Câmara Municipal de Valongo Geologia no Verão. Helena Couto. Departamento de Geologia Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
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- Lídia Silva Valente
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1 Câmara Municipal de Valongo Geologia no Verão Helena Couto Departamento de Geologia Faculdade de Ciências da Universidade do Porto 2002
2 Introdução O Parque Paleozóico de Valongo, criado em 1998, é o resultado do trabalho de colaboração entre a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e a Câmara Municipal de Valongo, com a assessoria científica e técnica do Centro de Geologia e Departamentos de Geologia e Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Mais recentemente em Janeiro de 2000 foi celebrado um protocolo entre a Câmara Municipal de Valongo e a Associação para o Desenvolvimento da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, através do qual o Centro de Geologia presta assessoria e apoio científico para dinamização conservação e divulgação do Parque Paleozóico de Valongo. O Parque foi criado com a finalidade de preservar o património geológico e mineiro da região, assim como o património biológico. No vasto património geológico incluem-se aspectos de grande interesse relacionados com a Estratigrafia, Paleontologia, Geomorfologia, Recursos Minerais e Tectónica. Sinalizador do Parque Paleozóico de Valongo Na área do Parque existem várias explorações mineiras. Os trabalhos mineiros que iremos visitar datam da época de ocupação romana. Localizam-se na Serra de Santa Justa. Um dos trabalhos é o conhecido Fojo das Pombas, o
3 outro é uma galeria que segundo os arquivos mineiros ligava à Barroca da Viúva, uma grande exploração a céu aberto. As mineralizações da área fazem parte dum distrito mineiro conhecido por do Distrito auri-antimonífero Dúrico-Beirão, que é constituído por mais de uma dezena de jazigos, alguns dos quais foram trabalhados pelo menos desde a época de ocupação romana. Na região além das mineralizações de antimónio e ouro existem também mineralizações de chumbo, zinco, prata, estanho e tungsténio. História Mineira Há muito que o ouro desta região despertou o interesse do homem. Sabe-se que a exploração deste metal começou, pelo menos, na época de ocupação romana da Península Ibérica. Alguns autores (Allan 1965) consideram que a exploração poderá ter-se mesmo iniciado anteriormente, argumentando a proximidade dos trabalhos mineiros com o litoral. Na região de Valongo e Gondomar há vestígios de castros, onde foram encontradas mós para a moagem do minério e escórias de fundição. Domergue (1970) refere a ocorrência de cavidades escavadas nos xistos, que poderiam ter servido de almofariz para a moagem do minério e das escórias. Estes vestígios arqueológicos mostram que os romanos tinham oficinas de tratamento do minério. Sabe-se que não faziam extracção do antimónio (que foi deixado nas escombreiras), metal cujo tratamento desconheciam. Os vestígios da actividade romana são abundantes (ver Almeida 1970), particularmente nas Serras de Santa Justa, Pias, Santa Iria e Banjas, locais preferencialmente explorados para o ouro. Os trabalhos romanos, em geral, não ultrapassam uma centena de metros de Fojo da Valéria (Valongo).
4 profundidade. Entre os trabalhos antigos é possível observar a ocorrência de poços de secção quadrangular ou circular muito perfeitos (é vulgar a ocorrência de poços gémeos de secção quadrada de um metro de lado, abertos pelo tecto), que podem ter funcionado, primeiro para reconhecimento e, depois, para extracção, assim como galerias que chegam a atingir 300m de extensão (Carvalho 1981), geralmente de secção quadrangular, efectuadas para seguir o filão, para drenagem de águas ou para extracção do minério. Os vazios correspondentes ao desmonte dos filões são vulgarmente designados por fojos. Alguns destes trabalhos, pelas suas dimensões e extensão, mostram a importância que a actividade mineira teve nesta época. Galeria romana Estas minas foram posteriormente trabalhadas, com aproveitamento, em alguns casos, dos trabalhos antigos. A exploração atingiu o seu auge no final do século XIX. Algumas minas estiveram activas mais recentemente. Actualmente algumas destas mineralizações têm despertado o interesse por parte de organismos estatais e de algumas empresas mineiras.
5 Enquadramento geológico estrutural Na área ocorre uma grande estrutura geológica designada por Anticlinal de Valongo. É um anticlinal assimétrico, com direcção NW-SE, cujo eixo mergulha 5 a 15 o para NW, com um plano axial inclinado 60 o para NE (Ribeiro et al. 1987). As rochas que formam o Anticlinal tem idades que variam desde o Precâmbrico? e/ou Câmbrico até ao Devónico. A oeste ocorrem formações do Carbonífero. A maior parte dos trabalhos mineiros romanos, incluindo os que vamos visitar, situam-se nas formações da base do Ordovícico (Arenigiano). O Ordovícico inicia-se por um conglomerado de base bastante descontínuo que marca o início de uma transgressão. Seguem-se os quartzitos maciços do Arenigiano, que formam duas longas cristas correspondentes aos dois flancos da estrutura anticlinal. Sobrepondo-se-lhes segue-se uma sequência finamente bandada constituída por alternâncias de sedimentos gresosos claros e sedimentos pelíticos escuros, também do Arenigiano, em que foram identificados níveis vulcano-sedimentares (Couto 1993, 1995) que terão dado o seu contributo para a mineralização aurífera. Dobras em alternâncias do Arenigiano Em alguns locais assinala-se a ocorrência de níveis negros com matéria orgânica (importantes no aprisionamento do ouro), nos quais foram assinalados
6 fósseis de algas e briozoários (Couto 1993, 1995). É essencialmente nestas alternâncias que se situam os trabalhos mineiros romanos. Mineralizações De acordo com os quatro tipos de mineralização definidos na área por Couto (1993): Sb-Au (antimónio-ouro), Au-As (ouro-arsénio), Pb-Zn-(Ag) (chumbozinco-prata) e Sn-W (estanho-tungsténio), as mineralizações que ocorrem nas minas que iremos visitar enquadram-se no tipo Au-As, em que os sulfuretos dominantes são a pirite e arsenopirite, ocorrendo o ouro livre, muitas vezes associado à arsenopirite. O ouro nestes jazigos é bastante rico em prata. Ouro em cavidade do quartzo. Na maioria dos casos as mineralizações são do tipo filoniano (filões de quartzo), embora existam também mineralizações do tipo estratiforme ocorrendo o ouro associado a determinados estratos, nomeadamente aos níveis vulcano-sedimentares e aos níveis negros do Arenigiano (Couto 1993, 1995). Os filões explorados nos trabalhos romanos têm direcções predominantes E-W, ocorrendo também filões com direcções NE-SW e N-S.
7 Referências bibliográficas Allan J. C., A mineração em Portugal na Antiguidade. Bol. Min., Lisboa, 2, 3: Almeida, F., Mineração Romana em Portugal. In: VI Congreso Internacional de Mineria. La Mineria Hispana e Iberoamericana. Vol. I, p León. Carvalho, A. D., Recuperação de antigas explorações mineiras. Congresso 81 da Ordem dos Engenheiros, Lisboa, Tema 3, Comunicação 6, 9 pp.. Couto, H., As mineralizações de Sb-Au da região Dúrico-Beirã. 2 Vols. (Vol. Texto; Vol. Anexos: 32 Estampas e 7 Mapas). 607pp. Faculdade de Ciências do Porto. (Tese de doutoramento). Couto, H.,1995. As mineralizações de Sb-Au da região Dúrico-Beirã: controlos das mineralizações, hipóteses genéticas e relação com mineralizações de Pb-Zn(Ag) e Sn-W. In: F. SODRÉ BORGES & M. M. MARQUES Coords. IV Congresso Nacional de Geologia, Porto, Resumos Alargados. Mem. Mus. Labor. miner. geol. Fac. Ciênc. Univ. Porto, Porto, 4: Couto, H., Património mineiro do Parque Paleozóico de Valongo. Congresso International sobre Património Geológico e Mineiro. Beja. Livro de resumos. p.175. Couto, H. & Guerner Dias, A Parque Paleozóico de Valongo, Património Geológico. Câmara Municipal de Valongo, Valongo, 40pp. Couto, H., Piçarra, J. M. & Gutiérrez - Marco, J. C., El Paleozoico del Anticlinal de Valongo (Portugal). In: A. GRANDAL D ANGLADE, J. C. GUTIERREZ-MARCO Y L. SANTOS FIDALGO (Eds.), XIII Jornadas de Paleontologia Fósiles de Galicia y V Reunión International Proyecto 351 PICG Paleozoico Inferior del Noroeste de Gondwana, A Coruna, Libro de Resúmenes y Excursiones, p Sociedad Española de Paleontologia, Madrid. Couto, H., Roger, G., Moelo, Y. & Bril, H., Le district à antimoine-or Dúrico-Beirão (Portugal): évolution paragénétique et géochimique; implications métallogéniques. Mineralium Deposita, Berlin, 25, Suppl: Delgado, J.F.N., Système Silurique du Portugal. Étude de Stratigraphie Paléontologique. Commission du Service Geológique du Portugal, Domergue, C., Les exploitations aurifères du nord ouest de la Peninsule Ibérique sous l'occupation romaine. In: VI Congreso Internacional de Mineria. La Mineria Hispana e Ibero Americana. Vol. I, p León. Ferreira, M. P., Oliveira J. M. S. & Andrade, R. S., Ocorrências de antimónio no Norte de Portugal. In: Congr. Hispano Luso-Americano de Geologia Económica (1º-Madrid; Lisboa ). Secç. 4 - Investigação Mineira. T.1. p Ribeiro, A., Dias R., Pereira, E. Merino, H., Sodré Borges, F., Noronha, F & Marques, M., Guide book for the Miranda do Douro-Porto excursion. In: Conference on Deformation and Plate Tectonics, Gijon-Oviedo (Spain), 25pp. Romano, M. & Diggens, J. N., 1973/74. The stratigraphy and structure of Ordovician and associated rocks around Valongo, North Portugal. Comun. Serv. geol. Portg., Lisboa, 57:
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