Informe Técnico do ETENE
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1 ANO IX, Nº 5, dezembro de 2015 Informe Técnico do ETENE Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste ETENE Ambiente de Estudos, Pesquisas e Avaliação Célula de Estudos e Pesquisas AS FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA SOLAR E EÓLICA NO NORDESTE: OPORTUNIDADES PARA NOVOS NEGÓCIOS & INOVAÇÃO Elaboração Francisco Diniz Bezerra 1 Colaboração Francisca Crísia Diniz Alves (bolsista BNB/ETENE) Hermano José Pinho (revisão vernacular) 1 Mestre em Engenharia de Produção e Coordenador de Estudos e Pesquisas do BNB/ETENE. 1
2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE A MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA E MUNDIAL ENERGIA SOLAR ENERGIA EÓLICA CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS
3 1. INTRODUÇÃO O uso da energia nas atividades humanas vem sendo intensificado nas últimas décadas. Para o atendimento das necessidades energéticas crescentes, a humanidade tem recorrido às diversas fontes de suprimento, como petróleo, gás natural, carvão mineral, assim como às fontes renováveis: biomassa, energia hidráulica, energia eólica, energia solar, dentre outras. Atualmente, o suprimento das necessidades brasileiras de energia provém, em sua maior parte, de fontes fósseis, onde prepondera o uso dos derivados do petróleo, com destaque para o óleo diesel usado nos transportes. No entanto, ainda referindo-se ao uso de combustíveis líquidos, cabe destacar a importância do etanol e, mais recentemente, do biodiesel. Esses combustíveis diferenciam a matriz energética brasileira da maioria dos países, onde o uso de fontes renováveis é menos intenso. No que se refere à geração de eletricidade, o Brasil também se destaca no cenário mundial por ter sua matriz de energia elétrica fortemente baseada em fontes renováveis, com preponderância da hidroeletricidade e da biomassa proveniente da cana-de-açúcar. Mais recentemente, vêm ganhando destaque as fontes eólica e solar. Como se depreende dos resultados dos leilões de compra e venda de energia, promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica Aneel, a energia eólica já é considerada atualmente a segunda fonte mais competitiva, sendo superada apenas pelas grandes usinas hidrelétricas. Neste contexto, o Nordeste se destaca, em razão de seu elevado potencial eólico e de dispor de jazidas de ventos mais favoráveis do que em outras regiões à instalação de aerogeradores. Quanto à energia solar, o preço médio de R$ 301,79 por MWh negociado no 8º. Leilão de Energia de Reserva, realizado em 28/08/2015 e destinado especificamente à fonte solar, denota que a tecnologia de geração solar ainda apresenta custos elevados, porém com tendência de queda, como observado nos últimos anos. Ressalta-se que nesse leilão, o Nordeste sobressaiuse, em virtude de 24 projetos, dentre os 30 vencedores, serem localizados nessa Região. Por outro lado, a geração descentralizada para consumo próprio está se tornando competitiva ante os preços finais praticados pelas concessionárias de energia elétrica, possibilitando o surgimento de um mercado gigantesco no País para bens e serviços relacionados à energia solar. A legislação brasileira também tem evoluído nos últimos anos, ensejando maior segurança aos consumidores na geração de sua própria energia. Além desta introdução, este texto reúne mais quatro tópicos. No segundo tópico, faz-se uma rápida contextualização acerca da matriz energética brasileira e mundial, destacando o uso das fontes renováveis e não renováveis. No terceiro tópico, são apresentadas as potencialidades e perspectivas para a energia solar no Brasil e no Nordeste, inclusive os desafios na área de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. No quarto tópico, faz-se o mesmo para a energia eólica. Por fim, no quinto tópico, são tecidas algumas considerações finais. 3
4 2. CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE A MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA E MUNDIAL A transformação da energia disponibilizada pela natureza em formas úteis é realizada mediante o emprego de tecnologias. Para melhor compreensão das tecnologias utilizadas no aproveitamento dessa energia em prol do atendimento das necessidades humanas, considera-se importante, preliminarmente, ter-se uma breve noção de sua origem. Como se sabe, toda a energia disponível na Terra provém das seguintes quatro fontes: a) Fissão nuclear no interior da Terra, que gera a energia geotérmica (calor da Terra). Vulcões e gêiseres (fontes termais) decorrem da ação dessa fonte de energia. b) Fusão nuclear no Sol, que gera os fótons. Esses chegam à Terra na forma de radiação eletromagnética (luz solar). Parte da luz solar se dissipa em calor ao atingir corpos materiais e parte é refletida, retornando ao espaço. Uma pequena fração da luz solar é transformada em biomassa. Quanto ao calor e à biomassa gerada a partir da luz solar, cabe destacar: O calor gera o vento e é responsável pelo ciclo hidrológico, por meio do qual a água é transportada para áreas mais elevadas da Terra, dando origem aos rios e disponibilizando, em consequência, energia hidráulica; A biomassa, gerada pelo processo da fotossíntese, consiste na matéria orgânica que forma as plantas e os animais. As fontes fósseis (petróleo, gás natural, carvão mineral etc.) tiveram sua origem na biomassa existente em épocas remotas. c) Gravitação, que decorre do princípio da atração de dois corpos materiais. As marés, formadas pela atração gravitacional, principalmente entre a Lua e a Terra, são exemplos da ação dessa força da natureza. d) Minerais energéticos, dentre os quais o urânio. Essas quatro matrizes energéticas dão origem às fontes primárias de energia, que são as encontradas na natureza, em sua forma direta. O petróleo, a madeira, o vento, a luz solar, o urânio, dentre outros, são exemplos de fontes primárias de energia existentes na natureza. As fontes primárias de energia são comumente agrupadas em fontes renováveis (que não se esgotam, a exemplo do sol e do vento) e em fontes não renováveis (que são finitas, tais como o petróleo e o urânio). As fontes secundárias de energia são as que resultam da transformação das fontes primárias, a exemplo da eletricidade, da gasolina e do carvão vegetal. Esse processo de transformação se dá mediante o emprego de tecnologias, que são utilizadas de acordo com a finalidade desejável. A energia elétrica, por exemplo, pode ser gerada por meio de turbinas de uma hidrelétrica, acionadas pelo potencial hidráulico dos reservatórios d água. Pode também ser gerada, dentre outras formas, por aerogeradores que se movem graças à ação do vento ou por células fotovoltaicas, que captam os raios solares pelo chamado efeito fotoelétrico. A Figura 1 ilustra a obtenção de energia útil às atividades humanas a partir de diversas fontes primárias e exemplifica as fontes renováveis e não renováveis. 4
5 Figura 1 Interação entre fontes primárias e secundárias de energia Fonte: Adaptado de J. Anhalt (2013). São muitas as tecnologias que transformam a energia oriunda de fontes primárias em outras formas passíveis de atender alguma necessidade humana. No entanto, nem todas são competitivas. No contexto mundial atual, as fontes primárias mais utilizadas são, pela ordem, o petróleo, o gás natural, o carvão mineral e o urânio que, em conjunto, representam 86,3% da matriz energética mundial (Gráfico 1). Portanto, no Mundo, a oferta global de energia provém basicamente de fontes não renováveis. Biomassa e hidroeletricidade participam, juntas, com 12,4%, ficando para outras fontes primárias, dentre as quais a solar e a eólica, 1,3% da oferta global de energia. Outras fontes primárias ou não estão disponíveis em determinados lugares ou não são competitivas, razões pelas quais são preteridas. A matriz energética brasileira se diferencia da observada no Mundo, em virtude da expressiva presença das fontes renováveis, que representam 39,5% da Oferta Interna de Energia (OIE) de 305,6 Mtep, com destaque para os biocombustíveis e a hidroeletricidade. Mesmo assim, a participação das fontes não renováveis é majoritária, somando 60,5% do total da energia ofertada no País. No contexto nacional, o suprimento de energia provém principalmente do petróleo (39,4%) e da biomassa (27,7%). Gás natural (13,5%), carvão mineral (6,3%) e urânio (1,3%) detêm participação na matriz energética brasileira substancialmente inferior à observa em nível mundial. Por outro lado, o Brasil se destaca no uso da hidroeletricidade, que representa 11,5% da matriz energética nacional ante apenas 2,5% no Mundo. A fonte geotérmica não é utilizada no Brasil, enquanto as fontes eólica (0,3%) e solar (0,0002%) ainda são inexpressivas. 5
6 Gráfico 1 - Participação das fontes primárias na matriz energética mundial e brasileira 2014 (%) 39,4 Brasil Mundo Mundo: mtep Mtep Brasil: mtep Mtep 31,1 29,0 27,7 21,5 6,3 13,5 9,9 1,3 4,7 11,5 2,5 0,3 0,5-0,5-0,3 Petróleo Carvão mineral Fonte: BRASIL (2015a) Elaboração: BNB/ETENE/Ambiente de Estudos e Pesquisas Para o futuro, a Empresa de Pesquisa Energética EPE (2014) projeta crescimento médio na demanda de energia do Brasil de 2,2% a.a. entre 2013 e 2050, elevando-a de 267 para 605 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep). De acordo com o cenário da EPE, a participação relativa do conjunto das fontes renováveis na matriz energética nacional pouco se alterará, elevando-se 1,6 ponto percentual, passando de 43,7% em 2013 para 45,3% em 2050 (Gráfico 2). Conforme as previsões da EPE (2014), haverá aumento na demanda de todas as fontes primárias elencadas, no entanto, com maior expressividade para o gás natural (230%) e a hidroeletricidade (220%). Embora o Brasil e, de modo particular, o Nordeste, possua enorme potencial para energia eólica e solar, o uso dessas fontes na matriz energética nacional será pouco significativo no horizonte até 2050 ante as fontes convencionais, caso se confirmem as previsões da Empresa de Pesquisa Energética. Atualmente, o Brasil é importador líquido de carvão mineral, petróleo e gás natural. No entanto, a descoberta do Pré-Sal poderá reverter essa situação no futuro. Considerando a média do período de , a participação do Nordeste na produção brasileira por fonte de energia corresponde a 7,7% para o petróleo, 7,4% para o álcool, 23,5% para o gás natural e 13,1% para a geração elétrica. Gráfico 2 - Previsão da evolução da participação das fontes primárias na matriz energética brasileira Fonte: EPE, 2014 Gás natural Biomassa Urânio Hidro Eólica Geotérmica Solar 700,0 Mtep 600,0 500,0 400,0 300,0 200,0 100,0 0, Outras fontes primárias 5,9 8,1 12,0 13,7 15,1 Lenha e carvão vegetal 21,1 23,3 24,8 25,8 27,2 Hidreletricidade 44,3 59,0 83,3 110,3 139,8 Derivados de cana-de-açúcar 45,4 62,5 77,7 86,2 92,0 Carvão mineral e derivados 13,4 16,2 20,7 24,2 24,8 Gás natural 20,3 34,9 47,4 59,3 67,8 Derivados de petróleo 116,7 149,0 194,6 228,9 238,
7 Embora haja pressões para a diminuição do uso dos combustíveis fósseis, em razão dos impactos ambientais que provocam, particularmente a emissão de gases de efeito estufa, o Mundo e o Brasil, em particular, ainda dependerão muito dessas fontes energéticas nos próximos decênios, considerando as previsões da EPE (2014). Neste contexto, há espaço para o desenvolvimento de novas tecnologias ou mesmo aprimoramento das existentes, tanto para as fontes convencionais de energia, a exemplo do petróleo, da biomassa, do gás natural e da hidroeletricidade, como também para fontes não convencionais, dentre elas a eólica e a solar que, embora ainda incipientes, apresentam enormes perspectivas de crescimento face o paulatino aumento de sua competitividade. Para o uso humano, as fontes primárias (e às vezes as secundárias) são transformadas, mediante o emprego de tecnologias, em formas úteis de energia, dentre as quais se destacam: Combustível para transportes Eletricidade Calor Figura 2 Origem e destino dos combustíveis para transportes e da eletricidade na Matriz Energética Brasileira 2014 OFERTA INTERNA DE ENERGIA 305,6 Mtep (100,0%) Derivados da cana-de-açúcar 48,1 Mtep (15,7%) RENOVÁVEIS 120,5 Mtep (39,4%) Lenha e carvão vegetal 24,7 Mtep (8,1%) Hidráulica e Eletricidade 35,0 Mtep (11,5%) Biodiesel 2,9 Mtep Outras renováveis 12,6 Mtep (4,1%) Lixívia 2,0 Mtep Eólica 1,0 Mtep Solar 0,0006 Mtep CONSUMO FINAL 0,4 Mtep 4,9 Mtep 17,7 Mtep Industrial 87,6 Mtep (28,7%) NÃO RENOVÁVEIS 185,1 Mtep (60,6%) Urânio e derivados 4,0 Mtep (1,3%) Carvão Mineral e derivados 17,6 Mtep (5,8%) Gás natural 41,4 Mtep (13,5%) Petróleo e derivados 120,3 Mtep (39,4%) Outras Não- Renováveis 1,8 Mtep (0,6%) Bagaço de cana 33,2 Mtep (10,9%) 4,3 Mtep 16,8 Mtep 5,7 Mtep Eletricidade 45,7 Mtep (15,0%) Etanol 14,9 Mtep (4,9%) Gás natural veicular 1,6 Mtep (0,5%) Óleo diesel 49,9 Mtep (16,3%) Óleo combustível 11,9 Mtep (3,9%)* Gasolina 25,7 Mtep (8,4%) 13,0 Mtep 41,0 Mtep 1,1 Mtep 3,3 Mtep 3,7 Mtep 11,4 Mtep 2,3 Mtep 2,7 Mtep 7,8 Mtep 3,7 Mtep 0,2 Mtep Residencial 24,8 Mtep (8,1%) Agropecuário 11,2 Mtep (3,7%) Setor energético 27,5 Mtep (9,0%) Comercial 8,6 Mtep (2,8%) Público 4,0 Mtep (1,3%) Uso não energético 16,0 Mtep (5,2%) Transportes 86,3 Mtep (28,2%) Querosene 3,7 Mtep (1,2%) Outros derivados de petróleo 24,6 (8,0%) Combustíveis (86,1 Mtep) Fonte: BRASIL, 2015b. Elaboração: BNB/ETENE/Ambiente de Estudos, Pesquisas e Avaliação. Notas: * Transformação O rendimento médio das térmicas situa-se entre 30% e 40%. Desta forma, parte expressiva do consumo de combustível no processo de geração de energia elétrica se dissipa na forma de calor. No Brasil, o setor de transportes demanda 86,3 Mtep de combustíveis, representando 28,2% da Oferta Interna de Energia, com destaque para a participação do óleo diesel (16,3%). A energia elétrica consumida no País corresponde a 45,7 Mtep, representando 15,0% da OIE, sendo 7
8 11,5% proveniente da fonte hídrica. O calor é utilizado principalmente em processos industriais. A Figura 2 ilustra a origem e o destino dos dois principais insumos energéticos da matriz energética brasileira: os combustíveis para transportes e a eletricidade. Diferentemente do que se observa para grande parte dos países, o Brasil se destaca no uso de eletricidade e de combustíveis provenientes de fontes de energia renováveis. Olhando para o futuro, as fontes solar, eólica e biomassa se destacam como as mais promissoras no Nordeste, visando ao aproveitamento de potencialidades energéticas da Região. A fonte hidráulica, apesar de preponderante atualmente para a geração elétrica, tem o seu potencial economicamente viável praticamente esgotado na Região. Petróleo e gás natural, embora existentes no Nordeste, são mais abundantes em outras regiões do País. Considerando essa realidade, são apresentadas a seguir, as potencialidades e perspectivas de desenvolvimento tecnológico das fontes solar e eólica, com ênfase no Nordeste.. 3. ENERGIA SOLAR De acordo com o Atlas Brasileiro de Energia Solar (Pereira et al., 2006), o Semiárido nordestino está entre as áreas do País que apresentam os melhores parâmetros técnicos de insolação. Este fato per se faz dessa Região uma candidata natural a receber investimentos em projetos de geração de energia elétrica a partir da fonte solar, a exemplo do que já se observa para a fonte eólica (Figura 3). Também se vislumbra o aumento do uso de tecnologias solares para aquecimento de água e uso em processos industriais. Figura 3 - Brasil: radiação solar no plano inclinado média anual (kwh/m 2 ) Fonte: Pereira et al. (2006). Nota: cores mais claras indicam maior radiação solar. O potencial de utilização da energia solar para geração elétrica é gigantesco no Nordeste. Essa Região apresenta vantagens em relação às demais regiões brasileiras, graças à maior intensidade da radiação solar e à maior média diária de luminosidade existente em parte expressiva de sua área, notadamente no Semiárido (Figura 1). Em virtude dessas características 8
9 da Região, o primeiro projeto de geração solar com fins comerciais, com potência instalada de 1 MWp, foi implantado no Ceará, no município de Tauá. O uso da energia solar para geração de energia elétrica é relativamente recente. Assim, como é natural para qualquer tecnologia nova, vislumbra-se haver espaço para aprimoramentos ao longo do tempo, principalmente ao se considerar que a eficiência dos painéis comercializados atualmente é da ordem de 15%. Visando baratear o custo do watt gerado, empresas do mundo inteiro pesquisam novas tecnologias e o aprimoramento das existentes, face à abundância desse recurso energético. No Nordeste brasileiro, existem diversos grupos de pesquisa empenhados em desenvolver tecnologias alternativas de geração solar. As células solares poliméricas e as células solares orgânicas são dois exemplos de tecnologias novas que têm sido objeto de pesquisa, inclusive por pesquisadores sediados no Nordeste. Paralelamente a isto, têm sido desenvolvidos equipamentos e dispositivos cada vez mais eficientes no consumo de energia elétrica, a exemplo das lâmpadas de led, possibilindo atender as necessidades de iluminação com equipamentos alternativos, com soluções individualizadas. Apesar do enorme potencial existente no Nordeste, a geração solar ainda possui escala de custos superior à de outras fontes, haja vista o seu insucesso nas concorrências dos leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica Aneel. Essa falta de competitividade ante às demais fontes ficou evidente no 8º. Leilão de Energia de Reserva, realizado em 28/08/2015 e destinado exclusivamente à fonte solar, conforme referido na introdução deste documento, no qual a energia elétrica foi comercializada ao preço médio de R$ 301,79 por MWh, muito superior ao observado em outros leilões. Contudo, projetos de energia solar apresentam vantagens ante os grandes projetos centralizados de geração, por se situarem próximos dos pontos de consumo, diminuindo perdas técnicas e evitando outros problemas nos sistemas. De fato, como salientado pela Aneel (2014, p. 9), incentivos à geração distribuída justificam-se pelos potenciais benefícios que tal modalidade pode proporcionar ao sistema elétrico: a postergação de investimentos em expansão nos sistemas de distribuição e transmissão; o baixo impacto ambiental; a redução no carregamento das redes; a redução de perdas e a diversificação da matriz energética, entre outros. Acrescente-se o fato de que alguns tipos de geração descentralizada podem ser instalados nos próprios telhados de edificações, dispensando custos associados à aquisição ou arrendamento de terrenos. ANEEL (2014, pág. 13). Atualmente, as principais tecnologias empregadas para aproveitamento da energia proveniente do Sol são: Heliotérmica (fototérmica ou termossolar) Fotovoltaica A tecnologia heliotérmica consiste no processo de uso e acúmulo do calor proveniente dos raios solares. Uma das formas de aproveitar essa energia é mediante o emprego de espelhos que são usados para refletir a luz solar e concentrá-la num único ponto, onde há um receptor. Dessa forma, grande quantidade de calor é acumulada e usada tanto para processos industriais que demandam altas temperaturas como para gerar eletricidade. Apesar de ser competitiva em diversas aplicações, notadamente no aquecimento de água, as tecnologias heliotérmicas são relativamente pouco utilizadas no Nordeste, havendo espaço para ampliar substancialmente o seu emprego, tanto em substituição ao chuveiro elétrico como também para o uso em processos industriais. A tecnologia fotovoltaica consiste em um processo que converte a radiação solar diretamente em eletricidade com o uso de células solares. Essa tecnologia tem reduzido de forma expressiva o preço do Watt-pico (Wp) nas últimas décadas. Enquanto em 1977 as células 9
10 fotovoltaicas custavam US$ 76,67/Wp, em 2013 eram comercializadas a US$ 0,74/Wp, o que representa uma redução de mais de 100 vezes (Figura 4). Embora não tenha participado com sucesso nos leilões da Aneel, a geração solar apresenta perspectivas favoráveis para o futuro próximo. Figura 4 - Evolução do preço de células fotovoltaicas de silício cristalino (US$/Watt) Fonte: Bloomberg New Energy Finance apud The Economist (2015). Apesar do enorme potencial solar existente no Brasil e, de modo particular, no Nordeste, é fato que as iniciativas de desenvolvimento tecnológico para o aproveitamento dessa fonte energética têm sido tímidas, comparativamente a outros países. Contudo, considerando a cadeia produtiva da geração solar fotovoltaica, o Brasil produz parcela expressiva dos produtos e serviços utilizados, embora seja carente de empresas que façam o processamento e o refinamento de silício de grau solar, lingotes e filmes finos de silício (Figura 5). Ressalta-se que o Brasil figura como um dos líderes mundiais na produção de silício de grau metalúrgico, ficando atrás apenas da China, quando considerados os países individualmente. A empresa brasileira RIMA Industrial aparece como a sexta maior produtora mundial. Embora envolva um processo com elevado nível tecnológico, o silício de grau metalúrgico possui baixo valor agregado relativamente ao silício de grau solar. A agregação de valor na etapa é da ordem de 100 vezes: enquanto o quartzo metalúrgico é comercializado a 0,03 US$/kg, o silício de grau metalúrgico é cotado a 3 US$/kg. Por sua vez, o silício de grau solar é vendido mundialmente pela média de 30 US$/kg, uma agregação de valor da ordem de vezes em relação ao quartzo e de 10 vezes em relação ao silício de grau metalúrgico (Associação Brasileira de Indústria Elétrica e Eletrônica ABINEE, 2012a, p. 29). Figura 5 Cadeia Produtiva e de Valor da Energia Solar Fotovoltaica Fonte: ABINEE, 2012b. Nota: as células hachuriadas de verdes representam produtos e serviços disponibilizados por empresas brasileiras. 10
11 Atualmente, não existe a purificação de silício até o grau solar no Brasil em nível comercial. Algumas empresas e grupos acadêmicos nacionais vêm desenvolvendo, em nível laboratorial, o processo de purificação por meio da rota térmica, ou metalúrgica, que envolve menor consumo de insumos energéticos, com resultados positivos sobre o custo final. Contudo, o trabalho ainda se encontra no nível laboratorial, sem ter passado pela experiência de produção em escala comercial, e encara alguns desafios técnicos, como o controle de impurezas (ABINEE, 2012a, p. 30). A Figura 6 ilustra a situação do Brasil no que se refere ao domínio da tecnologia solar fotovoltaica. Figura 6 - Elos para fabricação de célula solar fotovoltaica e a situação do Brasil no domínio dessa tecnologia Fonte: ABINEE, 2012a, p. 30. Também não existem produtores domésticos de células de silício cristalino 2 nem empresas fabricantes de células baseadas na tecnologia de filme fino. Embora estas células ainda não atinjam os mesmos níveis de eficiência das células baseadas em silício cristalino, há atualmente um grande volume de capital investido em pesquisa e desenvolvimento de células de filme fino que poderão vir a obter níveis de eficiência próximos ou superiores às obtidas com células de silício cristalino (ABINEE, 2012, p. 30). No entanto, comparativamente a outros países, os investimentos nessas tecnologias são inexpressivos no Brasil. Esta assertiva se torna evidente quando se observa os pedidos de patente no Mundo relacionados às tecnologias solares (Gráfico 3). De acordo com os dados apresentados, a China é líder no número de pedidos de prioridade de patente, com ocorrências no primeiro semestre de 2012, aparecendo o Brasil na lista com apenas 6 ocorrências. 2 A instalação de uma planta local de módulos (Tecnometal, com capacidade de 25 MW anuais), apesar de não integrada e com escala incomparavelmente menor do que suas congêneres asiáticas, representa, sem dúvida, um passo importante em direção à internalização e ao adensamento da cadeia produtiva de equipamentos fotovoltaicos no Brasil. 11
12 Gráfico 3 Países de prioridade dos documentos recuperados em nível mundial x número de ocorrências energia solar Fonte: INPI, 2013 No tocante aos pedidos de patente registrados no Brasil relacionados à energia solar, de acordo com o INPI (2012), foram identificados sete documentos no primeiro semestre de 2012, sendo seis com prioridade nacional 3, e um com prioridade alemã. No período considerado, dentre os cinquenta países com depósitos prioritários publicados, o Brasil ocupou a vigésima quinta posição no ranking de prioridades. O perfil dos depositantes brasileiros revela que dos sete pedidos encontrados, cinco foram efetuados por inventores independentes e os outros dois por empresas, incluindo-se neste segundo grupo um pedido com prioridade alemã. Não foi detectado nenhum pedido de origem brasileira que tenha sido efetuado no exterior, publicado no primeiro semestre de 2012 (INPI, 2012). Visando ter-se uma ideia das tecnologias mais pesquisadas para o aproveitamento da energia solar, são apresentados, na Tabela 1, os códigos da Classificação Internacional de Patentes mais contemplados com pedidos de patente no Mundo. Como se observa, as tecnologias heliotérmicas preponderam, no entanto, pedidos de patenteamento envolvendo as tecnologias fotovoltaicas também são expressivas. Do total de ocorrências de pedidos de patente ocorridas no 1º. semestre de 2012, 34,8% são relacionados ao subgrupo F24J2/46 Partes componentes, detalhes ou acessórios de coletores de calor solar. 3 O País de prioridade é aquele onde primeiramente foi realizado o pedido de patente referente à invenção. 12
13 Tabela 1 Pedidos de Patente sobre Energia Solar publicados no Mundo no 1º semestre de 2012, segundo os códigos da Classificação Internacional de Patentes Código Descrição Nr. de ocorrências % total F24J PRODUÇÃO DE CALOR, USO DE CALOR NÃO INCLUÍDO EM OUTRO LOCAL F24J 2/00 Utilização de calor solar, p. ex. coletores de calor solar (destilação ou evaporação de água usando energia solar C02F 1/14; aspectos da cobertura de telhados para dispositivos coletores de energia E04D 13/18; dispositivos para produzir energia mecânica a partir da energia solar F03G 6/00; dispositivos semicondutores especialmente adaptados para converter energia solar em ,0 energia elétrica H01L 31/00; células fotovoltaicas [PV] incluindo meios diretamente associados com a célula PV para utilizar energia do calor H01L 31/0525; módulos PV incluindo meios associados com o módulo PV para utilizar a energia do calor H02S 40/44) [ ] F24J 2/04 Coletores de calor solar com o fluido de trabalho conduzido através do coletor ,0 F24J 2/05 envolto por um fechamento transparente, p. ex. coletores solares a vácuo 182 6,9 F24J 2/10 tendo refletores como elementos de concentração 193 7,4 F24J 2/24 o fluido de trabalho sendo conduzido através de condutos tubulares absorvedores de calor 250 9,5 F24J 2/34 com matéria armazenada de calor 101 3,9 F24J 2/38 empregando meios de reboque (F24J 2/02, F24J 2/06 têm prioridade; montagem ou suportes rotativos para os mesmos F24J 2/54; estruturas de suporte para módulos fotovoltaicos para geração de energia elétrica especialmente adaptadas 197 7,5 para sistemas de detecção solar H02S 20/32) [ ] F24J 2/40 Disposições de controle 232 8,9 F24J 2/46 Partes componentes, detalhes ou acessórios de coletores de calor solar ,8 F24J 2/48 caracterizado pelo material absorvedor 147 5,6 F24J 2/52 Disposições de montagem ou suporte ,7 F24J 2/54 especialmente adaptados para movimentos rotativos 135 5,2 Dispositivos semicondutores sensíveis à radiação infravermelha, luz, radiação eletromagnética de comprimento de onda mais curto ou radiação corpuscular e H01L 31/042 especialmente adaptados para a conversão da energia de tal radiação em energia 204 7,8 elétrica ou para controle de energia elétrica por meio de tal radiação; Módulos PV ou conjunto de células simples PV (estruturas de suporte para módulos PV) TOTAL ,0 Fonte: INPI, 2013 Notas: 1. Um único pedido de prioridade de patente pode conter um ou mais códigos de classificação; 2. A quantidade dos códigos terminados em /00 não representa a soma das subclasses correspondentes com final /02, /04 e / Os valores percentuais são relativos ao total de documentos publicados de pedidos de patente no 1º. Semestre de 2012: ocorrências. Do exposto, constata-se que as poucas iniciativas endógenas de P&D na área de energia solar, relativamente a outras nações, não condizem com o enorme potencial que o País possui nessa fonte energética. 4. ENERGIA EÓLICA Ao longo do tempo, a energia elétrica consumida no Nordeste tem sido gerada basicamente a partir da fonte hidráulica, destacando-se o Rio São Francisco como o seu principal provedor. No entanto, em anos recentes, outras fontes têm ocupado espaço mais relevante na matriz de geração elétrica da Região, sendo promissoras as perspectivas para um paulatino aumento da participação da 13
14 fonte eólica. Com efeito, além das fontes térmicas, utilizadas com maior intensidade apenas quando ocorre escassez pluviométrica e diminuição expressiva do nível d água dos reservatórios, cada vez mais a fonte eólica ganha espaço na matriz de geração elétrica do Nordeste, já tendo, inclusive, elevado a sua participação de 0,6% em 2009 para 7,8% em 2014 (Gráfico 1). Além disso, o potencial hidrelétrico remanescente economicamente viável da Região encontra-se próximo do seu esgotamento, enquanto as fontes renováveis solar e principalmente a eólica tornam-se cada vez mais competitivas ante a diminuição dos custos de instalação e de geração. Gráfico 4 Evolução da participação das fontes hidráulica, térmica e eólica na matriz de geração elétrica do Subsistema Nordeste (%) 0,6 2,0 2,2 3,5 4,9 7,8 3,7 13,4 10,0 16,6 38,8 49,0 95,7 84,6 87,9 79,8 56,3 43, Eólica Térmica Hidráulica Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico ONS (2015) Elaboração: BNB/ETENE/Ambiente de Estudos e Pesquisas Historicamente, a crescente demanda de energia elétrica do Nordeste só é plenamente atendida graças à importação de outras regiões, principalmente do Subsistema Norte. O Gráfico 2 apresenta a geração e a importação líquida de energia elétrica do Subsistema Nordeste a partir de 2001, demonstrando a sua dependência da produção de eletricidade em outras regiões do País. Ressalta-se, contudo, que graças ao elevado potencial eólico do Nordeste, aliado à possibilidade de geração térmica, a Região tende a se tornar autossuficiente na geração de energia elétrica. Alguns estados da Região, como é o caso do Rio Grande do Norte, já se aproximam da autossuficiência em energia elétrica, em virtude dos expressivos investimentos em geração eólica realizados nos últimos anos, aliados a outras iniciativas usando combustíveis fósseis. Gráfico 5 - Evolução da Geração e Importação Líquida de Energia Elétrica no Subsistema Nordeste (1.000 MWmédios) 1,04 4,25 0,87 1,26 4,75 4,78 0,75 5,52 0,37 0,32 0,53 6,16 6,60 6,88 2,20 5,28 1,34 1,99 1,61 6,18 6,16 6,57 1,35 2,39 7,38 6,89 1,39 7, Import. Líq. Geração Fonte: ONS, 2015 Elaboração: BNB/ETENE/Ambiente de Estudos e Pesquisas Nota: O Subsistema Nordeste integra o Sistema Interligado Nacional (SIN) e compreende todos os Estados da Região, exceto Maranhão. 14
15 O Brasil possui potencial de geração de energia elétrica a partir da fonte eólica superior à atual demanda. De acordo com o Atlas do Potencial Eólico do Brasil (Amarante et. al., 2001), o potencial eólico do Brasil alcança 143 GW, dos quais cerca da metade no Nordeste. Esse montante foi estimado tendo por base velocidades médias de vento igual ou superior a 7 m/s a 50 metros de altura. Considerando alturas maiores, como a das torres dos novos parques eólicos, que normalmente ultrapassa 80 metros, estima-se que o potencial eólico do Brasil ultrapasse 300 GW, muito superior à atual capacidade instalada de geração de energia elétrica do País, de cerca de 150 GW. Cabe destacar que estão localizadas na Região nordestina as jazidas de vento que apresentam as melhores condições de aproveitamento para fins de geração de energia elétrica (Figura 1). Por esta razão, a maioria dos projetos que participaram dos leilões de energia da ANEEL está situada nessa Região. Em função de sua competitividade na geração eólica, o Nordeste é candidata natural a receber vultosos investimentos previstos para os próximos anos nessa fonte energética. Figura 7 Potencial eólico do Brasil Fonte: Amarante et. al., 2001 in Atlas do Potencial Eólico do Brasil A tecnologia de geração de energia elétrica com o uso de aerogeradores não se mostrava competitiva no Brasil até meados dos anos No entanto, atualmente representa a segunda fonte mais competitiva nos leilões de comercialização de energia elétrica, perdendo apenas para as grandes usinas hidroelétricas (Gráfico 6). É notória a tendência de queda nos preços da fonte eólica desde o 2º. Leilão de Energia Renovável (LER), realizado em dez/2009, cujo preço foi de R$ 213,28, em valor atualizado pelo IPCA para julho/2015. Esse desempenho tende a se manter no futuro, o que ensejará o fortalecimento do mercado de aerogeradores no País. Neste contexto, seria importante o Brasil fomentar o desenvolvimento de tecnologias endógenas que possibilitem o aproveitamento do enorme potencial de ventos existente no País, sobretudo no Nordeste. A competitividade da geração eólica se confirma pelo sucesso alcançado nos leilões promovidos pela ANEEL, nos quais os projetos que utilizam essa fonte energética têm alcançado posição de destaque, em razão de seus preços por MWh estarem entre as melhores opções, 15
16 perdendo apenas para os projetos das grandes hidrelétricas. A competitividade da geração eólica se torna ainda mais evidente a partir de 2014, ano em que ocorreu um salto no acréscimo anual de capacidade instalada em relação aos anos precedentes (Gráfico 7). Esse cenário de vultosos investimentos em geração eólica no Brasil, particularmente no Nordeste, tende a permanecer no futuro, mantendo aquecido o mercado de equipamentos e serviços nessa área. Gráfico 6 Preço médio de energia elétrica comercializada em leilões da ANEEL (Reais) 218,28 225,60 219,33 207,34 206,11 125,23 220,12 213,28 (2º LER) 214,86 210,54 209,67 204,84 202,58 187,39 182,18 150,02 110,14 (Jirau) 170,97 138,68 109,18 (Belo Monte) 142,75 (17º LEN) 133,95 (13º LEN) 131,32 (13º LEN) 116,21 91,35 (Sto. Antônio) 114,75 156,13 157,82 152,04 174,29 146,42 (20º LEN) 142,41 (19º LEN) 135,31 (18º LEN) 132,58 (Sto. Antônio) 105,87 (15º LEN) 98,72 (15º LEN) 94,91 (São Manoel) 187,64 10/10/ /02/ /07/ /11/ /04/ /08/ /12/ /05/2016 BIO EOL PCH UHE UTE Fonte: Câmara de Comercialização de Energia Elétrica CCEE (2015). Notas: valores a preços constantes de jul/2015, corrigidos pelo IPCA. Legenda: LEN Leilão de Energia Nova; BIO Biomassa; EOL Energia Eólica; PCH Pequena Central Hidrelétrica; UHE Hidrelétrica; UTE Unidade Termelétrica. O forte crescimento da geração eólica no Nordeste está suscitando o surgimento na Região de empresas fornecedoras de bens e serviços para esse setor, cuja demanda se mantém crescente. Forma-se, portanto, uma nova cadeia produtiva, que requererá investimentos para a qualificação de recursos humanos e realização de pesquisa e desenvolvimento (P&D), em razão da dinâmica competitiva das empresas. Gráfico 7 Capacidade instalada de parques eólicos com início de operação no ano de referência (MW) 4.322, , , , ,6 266,9 325,6 498,4 456,2 313, Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL, 2015). Elaboração: BNB/ETENE/Ambiente de Estudos e Pesquisas. Nota: os dados de 2015 a 2018 referem-se a projetos já previstos. 16
17 O elevado potencial eólico do Nordeste, associado à competitividade dessa fonte energética nos leilões de compra e venda de energia elétrica, atraiu fabricantes de componentes de aerogeradores para a Região, já tendo sido instaladas diversas fábricas, em vários estados nordestinos (Quadro 1). A vinda de fabricantes desses equipamentos traz consigo know-how que poderá ser absorvido por profissionais brasileiros e possibilitar o surgimento de massa crítica nesse campo no País, ainda incipiente. A efervescência dessa indústria, cujo crescimento tem sido vertiginoso e sustentável nos últimos anos, ensejou a criação de cursos de capacitação nas universidades brasileiras e nordestinas, bem como a formação de grupos de pesquisas nessa área. Espera-se, assim, que o Brasil e a Região nordestina, em particular, possam, com o passar do tempo, gerar inovações no campo da geração eólica, consolidando o processo de internalização dessa tecnologia no País. Quadro 1 Principais fabricantes de componentes da indústria eólica no Nordeste Estado Localização Principais Fabricantes Principais Produtos Camaçari Gamesa caixa de rotor Camaçari Alstom Cubos eólicos Bahia Simões Filho Acciona Windpower Cubos eólicos Jacobina Torres Eólicas do Nordeste Torres Camaçari Tecsis Pás e aerogeradores Camaçari Torrebras Torres Pecém Wöbben/Enercon Pás Pecém Suzlon Aerogeradores Ceará Pecém Aeris Energy + Suzlon Pás Caucaia Fuhrländer Aerogeradores Maracanaú Vestas Aerogeradores Fortaleza Tecnomaq Torres em aço Suape Impsa Turbinas eólicas Pernambuco Suape LM Wind Power Pás Suape Gestamp Torres Suape Iraeta Flanges Rio G. do Norte Areia Branca Acciona Windpower Torres de concreto Elaboração: BNB/ETENE/Ambiente de Estudos e Pesquisas Os aerogeradores de grande porte até então instalados no Brasil são produzidos com tecnologia desenvolvida em seus países de origem e naturalmente se adéquam melhor às condições para as quais foram projetados. Alguns fatores que interferem no desempenho dos equipamentos, como a velocidade média anual dos ventos, condições atmosféricas e climáticas, precisam ser melhor adequadas às características do Brasil, abrindo assim, per se, um leque de opções de pesquisas tecnológicas para torná-los mais condizentes com a realidade do País. A tecnologia dos aerogeradores de grande porte é relativamente recente. Dessa forma, vislumbra-se nesse setor enormes possibilidades de P&D no aperfeiçoamento de seus componentes (turbinas, rotores, naceles, pás, torres etc.), visando ao aumento da eficiência e da vida útil, além de equipamentos acessórios de medição de vento e da energia gerada, de controle da qualidade da geração e da ligação à rede, dentre outros. No que concerne aos aerogeradores de pequeno porte, existe um espaço enorme para crescimento, principalmente após a legislação brasileira permitir o intercâmbio de produtores pessoa física com a rede de distribuição, gerando créditos (em kwh) válidos por um ano. Esta iniciativa, associada a outras, está favorecendo o surgimento de empresas fabricantes e 17
18 fornecedoras desses equipamentos no País. Nesse caso, já existe tecnologia nacional, que deverá ser aprimorada para não perder espaço para fabricantes de outros países. A exemplo do que se observa para as tecnologias solares, a pesquisa de cunho tecnológico no campo da energia eólica é incipiente no Brasil. Essa assertiva se torna evidente quando se observa os registros de prioridade de patente referentes ao 2º. semestre de 2012, nos quais o Brasil deteve apenas 4 ocorrências. Novamente a China aparece como o País líder no número de pedidos prioritários de patente, com ocorrências no referido período (Gráfico 8). Conforme esclarece o INPI (2013), foram publicados no Brasil 16 depósitos sobre energia eólica no segundo semestre de 2012, sendo três com a primeira prioridade nacional e outros treze com prioridades estrangeiras, assim distribuídos: oito pedidos com prioridade reivindicada no Escritório Europeu de Patentes, dois pedidos com prioridade japonesa, e outros três pedidos com uma única prioridade dos seguintes países; Alemanha, Taiwan e Estados Unidos. Os três depósitos com prioridade nacional foram efetuados pelo mesmo inventor independente. Foi também identificado um único depósito no exterior com prioridade brasileira, sendo o mesmo efetuado via PCT - Tratado de Cooperação de Patentes (INPI, 2013). Gráfico 8 Principais países com pedido de prioridade de patente na área de energia eólica 2º. Semestre de 2012 Fonte: INPI, No que diz respeito às áreas de concentração de tecnologia, foram pesquisados os códigos da Classificação Internacional de Patentes (CIP) que constavam nos documentos encontrados. A Tabela 2 permite visualizar as tecnologias relacionadas à energia eólica com maior número de incidência nos pedidos de patente publicados no segundo semestre de De acordo com os dados apresentados, destaca-se, dentre outros, a prevalência de pedidos de prioridade de patente relacionados aos itens: F03D11/00 (detalhes, peças ou acessórios não incluídos nos outros grupos desta subclasse), com ocorrências; F03D9/00 (adaptações de motores a vento para uso especial; combinações de motores a vento com aparelhos por eles acionados), com ocorrências; F03D3/06 (rotores de motores a vento com o eixo de rotação substancialmente perpendicular ao fluxo de ar na entrada do rotor), com 420 ocorrências; e 18
19 F03D1/06 (rotores de motores a vento com o eixo de rotação substancialmente paralelo para o fluxo de ar na entrada do rotor), com 404 ocorrências; e F03D7/00 (controles dos motores a vento), com 303 ocorrências. Tabela 2 Principais itens com pedido de prioridade de patente no Mundo na subclasse F03D motores movidos a vento da Classificação Internacional de Patentes 2º. semestre de 2012 Código Descrição Nr. de ocorrências % total F03D 1/00 Motores a vento com o eixo de rotação substancialmente paralelo para o fluxo de ar na entrada do rotor 191 5,4 F03D 1/02 com vários rotores 65 1,9 F03D 1/04 com meios fixos para orientar o vento, p. ex. com coberturas ou canais 108 3,1 F03D 1/06 rotores ,5 F03D 3/00 Motores a vento com o eixo de rotação substancialmente perpendicular ao fluxo de ar na entrada do rotor 198 5,6 F03D 3/02 com vários rotores 97 2,8 F03D 3/04 com meios fixos para orientar o vento, p. ex. com coberturas ou canais 175 5,0 F03D 3/06 rotores ,0 F03D 5/00 Outros motores de vento 44 1,3 F03D 5/02 sendo as peças, de contato com o vento, fixas a correntes semfim ou similares F03D 5/04 sendo as peças, de contato com o vento, fixas a carrinhos que se deslocam em pistas ou similares F03D 5/06 em que as peças de contato com o vento oscilam, mas não giram F03D 7/00 Controle dos motores a vento 303 8,6 F03D 7/02 motores a vento tendo o eixo de rotação substancialmente paralelo para o fluxo de ar na entrada do rotor 168 4,8 F03D 7/04 controle automático; Regulagem 187 5,3 F03D 7/06 motores a vento tendo o eixo de rotação substancialmente perpendicular ao fluxo de ar na entrada do rotor 128 3,6 F03D 9/00 Adaptações de motores a vento para uso especial; Combinações de motores a vento com aparelhos por eles ,9 acionados F03D 9/02 os aparelhos armazenando energia 173 4,9 F03D 11/00 Detalhes, peças ou acessórios não incluídos nos, nem pertinentes aos outros grupos desta subclasse ,7 F03D 11/02 transmissão de força, p. ex. usando pás ocas de aspiração 214 6,1 F03D 11/04 estruturas de montagem 320 9,1 Total ,0 Fonte: INPI, Notas: 1. Um único pedido de prioridade de patente pode conter um ou mais códigos de classificação; 2. A quantidade dos códigos terminados em /00 não representa a soma das subclasses correspondentes com final /02, /04 e / Os valores percentuais são relativos ao total de documentos publicados de pedidos de patente no 2º. semestre de 2012: Outro aspecto que cabe registro diz respeito ao montante de investimentos requeridos para implantação dos parques eólicos e, em decorrência, a geração de empregos. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica, 2015), em 2014, o Brasil recebeu R$ 18 bilhões de investimentos em energia eólica, grande parte financiados pelo BNDES, gerando 36 mil postos de trabalho. Segundo essa entidade, ante a projeção de se ter 18 GW de capacidade 19
20 instalada em 2019 para a fonte eólica, estima-se a disponibilidade de 150 mil postos de trabalho em decorrência dos investimentos realizados e dos que estão por vir. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O potencial e a competitividade do Brasil e, de modo particular, do Nordeste nas fontes de energia solar e eólica credenciam o País e a Região a criar tecnologia própria para o aproveitamento dessas alternativas energéticas e, dessa forma, não ficar permanentemente dependente de tecnologias estrangeiras. No entanto, para que isso se torne realidade, são necessários investimentos em recursos humanos, laboratoriais e a criação de mecanismos financeiros que estimulem os pesquisadores da Região materializar boas ideias nessa e em outras áreas com elevado potencial de crescimento. É importante atentar para o forte posicionamento e a curva de aprendizado acelerada de investidores globais nas áreas de eólica e solar. Não agir e deixar que o setor se desenvolva apenas pela dinâmica das forças de mercado poderá significar a perda do timing, deixando-se de gerar oportunidades endógenas de criação de empregos qualificados nessas áreas, que se apresentam, conforme referido, muito promissoras no presente e sobretudo no futuro. A criação de instrumentos de crédito compatíveis com as características dos projetos é de suma importância para alavancar os negócios envolvendo as tecnologias solar e eólica. Nesse sentido, considera-se oportuno, no que concerne à geração distribuída, pensar mecanismos de financiamento para consumidores residenciais, um filão de negócios que está nascendo e tende a crescer muito no futuro, haja vista o aumento da competitividade das tecnologias solar e eólica. 20
21 REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Micro e Minigeração Distribuída: Sistema de Compensação de Energia Elétrica. Cadernos Temáticos ANEEL. Brasília, Disponível em: < Acesso em: 14 ago Banco de informações de geração. Disponível em: < Acesso em: 14 ago AMARANTE. Odilon A. Camargo do; ZACK, John; BROWER, Michael; SÁ, Antônio Leite de. Atlas do potencial eólico brasileiro. Brasília, Disponível em: < Eolico%20Brasileiro.pdf>. Acesso em: 14 ago ANHALT, J. Fundamentos e Aplicações de Energia Heliotérmica. Apresentação realizada no BNB/ETENE, dez/2013. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA EÓLICA. Eólicas fecham 2014 com 41% de fator de capacidade médio. Disponível em: < Acesso em: 01 set ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA ELÉTRICA E ELETRÔNICA. Propostas para inserção da energia solar fotovoltaica na matriz elétrica brasileira. 2012a. Disponível em: < Acesso em: 14 ago Apresentação do Grupo Setorial de Sistemas Fotovoltaicos no Rio 12 PV Expert Workshop. 2012b. Disponível em: < Acesso em: 14 ago BRASIL. MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Resenha energética brasileira: exercício de Brasília, junho de 2015a. Disponível em: < Acesso em: 01 set Tabela 5.1 do Balanço Energético Nacional (BEN). Disponível em: < Acesso: 14 ago. 2015b. CÂMARA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. Leilões. Disponível em: < #%40%3F_afrLoop%3D %26_adf.ctrl-state%3Dykai81oea_45>. Acesso em: 01 set EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA. Demanda de Energia Nota técnica DEA 13/14. Série Estudos da Demanda de Energia. Rio de Janeiro, Disponível em: < Acesso em: 14 ago
22 INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL. Alerta tecnológico nr. 80. Pedidos de patente sobre energia solar nº 7: pedidos publicados no 1º semestre de Rio de Janeiro, Disponível em: < Acesso em: 15. jun Alerta tecnológico nr. 88. Pedidos de patente sobre energia eólica nº 8: pedidos publicados no 2º semestre de Rio de Janeiro, Disponível em: < Acesso em: 15. jun OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO. Histórico da geração (banco de dados). Disponível em: < Acesso em: 01 set Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Resultados de leilões. Disponível em: < Acesso em: 14 ago PEREIRA, Enio Bueno; MARTINS, Fernando Ramos; ABREU, Samuel Luna de; RÜTHER, Ricardo. Atlas Brasileiro de Energia Solar. São José dos Campos: INPE, Disponível em: < Acesso em: 14 ago THE ECONOMIST. Pricing sunshine: the rise of solar energy Disponível em: < Acesso em: 15 set [Dec 28th 2012, 15:31BY ECONOMIST.COM] 22
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