A Integração Energética Brasil-Argentina: Oportunidades e Desafios 1
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- Terezinha Canto Flores
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1 A Integração Energética Brasil-Argentina: Oportunidades e Desafios 1 Nivalde José de Castro 2 Guilherme Dantas 3 Rubens Rosental 4 A internacionalização crescente da economia global tem estimulado a formação de blocos regionais como é o caso dos países do Mercosul que buscam integrar cadeias produtivas a fim de obter maior competitividade interna e externa. Dentro destes parâmetros surgem possibilidades concretas de integração em setores de infraestrutura como é o caso da energia elétrica. Como a demanda por energia elétrica deverá aumentar de forma significativa nos próximos anos determinada pelo maior crescimento econômico, há espaço político e econômico para a implementação de uma política de integração energética. Por se tratarem das duas maiores economias do Mercosul deve-se examinar as perspectivas de integração entre seus setores elétricos, analisando os benefícios e desafios. 1 Publicado em Proyecto Energético. Revista del Instituto Argentino de la Energia General Mosconi Ano 25, n. 97, maio p (ISSN ) 2 Professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do GESEL- Grupo de Estudos do Setor Elétrico. 3 Pesquisador senior do GESEL-UFRJ 4 Professor da UCM e pesquisador sênior do GESEL
2 O principal benefício da integração energética entre dois países é a contribuição à garantia da segurança do suprimento com uma exploração mais eficaz dos recursos energéticos disponíveis. Além deste aspecto estratégico, Castro et al. (2009) destacam os ganhos oriundos da otimização da operação do sistema através da exploração de sinergias derivadas da complementaridade da carga, regime hidrológico, etc. Observa-se assim que a integração de sistemas elétricos, não apenas permite o atendimento da demanda em bases mais eficientes e seguras, como também permite menores custos, pois a possibilidade de uma operação integrada do setor elétrico entre países tende a levar a uma alocação de recursos mais eficiente do que a que seria adotado se os mercados nacionais permanecessem isolados (Castro, Brandão e Dantas, 2011). Contudo, apesar dos benefícios o processo de integração energética sua adoção é extremamente complexa, sobretudo pelo caráter de bem estratégico da energia elétrica. Em grande medida, a dificuldade deve-se ao fato de que embora sob a ótica técnica-operativa a integração represente o aumento da segurança do sistema, a inerente perda de autonomia energética de um país determina um vetor de risco à segurança nacional do suprimento sob a ótica política. Por outro lado, a integração energética enfrenta dificuldades inerentes e derivadas diretamente das assimetrias institucionais e regulatórias. Estas dificuldades são especialmente relevantes quando se estuda a integração energética entre o Brasil e Argentina. Especificamente em relação às possibilidades do Brasil frente ao processo de integração elétrica regional, cabe destacar que o modelo comercial do setor elétrico brasileiro é um entrave à formação de um mercado integrado com a Argentina e outros países. O modelo comercial brasileiro é a um só tempo extremamente bem sucedido e idiossincrático. Ele foi estruturado para permitir a comercialização de energia elétrica por meio de mecanismos de mercado, com base em um sistema impar em termos mundiais já que há o predomínio nítido da geração hídrica representando cerca de 90% da oferta de energia elétrica. Trata-se de um sistema
3 que foi concebido em formato fechado, planejado e operado de forma otimizada e centralizada. Logo, embora atenda com eficiência às necessidades do sistema elétrico brasileiro, como na Argentina e nos outros países as matrizes são mais diversificadas não havendo o predomínio da hidroeletricidade, os modelos de comercialização apresentam dinâmicas e estruturas nitidamente distintas. As diferenças nos mecanismos de comercialização criam uma restrição à integração dos mercados baseados em contratos de longo prazo. Estas especificidades determinaram que as experiências de integração elétrica com Argentina foram concebidas com base em aspectos operacionais e comerciais compatíveis com o modelo brasileiro de operação centralizada e otimizada dos recursos de geração. Por exemplo, o contrato original de importação de energia da Argentina por meio da CIEN estava aderente ao modelo brasileiro, sendo representado para o operador do sistema (ONS) na otimização do sistema como uma térmica de fronteira, que era acionada quando a situação hidrológica requeria complementação de energia térmica. Nas ocasiões em que o Brasil não necessitava da energia, ou seja, em hidrologias favoráveis, as centrais argentinas a gás associadas ao contrato da CIEN ficavam liberadas para abastecer o mercado argentino. Quando a importação da Argentina via CIEN foi interrompida unilateralmente em função da crise energética Argentina provocando a quebra de contratos de 20 anos de exportação para empresas distribuidoras brasileiras, as conversoras de Garabi passaram a ser utilizadas para exportação de energia do Brasil para a Argentina, estabelecendo um comércio eventual e interruptível de energia. A exportação de energia do Brasil para a Argentina baseia-se na alternativa de dois modelos comerciais. O primeiro tipo envolve a realização de um leilão com a participação dos geradores térmicos brasileiros que não estejam sendo despachados pelo ONS no momento. A exportação está sujeita às condições de tráfego da rede no Brasil. Um fator diferencial importante é que os geradores
4 térmicos não precisam oferecer no leilão para venda à Argentina os mesmos custos variáveis praticados no mercado brasileiro. Os preços refletem assim oportunidades ditadas pelo mercado importador e são negócios entre agentes privados, sendo que não há informação oficial e pública disponível sobre os valores monetários destas operações. A única informação é que os preços de exportação são maiores do que os praticados no mercado brasileiro. O segundo tipo de exportação envolve o envio de energia de origem hídrica nos meses mais frios do ano (junho-julho), quando o consumo de energia na Argentina sobe, para posterior devolução do mesmo montante físico de energia um pouco depois (agosto-setembro), quando as temperaturas na Argentina começam a se elevar, ao mesmo tempo em que o Brasil sai do período seco mais crítico. Todas estas modalidades de exportação de energia praticadas com Argentina são ocasionais. Não há qualquer compromisso brasileiro de contrato de energia firme para exportar montantes garantidos de energia por prazos maiores. São contratos pontuais e temporários. Na maior parte do tempo, as interligações existentes permanecem ociosas. Em função das assimetrias econômicas, energéticas e políticas entre o Brasil e Argentina as maiores e mais rápidas oportunidades para a integração e comércio internacional de energia elétrica envolvendo o Brasil estão na importação e exportação de excedentes de curto prazo. Os esquemas contratuais atuais de comercialização de energia adotados pelo Brasil com a Argentina têm exatamente esta lógica de troca de excedentes e poderiam ser ampliados, já que a infraestrutura de transporte para o mercado argentino já existe (Castro, 2010). No entanto, há um campo importante para a integração elétrica entre Brasil e Argentina que são as centrais hidroelétricas binacionais, como é o caso de Garabi e Panambi. Estes projetos permitem o atendimento das respectivas demandas internas e podem-se definir previamente arranjos contratuais focados na
5 exportação de excedentes em contratos de curto, médio ou longo prazo. Esta é uma possibilidade estratégica e que deve merecer prioridade da política de integração na medida em que respeita as diferenças dos modelos. Referências: BIATO, M.; CASTRO, N. J. Integração regional na América do Sul e o papel da energia elétrica. GESEL/IE/UFRJ (Texto de discussão n. 32), CASTRO, N. J.; ROSENTAL, R.; GOMES, V.J.F. A integração do Setor Elétrico na América do Sul: Características e Benefícios. Rio de Janeiro. GESEL/IE/UFRJ (Texto de discussão n.10), CASTRO, N. J. El Papel de Brasil em el processo de integración del sector elétrico de Sudamérica. In CASTRO, N. J. (org) V SISEE- seminário internacional do setor de energia elétrica. Brasília. Fundação Alexandre de Gusmão, p CASTRO, Nivalde José de. O Papel do Brasil no processo de integração do setor elétrico da América do Sul. GESEL - UFRJ (Texto Didático do Setor Elétrico n.º 23). CASTRO, Nivalde José de; BRANDÃO, Roberto; DANTAS, Guilherme. O Planejamento e os Leilões para Contratação de Energia do Setor Elétrico Brasileiro. Rio de Janeiro. Canal Energia. Disponível em Acessado em 15 de agosto de 2011 COSTA, H.K.M. ; NETO, F.A. A Integração Energética na América Latina sob a ótica da Economia Institucional. 4 PDPETRO, Campinas, S.P de outubro de VELEZ, J.A.O. Condições Econômicas e Institucionais para a Integração Energética na América do Sul. Dissertação de Mestrado no Instituto de Economia/UFRJ, 2005.
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