Unidade 4 Deficiências Auditivas

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1 Unidade 4 Deficiências Auditivas Deficiências Auditivas - "Márcio! Márcio!"... O garoto, quando estava jogando futebol, não me respondia e eu ficava muito brava. A professora me chamou na escola para dizer que ele brigava durante a aula e não prestava atenção. Um dia levei o garoto na Campanha da Surdez lá na igreja. A médica colocou uns fones no garoto e ligou ele numa máquina. Daí a pouco me disse que ele escutava muito pouquinho e que precisava de aparelho. Depoimento de Lisandra faxineira, mãe de 7 filhos, moradora de favela. Eu cheguei na aula, no primeiro período de Informática daquela faculdade particular, e a secretária já estava me esperando. - Você tem três alunos surdos. Eles passaram no vestibular, mas você sabe como é, nosso vestibular não reprova. - Eles lêem lábios? - Só um deles, mas os três escrevem português, embora com muitos erros. Mas sabem usar bem o computador na Internet. - Como eu vou dar aula para eles? Como eles vão saber o que eu estou falando? A secretária deu de ombros, franziu o cenho, se virou e foi embora. Felizmente na terceira aula, chegou a intérprete de libras. Essa garota foi a minha salvação (e a deles também). Até ali eles não tinham aprendido nada. Essa coisa de falar devagar olhando para eles e gesticulando, não funciona mesmo: para dois deles o resultado foi zero, e o outro entendia só 10 por cento. Com a intérprete eles conseguiram passar na matéria, mesmo tendo passado raspando. Eu me senti um pouco culpado de não saber dar aula direito para eles. Mas descobri também que a intérprete não traduzia tudo tanto porque não há equivalência absoluta do Português em Libras, mas porque eu também falava muito rápido e porque ela nunca tinha traduzido informática. No outro ano eu recebi outro jovem surdo só que surdo adulto, devido a doença que não sabia Libras. A intérprete logo desistiu dele. Eu dei o curso para ele só dando textos para ele ler, e aumentando os detalhes do meu curso em PowerPoint pois ele escrevia e lia muito bem. Ele passou na matéria, e com uma das notas mais altas da turma. Depoimento de um professor universitário de Informática. [1]

2 Um Pouco de Anatomia e Fisiologia Para entendermos as causas da surdez, a abordagem mais simples é conhecer o mecanismo de audição, em particular a anatomia da orelha (ouvido), os nervos que captam e transmitem a sensação auditiva, e um pouco do mecanismo de percepção. Qualquer falha nesta anatomia provoca alguma deficiência auditiva. Resumindo em poucas palavras, o ouvido é o órgão que capta o som, transforma-o em estímulos elétricos e os envia ao nervo auditivo, para que cheguem ao cérebro. Ali, eles são decodificados como uma palavra, ou como uma canção. Quando esse mecanismo apresenta falhas, surgem as deficiências auditivas, que podem ter vários graus e culminar na surdez total. Há outras causas para deficiências auditivas além desses danos ou falhas anatômicos, mas elas são em número muito menor. Material Fundamental Saiba mais sobre deficiências auditivas em bebês no texto Deficiências auditivas em bebês em BIBLIOTECA > MATERIAL DO PROFESSOR > LISTA ACERVO. Material complementar Leia o texto Noções da anatomia da orelha em BIBLIOTECA > MATERIAL DO PROFESSOR > LISTA ACERVO, e saiba como funciona nosso órgão de audição e como o som chega até o cérebro. Diagnosticando a Surdez na Sala de Aula Uma simples conversa e alguns testes triviais realizados com cada aluno (sussurrar, por exemplo) podem indicar os casos de surdez mais acentuados, mas o ideal mesmo é s u b m e t e r t o d o s o s a l u n o s a u m t e s t e a u d i o m é t r i c com o um médico. É muito importante, e s p e c i a l m e n t e n o s p r i m e i r o s a n o s, q u e e s t e t e s t e s e j a r e a l i z a d o, m e s m o q u e j á t e n h a s i d o r e a l i z a d o q u a n d o e m t e n r a i d a d e. A f a l t a d e s t e d i a g n ó s t i c o c o r r e t o t e r á c o m o c o n s e q ü ê n c i a certa o péssimo rendimento escolar de mui tos alunos que poderiam ser muito bons. [2]

3 É importante saber que os aparelhos de surdez (próteses auditivas), hoje em dia, conseguem resolver um altíssimo percentual das deficiências auditivas. No Brasil, em cada recém-nascidos, 2 a 6 apresentam algum tipo de perda auditiva. É uma incidência muito alta se comparada com outras doenças que têm testagem obrigatória assim que o neném nasce. Comparando: Fenilcetonúria (Teste do Pezinho) - 1 em nascidos Hipotireoidismo - 2,5 em nascidos Anemia Falciforme - 2 em nascidos Deficiência auditiva 2 a 6 em nascidos apenas Alternativas de Comunicação Com Surdos Próteses Auditivas Nos casos mais brandos de surdez, o uso de próteses auditivas é suficiente para suporte a uma comunicação muito boa. Nos casos extremos de deficiência auditiva a surdez, e em particular nos surdos de nascença, a prótese também é útil, pois mesmo que a pessoa não consiga discriminar sons através dela, provavelmente perceberá a vibração em partes da cabeça de determinados sons (especialmente os mais graves), o que contribui para sua orientação espacial. É importante não esquecer que o nível de surdez deve ser avaliada de tempos em tempos. Mesmo sabendo que os aparelhos de surdez têm uma regulagem de amplificação sonora, também se deve avaliar a adequação do aparelho no momento atual. A comunicação com surdos profundos se dá principalmente através de dois modos: da língua brasileira de sinais (LIBRAS) da leitura labial. Há outras formas alternativas que são muito efetivas, em especial em pessoas que ficaram surdas na fase adulta: a legenda nos filmes e nos programas de TV (mesmo que com qualidade precária, como as traduções simultâneas usuais do Closed Caption de TV) são fundamentais para a integração de um número imenso de pessoas. As mensagens [3]

4 SMS dos telefones celulares e os sistemas de comunicação instantânea de computador (sistemas de bate-papos como o MSN Messenger, por exemplo) também são meios muito efetivos de comunicação entre surdos e não surdos. LIBRAS A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é uma língua oficial do Brasil. Ela tem características bem diferentes do português e possui estrutura gramatical própria. Os sinais são formados por meio da combinação de formas e de movimentos das mãos e de pontos de referência no corpo ou no espaço. A LIBRAS tem uma deficiência intrínseca: não é adequada para escrita, mas, através da tecnologia existente hoje, pode ser gravada ou transmitida à distância através da televisão ou de técnicas digitais de processamento de imagem, provavelmente associadas ao uso de computadores. A regulamentação da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), através do decreto 5.626, de dezembro de 2005, é apontada por especialistas como a principal responsável pela reviravolta no processo de inclusão das pessoas com deficiência auditiva. Esse decreto tornou obrigatória a inclusão da Libras como disciplina curricular nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de fonoaudiologia. Vídeos Assista, em tela, a um trecho de um programa de TV, e veja uma intérprete de Libras traduzir com muita eficiência a fala um locutor. Material Fundamental Leia também o texto LIBRAS, disponível em BIBLIOTECA > MATERIAL DO PROFESSOR > LISTA ACERVO. [4]

5 Material complementar LIBRAS começa a ser estudada com o mesmo cuidado de uma língua tradicional. Um exemplo é o curso superior de Letras-LIBRAS, oferecido na modalidade à distância pela Universidade Federal de Santa Catarina. Para maiores detalhes sobre o curso superior de Letras-Libras, acesse: Leitura Labial (Ou Orofacial) Uma pessoa com deficiência auditiva é (pelo menos teoricamente) capaz de ler a posição dos lábios e até captar certos sons que alguém está produzindo. Essa técnica se chama leitura labial e funciona melhor quando o interlocutor formula as palavras com clareza. Há uma corrente filosófica que defende fortemente que toda pessoa surda deva ser oralizada. S e n d o o r a l i za d o, u m s u r d o p r o v a v e l m e n t e p o d e r i a c o n v i v e r c o m m u i t o m a i s i n t e g r a ç ã o à c o m u n i d a d e d o s o u v i n t e s, e s t u d a n d o e t r a b a l h a n d o n u m c o n t e x t o c o n v e n c i o n a l. Esta idéia, entretanto, não é tão fácil de implementar, e há inúmeros entraves 1. Desta forma, um leitor labi a l a d u l t o c o m m u i t a p r á t i c a c o n s e g u e e n t e n d e r m e n o s d e 5 0 % d a s p a l a v r a s a r t i c u l a d a s. O r e s t o é p u r a a d i v i n h a ç ã o. O s u r d o, n ã o s a b e n d o b e m q u a l o a s s u n t o d a conversa, terá imensa dificuldade de fazer a leitura labial. 1 Algumas dificuldades relacionadas à idéia de oralizar todos os surdos. O tempo necessário para se aprender a ler lábios pode chegar a vários anos de muita dedicação. O tempo será maior ou menor dependendo do nível de surdez e da idade em que a pessoa ficou surda. Para quem já nasceu surdo, a leitura labial é muito mais difícil do que para alguém que tinha audição, pois a pessoa com deficiência auditiva tem de imaginar os sons que nunca foram ouvidos. Muitos sons são invisíveis nos lábios. Por exemplo, a diferença entre as palavras gola e cola dependem unicamente dos sons guturais. Outros sons, como p e m, d e n e s e z, podem ser facilmente confundidos. O português para o surdo de nascença é uma língua para o surdo tão estranha como é o húngaro para quem fala português. É uma língua em que todas as palavras são diferentes, e a própria estrutura da língua também o é. [5]

6 Oralização A oralização consiste na habilidade do surdo em produzir sons. Essa produção, no caso de pessoas que não ficaram surdas em tenra idade, é fácil (mesmo que com o passar dos anos, a qualidade da fala diminua sensivelmente). Entretanto, nas pessoas que ficaram surdas antes de aprenderem a falar, a fala é "esculpida" por intensos treinamentos, realizados em consultórios de fonoaudiologia, apoiado por dispositivos que realizam a reprodução dos movimentos da boca e dos lábios, e algum tipo de feedback visual sobre o som produzido. Essa escultura da voz é quase sempre insuficiente para produzir uma voz perfeita. Desta forma, o surdo que nunca escutou vai provavelmente produzir uma fala muito precária e de difícil compreensão. Um espelho ou uma câmara de vídeo podem ser usados para que o surdo consiga saber se está movendo sua boca corretamente. Um microfone acoplado a sensores indica se o som produzido está intenso ou baixo demais, e se está sendo produzido numa freqüência conveniente. As conseqüências sociais da qualidade ruim da fala são um entrave à socialização da criança e do adolescente numa classe convencional. É comum a ocorrência de chacotas e imitações, de uma crueldade inimaginável. O surdo muitas vezes criará uma barreira quase intransponível de ojeriza aos colegas quando submetido a tais atitudes. O professor tem obrigação de zelar para que o respeito das outras crianças pelo surdo seja sempre mantido, motivando que as outras crianças aprendam algumas expressões em LIBRAS para melhorar a comunicação, e também busquem formas para ajudar seu colega a melhorar sua fala. O uso de computadores é de grande auxílio na oralização, na medida em que pode substituir inúmeros desses aparelhos especializados, com softwares de tratamento digital do som que é obtido por meio de um microfone. Tais programas realizam inúmeras transformações no som (por exemplo, associando freqüências a cores, ou movendo objetos na tela com a voz, para dar o melhor feedback possível. Infelizmente, a maior parte destes programas são caríssimos, destinados a uso profissional por fonoaudiólogos apenas. [6]

7 Material complementar Veja mais sobre este tema no texto Dicas de comunicação, em BIBLIOTECA >MATERIAL DO PROFESSOR > LISTA ACERVO. Tecnologias Voltadas para Uso de Pessoas com Deficiência Auditiva Antes de falarmos em tecnologia propriamente dita, é importante frisar que, especialmente para os surdos de nascença, o domínio do português embute uma dificuldade enorme. Desta forma, o uso de qualquer sistema textual nesta língua, tanto para comunicação lida quanto escrita, não pode ser visto como uma panacéia nem como algo simples. Será preciso uma atividade educacional muito demorada e um esforço enorme para um surdo de nascença ler e escrever com fluência e correção. Outro fator muito importante é que uma pessoa surda se comunicará muito bem através das imagens, e que podem se abrir inúmeras oportunidades quando este fato puder ser aproveitado em alguma situação. A tecnologia para pessoas com deficiência auditiva ainda está na sua infância. Quando comparado com deficiência visual ou motora, a diferença na qualidade das soluções é tremenda. Entretanto, há muitas pesquisas em andamento como: o reconhecimento e a síntese de voz, a microeletrônica e a miniaturização dos equipamentos, além de técnicas sofisticadas de processamento de informação nos dão a certeza de que em poucos anos, haverá amplo suporte aos deficientes auditivos com diversos tipos de aparelhos e soluções tecnológicas. Material complementar No texto Tecnologias para pessoas com deficiência auditiva, disponível em BIBLIOTECA > MATERIAL DO PROFESSOR > LISTA ACERVO, são apresentadas algumas das principais tecnologias existentes hoje, úteis para pessoas com deficiência auditiva. O computador, nesta lista, merece um lugar de destaque, porque pode ser pensado como uma convergência tecnológica ou uma forma mais barata de implementar muitas destas outras tecnologias. [7]