas nesses setores pujantes: objetivando baixar seus custos direcionam as etapas mais simples (intensivas em mão de obra) para outros atores via terceirização, que opera segundo os ditames da ilegalidade presenciada no setor calçadista biriguiense. É nesse momento que a figura da mulher entra no circuito inferior da produção calçadista em Birigui, pois a maioria desses pequenos locais de trabalho é gerenciada por mulheres, onde as mesmas fazem parte na linha de montagem desse produto. A participação da mulher nesse setor da economia urbana de Birigui tem claros fundamentos econômicos para as grandes indústrias calçadistas, onde é esse objetivo que procurar se á analisar ao longo da pesquisa. É válido ressaltar que o processo de compreensão das formas de atuação do trabalho intensivo no circuito inferior é outro ponto crucial da pesquisa, ou seja, investigar se a figura feminina está sendo fator de diminuição de valores ao longo da montagem do produto recebendo menos em relação à figura masculina produzindo a mesma mercadoria. O sistema de funcionamento das bancas é de certa maneira simples: ocorre a transferência do produto inacabado para as bancas (pequenos espaços geralmente no 2

3 fundo de quintais), onde é uma das etapas de constituição desse produto, que é destinado em um terceiro momento às indústrias de grande porte para serem finalizados. Nesse processo de divisão técnica do trabalho muitos encargos são sonegados: daí, a ilegalidade e camuflagem espacial dessas etapas do circuito de produção de calçados em Birigui. É uma fase da divisão territorial do trabalho não apresentada nos custos oficiais do setor, mas presente na realidade socioespacial da economia urbana do município e de sua hinterlândia, o que justifica nossa proposta de pesquisa. 2 Desenvolvimento Toda mudança ocorre dentro do espaço temporal de determinada localidade o que não é diferente da análise pretendida da pesquisa. Para conduzir a discussão, sobre as transformações sociais que culminará no objetivo da pesquisa sobre circuito inferior, Santos (2012, p. 55) vai discorrer sobre o espaço ao dizer que: Os movimentos da totalidade social modificando as relações entre os componentes da sociedade alteram os processos, incitam a novas funções. Do mesmo modo, as formas geográficas se alteram ou mudam de valor; e o espaço se modifica para atender às transformações da sociedade. É um exemplo muito considerável a abordagem de Santos (2012) onde o autor prioriza bem que o espaço sofre modificações para atender as necessidades vigentes, ou seja, de uma nova sociedade com anseios diferentes a de décadas atrás. Ao mesmo tempo, Santos (2012) diz sobre novas funções, ou seja, se o espaço se modifica, paralelamente as funções que norteiam uma sociedade irão se alterar também, assim, caminhando juntos ao processo de transformação. Entretanto, considerar o espaço como elemento fundamental nas estruturas e funções, Santos (2012) pondera a importância de estarem atuando juntas no sentido de configurar o espaço para condições propicias ao que pretende se estudar, (circuito inferior, priorizando a participação da mulher) é essencial para o entendimento da realidade que se faz presente nas cidades de países subdesenvolvidos e emergentes, no caso o Brasil. 3

4 No espaço urbano existem inúmeros interesses econômicos e políticos, onde os mesmo são muito bem articulados dentro do viés do capitalismo e em um espaço organizado. Para tanto, (SANTOS, 2012, p. 73) a organização espacial é fundamental para impor as condições do sistema capitalista, onde vai dizer que: As condições atuais do crescimento capitalista criaram uma forma particular de organização do espaço, indispensável à reprodução das relações econômicas, sociais e políticas. A forma como atualmente se distribuem as infraestruturas, os instrumentos de produção, os homens enfim, as forças produtivas possui até certo ponto um caráter de permanência, isto é, de reprodução ampliada, isso amparado, exatamente, na longevidade de um grande número de investimentos fixos. Tudo, pois, conspira para que a organização do espaço se perpetue com as mesmas características, favorecendo o crescimento capitalista e suas distorções. Essa forma particular de organização do espaço exercida pelo capital, claro, com apoio de múltiplas relações de poder, resultará no processo de formação e por que não da permanência dos elementos que configuram o circuito inferior da economia urbana, refletindo também na participação da mulher nesse processo que pode se chamar de terceirização. São esses os elementos que é preciso entender como fator inicial para discussão de circuitos, pois há uma ligação, digamos, histórica nesse processo até chegarmos a uma escala reduzida e local que são as bancas de calçados do município de Birigui SP, onde também analisar-se-á os condicionantes da participação ativa das mulheres na terceirização da produção calçadista do município. Ao longo dos anos a sociedade vem presenciando várias mudanças no espaço urbano ainda mais quando se trata na esfera industrial, um dos condutores de transformações cruciais há décadas. Atualmente houve algumas reformulações quanto à formação socioespacial envolvendo as diversas dinâmicas do capital. Segundo (DE MASI, 2001, p. 177), o mesmo vai discorrer em um modelo novo numa sociedade que passou por período de modernização de suas técnicas de trabalho. Não se trata, portanto, da fase nova de um velho processo, não se trata de uma sociedade industrial um pouco mais complexa, um pouco mais rica, um pouco mais problemática. Com o termo pós-industrial indica se, enfim, em todo mundo, um modelo inteiramente novo de sociedade, que se move sob o signo da conexão e da reintegração de 4

5 trabalho e vida, casa e escritório, quantidade e qualidade, ética e negócios, bens e serviço. De Masi aborda um ponto fundamental referente ao que estudar sobre os circuitos superior e inferior da economia urbana, quando o mesmo diz sobre um modelo de reintegração e conexão, onde um depende do outro para seu pleno funcionamento na sociedade industrial. É importante notar que, o autor não contradiz o modelo atual ele trata o como novo, mas não diferente, ou seja, com algumas modificações do velho modelo. Nesse âmbito de medidas novas para modelos já existentes, o que antes julgava se não necessário na produção em série atualmente houve algumas mudanças em conceitos na participação feminina. O autor irá tratar a flexibilização do trabalho nos dias atuais como medida de inserção e não de marginalização: Uma vez que o trabalho é cada vez mais de natureza flexível e criativa, as tarefas domésticas e profissionais, o estudo, o trabalho e o tempo livre não são mais atividades antitéticas como eram no mundo industrial, assim como a marginalização das mulheres se revela cada vez mais um inútil desperdício de inteligência, além de inaceitável injustiça social (DE MAIS, 2001, p. 179). As transformações no espaço no âmbito industrial e nas técnicas, dois fatores que ditam a velocidade das produções causaram mudança de regras no quesito de participação do sistema capitalista. Outrora a figura feminina era destinada apenas para deveres familiares o que não acontece atualmente, pois o capital e sua complexidade exige participação da inteligência e não tanto da mão-de-obra. A partir desses dois elementos, pode se fazer referência aos dois circuitos que há na economia urbana. O processo de formação socioespacial do urbano nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento se desenrolou de forma desordenada com disparidades na divisão do trabalho e consequentemente na constituição dos circuitos espaciais de produção, distribuição e consumo das atividades econômicas. Em paralelo aos vetores mais modernos expandidos com o alargamento do processo de globalização das duas últimas décadas, as cidades milionárias e metrópoles do mundo subdesenvolvido e em desenvolvimento mantêm em alta densidade a oferta de atividades produtivas, comerciais e de serviços em geral de baixa capitalização, 5

6 intensivas em mão-de-obra e com quase nenhuma organização sistemática (BINI & PAVA, 2013). Representado predominantemente pelo sistema bancário oficial, por indústrias e agroindústrias modernas, por empresas de exportação e importação, de prestação de serviços e de comércios atacadistas e varejistas possuidores de um sistema organizacional gerido através do uso das principais inovações tecnológicas do momento se vê constituído o que se definiu como o circuito superior da economia urbana nos países subdesenvolvidos (SANTOS, 2002) 2. Quando remete se ao circuito superior da economia urbana, logo pergunta sobre suas consequências juntamente com o circuito inferior, pois um depende do outro para seu pleno funcionamento. Nesse sentido, Santos (2008, p. 38), vai afirmar a dependência que ambos têm ao dizer que: Um dos dois circuitos é o resultado direto da modernização tecnológica. Consiste nas atividades criadas em função dos progressos tecnológicos e das pessoas que se beneficiam deles. O outro é igualmente um resultado da mesma modernização, mas um resultado indireto, que se dirige aos indivíduos que só se beneficiam parcialmente ou não se beneficiam dos progressos técnicos recentes e das atividades a eles ligadas. Santos observa muito bem a relação entre os dois sistemas dentro da economia urbana, onde, certa camada social tira proveito dos resultados modernos do circuito superior, enquanto outra parte significativa faz usufruto, do que podemos dizer os resultados do circuito inferior da produção, isso quando acontece. Em outros segmentos da totalidade socioespacial, fruto do próprio processo de modernização do circuito superior (que tem mecanizado rotinas em suas atividades tanto no urbano como em suas extensões agropecuárias e agroindustriais) se vem absorvendo cada vez mais mão-de-obra para setores que ou predominantemente subempregam (reajustados pelas medidas neoliberais recentemente implementadas na legislação trabalhista de inúmeros países) ou para aqueles que são constituídos por pequenos empreendedores tanto dos mercados informais como os registrados legalmente. 2 Poder-se-ia caracterizar na atualidade como em desenvolvimento parte dos países apresentados como subdesenvolvidos por Milton Santos na década de

7 Evidência destas manifestações que abrigam estes agentes não hegemônicos excluídos da atividade produtiva moderna são as indústrias de pequena escala de produção intensivas em mão-de-obra, os acanhados comércios varejistas (em lojas e nas ruas) e os prestadores de pequenos serviços em geral. Configuram-se conjuntos de sistemas de objetos e ações caracterizadores do que se definiu como circuito inferior da economia urbana (SANTOS, 2002). É interessante notar, nas definições dos dois circuitos que, o superior é estritamente pautado no capital intensivo, meio que permite controlar uma expansão maior dentro de um território, já no circuito inferior, o mesmo é pautado no trabalho intensivo, por não ser modernizada tecnologicamente, objetivando uma diferenciação de realidades em um espaço específico, a cidade. São dois exemplos de atividades que acontecem dentro dos limites da cidade, país e no mundo, retratando a desigualdade do consumo e que, frente a essa desigualdade, meios para alimentar setores menos e mais favorecidos da economia urbana. São essas articulações no urbano que movimenta as relações entre homem e objetos e que, ao mesmo tempo, configura o que conhecemos de circuito superior e inferior da economia urbana. vai dizer que: Ainda sobre o circuito inferior é válido destacar o que Santos (2008, p ) A extrema divisão do trabalho no circuito inferior constitui em si mesma, um elemento multiplicador. Antes de mais nada, ela estimula a utilização produtiva do capital. A frequência das trocas aumenta a rapidez das transações e, por isso mesmo, multiplica a formação dos lucros, qualquer que seja seu volume. De outro lado, a multiplicidade dos atos de comércio age como um acelerador da circulação da moeda. O fracionamento e a descontinuidade das atividades do circuito inferior criam uma multiplicidade de serviços de contato e de articulações, assim como toda uma cadeia de outras atividades. O próprio terciário o setor moderno frequentemente cria seu próprio círculo de serviços de nível inferior. Dentro do mesmo contexto, Santos (2008, p. 253), diz que: A pulverização das empresas favorece a criação de outros ofícios: o número elevado de alfaiates permite a proliferação de armarinhos e, de igual modo, a multiplicação de pequenas empresas de construção dá trabalho a toda uma multidão de marceneiros, carpinteiros, 7

8 ferreiros etc. tudo é pretexto para a invenção de novas fontes de rendas. O abastecimento quotidiano da cidade é motivo para um grande movimento de rua e nela aparecem todos os pequenos ofícios ligados às pessoas que passam e às necessidades de um transporte fragmentado e, portanto, de pequenos volumes. Nota se que dentro dos moldes da economia urbana existe outro sistema, ou seja, formação de subsistemas que Santos aborda e que se encaixa muito bem nesse recorde do circuito inferior. Nesse sentido, o circuito inferior tem que se adaptar a algumas condições que Santos (2008, p. 253) diz que é uma adaptação à conjuntura, onde o mesmo vai dizer que: O circuito moderno tente mais a criar a conjuntura do que a adaptar se a ela. Ele o faz com diversas possibilidades de sucesso, pois sempre há uma margem de distorção entre as decisões das grandes firmas e o comportamento do mercado. Ao contrário, o circuito inferior só pode funcionar através de uma adaptação estreita às condições conjunturais. Nisso ele é favorecido pela divisibilidade e a mobilidade tanto da mão de obra como do capital, que permitem aos empresários seguir com mais flexibilidade as variações quantitativas e qualitativas da demanda e, assim, melhorar os rendimentos marginais da empresa. 3 Considerações Finais Com esta pesquisa entendemos tornar visível a realidade de milhares de pessoas que ao trabalharem sem os direitos trabalhistas configuram uma conformação socioespacial perversa, fruto das contradições do capitalismo globalizado. Na divisão sexual do trabalho, para este estudo de caso, demonstrar-se-á como a mulher sofre uma exploração mais intensa nesse processo frente aos anseios das grandes empresas. Trata se também investigar a continuidade desse processo informal com presença gritante das mulheres enquanto agentes da produção em escala, sendo as mesmas, inferiorizadas por capitalistas, que ainda veem nas mulheres como elementos inferiores, situação essa que tem que ser mudada na concepção das pessoas, mas, paralelamente há toda uma força de interesses referente a essa lógica do capital, que pode se dizer que é um dos muitos segmentos que o capital atua como forma de obter o produto final, ou seja, seu maior interesse. Como proposta de pesquisa cabe mais adiante apresentar os resultados da 8

9 prática, onde se poderá ter obter outros resultados da participação feminina no circuito inferior na economia urbana de Birigui/SP. Referências Bibliográficas BINI, D. L. C.& PAVA, A. C. Comercialização de alimentos do circuito inferior da economia urbana de São Paulo. Anales del 14 Encuentro de Geógrafos de América Latina, p. 20. Lima, DE MASI, D. Futuro do Trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-moderna/domenico de Mais, tradução de Yadry A. Figueiredo. Rio de Janeiro: José Olympio SANTOS, M. O Espaço Dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. Editora da Universidade de São Paulo. São Paulo, SANTOS, M. O Espaço Dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. 2. ed., 1. Reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, SANTOS, M. Pensando o Espaço do Homem. 5. Ed., 3. reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, SOUZA. M. A. B. Aglomeração calçadista de Birigui: origem e desenvolvimento ( ). Araçatuba, Editora do Escritor,