O PAPEL DO PROFESSOR DIANTE DO BULLYING NA SALA DE AULA
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- Aníbal Ximenes Dreer
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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Júlio de Mesquita Filho Faculdade de Ciências Campus de Bauru Licenciatura em Pedagogia Projeto de Pesquisa LUCIANA PAVAN RIBEIRO DOS SANTOS O PAPEL DO PROFESSOR DIANTE DO BULLYING NA SALA DE AULA Bauru 2007
2 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Júlio de Mesquita Filho Faculdade de Ciências Campus de Bauru Licenciatura em Pedagogia Projeto de Pesquisa LUCIANA PAVAN RIBEIRO DOS SANTOS O PAPEL DO PROFESSOR DIANTE DO BULLYNG NA SALA DE AULA Projeto de pesquisa apresentado como exigência parcial para a Conclusão do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências UNESP Campus de Bauru sob a orientação do (a) Prof(a). Dr(a). Vera Lucia Messias Fialho Capellini Bauru 2007
3 3 DEDICATÓRIA... ao meu querido avô Nelson, que não pode ver, mas que de alguma forma está vendo a realização deste sonho!
4 4 AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, ao qual sempre me apegarei em todos os momentos da minha vida. Ao meu marido Deividy, meu companheiro em todos os momentos, que jamais permitiu que eu desistisse... Aos meus pais, pelo amor e dedicação. À minha irmã Juliana, pela ajuda constante. Em especial quero agradecer a Chris, a Renata, a Regina, a Vanessa, a Nathalia, a Célia, a Elaine, a Aline, a Deise e a todos os meus amigos da faculdade que me ajudaram e me apoiaram quando mais precisei e por momentos inesquecíveis que compartilhamos... Ao Wagner, por nunca ter me negado um favor... A minha amiga e irmã Priscila, por sempre estar ao meu lado, mesmo morando em outra cidade. A minha amiga Ana Paula, que desde a nossa infância sempre se fez presente na minha vida. A querida professora Vera, que aceitou ser a orientadora do meu trabalho e com sua calma me incentivou a seguir adiante.
5 5 Em especial ao meu pequeno filho Denis, que veio trazer mais cor e alegria a minha vida, que com seu doce sorriso me incentiva a cada dia buscar o melhor.
6 Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele. (Provérbios, 22,6) 6
7 7 RESUMO SANTOS, L. O papel dos professores frente ao bullying na sala de aula f. Trabalho de Conclusão de Curso ( Licenciatura Plena em Pedagogia). Unesp, Bauru. Este trabalho de conclusão de curso tem o propósito de analisar o papel do professor frente ao bullying na sala de aula. Tem o objetivo de verificar se os professores pesquisados previnem e combatem o bullying na sala de aula e também se suas ações perante os alunos podem ou não ocasionar situações propicias à prática de bullying. Esta pesquisa mostra que o papel do professor não é somente o de prevenir e combater o bullying na sala de aula, mas também vem mostrar que as ações dos professores para com os alunos, ou seja, a maneira de como lidam com eles também podem gerar o bullying no cotidiano escolar.os procedimentos metodológicos utilizados para a pesquisa foram estudos do referencial teórico, observações e aplicação de questionários à professoras do ensino fundamental, de uma escola pública estadual localizada na cidade de Bauru, interior do estado de São Paulo. A analise dos dados foi feita de acordo com o referencial teórico. Palavras- Chaves: Bullying, papel do professor.
8 8 SUMÁRIO I INTRODUÇÃO...09 II OBJETIVOS DA PESQUISA Fundamentação teórica 1.1 O bullying Os envolvidos As vítimas do bullying O autor de bullying Testemunhas de bullying Bullying entre meninos e meninas As conseqüências do bullying O papel do professor Metodologia Análise dos dados...30 Considerações Finais...46 Referências Bibliográficas...50 ANEXOS...51
9 9 I INTRODUÇÃO Brincadeiras de mal gosto como chamar o colega de baleia, feio, dentuço, ou seja, brincadeiras que de alguma forma tendem a ofender seus receptores, estão presentes no cotidiano das salas de aula e a partir do momento em que seus receptores passam a sofrer as conseqüências oriundas dessas brincadeiras, seja elas no âmbito afetivo ou na aprendizagem, esta criança se torna mais uma vítima do bullying. O bullying é considerado toda forma de agressão, seja ela física ou verbal, sem um motivo aparente, causando em suas vítimas conseqüências que vão desde o âmbito emocional até conseqüências na aprendizagem (FANTE, 2005). Essas brincadeiras passaram a ser denominadas de bullying em meados da década de 90, e o primeiro a relacionar essas brincadeiras ao nome de bullying foi Dan Olweus, pesquisador e educador da universidade de Bergen, na Noruega. Fez inúmeras pesquisas com relação as conseqüências que o bullying pode acarretar em suas vítimas. A partir de então, várias pesquisas a respeito das causas e conseqüências do bullying passaram a ser desenvolvida. Os Estados Unidos é um grande pioneiro nas pesquisas e também na prevenção e combate ao bullying em sus escolas. Uma grande tragédia, ocorrida no ano de 2001, na qual dois jovens de 15 anos entraram em uma escola secundária e assassinaram a tiros treze alunos e em seguida se suicidaram. A polícia descobriu que esses dois alunos eram vítimas de bullying nessa escola. Esse é um caso em que o bullying gerou uma grave conseqüência. Devido a este fato, os Estados Unidos mantém uma rigorosa política de prevenção ao bullying. No Brasil, o bullying passou a ser conhecido e estudado pela ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência) onde se desenvolveu um projeto em onze escolas na cidade do Rio de Janeiro. O objetivo do projeto era conscientizar e prevenir a ocorrência de bullying nas escolas. Professores e alunos participaram do projeto que obteve resultados positivos. O título da presente pesquisa é: O papel do professor diante do bullying na sala de aula, portanto esta pesquisa tem como objetivo estudar o papel do professor, ou
10 10 seja, sua importância na prevenção e no combate ao bullying no cotidiano escolar e também tem o objetivo de analisar se as ações, ou seja, as atitudes docentes podem de alguma forma gerar o bullying na sala de aula. Serão estudadas portanto as atitudes docentes que previnem e combatem ao bullying e também as atitudes que podem gerar tal situação. Com este trabalho de conclusão de curso, pretende-se deixar claro a importância de o professor conhecer as conseqüências que o bullying pode trazer para as suas vítimas, para assim prevenir e combater este problema na sala de aula. Levanta-se com esta pesquisa uma outra questão: Se o professor não tem conhecimento sobre o que é o bullying e as suas conseqüências, mas convive diariamente com essas brincadeiras em seu cotidiano pedagógico, teria este professor condições de lidar com o problema de maneira satisfatória para todos?
11 11 II OBJETIVOS DA PESQUISA sala de aula. Geral: Estudar o papel do professor na prevenção e no combate ao bullying na Específicos: Estudar o que é o bullying e suas conseqüências. Verificar nas ações das professoras observadas o que fazem para prevenir e combater o bullying na sala de aula. Verificar se ações por parte dos professores podem implicar na ocorrência de bullying na sala de aula. de aula. Problema: O papel do professor no combate e na prevenção ao bullying na sala aula? Hipótese: A ação do professor pode combater e prevenir o bullying na sala de
12 12 CAPÍTULO 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1 O bullyng Os estudos sobre o bullying se iniciaram com pesquisas do professor Dan Olweus, da Universidade de Bergen, na Noruega (1978 a 1993) e com a campanha nacional antibullying nas escolas norueguesas. No início dos anos 70, Dan Olweus iniciava investigações na escola sobre o problema dos agressores e suas vítimas, embora não se verificasse um interesse das instituições sobre o assunto. Já na década de 80, três rapazes entre 10 e 14 anos, cometeram suicídio. Estes incidentes pareciam ter sido provocados por situações graves de bullying, despertando, então, a atenção das instituições de ensino para o problema. Olweus pesquisou inicialmente cerca de estudantes, 300 a 400 professores e pais entre os vários períodos de ensino. Um fator fundamental para a pesquisa sobre a prevenção do bullying foi avaliar a sua natureza e ocorrência. Como os estudos de observação direta ou indireta são demorados, o procedimento adotado foi o uso de questionários, o que serviu para fazer a verificação das características e extensão do bullying, bem como avaliar o impacto das intervenções que já vinham sendo adotadas. Nos estudos noruegueses utilizou-se um questionário proposto por Olweus, consistindo de um total de 25 questões com respostas de múltipla escolha, no qual se verificava a freqüência, tipos de agressões, locais de maior risco, tipos de agressores e percepções individuais quanto ao número de agressores (Olweus, 1993a). Este instrumento destinava-se a apurar as situações de vitimização/agressão segundo o ponto de vista da própria criança. Ele foi adaptado e utilizado em diversos estudos, em vários países, inclusive no Brasil, pela ABRAPIA, possibilitando assim, o estabelecimento de comparações inter-culturais. Os primeiros resultados sobre o diagnóstico do bullying foram informados por Olweus (1989) e por Roland (1989), e por eles se verificou que 1 em cada 7
13 13 estudantes estava envolvido em caso de bullying. Em 1993, Olweus publicou o livro Bullying at School apresentando e discutindo o problema, os resultados de seu estudo, projetos de intervenção e uma relação de sinais ou sintomas que poderiam ajudar a identificar possíveis agressores e vítimas. Essa obra deu origem a uma Campanha Nacional, com o apoio do Governo Norueguês, que reduziu em cerca de 50% os casos de bullying nas escolas. Sua repercussão em outros países, como o Reino Unido, Canadá e Portugal, incentivou essas nações a desenvolverem suas próprias ações. O programa de intervenção proposto por Olweus em meados da década de 90 tinha como características principais desenvolver regras claras contra o bullying nas escolas, alcançar um envolvimento ativo por parte de professores e pais, aumentar a conscientização do problema, avançando no sentido de eliminar alguns mitos sobre o bullying, e prover apoio e proteção para as vítimas. Com o sucesso da Campanha Nacional Anti-Bullying realizada na Noruega, diversas campanhas e estudos seguiram o mesmo caminho, dos quais podemos destacar o The DES Shefield Bullying Project UK, a Campanha Anti-Bullying nas Escolas Portuguesas e o Programa de Educação para a Tolerância e Prevenção da Violência na Espanha, entre outros. O bullying é um problema mundial que vem se disseminando largamente nos últimos anos e que só recentemente vem sendo estudado no Brasil. Define-se como um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem um motivo evidente, adotado por um ou mais alunos contra outros, causando sentimentos negativos como raiva, angustia, sofrimento e em alguns casos queda do rendimento escolar (FANTE,2005). Segundo Fante (2005) o bullying escolar se resume em insultos, intimidações, apelidos constrangedores, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuações em grupo que hostilizam e ridicularizam a vida de outros alunos, levando-os à exclusão, além de danos físicos, psíquicos, danos na aprendizagem. Muitos psicólogos o chamam de violência moral, permitindo diferenciá-lo de brincadeiras entre iguais, propicio do desenvolvimento de cada um. A esse respeito, Fante (2005) comenta:
14 14 O bullying é um conceito específico e muito bem definido, uma vez que não se deixa confundir com outras formas de violência. Isso se justifica pelo fato de apresentar características próprias, dentre elas, talvez a mais grave, seja a propriedade de causar traumas ao psiquismo de suas vítimas e envolvidos. (FANTE, 2005, p.26) Portanto, o conceito de bullying deve ser compreendido como um comportamento ligado a agressividade física, verbal ou psicológica, exercida de maneira continua dentro do ambiente escolar. 1.2 Os envolvidos No bullying há três formas de envolvimento:autor, vitima e testemunha e em todos os casos os envolvidos podem sofrer graves conseqüências no que se diz respeito a aprendizagem e ao convívio social. De acordo com Neto (2004), as conseqüências relacionadas ao bullying podem ser físicas ou emocionais, de curto ou longo prazo, gerando dificuldades na aprendizagem, dificuldades de convívio social e também problemas emocionais As vítimas do bullyng Normalmente, os alunos que são visados para serem as vítimas são aqueles que possuem alguma diferença em relação ao grupo, como obesidade, deficiência física, inteligência acima da media ou dificuldades de aprendizagem. Segundo Neto (2004), a escola é de grande significância para as crianças e as que não gostam dela tem a maior probabilidade de apresentar desempenho insatisfatório, por estes motivos é que a aceitação por parte dos companheiros é fundamental para um bom desempenho escolar. As crianças vitimas de bullying podem apresentar as seguintes características de acordo com uma pesquisa realizada pela ABRAPIA no ano de 2003: - De uma hora para outra começa a não freqüentar as aulas regularmente. - Pedem para trocar de classe.
15 15 - Apresentam manifestações de baixa estima. - Sofrem queda no rendimento escolar. Segundo Neto (2004), as vítimas, em sua maioria tem medo de reagir as agressões, devido a sua baixa estima. O tempo e a regularidade das agressões contribuem fortemente para o agravamento dos efeitos O autor de bullyng O medo, a tensão e a preocupação com sua imagem podem comprometer o desenvolvimento acadêmico, além de aumentar a ansiedade, insegurança e o conceito negativo de si mesmo (FANTE, 2005) Denomina-se autores de bullying aquelas pessoas que cometem as agressões. De acordo com Neto (2004), o autor de bullying é tipicamente popular, tende a envolver-se em uma variedade de comportamentos anti-sociais, pode mostrar-se agressivo inclusive com os adultos, vê a sua agressividade como uma qualidade. A pesquisa realizada pela ABRAPIA mostra que 29% dos autores cometem as agressões por brincadeira sem se darem conta dos danos emocionais que causam nas vítimas. De acordo com Fante (2005) o autor de bullying pode manter um pequeno grupo em torno de si, no qual atuam como auxiliares em suas agressões. Os alunos identificados como seguidores raramente tomam as iniciativas das agressões. Fazem isto pelo mero prazer de pertencer ao grupo dominante Testemunhas de bullying. Os alunos denominados testemunhas são aqueles que não estão envolvidos diretamente nas agressões do bullying, mas que presenciam estes acontecimentos dentro da sala de aula. Normalmente, tende a ficarem calados por medo de serem as próximas vítimas. Neto (2004), faz um comentário a respeito das testemunhas de casos de bullying na sala de aula:
16 16 (...) a forma como reagem ao bullying permite classificá-los como auxiliares (participam da agressão), incentivadores (incentivam e estimulam o autor), observadores (só observam ou se afastam) ou defensores (protegem o alvo ou chamam um adulto para interromper). (NETO. 2004, p.52) De acordo com Fante (2005), grande parte das testemunhas sente simpatia pelos alunos alvos do bullying e condena o comportamento dos alunos autores. Em uma sala de aula em que há casos de bullying a grande maioria são denominados testemunhas. 1.3 Bulling entre meninos e meninas Em se tratando de gênero, os casos de meninas envolvidas como autores de bullying são raros. Entre os autores de bullying há um predomínio do sexo masculino, já com as vítimas não há essa diferença, pois tanto os meninos quanto as meninas servem de vítimas para os autores. Segundo a pesquisadora norte americana Rachel Simmons especializada em bullying entre meninas é muito mais fácil reconhecer um autor de bullying do sexo masculino. Segundo Simmons (2001), as garotas são mais discretas quando cometem as agressões, manifestadas na maioria das vezes em formas de boatos, exclusões, sussurros, que no entanto magoam e causam conseqüências emocionais assim como as agressões físicas e verbais. A esse respeito, Neto (2004, p.36) comenta: O bullying é classificado como direto quando as vitimas são atacadas diretamente, ou indireto, quando as vitimas estão ausentes. São considerados bullying direto os apelidos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais ou expressões ou gestos que geram mal estar aos alvos. São atos utilizados com uma freqüência quatro vezes maior entre os meninos. O bullying indireto compreende atitudes de indiferença, isolamento, difamação e negação aos desejos, sendo mais adotados pelas meninas. No entanto, todos os envolvidos podem sofrer conseqüências no âmbito da aprendizagem e emocional.
17 17 Obviamente que nem todos os envolvidos reagem da mesma maneira, cabendo ao professor o papel de perceber em sua sala de aula a ocorrência de bullying, para assim interferir e não permitir que isso ocorra. 1.4 As conseqüências do bullying As conseqüências referentes ao bullying são variadas. Ao contrário do que muitos pensam, não é somente as vítimas do bullying que sofrem as conseqüências. Os agressores e as testemunhas também podem sofrer as conseqüências tanto no âmbito emocional quanto na aprendizagem. De acordo com Fante (2005) as conseqüências relativas ao bullying são inúmeras, dependendo de como as vítimas recebem as agressões, de como reagem a seus agressores. A esse respeito Fante (2005, p.44)) comenta: As conseqüências para as vítimas desse fenômeno são graves e abrangentes, promovendo no âmbito escolar o desinteresse pela escola, o déficit de concentração e aprendizagem, a queda do rendimento, o absentismo e a evasão escolar Mas as vítimas do bullying não sofrem conseqüências somente em sua vida escolar, pois se analisarmos, esses alunos sofrem dificuldades acadêmicas devido a sua baixa auto-estima, referente a sua saúde emocional abalada. Quem sofre com o bullying certamente se torna uma pessoa insegura, afirma Neto (2004). Ainda de acordo com Neto, as vítimas que tem a sua aparência rejeitada, é ofendido pelo seu tipo físico, conseqüentemente torna-se uma pessoa insegura quanto a sua aparência, temendo assim freqüentar lugares públicos devido ao seu medo de sofrer rejeição. Em se tratando de dificuldades emocionais, Marchesi (2006, p.82) afirma: As dificuldades emocionais dos alunos podem alterar suas relações sociais com professores e colegas e dificultar seriamente sua aprendizagem. Entre elas se encontram a percepção da falta de afeto, o isolamento social, a tristeza prolongada, o sentir-se marginalizado e maltratado.
18 18 De acordo com Fante (2005), para os agressores ocorre o distanciamento e a falta de adaptação aos objetivos escolares, a supervalorização da violência como forma de obtenção de poder, além da projeção de condutas violentas na vida adulta. Já as testemunhas de atos de bullying, que abrange a maioria dos alunos, estes podem sentir-se inseguros e ansiosos, podendo desta forma comprometer o seu processo socioeducacional. O bullying trata-se portanto de um fenômeno comportamental, que atinge o ego de suas vítimas, envolve e vitimiza as crianças, tornando-as reféns da ansiedade e insegurança e que interfere negativamente nos seus processos de aprendizagem, devido a excessiva mobilização de emoção, medo, de angústia e raiva reprimida. De todos os envolvidos com o bullying, os que sofrem as conseqüências mais marcantes segundo Neto (2004) são as vítimas. Ainda a esse respeito Marchesi (2006, p.90) comenta: Os maus tratos entre iguais são uma das condutas violentas que mais danos causa a determinados alunos, principalmente aqueles que são maltratados. Além do que, as vítimas tem um grande medo de denunciar os seus agressores, por medo de sofrer represália e por vergonha de admitir que está passando por situações humilhantes na escola. Segundo a pesquisa realizada pela ABRAPIA no ano de 2003 a maioria das agressões ocorreram no interior da sala de aula na presença do professor. Com este dado fica evidente a importância do papel do professor e suas ações perante a sala de aula. Acreditamos que para se combater ou prevenir o bullying na sala de aula não é necessário o conhecimento do professor sobre o conceito de bullying, obviamente que se o professor conhecer o que é o bullying e suas conseqüências tudo será facilitado para se trabalhar a sua prevenção na sala de aula. O bullying, em um contesto geral nada mais do que uma forma de desrespeito ao próximo, de não aceitação das diferenças e cabe ao professor trabalhar esses conceitos com seus alunos e para isso não é necessário que o professor saiba o que é o bullying.
19 19 O professor tem o dever de passar para os alunos a importância do respeito mutuo, do diálogo, da justiça, da solidariedade, assim como trabalhar as diferenças e os direitos das crianças em sua sala de aula. Concluímos que um ambiente escolar favorável a todos certamente implicará em um bom desempenho escolar para todos os alunos.
20 20 CAPÍTULO 2- O PAPEL DO PROFESSOR Quando nos referimos a problemas que ocorrem no âmbito escolar, em especial na sala de aula, fica evidente o papel do professor, ainda mais se este problema envolver seus alunos e seu desempenho escolar. O bullying está presente na maioria das salas de aula e casos de agressões físicas e verbais, como já foi discutido no capítulo anterior, ocorrem nas salas de aula, muitas vezes na presença do professor. Mas porque essas agressões ocorreram na presença do professor? O professor simplesmente não interferiu ou sua atitude perante a sala não bastou para que os alunos entendessem que o respeito deve haver em um ambiente escolar. O professor que critica constantemente o seu aluno, o compara com outros, o ignora, está expondo esse aluno a ser mais uma das vítimas do bullying e de certa forma está agindo com desrespeito ao espaço pedagógico. A critica injusta é uma das formas de má comunicação, que provoca ressentimento, hostilidade e deterioração de desempenho, seja em que idade for. (LOBO, 1997, p.91) Atitudes indiretamente relacionadas ao aluno, também o influenciam, como por exemplo quando o professor se remete a alguém de forma desrespeitosa. O aluno que tem a tendência a desrespeitar o próximo certamente se baseará nas atitudes desse docente. Não podemos no entanto, atribuir ao professor toda responsabilidade da ocorrência de bullying na sala de aula. Os alunos podem certamente cometer o bullying sem se basear nas atitudes do professor. Porém, atitudes do professor para com os alunos, assim como foi dito anteriormente, podem sim, gerar chances para que estes cometam bullying na sala de aula. No entanto, se o professor transmitir aos alunos a importância do respeito e ter conhecimentos sobre os direitos das crianças, ser o mediador de um ambiente de
21 21 amizade e companheirismo, interferir de maneira coesa nas chamadas brincadeiras de mal gosto, casos de bullying poderão não acontecer no interior da sala de aula. Para que o bullying não aconteça no cotidiano pedagógico é necessário tanto a participação do professor quanto dos alunos. O professor de um lado tem o dever de transmitir o papel ético, que envolve a importância do respeito mútuo, do diálogo, da justiça e da solidariedade e os alunos o papel de entender e cooperar com as ações do professor. Os Parâmetros Curriculares Nacionais: Apresentação dos Temas Transversais e Ética (BRASIL, 1998), pode ser utilizado de maneira positiva pelos professores no que diz respeito a prevenção do bullying na sala de aula. Traz questões relevantes, que se o professor souber aplicar em seu cotidiano pedagógico estará contribuindo para que o ambiente escolar seja um ambiente favorável a aprendizagem para todos os alunos. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais: Apresentação dos Temas Transversais e Ética (BRASIL, 1998), o professor deverá trabalhar em seu cotidiano pedagógico os conteúdos de ética, onde se prioriza o convívio escolar. Os conteúdos foram divididos por blocos, nos quais a seguir serão apresentados um a um em quadros, para que aja uma melhor compreensão dos seus objetivos e adequação desses objetivos com os objetivos da pesquisa em si. Os blocos são os seguintes: Respeito Mútuo Justiça Diálogo Solidariedade
22 22 QUADRO 1 TEMA RESPEITO MÚTUO CONTEÚDOS A SEREM TRABALHADOS A diferença entre as pessoas O respeito a todo ser humano independente de sua origem social, etnia, religião, sexo, opinião e cultura. O respeito às manifestações culturais, étnicas e religiosas O respeito mútuo como condição necessária para o convívio social democrático: respeito ao outro e exigência de igual respeito para si. Ao analisarmos o conteúdo do quadro acima verificamos a importância do professor articular esses conteúdos em todo o seu cotidiano pedagógico. Ao trabalhar, por exemplo, a diferença entre as pessoas este certamente estará prevenindo a ocorrência de bullying em sua sala de aula. QUADRO 2 TEMA JUSTIÇA CONTEÚDOS A SEREM TRABALHADOS O reconhecimento de situações em que a equilidade represente justiça. O reconhecimento de situações em que a igualdade represente justiça. A identificação de situações em que a injustiça se faz presente. O conhecimento da importância e da função da constituição brasileira A compreensão da necessidade de leis que definem direitos e deveres. O conhecimento dos próprios direitos de aluno e os respectivos deveres. A identificação de formas de ação
23 23 diante de situações em que os direitos do aluno não estiveram sendo respeitados. A atitude de justiça para com todos as pessoas e respeito aos seus legítimos direitos. O professor que articula esses conteúdos em seu cotidiano pedagógico trará para seus alunos a consciência crítica sobre seus direitos e deveres como alunos e como cidadãos. QUADRO 3 TEMA DIÁLOGO CONTEÚDOS A SEREM TRABALHADOS O uso e valorização do dialogo como instrumento para esclarecer conflitos. A coordenação das ações entre os alunos, mediante o trabalho em grupo. O ato de escutar o outro, por meio do esforço de compreensão do sentido preciso da fala do outro. A formulação de perguntas que ajudem a referida compreensão. A expressão clara e precisa de idéias, opiniões e argumentos, de forma a ser corretamente compreendido pelas outras pessoas. A disposição para ouvir idéias, opiniões e argumentos alheios e rever pontos de vista quando necessária. O diálogo, de acordo com a fundamentação teórica desta presente pesquisa é uma das formas mais eficazes de se prevenir combater o bullying na sala de aula. Com o diálogo o professor faz com que os alunos agressores reflitam sobre os seus maus atos, sobre as conseqüências que suas atitudes podem gerar nos alunos agredidos. QUADRO 4
24 24 TEMA SOLIDARIEDADE CONTEÚDOS A SEREM TRABALHADOS Identificação de situações em que a solidariedade se faz necessária, As formas de atuação solidária em situações cotidianas A resolução de problemas presentes na comunidade local, por meio de variadas formas de ajuda mútua; A sensibilidade e a disposição para ajudar as outras pessoas, quando isso for possível e desejável. Por mais que o professor seja presente e trabalhe com seus alunos o respeito mútuo, o diálogo, a justiça e a solidariedade, em uma sala de aula, com 28, 30 alunos é quase que impossível que não aja conflitos entre as crianças. O PCN faz uma importante reflexão sobre o papel do professor diante de casos de bullying. (...) deve ser feito um destaque para preconceitos e desrespeito freqüente entre os alunos: aqueles que estigmatizam deficientes físicos ou simplesmente os gordos, os feios, os baixinhos etc., em geral traduzidos por apelidos pejorativos. Nesses casos o professor não deve admitir tais atitudes (...) Segue afirmando qual deve ser a atitude docente: (...) não se trata de punir os alunos, trata- se de explicar-lhes com clareza o que significa dignidade do ser humano, demonstrar a total impossibilidade de se deduzir que alguma raça é melhor que a outra, trata- se de fazer os alunos pensarem e refletirem a respeito de suas atitudes(...). Porém, o discurso docente tem de ser coerente com a sua prática pedagógica, pois de nada adianta passar um ensinamento ético para seus alunos e agir de forma contrária a esses ensinamentos. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais: Apresentação dos Temas Transversais e Ética (BRASIL, 1998), as atitudes
25 25 respeitosas devem partir do professor, pois estas atitudes serão vistas como modelo, principalmente pelas crianças menores. O professor sem se dar conta pode gerar casos de bullying na sala de aula pela maneira que se remete ao aluno. Quando o professor se refere ao aluno tratando-o como símbolo de incompetência escolar ou quando sacode uma prova com baixa nota pelas pontas dos dedos perguntando pelo seu autor este está submetendo esse aluno a ser mais uma vítima do bullying. Essa atitude citada acima é muito comum no cotidiano escolar, e esse aluno, autor da prova com nota inferior poderá certamente ser humilhado pelos colegas por causa de seu mau desempenho. Esse professor, sem se dar conta, abriu brechas para a ocorrência de bullying na sala de aula. As atitudes docentes, portanto, mesmo sendo julgadas inofensivas podem trazer resultados nefastos. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais: Apresentação dos Temas Transversais e Ética (BRASIL, 1998), a escola pode trabalhar o respeito mútuo nas suas traduções específicas do convívio escolar, e isso, evidentemente sem prejuízo de se trabalhar regras gerais de convívio, como por exemplo, não bater no colega, são insultá-lo, não humilhá-lo. Faz referencias a humilhação, uma das formas de bullying que mais deixam marcas negativas em sus vítimas. Ainda de acordo com os parâmetros, estudos recentes tem mostrado claramente que os sentimentos de humilhação e vergonha podem acarretar na criança graves problemas psicológicos. Os professores no entanto devem tomar muito cuidado para não despertar esses sentimentos em seus alunos. Professores que costumam fazer zombarias a respeito da capacidade intelectual do aluno é um exemplo de bullying por parte do professor e outras crianças ao verem esta atitude no professor, poderão pensar que humilhar é uma atitude normal de relacionamento.
26 26 Porém, apenas bons exemplos por parte do professor não são necessários para educar moralmente os alunos mas certamente é de um grande incentivo para que esses alunos não cometam atitudes de bullying contra seus colegas de sala.
27 27 CAPÍTULO 3 METODOLOGIA A metodologia científica utilizada para o levantamento dos dados contidos no presente estudo é a Pesquisa Qualitativa, tendo como estudo de caso o seu foco principal, com o objetivo de analisar as ações das professoras de ensino fundamental na prevenção do bullying. Segundo Ludke e André (1986) a pesquisa qualitativa é de abordagem naturalista, ou seja, a fonte direta dos dados pesquisados é o ambiente natural do sujeito a ser pesquisado. O principal instrumento da pesquisa qualitativa é o pesquisador, pois é ele quem tem o contato direto com a realidade a ser pesquisada. O trabalho de campo dessa pesquisa foi desenvolvido numa abordagem qualitativa, tendo o estudo de caso como foco norteador. Neste trabalho, os instrumentos metodológicos, entrevistas, observação, registro das práticas e falas das professoras, tiveram o papel de fornecer dados de como o bullying se manifesta na sala de aula e como é a reação dos professores frente a essa prática, se suas ações resultam de uma maneira positiva ou negativa na prevenção e combate ao bullying na sala de aula. Os dados para essa pesquisa foram obtidos através de observações realizadas pela pesquisadora e por questionários respondidos pelas professoras participantes. 3.1 A instituição e os sujeitos da pesquisa O principal objetivo deste estudo é analisar a ação do professor na prevenção do bullying e se suas ações podem prevenir o bullying ou gerar o mesmo na sala de aula. Desta forma, a pesquisa foi realizada em 5 salas de aula de 4º série do ensino fundamental. Foram escolhidas essas salas devido ao fato de que a criança com idades entre 9 e 11 anos, de acordo com Fante (2005) as manifestações de bullying são menos presentes, sendo portanto mais fácil de preveni-lo, para que estes não cometam bullying futuramente.
28 28 A escola escolhida para a pesquisa adota os pressupostos teóricos de autores como Vygotsky, pretendendo que o desenvolvimento cognitivo do aluno se de pela interação com o ambiente e com as pessoas com as quais se relacionam. É uma escola estadual, localizada na região norte da cidade de Bauru, e abriga as quatro primeiras séries do ensino fundamental. Apresenta uma quadra poliesportiva, um pátio coberto, dois blocos de salas de aula, num total de 14 salas, 1 consultório odontológico, i banheiro masculino e 1 feminino, 1 laboratório de ciências, 1 cantina, 1 sala de vídeo equipada com TV, vídeo cassete e DVD, sala do professores, diretoria e secretaria. A escola se encontra em ótimo estado, equipada com materiais adequados. As paredes são pintadas e decoradas com personagens de historias infantis. São consideradas sujeitos dessa pesquisa 5 professoras atuantes nessa escola, todas lecionam para a 4º série do ensino fundamental. As professoras, em ocasião de suas privacidades, serão denominadas nessa pesquisa por professora A, professora B, professora C, professora D e professora E respectivamente. A seguir tem-se um quadro com os dados de cada professora participante. Professor Tempo de Possui curso Nº de alunos atuação. superior? atualmente Professora A 7 anos Sim, pedagogia 29 Professora B 32 anos Em andamento, 31 pedagogia Professora C 12 anos Sim Pedagogia e 34 Letras Professora D 3 anos Sim, pedagogia 35 Professora E 1,5 anos Sim, pedagogia Observação
29 29 A técnica de observação foi muito importante para a realização do presente estudo, pois através dela pode-se analisar a ação do professor no que diz respeito a prevenção do bullying e o combate do mesmo, se este já existir na sala de aula. Também visa verificar se as ações por parte da professora podem gerar casos de bullying na sala de aula. Antes da realização das observações, a diretora da escola assinou um pedido de autorização que segue em anexo. Os dados obtidos com as observações foram todos anotados em um caderno, para assim facilitar a pesquisadora no momento da análise dos dados. As observações foram realizadas no período da manhã e no período da tarde. Durante uma semana a pesquisadora permaneceu na escola no período da manhã observando três salas de aula alternadamente e na semana seguinte no período da tarde observando as duas salas de aula alternadamente. As observações foram realizadas em total de 2 semanas. 3.3 Questionários Os questionários aplicados têm como objetivo principal saber das professoras aspectos que envolvem o bullying e como lidam com ele, de forma a combatê-lo e preveni-lo na sala de aula O questionário foi elaborado de acordo com o referencial teórico, afim de saber qual é a ação do professor diante de casos de bullying na sala de aula, qual é a sua postura com relação ao tema. Juntamente com o questionário, foi entregue para cada professora participante um texto, no qual tem por objetivo esclarecer o que é bullying. Os questionários respondidos pelas cinco professoras participantes estão em anexo no final da pesquisa..
30 30 ANÁLISE DOS DADOS De acordo com os dados coletados e com o que diz respeito as bibliografias sobre como o bullying se manifesta, foi possível identificar casos de bullying nas respectivas salas de aula e também foi possível identificar nas ações das professoras investigadas atitudes que combatem e previnem o bullying, assim como atitudes que implicam na ocorrência de bullying. Através dos questionários aplicados as professoras foi possível identificar atitudes positivas ou negativas com relação ao bullying. Através das observações realizadas, verificou- se a relação de tais atitudes com a ocorrência de bullying na sala de aula. Cada questão contida no questionário será analisada e discutida, foram transcritas algumas respostas das professoras entrevistadas sem nenhuma correção. QUESTÃO 1: Na sua sala de aula já aconteceu ou acontece casos de bullying? Em resposta à essa questão, somente a PROFESSORA E afirmou que em sua sala de aula não acontece ou aconteceu casos de bullying. (...) somente brincadeiras comuns às crianças de uma quarta série. PROFESSORA E. De acordo com as observações realizadas pela pesquisadora, foi possível observar que a PROFESSORA E é muito querida pelos alunos, não se mostrando uma docente autoritária a todo momento mas que porém os alunos a respeitam muito. Não tem por hábito dar as chamadas broncas, expondo os alunos a situações constrangedoras, mantendo um clima de dialogo com os mesmos. Durante o tempo de observação, não foi possível identificar casos de bullying em sua sala de aula, somente brincadeiras entre as crianças, que se mostraram muito amigas uma das outras. Evidentemente há casos de indisciplina, aluno não querendo fazer o dever, porém casos de bullying não foi possível identificar.
31 31 As demais professoras já vivenciaram ou ainda vivenciam casos de bullying em suas salas de aula. (...) sim, já aconteceu e quando acontece eu procuro em seguida interferir e conversar com a classe PROFESSORA A. Durante o tempo de permanência na sala da PROFESSORA A não foi possível identificar casos de bullying, somente conflitos entre as crianças, brigas esporádicas comuns entre as crianças em uma sala de aula, porém a professora se mostrou uma docente totalmente presente, não permitindo tais brigas, conversando com a classe e explicando o que é certo e o que é errado. Os alunos tem um grande respeito pela professora, que raramente se mostrou uma docente autoritária, porém, quando necessário fala com firmeza aos alunos e eles obedecem logo em seguida. (...) percebo esses apelidos na minha aula, até vejo que eles não gostam, mas, pra falar a verdade não me preocupo muito, pois sei que se a gente fala alguma coisa eles obedecem na hora e depois fazem tudo de novo. PROFESSORA B De acordo com as observações realizadas pela pesquisadora, pode- se observar que a PROFESSORA B é uma docente que procura não se envolver muito com seus alunos, segundo ela, em uma conversa informal com a pesquisadora, disse não se preocupar muito mais, pois quer se aposentar e só está preocupada em cumprir o papel de ensinar. Se mostrou uma excelente professora no que se diz respeito aos conteúdos a serem passados para os alunos, porém se mostrou distante com respeito a problemas que ocorrem no interior da sala de aula. Durante o tempo de permanência da pesquisadora na sala de aula, foi possível identificar *casos de bullying na sala de aula, que segundo as crianças já acontecem há muito tempo. Foi possível identificar uma situação muito comum nas salas de aula, RELATO Um pequeno grupo ofende verbalmente três alunos, que são amigos, por estes estarem acima do peso e tirarem boas notas. A PROFESSORA B não toma grandes
32 32 atitudes, somente grita e ameaça os alunos agressores, porém, passado um pequeno espaço de tempo, as ofensas tornam a acontecer. Em nenhum momento fez com que os alunos refletissem sobre o acontecido. Acredito que estão sempre acontecendo, faz parte do desenvolvimento infantil essas brincadeiras, não há uma sala de aula que não tenham alunos engraçadinhos fazendo piadas com os colegas, principalmente com os que se comportam diferente, com os que tiram boas notas, com os gordinhos e os mais aplicados.professora C A PROFESSORA C em resposta à essa questão afirmou que esse tipo de brincadeira, ou seja, o bullying, faz parte do desenvolvimento infantil, ou seja, ela acredita ser comum as crianças ofenderem umas as outras. Isso mostra que essa docente não tem o mínimo de conhecimento sobre as conseqüências que o bullying pode acarretar na vida afetiva e acadêmica dos alunos envolvidos. Durante as observações em sua sala de aula foi possível identificar casos de bullying e sua única postura foi pedir de uma maneira autoritária para que os alunos envolvidos parassem com a brincadeira, na qual voltou a acontecer várias vezes durante a aula. Em nenhum momento fez com que os alunos refletissem sobre o acontecido. RELATO Na sala de aula de PROFESSORA C há um aluno que possui muitas dificuldades no aprendizado, apesar de estar na 4º série, este aluno possui dificuldades na escrita, interpretação de exercícios e também nas operações matemáticas. A PROFESSORA C, além das atividades diárias em sala de aula ( este aluno não consegue fazer as atividades, seu caderno está praticamente vazio) faz com que este aluno faça exercícios de alfabetização, cabíveis a uma criança da 2º serie do ensino fundamental. Todos da sala sabem que este aluno possui dificuldades de aprendizado, e um grupo composto por 4 meninos caçoam sempre deste aluno, chamando-o de burro, anta. O aluno fica muito triste e desestimulado para fazer as tarefas. A PROFESSORA C somente pede para que os garotos parem com a brincadeira, sem fazer com que reflitam o certo e o errado de se tratar um amigo de
33 33 sala de aula. A PROFESSORA C tem o hábito de chamar a atenção deste aluno que possui dificuldades em voz alta, o chamando de preguiçoso, não faz a lição por que não quer, deixando este ainda mais constrangido perante os colegas. Sim, sempre acontecem, tem sempre um grupo de alunos que pega pra Cristo dois ou três alunos e perturbam os coitados do começo ao fim do ano. Por mais que tento acabar com essas brincadeiras, elas tornam a acontecer, mas de uma maneira geral não permito, acabo com elas rapidinho..professora D De acordo com as observações realizadas na sala da PROFESSORA D, foi possível identificar alguns casos de bullying. A PROFESSORA D se mostra muito exigente com os autores das brincadeiras, pede a todo momento para que eles encerrem as brincadeiras, se mostra muito presente e procupada com a vitima, mas em nenhum momento durante as observações a PROFESSORA D fez com que os autores refletissem sobre o que estavam fazendo, mantendo um diálogo com os alunos, apenas ordenou que parassem as brincadeiras, e assim fez por muitas e muitas vezes. RELATO Um pequeno grupo de alunos, composto somente por meninos, em qualquer oportunidade, seja esta quando a professora se ausenta da sala de aula, ou quando está passando a matéria na lousa, caçoam de uma aluna que está acima do peso, fazem piadas, riem quando ela se pronuncia. Com as observações foi possível verificar que esta aluna tem muito medo de se pronunciar por medo de ouvir as piadas sobre sua pessoa, porém, segundo a PROFESSOA D esta é uma excelente aluna. Neste caso o bullying não afetou a vida escolar da vítima, porém ela é uma criança que quase não conversa, tem medo de se pronunciar na sala de aula e quase que toda a permanência na escola ela se isola e não quer conversar com nenhum outro aluno, praticamente não possui amigos. Com a análise dessa primeira questão já é possível ressaltar que o professor tem um papel fundamental na prevenção e combate ao bullying na sala de aula, pois
34 34 na sala de aula em que a professora se mostra ausente e não interfere nas brincadeiras maldosas, o bullying está presente. QUESTÃO 2: Você acha que esse tipo de comportamento, ou seja, o bullying, pode trazer conseqüências para os alunos envolvidos? Todas as professoras de um certo modo acreditam que a ocorrência de bullying podem gerar algum tipo de conseqüência para suas vítimas, sejam elas psicológicas ou conseqüências nos estudos, como o mal desempenho escolar. Acredito que as crianças que são maltratadas pelos outros alunos, que são rejeitadas por serem diferentes dos demais podem sofrer conseqüências psicológicas e em alguns casos podem sofrer conseqüências nos estudos. PROFESSORA A De acordo com as respostas obtidas nos questionários e pelas observações realizadas pela pesquisadora pôde- se constatar que a PROFESSORA A tem a percepção dos males que o bullying pode gerar nos alunos envolvidos. Como já foi discutido, em sua sala de aula não pode se observar casos de bullying, apenas conflitos comuns entre as crianças, o qual ela intervém de maneira eficaz e sem autoritarismo. Não permite ofensas pessoais de aluno para aluno no interior da sala de aula, conversando sempre com as crianças, mantendo um bom dialogo com os alunos, fazendo que estes reflitam sobre os seus atos. Podem trazer sim, pois quando acontece a gente percebe que os alunos ficam tristes, alguns até choram e não querem mais estudar, mas o que adianta a gente tentar interferir, eles param na hora e depois fazem tudo de novo. É um esforço em vão que eu parei de fazer. PROFESSORA B. Embora a PROFESSORA B tem a consciência dos males que o bullying podem gerar nos alunos envolvidos e em sua resposta até cita exemplos de como as crianças atingidas se comportam, ela simplesmente não os corrige,não intervém em nenhum momento de uma forma eficaz. Isso vem mostrar que o autoritarismo por si só não é eficaz, pode até ocasionar um certo medo momentâneo nos alunos, porém estes tornam a repetir as ofensas com os colegas de sala por muitas e muitas vezes.
35 35 Depende do aluno, se as brincadeiras forem mais pesadas, que ofende o ego, acredito que as conseqüências podem ser graves, mas se as brincadeiras forem comuns as crianças acredito que não, faz parte de toda sala de aula. PROFESSORA C. A PROFESSORA C novamente vem afirmar que existem brincadeiras comuns em todas as salas de aula, como ela não exemplificou, não se pode dizer se está falando de casos de bullying ou não. Quando disse brincadeiras mais pesadas, que ofende ao ego, esta se referindo ao bullying, com isso se conclui que ela tem a plena consciência dos males que o bullying pode gerar em suas vitimas, porém suas atitudes perante os alunos não retrata essa realidade, pois é uma docente que lida com as dificuldades no cotidiano escolar de uma forma autoritária, quase não dialoga com seus alunos, sendo os momentos de conversa com os alunos muito raros. Com certeza, pois quando eu era criança eu passei por isso, era muito visada por ser gordinha, na frente dos meus colegas eu fingia que nem ligava, mas em casa, no meu quarto eu ficava me olhando no espelho e me sentindo a pessoa mais feia e gorda do mundo. Mas graças a Deus não carreguei isso comigo por muito tempo, isso vai de cada pessoa, de cada criação, por isso acredito que as conseqüências variam de pessoa para pessoa, mas elas existem sim PROFESSORA D Como já foi dito anteriormente, a PROFESSORA D se mostra muito preocupada com a vítima do bullying, conversa com a aluna, pede para que esta não se importe com as brincadeiras, a todo momento ordena o fim das mesmas, porém em nenhum momento faz com que os autores reflitam sobre suas ações, mantendo um dialogo com eles, pois quando falamos em autores estamos nos referindo a crianças de 9 e 10 ano de idade. Em um primeiro instante os alunos a obedecem, pois esta mantém um bom relacionamento com as crianças. Ela também tem a consciência de que o bullying pode acarretar conseqüências para as suas vitimas, por já ter sido uma vitima, e acredita que as conseqüências variam de pessoas para pessoa, de acordo como a pessoa lida com a situação.
36 36 Certamente, as ofensas pessoais, ainda mais na presença de outras crianças são marcantes por toda a vida, podendo causar danos psicológicos, como depressão, isolamento, desinteresse pelos estudos e muitos outros danos que eu não tenho conhecimento no momento.professora E A PROFESSORA E é mais uma docente que sabe das conseqüências que o bullying pode acarretar em suas vitimas, mesmo que não entenda muito, ela tem a consciência de que as conseqüências podem ser graves, tanto no psicológico das vitimas como nos estudos. Assim como a PROFESSORA A, a PROFESSORA E mantém um bom dialogo com seus alunos, fazendo com que estes reflitam sobre os seus atos, dialogando sempre a importância do respeito ao próximo e as diferenças individuais de cada um. QUESTÃO 3: Como você acha que deve ser a reação do professor diante de casos de bullying? Esta questão refere- se a opinião das docentes com relação a reação diante de casos de bullying na sala, ou seja, como elas julgam correto agir ao se depararem com essas situações. A reação do professor deve contribuir para que o aluno que cometeu as ofensas contra o colega não as repita novamente, por isso é muito importante que o professor tenha o domínio do dialogo com seus alunos, sendo que estes entendam a importância de se ter uma boa convivência na classe PROFESSORA A A PROFESSORA A além de concordar que o professor deve ter uma postura diante do problema faz uma referência de como deve ser essa postura, falando da importância do diálogo e ressaltando que o professor não deve somente ter qualquer postura, a atitude docente tem que contribuir para a reflexão dos alunos envolvidos, de forma que essas atitudes agressivas não se repitam.
37 37 O certo é o professor não permitir de forma alguma que essas brincadeiras aconteçam na classe, mas, durante a minha experiência profissional sempre achei muito difícil controlar as atitudes dos alunos. A gente fala, mas logo depois eles fazem tudo de novo. PROFESSORA B A PROFESSORA B também concorda que o professor deve tomar uma atitude com relação a casos de bullying, porém não cita em nenhum momento como deve ser essa atitude em relação ao problema. Ainda com relação a atitude docente, de acordo com as observações, a PROFESSORA B simplesmente repreende o aluno causador da ofensa, dando a chamada bronca, porém não explica para o aluno o porque foi repreendido. (...) Se eu vejo que a brincadeira foi longe demais aí sim procuro intervir e fazer com que ela cesse (...) PROFESSORA C Em nenhum momento durante as observações foi possível notar uma postura da PROFESSORA C com relação às brincadeiras citadas anteriormente. De uma maneira autoritária ordena para que os alunos cessem as brincadeiras através de gritos com os mesmos. Em nenhum momento se mostrou preocupada com os alunos receptores das ofensas. Simplesmente não queria ter sua aula interrompida pelas tais brincadeiras, que anteriormente já citou como comum nas salas de aula, na sua concepção essas brincadeiras fazem parte do cotidiano escolar e do desenvolvimento infantil. Acho que o professor tem que se impor diante da classe e não permitir as brincadeiras que realmente ofendem. Não dá pra evitar todas as brincadeiras, pois estamos falando de crianças de 9 e 10 anos, mas o professor não pode permitir o bullying. PROFESSORA D A PROFESSORA D realmente tenta de alguma forma prevenir e combater o bullying na sala de aula, porém ao se exaltar devido as ofensas, ela simplesmente repreende os alunos causadores e não faz com que estes reflitam sobre os seus atos. Se mostra preocupada com as vítimas, como foi descrito na Questão 1.
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