ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste Campus de Cascavel ISSN
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- Maria Antonieta Alvarenga Sabrosa
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1 FATORES QUE INTERFEREM NO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DURANTE A PASSAGEM DE PLANTÃO Samuel Leandro dos Santos 1 Anair Lazzari Nicola INTRODUÇÃO: A comunicação é um processo essencial da existência humana, pois, oferece-nos recursos para a expressão de pensamentos, sentimentos e interação com outras pessoas, mostrando-se como componente indispensável à vida em sociedade. A comunicação acha-se estreitamente vinculada ao conceito de comunidade e, portanto, ao de civilização. Como tantas outras conquistas do homem, é causa e efeito do progresso social. Assim, a história da humanidade é, até certo ponto, a história dos meios de comunicação, definida por Marquis e Huston (2001) como a troca complexa de pensamentos, idéias ou informações em, pelo menos, dois níveis: verbal e não-verbal. Segundo Robbins (2002) a maior parte dos conflitos interpessoais é fomentada por falhas na comunicação. Pelo fato das pessoas aplicarem porção considerável de seu tempo em diferentes modalidades de comunicação, pode-se afirmar que as falhas de comunicação podem impedir o bom desempenho de um grupo. Du Gas (1988, p. 102) afirma que: Todos os tipos de emoções podem afetar a capacidade de comunicação de uma pessoa. A partir dessa afirmação consideramos que alguns fatores concernentes a comunicação transcendem a mera habilidade de o comunicador fazer-se entender, pois, aspectos emocionais como nervosismo, ansiedade, inquietação, alegria ou tristeza podem dominar o emissor e comprometer a transmissão da mensagem, sendo evidenciadas de maneira verbal e não-verbal. Para Marquis e Huston (2001) há muitos aspectos envolvidos no processo de comunicação para que o mesmo seja eficiente, o que faz com que a eficiência desse processo dependa dos elementos envolvidos, a saber, o transmissor, que é responsável pela elaboração e emissão da mensagem a ser transmitida e o receptor, que é o elemento responsável pela captação, associação e 1 Aluno do 5 o ano do Curso de Enfermagem da Unioeste, Campus de Cascavel. Endereço:Rua Carlos de Carvalho, 1812, Parque São Paulo, Cascavel, Paraná. Fone: (45) slsantoss@hotmail.com
2 compreensão da mensagem. O trabalho em enfermagem é realizado em equipe e em período integral, o que faz da comunicação elemento indispensável para a execução do trabalho, sendo vital para a realização das atividades entre os membros da mesma e de diferentes equipes, para a continuidade da assistência de enfermagem ao paciente e para o processo administrativo (DU GAS, 1988). A forma de comunicação contida no processo de trabalho de enfermagem escolhida para o presente estudo é a passagem de plantão entre equipes de enfermagem. Para Silva e Campos (2007) a passagem de plantão, entrega de turno ou troca de plantão é uma prática realizada pela equipe de enfermagem para transmitir informações objetivas, claras e concisas, sobre acontecimentos ocorridos durante o período de trabalho e que envolvam a assistência direta ao paciente bem como assuntos de interesse institucional. Ainda de acordo com Silva e Campos (2007), para a passagem de plantão, a enfermagem utiliza-se da comunicação verbal ou não-verbal, como instrumento básico, favorecendo o compartilhamento de informações. Por sua vez, essas informações se constituem em registro de fatos ordenados de forma coerente e significativa para fins de compreensão e análise. Desta forma, entendemos que a passagem de plantão visa aspectos assistenciais, institucionais e administrativos, garantindo continuidade da assistência prestada, transmissão de informações entre equipes e organização do trabalho de forma a atualizar os membros da equipe acerca dos pacientes e da unidade. Essa comunicação deve trazer o relato do estado clínico de cada paciente, necessidades, alterações ocorridas durante o turno, conduta, preparo para exames a serem realizados, presença de cateteres, sondas e drenos, realização de curativos e outros aspectos relacionados à assistência de enfermagem nos componentes verbais e escritos (SILVA; CAMPOS, 2007). A passagem de plantão deve ter, ainda, o enfoque administrativo de maneira que apresente informações sobre as condições da unidade, materiais e equipamentos e eventuais solicitações de manutenção. Cabe ao enfermeiro atuar como elo entre as equipes por ocasião da passagem de plantão dirigindo tal atividade. É responsabilidade desse profissional eliminar ou minimizar todo e qualquer fator que comprometa a transmissão de informações de maneira adequada. O enfermeiro deve captar essas informações e torná-las úteis para a execução dos aspectos assistenciais, gerenciais e funcionais (SIQUEIRA; KURCGANT, 2005). OBJETIVOS: Identificar os fatores que afetam o processo de comunicação dos profissionais de enfermagem durante a passagem de
3 plantão e caracterizar as implicações das falhas de comunicação da passagem de plantão e seus reflexos na assistência de enfermagem prestada ao paciente e no processo administrativo. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo do tipo exploratóriodescritivo. A pesquisa foi realizada na unidade de internação de Clínica Médica e Cirúrgica (G3) do Hospital Universitário do Oeste do Paraná. A técnica de pesquisa utilizada foi a observação. Os dados foram coletados através do acompanhamento da passagem de plantão nos três turnos de trabalho na Unidade G3, durante os meses de setembro e outubro de 2010 e seguiu um roteiro prévio, que contemplou pontos como pontualidade, condições ambientais, participação dos profissionais, tonalidade da voz, características das informações na passagem de plantão. Foram coletados dados também por meio de observação na sala de passagem de plantão dos enfermeiros nos três turnos, pois, na instituição em questão os enfermeiros realizam a passagem de plantão em sala específica, enquanto auxiliares e técnicos de enfermagem realizam a passagem de plantão nas unidades onde atuam. Foram realizadas observações de vinte e uma passagens de plantão na sala de passagem de plantão dos enfermeiros, sendo oito delas na passagem de plantão do período matutino para o período vespertino, seis na troca do plantão do período da tarde para o noturno e sete delas na passagem de plantão do período noturno para o período da manhã. Foram realizadas observações de dez passagens de plantão entre auxiliares e técnicos de enfermagem na Unidade G3, sendo quatro delas na passagem de plantão do período matutino para o período vespertino, três na troca do plantão do período da tarde para o noturno e três delas na passagem de plantão do período noturno para o período da manhã. O tempo de duração de cada passagem de plantão foi mensurado por meio de relógio digital com cronômetro, bem como, o horário de início e término da passagem de plantão. Consideramos os horários previstos para a passagem de plantão como 7, 13 ou 19 horas. RESULTADOS: Em relação à pontualidade nas passagens de plantão entre enfermeiros, em 57,14% do total, o início deu-se antes do horário previsto, em 42,85%, a passagem de plantão foi iniciada após o horário previsto e em nenhuma das ocasiões iniciou-se no horário proposto. O horário mais antecipado para o início da passagem de plantão entre enfermeiros foi 12h50min, ao passo que o início mais tardio constatado foi 19h29min. As 21 passagens de plantão observadas entre enfermeiros totalizaram 217 minutos e 27 segundos, o que revela a média de, aproximadamente, 10 minutos e 35 segundos por passagem de
4 plantão. Em todas as oportunidades observadas houve ruídos durante a passagem de plantão dos enfermeiros, entre os quais podemos citar comunicações paralelas de colegas, conversas realizadas por outros profissionais e acadêmicos e sons oriundos do corredor e máquinas dos setores adjacentes. Em relação à participação dos enfermeiros na passagem de plantão constatou-se que, em 23, 81% das observações, os profissionais do turno que passavam o plantão não estavam presentes, portanto, não houve comunicação verbal e as informações do plantão foram retiradas do livro de passagem de plantão. Em 9,52% das ocasiões observou-se enfermeiros chegarem após o início da passagem de plantão. Quanto à tonalidade de voz dos enfermeiros durante a passagem de plantão, a mesma variou de acordo com o profissional, 61,90% dos casos a passagem de plantão foi pronunciada com boa dicção e voz claramente audível, enquanto em 23,81% com voz muito fraca. Em 14,28% das observações não houve comunicação verbal, sendo a passagem de plantão realizada por meio de comunicação escrita em livro específico. As informações divididas durante as passagens de plantão foram consideradas objetivas e completas em 77,78% por conterem dados relevantes sobre todos os pacientes da unidade e ocorrências do período, enquanto em 22,22% as informações não contemplaram todos os pacientes. Informações de todos os tipos foram transmitidas pelos enfermeiros durante as passagens de plantão, no entanto, sobrepuseram-se as informações de cunho assistencial e as de cunho administrativo. Das passagens de plantão entre técnicos e auxiliares de enfermagem 80% iniciaram antes do horário previsto. A passagem de plantão iniciada mais antecipadamente teve seu começo às 12h52min e a passagem de plantão com o início mais tardio começou as 19h02min. As 10 passagens de plantão observadas entre auxiliares e técnicos de enfermagem totalizaram 62 minutos e 12 segundos, o que resultou na média de, aproximadamente, 6 minutos e 13 segundos. Constatou-se que em todas as oportunidades a passagem de plantão entre técnicos e auxiliares foi realizada no Posto de Enfermagem. Em todas as passagens de plantão observadas, houve diferentes ruídos, podemos mencionar conversas paralelas entre os profissionais, acadêmicos no setor, sons vindos dos corredores, enfermarias, e de um setor em reforma nas proximidades. Em 40% das ocasiões houve interrupções com abordagens de visitantes e acompanhantes, telefone do setor e telefones celulares. Quanto à participação dos profissionais observou-se que, em 20% dos casos, faltavam profissionais do turno que
5 deixava o plantão, em 70% faltavam profissionais do turno que recebia o plantão. Em 80% das observações, profissionais chegaram ao posto de enfermagem após início da passagem de plantão. Em 60% das ocasiões, profissionais deixaram o posto de enfermagem antes do término da atividade. Quanto à tonalidade da voz dos auxiliares e técnicos de enfermagem verificou-se, em 60% das ocasiões, que a mesma era clara e perfeitamente audível, e, em 40% a tonalidade de voz foi muito fraca e de difícil entendimento. Em relação às características das informações, em 70% das passagens de plantão, as informações foram consideradas objetivas e completas, pois continham dados relevantes sobre os pacientes e/ou unidade, enquanto em 30% foram incompletas e superficiais. Quanto ao tipo de informação transmitida entre técnicos e auxiliares na passagem de plantão notou-se que se restringiram a questões relacionadas à assistência ao paciente. CONCLUSÕES: A passagem de plantão é indispensável para a continuidade da assistência ao paciente e para o processo gerencial do trabalho em enfermagem. A variação do tempo de realização das passagens de plantão foi muito grande. O tempo utilizado representa um desafio para o sucesso da passagem de plantão, pois define a quantidade e a qualidade das informações transmitidas. Se for longo, pode dispersar a equipe, se for curto, as informações são passadas rapidamente, isso propicia perdas ou interpretações errôneas. Embora a passagem de plantão dos enfermeiros seja realizada em sala específica, o local torna-se inadequado, um ambiente com trânsito intermitente de pessoas prejudica a concentração durante a passagem de plantão. A falta de comunicação verbal entre os enfermeiros pode gerar distorções, pois, a comunicação face a face é necessária para assegurar a compreensão das mensagens transmitidas. A participação dos enfermeiros é consideravelmente inconstante, e, nem sempre o plantão é transmitido de maneira verbal, pois, algumas vezes, é realizada apenas pelo livro de registro de ocorrências da unidade. Os autores consultados para esse estudo ressaltam a importância do enfermeiro na liderança e coordenação da equipe de enfermagem, pois somente os enfermeiros contemplaram questões de cunho gerencial e relacionadas ao funcionamento da unidade. Quanto à passagem de plantão dos técnicos e auxiliares de enfermagem o Posto de Enfermagem é um lugar inadequado, pois, a passagem de plantão realizada ali possibilita um grande número de fatores que podem interferir na qualidade de tal atividade. Os ruídos não interferem apenas no entendimento das informações repassadas, mas, nas demais atividades
6 desenvolvidas nas unidades. Observamos que quando a equipe não está completa existe maior possibilidade de falhas de comunicação durante a passagem de plantão. Não podemos considerar como prejudiciais à continuidade da assistência de enfermagem e ao processo administrativo apenas as falhas de comunicação decorrentes de ausências, pois, comunicações inexatas, ambíguas e equivocadas podem causar os mesmos danos ao processo de trabalho em enfermagem. O trabalho em enfermagem é realizado em equipe e em período integral, o que faz do processo de comunicação elemento indispensável para a execução do trabalho, sendo vital para a realização das atividades entre os membros da mesma e de diferentes equipes, para a continuidade da assistência de enfermagem ao paciente e para o processo administrativo. PALAVRAS-CHAVE: Comunicação; equipe de enfermagem; gerenciamento de informação; assistência de enfermagem; serviço de enfermagem. REFERÊNCIAS DU GAS, B. W. Enfermagem Prática. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara, MARQUIS, B. L.; HUSTON, C. J. Administração em enfermagem: teoria e prática. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. 9. ed. São Paulo: Prenttice Hall, SILVA, E. E.; CAMPOS, L.F. Passagem de plantão na enfermagem: revisão de literatura. Cogitare Enferm. v.12, n. 4, p , SIQUEIRA, I. L. C. P.; KURCGANT P. Passagem de plantão: falando de paradigmas e estratégias. Acta Paul. Enferm. v.18, n. 4, p , 2005.
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