Relatório de Gestão Abrapa Associação Brasileira dos Produtores de Algodão Biênio

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2 Relatório de Gestão Abrapa Associação Brasileira dos Produtores de Algodão Biênio Criação/edição/diagramação/produção Stap Comunicação & Marketing Fotografias Carlos Rudiney Edy Belitardo Felipe Barros Sílvio Ávila Silvio Esgalha Camídia Produções Divulgação Fotos de capa Edy Belitardo - Abrapa Impressão Cromosete Gráfica e Editora Ltda.

3 ABRAPA - A FORÇA DO PRODUTOR BRASILEIRO Há 15 anos, a Abrapa vem sendo a representante e defensora dos principais interesses do produtor brasileiro de algodão. E há 15 anos esse papel é cumprido com base em preceitos e princípios que levam a entidade ao reconhecimento nacional e internacional e posicionam o Brasil como um dos principais players no mercado mundial da cotonicultura. Aliada às suas nove associadas estaduais, a Abrapa desenvolve projetos em áreas como qualidade, sustentabilidade, marketing, tecnologia, informação, comercialização, entre outras. Esse trabalho é responsável pelo reconhecimento do algodão brasileiro mundo afora, o que faz com que sejamos, hoje, o 5º maior produtor e também exportador de pluma. Além disso, somos reconhecidos como produtores que honram seus contratos e garantem a entrega do produto, independentemente da situação de mercado. Conquistamos o respeito mundial em relação à sustentabilidade na produção, com atuação social, ambiental e econômica, bases do programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que já certificou mais de 70% da produção e responde pelo fornecimento de 66% do algodão Better Cotton do mundo. O benchmarking com a BCI é mais uma prova da importância da sustentabilidade e do reconhecimento mundial para a seriedade e comprometimento do produtor brasileiro com a causa sustentável. Com uma cadeia completamente verticalizada - a segunda de transformação que mais emprega no Brasil - e um PIB de 19 bilhões de dólares, o algodão brasileiro chega aos principais países importadores do mundo como a China, Indonésia, Coreia do Sul, Taiwan, Bangladesh, Vietnã, Turquia, entre outros. Ciente dos muitos desafios que ainda existem para ser superados - como a deficiência na logística dos portos brasileiros e a burocracia no processo de exportação -, a Abrapa acredita que o futuro reserva um espaço ainda maior para aqueles que trabalham com a cultura do algodão. Há mercado para crescimento e força para o produtor brasileiro ser ainda mais eficiente. A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, sempre à frente do seu tempo, vê muitas oportunidades e trabalha para conseguir melhorias na qualidade da fibra, na sustentabilidade da lavoura, na renda e na produtividade, seguindo em busca de crescimento para manter o algodão como uma das principais culturas do País.

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5 Gestão Biênio 2013/2014 Diretoria Gilson Ferrúcio Pinesso Presidente João Carlos Jacobsen Rodrigues Vice-Presidente Paulo Kenji Shimohira Vice-Presidente Milton Garbugio Vice-Presidente Arlindo de Azevedo Moura - 1º Secretário Eraí Maggi Scheffer 2º Secretário Almir Montecelli Tesoureiro Amilton Bortolozzo 2º Tesoureiro Conselho Fiscal Titulares Ronaldo Spirlandelli de Oliveira 1º Conselheiro Inácio Carlos Urban 2º Conselheiro Darci Agostinho Boff 3º Conselheiro Suplentes Celito Eduardo Breda 1º Conselheiro Marcelo Jony Swart 2º Conselheiro Guilherme Mognon Scheffer 3º Conselheiro Conselho Consultivo Jorge Maeda Eduardo Silva Logemann Haroldo Rodrigues da Cunha Sérgio De Marco

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7 Índice Capítulo 1 Algodão no mundo Uma cultura de todos os continentes Capítulo 2 Algodão no Brasil Mudança, associativismo e crescimento Capítulo 3 Contencioso do algodão na OMC 84 Capítulo 4 Instituto Brasileiro do Algodão - IBA 102 Capítulo 5 Atuação sustentável Capítulo 6 Ciência e tecnologia Registro de agroquímicos, Helicoverpa, áreas de refúgio, visitantes florais e biotecnologia Capítulo 7 Diferenciais de posicionamento no mercado Renda, qualidade, comercialização e informação Capítulo 8 Relações institucionais A força do setor como resultado do trabalho conjunto Capítulo 9 Comunicação e marketing Há 15 anos construindo a identidade e garantindo a presença do algodão brasileiro no mercado Capítulo 10 Associações estaduais A força do associativismo nos principais estados produtores de algodão

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9 Acreditamos, eu e toda a diretoria, que nossa passagem pela Abrapa na gestão do biênio foi mais uma etapa na sucessão de desafios e realizações que marcaram cada gestão, desde a fundação da entidade, em Palavra do presidente Assumir a diretoria da Abrapa não é tarefa simples. Uma entidade que completou 15 anos graças ao sucesso das gestões anteriores traz consigo a responsabilidade de manter o nível de excelência em tudo que já vinha sendo desenvolvido, encontrar soluções para novos problemas e buscar, a todo custo, melhorias para o setor. Acreditamos, eu e toda a diretoria, que nossa passagem pela Abrapa na gestão do biênio foi mais uma etapa na sucessão de desafios e realizações que marcaram cada gestão, desde a fundação da entidade, em Posso dizer que o balanço realizações versus desafios está na razão direta de um esforço crescente graças ao qual a Abrapa segue em sua saga vencedora. Em especial, afirmo que sou um privilegiado. Na minha gestão, a Abrapa completou 15 anos, e isso não acontece duas vezes. Eu e minha equipe temos orgulho de ter comemorado esse feito, mas não podemos deixar de dividir o mérito com as gestões anteriores, sempre comprometidas com o associativismo e com a evolução da cotonicultura brasileira. Cabe, aqui, ressaltar alguns pontos importantes desses dois últimos anos. Conquistamos, depois de muita luta, um importante reajuste no preço mínimo do algodão, garantido pelo governo federal. Saímos de R$ 44,60/@ para R$ 54,90/@. Embora ainda precise melhorar, o valor não era reajustado há dez anos. Tivemos uma nova vitória em relação à disputa comercial com os Estados Unidos, no caso do contencioso do algodão na OMC. A nova Farm Bill, aprovada em janeiro de 2014, continuou a ser danosa ao mercado mundial da fibra e o Brasil esteve prestes a entrar com um novo painel de implementação na Organização Mundial do Comércio (OMC) para fazer com que os EUA revissem os subsídios e benefícios concedidos ao produtor americano.

10 Mas antes, os governos do Brasil e EUA chegaram a um acordo, que consideramos uma grande vitória não só para o produtor de algodão, mas para todo o setor do agro brasileiro. São mais US$ 300 milhões repassados ao IBA, em outubro, mudanças no programa GSM-102, uma vez que os EUA não oferecerão garantias para crédito à exportação com prazo superior a 18 meses e uma relativa flexibilização no uso dos recursos do IBA. Além disso, mantivemos o direito de outras culturas questionarem os subsídios americanos, caso constatem que eles estejam prejudicando o comércio. No campo da sustentabilidade, o benchmarking do Programa Algodão Brasileiro Responsável com a Better Cotton Initiative (BCI) foi uma atitude inédita, que revela a confiança de uma entidade internacional na capacidade do produtor brasileiro de seguir critérios importantes na produção de algodão, com respeito às questões sociais, ambientais e econômicas. Já na primeira safra do benchmarking, tivemos bons resultados com a certificação de 71% da produção brasileira de algodão. Mas nem só de alegrias vivemos nesses anos. Tivemos muitas dificuldades, principalmente em relação à defesa de nossas lavouras. Sofremos com a praga Helicoverpa armigera, que nunca incidira no Brasil. Foram meses e meses de batalha para conseguir a liberação de produtos que auxiliassem o produtor no combate à lagarta. Com isso, tivemos muitos milhões em prejuízos, perdemos em qualidade e acabamos por sublimar o controle de outras pragas, como o Bicudo, que voltou a ser uma potencial ameaça. Todavia, é importante salientar que contamos sempre com o apoio do governo federal, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para lutar contra essas dificuldades e conseguir formas de auxiliar o produtor. Além dos exemplos já citados, o Mapa também foi fundamental ao viabilizar o leilão de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro), ferramenta que foi acionada neste ano devido aos baixos preços. Apesar de todas as dificuldades, chegamos ao fim de nossa gestão com a consciência de que fizemos o melhor para o algodão brasileiro. Avançamos em setores importantes como qualidade e sustentabilidade e deixamos caminhos abertos para que as próximas gestões continuem a trilhar o sucesso. Agradeço a todos que estiveram ao meu lado no desafio de dirigir a Abrapa nesses dois anos e desejo boa sorte à próxima diretoria. O privilégio de presidir uma associação como a Abrapa é para poucos e, agora, posso me orgulhar disso e considerar a minha missão cumprida. Gilson Ferrúcio Pinesso Presidente

11 RELATÓRIO DE GESTÃO BIÊNIO

12 Foto: Carlos Rudiney - Abrapa

13 ALGODÃO NO MUNDO Uma cultura de todos os continentes Do oriente para o mundo Produção mundial - safras 2012/2013 e 2013/2014 Exportação mundial - safras 2012/2013 e 2013/2014 Países produtores de algodão - safra 2013/2014 Ranking de produção Ranking de produtividade Ranking de exportação Ranking de importação Ranking de consumo Oferta e demanda mundial Depoimento: José Sette Depoimento: Marcos Fava Neves

14 DO ORIENTE PARA O MUNDO Os primeiros registros do cultivo de algodão datam de sete mil anos atrás, na região onde hoje estão localizados o Paquistão e a Índia. Com o surgimento do comércio no Oriente, a cultura chegou à Europa, onde ganhou importância. Da Europa, o algodão espalhou-se pelo mundo e, hoje, é cultivado em mais de 60 países distribuídos em todos os continentes. Com a expansão, o algodão tornou-se uma das culturas mais importantes e é a fibra mais utilizada no mundo. Em média, mais de 32 milhões de hectares são plantados a cada safra, sendo produzidas em torno de 25 milhões de toneladas de pluma. Na maioria dos países, inclusive na Índia, China e, principalmente nos da África, a produção se dá em escala familiar, em pequenas propriedades. Mesmo assim, a China e a Índia estão entre os maiores produtores e consumidores do mundo. A produção de algodão em escala empresarial, com forte atuação no mercado externo, é praticada em um número reduzido de países, entre os quais se destacam os Estados Unidos, a Austrália e o Brasil. Nesses países são investidos, anualmente, milhões de dólares em pesquisa, novas técnicas de plantio e manejo e desenvolvimento de insumos, máquinas e equipamentos para a lavoura e o beneficiamento. A produção empresarial envolve toda a cadeia do algodão, com elos que atuam em todos os estágios, antes, dentro e depois da fazenda. Da pesquisa e desenvolvimento ao plantio, beneficiamento e comercialização, até a industrialização e confecção de produtos com a fibra de algodão, a cadeia mundial movimenta dezenas de bilhões de doláres por ano e emprega cerca de 350 milhões de pessoas. Foto: Edy Belitardo - Abrapa Foto: Edy Belitardo - Abrapa Foto: Carlos Rudiney - Abrapa 14 CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO

15 Produção mundial - safras 2012/2013 e 2013/2014 Segundo o relatório Icac, Cotton This Month, de outubro de 2014, após uma grande safra, em 2011/2012, com aumentos da produção em grandes produtores como a China, Índia e Paquistão, houve uma retração quase geral na safra 2012/2013. No bloco dos seis maiores produtores - que inclui os Estados Unidos, Brasil e Uzbequistão -, as exceções ficaram por conta dos Estados Unidos e Uzbequistão, que vinham de uma safra menos favorável em 2011/2012, recuperando volume em 2012/2013, com aumentos de 11,2% e 13,6%, respectivamente. O Brasil foi o país que mais perdeu volume, na ordem de 30,2% em relação à 2011/2012, que já vinha 4,2% abaixo de 2010/2011. Porém, a safra 2010/2011 tinha sido muito favorável ao Brasil, que chegou a 1,96 milhão de toneladas, registrando o maior aumento sobre a safra 2009/2010, acima de 64%. Numa queda prevista, o Brasil cumpriu a previsão em 2012/2013, quando houve grande retração da área plantada. A desaceleração em 2012/2013, no conjunto dos seis maiores produtores, foi de 3,3%. A queda manteve-se na safra 2013/2014, com redução próxima de 2% no conjunto dos seis países em questão. Dessa vez, porém, o Brasil reagiu às perdas de volume nas duas safras anteriores apresentando o maior crescimento de produção sobre 2012/2013, acima de 30%. Junto com o Brasil, a Índia e o Paquistão também registraram crescimento, de 8,8% e 3,6%, respectivamente, sobre a safra 2012/2013. Para a safra 2014/2015, a tendência de queda deve se sustentar entre os seis maiores produtores. O Paquistão e o Uzbequistão podem manter ou ficar próximos da produção atual, mas o saldo conjunto desses países só será positivo - com crescimento previsto de apenas 1% -, por conta do esperado aumento da produção nos Estados Unidos - na ordem de 30% - em função, principalmente, da nova Farm Bill, a lei agrícola americana. Um fato inusitado previsto para a safra 2014/2015 é a liderança de produção pela Índia, ultrapassando a China, tradicionalmente o maior produtor de algodão no mundo. Os dados do Icac, de outubro de 2014, projetam 6,56 milhões de toneladas na Índia, 1,96% acima da produção da China, em que a projeção é de 6,43 milhões de toneladas. A área mundial de algodão deverá aumentar de 32,7 milhões para 33,8 milhões de hectares na safra 2014/2015, em razão, principalmente, do aumento do plantio nos Estados Unidos. Exportação mundial - safras 2012/2013 e 2013/2014 Ainda segundo o relatório Icac, Cotton This Month, de outubro de 2014, acompanhando o aumento de produção, os Estados Unidos e o Uzbequistão também apresentaram evolução nas exportações na safra 2012/2013, de 14,9% e 18,7%, respectivamente, recuperando-se da retração verificada em 2011/2012, safra em que os outros três países do bloco dos cinco maiores exportadores mundiais - Índia, Austrália e Brasil - tiveram bom desempenho. A Austrália manteve o ritmo de crescimento registrado nas duas safras anteriores e cresceu também em 2012/2013: 33,1%, o maior índice no bloco dos cinco maiores exportadores. A Índia registrou queda próxima de 22%, enquanto o Brasil, que vinha do seu recorde de exportação em 2011/2012, com 1,043 milhão de toneladas, teve uma queda de 10% na safra 2012/2013, ainda assim, abaixo da retração de produção, que ultrapassou 30% na mesma safra. No conjunto dos cinco países, o volume de 2012/2013 ficou pouco acima de 7,5 milhões de toneladas. Confirmando sua condição de maior exportador mundial, os Estados Unidos responderam por 38,5% desse volume, com 2,9 milhões de toneladas. A safra 2013/2014 foi de queda nas exportações, em razão, principalmente, da retração de compras pela China. Os cinco maiores exportadores totalizaram 6,48 milhões de toneladas enviadas ao mercado externo, 13,8% a menos que na safra anterior. Todos os países desse bloco tiveram redução em relação à 2012/2013, com exceção da Índia, que cresceu 20%, recuperando-se do fraco desempenho na safra anterior, quando registrou a maior queda. Para a safra 2014/2015, as projeções do Icac apontam para nova queda, de 15,2% em relação a 2013/2014. No bloco dos cinco maiores exportadores, os Estados Unidos e o Brasil são os únicos países com previsão de crescimento, principalmente o Brasil, com projeção de 51% sobre o volume da safra 2013/2014, devendo retornar ao patamar acima de 700 mil toneladas, que tem sido a média brasileira de exportação por safra. CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO 15

16 Países produtores de algodão - safra 2013/2014 Área, produção e produtividade Fonte: Icac, Cotton This Month - Outubro 2014 Elaboração: Abrapa AMÉRICA Área total plantada: mil ha Produção total: mil ton Dois grandes players mundiais do algodão Na safra 2013/2014, o continente americano plantou 19% da área mundial e respondeu por 15% da produção de algodão no mundo. Esses números foram basicamente gerados por dois países, que estão entre os grandes players mundiais do algodão: Estados Unidos e Brasil. A América do Norte ficou com 59% da produção no continente, praticamente por conta dos Estados Unidos, com mais de 2,8 milhões de toneladas - já que o México - o outro país produtor do continente, participou com apenas 193 mil toneladas. Todavia, como esse volume veio de 119 mil hectares, o México destaca-se no ranking mundial de produtividade, ocupando o 3º lugar, com kg/ha. Os Estados Unidos figuram em dois rankings: de área (3º lugar, com 3,05 milhões de hectares) e de produção (3º lugar, com 2,8 milhões de toneladas). Na América do Sul, que respondeu por 40% da produção continental, o Brasil divide a produção com outros sete países, dos quais apenas a Argentina se destaca, com 260 mil toneladas. A grande força vem do Brasil: o país produziu mais de 1,7 milhão de toneladas, numa área plantada superior a 1,1 milhão de hectares. Esses números colocam o País nos rankings mundiais de produção (5º lugar) e de produtividade, onde ocupa o 4º lugar, com kg/ha, segundo dados da Conab. O Brasil é também líder mundial de produtividade em algodão não irrigado, conhecido como algodão de sequeiro. Foto: Carlos Rudiney - Abrapa Vale mencionar que, por sua importância, os Estados Unidos ficam a dever em produtividade, ocupando apenas o 10º lugar, com 921 kg/ha. Em compensação, com as últimas mudanças na legislação agrícola dos Estados Unidos, os americanos - maiores exportadores mundiais -, ao lado dos chineses - maiores importadores mundiais - terão um papel ainda maior nos rumos da cultura do algodão nas próximas safras. Colheita de algodão no Brasil 16 CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO

17 Cuba Estados Unidos Área plantada: 4 mil ha Produção: 1 mil ton Produtividade: 272 kg/ha Área plantada: mil ha Produção: mil ton Produtividade: 921 kg/ha Venezuela 3º LUGAR EM ÁREA 3º LUGAR EM PRODUÇÃO Área plantada: 15 mil ha Produção: 6 mil ton Produtividade: 365 kg/ha México Brasil Área plantada: 119 mil ha Produção: 193 mil ton Produtividade: kg/ha 3º LUGAR EM PRODUTIVIDADE Área plantada: mil ha Produção: mil ton Produtividade: kg/ha 5º LUGAR EM PRODUÇÃO 4º LUGAR EM PRODUTIVIDADE Colômbia Área plantada: 31 mil ha Produção: 27 mil ton Produtividade: 884 kg/ha Paraguai Área plantada: 25 mil ha Produção: 11 mil ton Produtividade: 432 kg/ha Equador Peru Bolívia Argentina Área plantada: 1 mil ha Produção: 1 mil ton Produtividade: 436 kg/ha Área plantada: 39 mil ha Produção: 34 mil ton Produtividade: 877 kg/ha Área plantada: 5 mil ha Produção: 3 mil ton Produtividade: 532 kg/ha Área plantada: 559 mil ha Produção: 260 mil ton Produtividade: 465 kg/ha CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO 17

18 ÁFRICA Área total plantada: mil ha Produção total: mil ton Algodão - base da economia do continente A África não está representada nos rankings de área, produção e produtividade, mas praticamente todos os países plantam algodão. Na safra 2013/2014, a produção de todo o continente representou 6% da produção mundial, com volume próximo de 1,5 milhão de toneladas, menos que a produção total do Brasil. No geral, a cultura é praticada por pequenos agricultores e a falta de investimentos resulta em baixos índices de produtividade na maioria dos países. Mas o algodão tem grande peso na economia local. A exportação da fibra é, por exemplo, a principal fonte de receita de países como Burkina Faso, Mali, Benin e Costa do Marfim. Colheita de algodão em Burkina Faso 18 CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO

19 Burkina Faso Mali Níger Chade Egito Área plantada: 644 mil ha Produção: 275 mil ton Produtividade: 427 kg/ha Senegal Área plantada: 32 mil ha Produção: 12 mil ton Produtividade: 378 kg/ha Guiné Área plantada: 481 mil ha Produção: 186 mil ton Produtividade: 387 kg/ha Área plantada: 5 mil ha Produção: 2 mil ton Produtividade: 444 kg/ha Área plantada: 257 mil ha Produção: 41 mil ton Produtividade: 160 kg/ha Área plantada: 122 mil ha Produção: 100 mil ton Produtividade: 821 kg/ha Sudão Área plantada: 53 mil ha Produção: 19 mil ton Produtividade: 360 kg/ha República Centro-Africana Área plantada: 13 mil ha Produção: 4 mil ton Produtividade: 270 kg/ha Área plantada: 36 mil ha Produção: 8 mil ton Produtividade: 228 kg/ha Costa do Marfim Etiópia Área plantada: 358 mil ha Produção: 165 mil ton Produtividade: 461 kg/ha Área plantada: 123 mil ha Produção: 38 mil ton Produtividade: 311 kg/ha Gana Uganda Área plantada: 16 mil ha Produção: 6 mil ton Produtividade: 363 kg/ha Togo Área plantada: 50 mil ha Produção: 15 mil ton Produtividade: 300 kg/ha Quênia Área plantada: 116 mil ha Produção: 37 mil ton Produtividade: 381 kg/ha Benin Área plantada: 380 mil ha Produção: 125 mil ton Produtividade: 329 kg/ha Nigéria Área plantada: 284 mil ha Produção: 57 mil ton Produtividade: 203 kg/ha Área plantada: 35 mil ha Produção: 6 mil ton Produtividade: 185 kg/ha Tanzânia Área plantada: 409 mil ha Produção: 80 mil ton Produtividade: 195 kg/ha Malauí Área plantada: 162 mil ha Produção: 43 mil ton Produtividade: 268 kg/ha Camarões Angola África do Sul Zâmbia Zimbábue Moçambique Área plantada: 214 mil ha Produção: 110 mil ton Produtividade: 514 kg/ha Área plantada: 3 mil ha Produção: 1 mil ton Produtividade: 299 kg/ha Área plantada: 12 mil ha Produção: 10 mil ton Produtividade: 837 kg/ha Área plantada: 290 mil ha Produção: 48 mil ton Produtividade: 166 kg/ha Área plantada: 230 mil ha Produção: 50 mil ton Produtividade: 218 kg/ha Área plantada: 157 mil ha Produção: 44 mil ton Produtividade: 280 kg/ha CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO 19

20 EUROPA Área total plantada: 345 mil ha Produção total: 345 mil ton Pouca expressão e destaque para a Grécia A Europa, que teve um papel importante na história do algodão abrigando a produção antes de sua expansão mundial, tem hoje, poucos países produtores e a cultura é de pouca expressão no continente. O único destaque é a Grécia, que aparece em dois rankings na safra 2013/2014: 10º lugar em produção, com 280 mil toneladas, e 7º lugar em produtividade, com kg/ha. Mas a Europa tem um papel importante na esfera associativa, sediando grandes entidades e eventos da cadeia do algodão: International Cotton Association (ICA), a mais tradicional entre todas, com sede em Liverpool, criada no século 19 a partir de uma associação de comerciantes de algodão. Better Cotton Initiative (BCI), associação mundial pró-sustentabilidade na cultura do algodão, com sede em Genebra, na Suíça. Bremer Baumwollbörse - Bremen Cotton Exchange, com sede em Bremen, Alemanha. International Textile Manufacturers Federation (ITMF), com sede em Zurique, na Suíça. Campo de algodão na Grécia 20 CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO

21 Rússia Área plantada: 1 mil ha Produção: 1 mil ton Produtividade: 519 kg/ha Espanha Área plantada: 64 mil ha Produção: 50 mil ton Produtividade: 775 kg/ha Azerbaijão Área plantada: 28 mil ha Produção: 15 mil ton Produtividade: 536 kg/ha Grécia Área plantada: 250 mil ha Produção: 280 mil ton Produtividade: kg/ha Bulgária Área plantada: 459 ha Produção: 149 ton Produtividade: 324 kg/ha CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO 21

22 ÁSIA Área total plantada: mil ha Produção total: mil ton Milhões de pequenos produtores, responsáveis pela maior área plantada e maior produção por continente Na Ásia, os números do algodão são sempre superlativos. O continente produziu 19,1 milhões de toneladas em 2013/2014, o que representa 74% da produção mundial. Cabe destacar, em especial, dois países: China e Índia. A produção deles ultrapassou 13,5 milhões de toneladas na safra 2013/2014, respondendo simplesmente por 71% de toda a produção do continente, mais da metade de toda a produção mundial. A diferença entre eles é que na China, com 6,9 milhões de toneladas, o algodão foi produzido em 4,6 milhões de hectares, enquanto na Índia, 6,6 milhões de toneladas foram produzidas em 11,7 milhões de hectares, bem mais que o dobro da área chinesa, o que explica a baixa taxa de produtividade, com apenas 567 kg/ha. Ocorre que na Índia, como em grande parte dos países asiáticos, o algodão é cultivado por pequenos produtores, que somam milhões. Todavia, com tanta produção, é natural que a Índia figure entre os maiores exportadores mundiais, abaixo apenas dos Estados Unidos. Mas a demanda interna também é alta. O consumo indiano, na safra 2013/2014, com 5,04 milhões de toneladas, colocou o país em 2º lugar no ranking de consumo, dessa vez abaixo apenas da China. Na China, onde também predominam os pequenos produtores, mas o apoio do governo é muito forte, a produtividade de kg/ha é quase igual à do Brasil e colocou o país em 5º lugar no ranking de produtividade na safra 2013/2014. A China não exporta algodão, simplesmente consome toda a sua produção e a de vários países. Obviamente, a China ocupou, em 2013/2014, o topo do ranking de consumo, com mais de 7,5 milhões de toneladas, e de importação, com mais de 3 milhões de toneladas. Outros países asiáticos que merecem destaque nos rankings da safra 2013/2014, são: Paquistão: 4º lugar em área, com 2,9 milhões de hectares e 4º lugar em produção, com 2,07 milhões de toneladas, além de 3º lugar em consumo, com 2,2 milhões de toneladas. Uzbequistão: 5º lugar em área, com 1,2 milhão de hectares e 4º lugar em exportação, com 650 mil toneladas. Cotonicultor do Uzbequistão 22 CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO

23 Uzbequistão Afeganistão Casaquistão Quirguistão Área plantada: mil ha Produção: 940 mil ton Produtividade: 737 kg/ha 5º LUGAR EM ÁREA Área plantada: 45 mil ha Produção: 19 mil ton Produtividade: 414 kg/ha Área plantada: 140 mil ha Produção: 74 mil ton Produtividade: 530 kg/ha Área plantada: 27 mil ha Produção: 23 mil ton Produtividade: 831 kg/ha Tadjiquistão Turcomenistão Área plantada: 550 mil ha Produção: 329 mil ton Produtividade: 485 kg/ha Área plantada: 189 mil ha Produção: 105 mil ton Produtividade: 566 kg/ha China Área plantada: mil ha Produção: mil ton Produtividade: kg/ha 2º LUGAR EM ÁREA 1º LUGAR EM PRODUÇÃO 5º LUGAR EM PRODUTIVIDADE Paquistão Área plantada: mil ha Produção: mil ton Produtividade: 712 kg/ha 4º LUGAR EM ÁREA 4º LUGAR EM PRODUÇÃO Filipinas Área plantada: 10 ha Produção: 6 ton Produtividade: 566 kg/ha Vietnã Área plantada: 12 mil ha Produção: 6 mil ton Produtividade: 465 kg/ha Índia Área plantada: mil ha Produção: mil ton Produtividade: 567 kg/ha 1º LUGAR EM ÁREA 2º LUGAR EM PRODUÇÃO Bangladesh Myanmar Tailândia Indonésia Área plantada: 9 mil ha Produção: 6 mil ton Produtividade: 714 kg/ha Área plantada: 25 mil ha Produção: 25 mil ton Produtividade: 998 kg/ha Área plantada: 299 mil ha Produção: 194 mil ton Produtividade: 647 kg/ha Área plantada: 2 mil ha Produção: 1 mil ton Produtividade: 516 kg/ha CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO 23

24 ORIENTE MÉDIO Área total plantada: 708 mil ha Produção total: 838 mil ton Turquia é o destaque no Oriente Médio Na porção ocidental do continente asiático, vários países cultivam o algodão. A produção do Oriente Médio não tem um grande peso no volume asiático mil toneladas em 2013/2014, 4,7% da produção total da Ásia - mas ajuda a projetar dois países no cenário mundial. No ranking de produtividade 2013/2014, aparecem Israel, em 2º lugar, com o elevado índice de kg/ha, e Turquia, 6º lugar, com kg/ha, já próximo do índice brasileiro, que foi de kg/ha, segundo a Conab. A Turquia é também um importante player mundial e está presente em outros três rankings na safra 2013/2014: 8º lugar em produção, com 639 mil toneladas; 4º lugar em consumo, com 1,4 milhões de toneladas; 3º lugar em importação, com 935 mil toneladas. A relação produção x consumo explica o volume importado e a Turquia está entre os principais destinos de exportação do algodão brasileiro. Campo de algodão na Turquia 24 CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO

25 Turquia Área plantada: 451 mil ha Produção: 639 mil ton Produtividade: kg/ha Síria Área plantada: 103 mil ha Produção: 100 mil ton Produtividade: 976 kg/ha Irã Área plantada: 91 mil ha Produção: 65 mil ton Produtividade: 713 kg/ha Israel Área plantada: 6 mil ha Produção: 11 mil ton Produtividade: kg/ha 2º LUGAR EM PRODUTIVIDADE Iraque Área plantada: 19 mil ha Produção: 7 mil ton Produtividade: 360 kg/ha CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO 25

26 OCEANIA Área total plantada: 420 mil ha Produção total: 897 mil ton Liderança em produtividade A Austrália é o único país da Oceania que aparece nos registros do Icac, mas destacase em vários índices. O principal é a produtividade, com o surpreendente rendimento de kg/ha em 2013/2014, confirmando o 1º lugar no ranking mundial, que vem de muitas safras e deve se manter em 2014/2015. O algodão australiano é 100% irrigado, o que permite o controle constante do volume de água na planta. Junto com outras tecnologias, como um eficiente controle no manejo de pragas, o país obtém a melhor relação produção x área no mundo. Com área plantada relativamente pequena - 37,4% da área brasileira -, mas graças à alta produtividade, a produção australiana aparece em 7º lugar no ranking 2013/2014, com 897 mil toneladas. Praticamente toda a produção é exportada. Na safra 2013/2014, mais de 1milhão de toneladas foram destinadas ao mercado externo e o país ocupou o 3º lugar no ranking de exportação. Algodão irrigado na Austrália 26 CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO

27 Austrália Área plantada: 420 mil ha Produção: 897 mil ton Produtividade: kg/ha 1º LUGAR EM PRODUTIVIDADE CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO 27

28 Ranking de produção (toneladas x 1.000) Fonte: Icac, Cotton This Month - Outubro 2014 Elaboração: Abrapa Safra 2014/ Projeção Índia China EUA Paquistão Brasil Uzbequistão 940 Turquia 724 Austrália 651 Turcomenistão 327 Grécia 308 Safra 2013/2014 China Índia EUA Paquistão Brasil Uzbequistão 940 Austrália 897 Turquia 639 Turcomenistão 329 Grécia 280 Safra 2012/2013 China Índia EUA Paquistão Brasil Austrália Uzbequistão Turquia 659 Turcomenistão 335 Burkina Faso CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO

29 Ranking de produtividade (kg/ha) Fonte: Icac, Cotton This Month - Outubro 2014 Elaboração: Abrapa Safra 2014/ Projeção Austrália Israel Turquia China Brasil México Grécia Bangladesh Síria EUA Safra 2013/2014 Austrália Israel México Brasil China Turquia Grécia Bangladesh Síria EUA Safra 2012/2013 Austrália Israel México China Brasil Turquia Síria EUA Espanha Grécia CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO 29

30 Ranking de exportação (toneladas x 1.000) Fonte: Icac, Cotton This Month - Outubro 2014 Elaboração: Abrapa Safra 2014/ Projeção EUA Índia Brasil 733 Uzbequistão 628 Austrália 604 Grécia 277 Burkina Faso 259 Mali 212 Costa do Marfim 175 Turcomenistão 171 Safra 2013/2014 EUA Índia Austrália Uzbequistão 650 Brasil 485 Burkina Faso 269 Grécia 261 Mali 199 Turcomenistão 195 Malásia 144 Safra 2012/2013 EUA Índia Austrália Brasil 938 Uzbequistão 653 Grécia 237 Turcomenistão 230 Burkina Faso 215 Mali 171 Malásia CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO

31 Ranking de importação (toneladas x 1.000) Fonte: Icac, Cotton This Month - Outubro 2014 Elaboração: Abrapa Safra 2014/ Projeção China Bangladesh 968 Turquia 782 Vietnã 730 Indonésia 599 Paquistão 520 Tailândia 384 México 291 Coreia do Sul 287 Taiwan 194 Safra 2013/2014 China Bangladesh 987 Turquia 935 Vietnã 691 Indonésia 655 Paquistão 402 Tailândia 352 Coreia do Sul 280 México 243 Taiwan 186 Safra 2012/2013 China Turquia 804 Indonésia Coreia Bangladesh Vietnã Paquistão Tailândia do Sul Índia 683 México CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO 31

32 Ranking de consumo (toneladas x 1.000) Fonte: Icac, Cotton This Month - Outubro 2014 Elaboração: Abrapa Safra 2014/ Projeção China Índia Paquistão Turquia Bangladesh 954 Brasil 893 EUA 827 Vietnã 697 Indonésia 687 México 412 Safra 2013/2014 China Índia Paquistão Turquia Bangladesh 900 Brasil 889 EUA 803 Vietnã 664 Indonésia 638 México 412 Safra 2012/2013 China Índia Paquistão Turquia Brasil 890 Bangladesh 765 EUA 751 Indonésia 520 Vietnã 492 México CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO

33 Oferta e demanda mundial (toneladas x 1.000) Fonte: Icac, Cotton This Month - Outubro 2014 Elaboração: Abrapa Estoques iniciais e produção Estoques iniciais Produção / / /2015 Est. Suprimento e consumo Suprimento Consumo / / /2015 Est. Exportações e estoques finais Exportações Estoques finais / /2014 CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO 2014/2015 Est. 33

34 José Sette Diretor Executivo Icac - International Cotton Advisory Committee O aumento da produtividade é uma necessidade premente na agricultura moderna, dada a concorrência de cultivos alternativos, o volume limitado de terra cultivável e as preocupações com a sustentabilidade. FASE DE TRANSIÇÃO O setor algodoeiro mundial passa por uma fase de transição, com repercussões importantes sobre a condução dos negócios. O algodão enfrenta múltiplos desafios, incluindo a comunicação com os consumidores, o atendimento às necessidades da indústria têxtil e a produção do algodão de uma maneira sustentável, ao mesmo tempo em que se faz necessário assegurar a rentabilidade dos produtores em um contexto de custos crescentes, regulação mais rígida e produtividade estagnada. Em anos recentes, o principal fator que influencia o mercado internacional do algodão tem sido a intervenção praticada, em escala maciça, pelo governo da China, o maior país produtor e consumidor de algodão no mundo. Embora o objetivo dessa política tenha sido fornecer apoio aos produtores locais, a intervenção teve efeitos importantes que atravessam/transcendem as fronteiras nacionais e afetam todos que dependem do algodão para seu sustento. Esses efeitos são manifestações da Lei das Consequências Imprevistas, ou seja, o conceito de que uma intervenção em um sistema complexo gera consequências imprevistas e, muitas vezes, indesejáveis. Em um sentido muito restrito, pode-se considerar que a política chinesa cumpriu seu objetivo: os preços de algodão se mantiveram em níveis altos durante os últimos anos. Portanto, os produtores chineses, mas também os de outros países, se beneficiaram. Outra vantagem é que houve uma diminuição da volatilidade dos preços do produto, que gerou tantos estragos no comércio mundial em 2010 e Contudo, esses benefícios não compensam as consequências negativas imprevistas. Em primeiro lugar, como resultado dos preços artificialmente altos, estamos no quinto ano seguido em que a produção supera o consumo. Segundo, uma vez que o mercado se mostrou incapaz de absorver a alta produção, os estoques mundiais de algodão subiram consideravelmente. No final do ano-safra 2013/2014, os estoques excediam 20,5 milhões de toneladas e a relação entre estoques e consumo era de 0,88. Os estoques hoje equivalem a mais de 10 meses de consumo mundial, a maior proporção desde a Segunda Guerra Mundial. A terceira, e mais importante, consequência desse período recente de intervenção tem sido a perda de competitividade do algodão em comparação com as outras fibras. De fato, o consumo do produto ainda se encontra abaixo dos níveis registrados em meados da década de Acabamos de entrar em um período de transição, uma vez que a China sinalizou que vai passar para um sistema de subsídios diretos à produção, embora os detalhes sobre como isso funcionará ainda não sejam totalmente claros e novos detalhes são anunciados em uma base quase diária. Como seria de se prever, as cotações estão em queda e a tentação de implantar medidas de apoio aos produtores em outros países aumenta. Por mais que tais medidas tragam alívio no curto prazo, elas levam a uma postergação de ajustes necessários e causam problemas ainda maiores no prazo mais longo. Para o ano-safra 2014/2015, as projeções do Icac indicam um aumento de 1% na produção mundial, para 26,2 milhões de toneladas. Embora seja prevista uma queda da produção na China e na Índia, os dois maiores produtores mundiais, essa redução deverá ser compensada por aumentos em 34 CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO

35 outros países, principalmente nos Estados Unidos e no Paquistão. A área plantada deverá aumentar de 32,7 milhões para 33,8 milhões de hectares, uma subida de 3,2% e a produtividade deverá atingir 776 kg/ha. O aumento da produtividade é uma necessidade premente na agricultura moderna, dada a concorrência de cultivos alternativos, o volume limitado de terra cultivável e as preocupações com a sustentabilidade. No caso do algodão, a produtividade média aumentou consideravelmente ao longo dos últimos sessenta anos, mas o progresso vem sendo lento em anos recentes. Desde 2004/2005, a produtividade estagnou em uma faixa entre 750 e 800 kg/ha. Essa estagnação poderá ser superada por meio da introdução de tecnologias novas e de um melhor uso dos métodos de produção existentes. No entanto, o desenvolvimento e posterior introdução de novas variedades demanda tempo. Enquanto isso, a dependência exagerada nas aplicações de insumos, sobretudo fertilizantes e pesticidas, deverá ser reduzida em prol da otimização do uso dos insumos e de um melhor entendimento das interações entre insumos. O consumo de algodão, estimulado pelos preços mais baixos, deverá atingir 24,4 milhões de toneladas, uma alta de quase 4%. Porém, essa alta só deverá ocorrer na segunda metade do ano-safra. Por enquanto, a indústria de fiação parece estar adiando as compras, enquanto espera os novos patamares de preço se consolidarem. O Icac projetou aumento no consumo industrial na faixa de 5% a 6% na China, Índia, Bangladesh e Vietnã, além de um aumento menor no Paquistão. Ajustes importantes deverão ocorrer no âmbito do comércio e dos estoques. O comércio internacional vinha sendo puxado pelas importações da China, que atingiram seu pico de 5,3 milhões de toneladas em 2011/2012. Desde então, as importações chinesas vêm caindo, chegando a cerca de 3 milhões de toneladas em 2013/2014. Esse volume deverá cair mais ainda em 2014/2015 em função do abandono da política de intervenção. No cômputo global, as importações deverão cair de quase 9 milhões de toneladas em 2013/2014 para menos de 8 milhões em 2014/2015. Desde 2010/2011, os estoques mundiais cresceram em 10,1 milhões de toneladas, quase inteiramente na China. Em um cenário onde a produção continua superando a demanda, os estoques mundiais deverão crescer em cerca de 1,8 milhão de toneladas em 2014/2015. No entanto, a maior parte dessa subida (1,3 milhão de toneladas) deverá ocorrer fora da China, sobretudo nos EUA, na Índia e no Paquistão. FOCO NO BRASIL Embora o Brasil cultive o algodão há cerca de 250 anos, a produção nacional ganhou novo dinamismo a partir da década de 1990 com a difusão dos plantios nas regiões do cerrado. Em 2010/2011, o Brasil atingiu uma produção recorde de quase 2 milhões de toneladas. Além da expansão na área plantada, a produtividade teve uma subida impressionante, de 268 kg/ha na década de 1980 para uma média de kg/ha nas últimas cinco temporadas. A produção caiu nas duas temporadas seguintes, mas se recuperou consideravelmente em 2013/2014, quando atingiu 1,7 milhão de toneladas e uma produtividade superior a kg/ha. O destaque continua sendo o Mato Grosso, que responde por mais de 1 milhão de toneladas, seguido pela Bahia. A recuperação da produção nacional foi estimulada principalmente pelas chuvas abundantes e ocorreu em um contexto desfavorável do ponto de vista das pragas, uma vez que a proliferação da lagarta Helicoverpa vem causando crescente preocupação. O desempenho impressionante do algodão brasileiro nos últimos vinte anos é testamento do profissionalismo dos produtores e dos avanços na tecnologia da produção, sobretudo pelo trabalho da Embrapa. Em 2014/2015, o Icac projeta uma produção estável, na faixa de 1,7 milhão de toneladas. O desempenho futuro da cotonicultura nacional dependerá em grande medida da relação entre os preços do próprio algodão e os de cultivos concorrentes, sobretudo a soja e o milho. No ramo do comércio, o Brasil passou da condição de importador líquido na década de 1990 e nos primeiros anos do atual milênio a exportador líquido em anos mais recentes. As exportações atingiram um recorde superior a 1 milhão de toneladas em 2011/2012, mas caíram significativamente em 2013/2014 por problemas de logística e pela queda da demanda na segunda metade do ano-safra, época de maior disponibilidade do produto brasileiro. Apesar desses contratempos, o Brasil foi o quinto maior exportador mundial em 2013/2014. Enquanto isso, a indústria têxtil, uma das mais antigas do Brasil, vem enfrentando importantes desafios à medida que as preferências do consumidor brasileiro tendem a favorecer produtos importados e muitas empresas ainda se recuperam da alta volatilidade dos preços da matéria-prima no passado recente. O setor convive há anos com problemas ligados aos altos custos trabalhistas, baixa produtividade, burocracia e falta de infraestrutura apropriada. A indústria têxtil brasileira precisa aumentar sua competitividade por meio de investimentos no parque industrial para concorrer com maior eficiência e produtos de qualidade mais alta contra os produtos importados da Ásia, que muitas vezes chegam com preços atraentes. CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO 35

36 Marcos Fava Neves Professor Titular Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo Frente às crescentes incertezas e à volatilidade do mercado, o bom desempenho do produtor dependerá, cada vez mais, de sua capacidade de planejamento e gestão. A URGÊNCIA DE BOAS ESTRATÉGIAS NA CADEIA DO ALGODÃO Fiquei honrado com o convite da Abrapa para escrever este texto que coroa um trabalho forte em defesa do setor, pela gestão que se encerra. A satisfação é ainda maior dado que o algodão é um dos principais setores do agronegócio brasileiro. Em duas oportunidades, também a convite da Abrapa, pudemos mergulhar a fundo na cadeia produtiva e mensurar seu PIB, com resultados impressionantes. Na safra 2012/2013, o PIB gerado pela cadeia do algodão, do fornecimento de insumos à indústria de transformação, foi estimado em nada menos que US$ 18,7 bilhões. Entre todas as atividades agrícolas aqui praticadas, a cotonicultura ocupa lugar de destaque quando o tema é tecnologia, produtividade, associativismo e coordenação. A história do algodão no Cerrado brasileiro prova isso e as safras de 2012/2013 e 2013/2014 ajudaram a consolidar essa condição, haja visto a expansão da adoção de tecnologias inovadoras por exemplo, os materiais genéticos das sementes, os maquinários e equipamentos de última geração e os sistemas de produção de segunda safra, a capacidade de resposta do setor à ameaça da Helicoverpa e o resultado exitoso no contencioso com os EUA na OMC. Apesar das dificuldades estruturais e conjunturais que impõem barreiras que para o algodão se tornam especialmente críticas devido ao elevado risco inerente à atividade, o Brasil encerrou a safra 2013/2014 com a produtividade histórica de kg de pluma por hectare, segundo os dados da Conab. Com 1,12 milhão de hectares cultivados nessa mesma safra, a produção nacional atingiu 1,73 milhão de toneladas de algodão em pluma, mantendo o país como quinto maior produtor do mundo, atrás somente da China, Índia, EUA e Paquistão. Já nas exportações, o Brasil perdeu espaço para países como o Uzbequistão e outros. De acordo com as informações do Icac, na safra 2013/2014 o Brasil exportou cerca de 485 mil toneladas contra 938 mil toneladas em 2012/2013. Parte desse resultado é na verdade consequência de um aspecto positivo: capitalizados, os produtores brasileiros têm sido capazes de estocar parte da produção visando melhores condições comerciais. Contudo, a redução nas vendas externas também reflete o segundo ano consecutivo de retração das importações chinesas, o que deve se acentuar ainda mais nas próximas safras, uma vez que por lá os estoques continuam em níveis elevados e parte da indústria têxtil do país tem migrado para outros países do sudeste asiático em busca de vantagens comparativas como o menor custo da mão de obra. 36 CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO

37 A retração da demanda internacional cria obstáculos para o algodão brasileiro. Manter a posição conquistada no comércio internacional se torna mais difícil e demanda a superação de ineficiências já muito conhecidas. Não bastasse a maior distância dos principais polos compradores quase todos na Ásia quando comparado com concorrentes como Índia e Austrália, respectivamente segundo e terceiro maiores exportadores, o Brasil sofre ainda com uma das piores infraestruturas logísticas do mundo e uma pesada e ineficiente burocracia. A consequência se dá na forma de agregação de custos que seriam perfeitamente evitáveis e da destruição de valor ao longo da cadeia produtiva. Em um sistema agroindustrial que se pretende moderno e competitivo isso é inadmissível; mas muitas variáveis fogem do alcance do setor produtivo. É preciso, por exemplo, que as obras de infraestrutura de escoamento da produção sejam finalmente concluídas. Internamente, há anos a demanda da indústria por fibras de algodão sente os efeitos da concorrência internacional sofrida pela indústria têxtil. Como em outros setores, o Brasil tem cada vez mais exportado matéria-prima (algodão) e importado manufaturados (tecidos e artigos de vestuário), com prejuízos à demanda interna pelos produtos agrícolas. Os dados da Conab mostram que na safra 2013/2014 a indústria brasileira consumiu 870 mil toneladas de algodão em pluma, volume mais baixo desde o ano-safra 2002/2003. A globalização não é um processo fácil de lidar. É preciso visão de longo prazo (estratégia) e capacidade de execução não apenas das empresas, mas também do setor público. Ações e programas pontuais desarticulados como os que têm sido oferecidos à indústria nacional podem aliviar a situação de um ou outro setor momentaneamente, mas se mostram ineficazes no longo prazo. A indústria brasileira precisa de uma política sólida que defina prioridades e construa um ambiente propício ao investimento, à inovação e à geração de renda. Frente às crescentes incertezas e à volatilidade do mercado, o bom desempenho do produtor dependerá, cada vez mais, de sua capacidade de planejamento e gestão. Isso significa ser capaz de mapear cenários, analisar conjunturas, gerenciar riscos e otimizar o uso de recursos e ativos. Nesse sentido, as associações estaduais e a Abrapa têm realizado investimentos importantes em capacitação gerencial e, em especial, na estruturação de sistemas de informação que têm como objetivo prover conhecimento para que o cotonicultor possa tomar decisões assertivas. Exemplo disso é o Sistema Nacional de Dados do Algodão (Sinda), uma iniciativa vanguardista da Abrapa que deverá servir de benchmarking para as demais cadeias produtivas do país. Devido à pujança do agronegócio brasileiro, nos acostumamos a figurar entre os maiores produtores e exportadores de um amplo conjunto de commodities agrícolas. Não há dúvida de que isso é positivo, sobretudo para um país acostumado a ocupar posições mais próximas à lanterna em vários rankings mundiais de indicadores relacionados ao desenvolvimento. Contudo, mais importante que sermos o maior é estarmos entre os melhores. O setor deve continuar trabalhando para que a nobre atividade de cultivar a terra seja mais lucrativa, contribuindo não somente para a sustentabilidade dos produtores, mas de todo o país. Ser o segundo, o quinto ou o décimo maior produtor/exportador deve ser apenas uma consequência desse objetivo maior. CAPÍTULO 1 - ALGODÃO NO MUNDO 37

38 Foto: Canidia - Abrapa

39 2 ALGODÃO NO BRASIL Mudança, associativismo e crescimento Breve história Criação da Abrapa e das associações estaduais A força do setor Gestão por resultados Evolução de área, produção e produtividade Balança comercial Principais destinos de exportação do algodão brasileiro O Brasil e a produção mundial O Brasil e a exportação mundial Depoimento: Ministro Neri Geller Depoimento: Rafael Cervone

40 BREVE HISTÓRIA Do Brasil Colônia até a década de 1980 Foto: Edy Belitardo - Abapa No Brasil, o algodão já era cultivado pelos nativos quando chegaram os colonizadores, que promoveram o seu plantio nas capitanias hereditárias. Durante quase todo o período colonial, a produção foi exclusivamente caseira. A fiação e a tecelagem eram feitas com instrumentos rudimentares e o algodão era produzido apenas para consumo interno. Na segunda metade do século 17, o algodão chegou a desenvolver-se consideravelmente no Maranhão, tornando-se o principal produto de exportação da capitania. Mas a grande mudança só veio no século 18, com a revolução industrial. O crescimento do consumo pela indústria têxtil inglesa fez com que Portugal incentivasse a produção de algodão e criasse, em 1753 e 1758, duas companhias de comércio no Brasil para estimular o transporte da pluma nacional. No início do século 19, o Brasil já era tradicional exportador da fibra, mas enfrentava um problema: a má qualidade do produto, muito carregado de impurezas. No entanto, foi favorecido pela Guerra da Secessão, de 1861 a 1865, nos Estados Unidos. A Guerra da Secessão, ou guerra civil norte-americana, colocou em conflito os estados do norte contra os estados do sul, cuja economia tinha forte sustentação na cultura do algodão. O conflito tirou os EUA temporariamente do mercado de exportação de algodão, favorecendo o Brasil, que praticamente dobrou o volume de vendas para a Inglaterra, principal consumidora da fibra. 40 CAPÍTULO 2 - ALGODÃO NO BRASIL

41 No início do século 20, a produção nacional de tecidos já era maior que a importação. A Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, prejudicou os dois lados da balança comercial, mas acabou acelerando o desenvolvimento industrial. Na década de 20, a indústria têxtil respondia por 75% a 80% da produção de tecidos de algodão consumidos no Brasil. A crise do café, em 1929, criou um ambiente favorável para o crescimento da produção de algodão no Brasil, fortalecendo a cultura no eixo Sudeste, quando o Estado de São Paulo assumiu a liderança na produção. A Segunda Guerra Mundial fez a produção oscilar fortemente e as exportações de algodão declinaram. Contudo, as vendas da indústria se sustentaram pela mudança de clientes, entrando em mercados como a África do Sul e vários países sul-americanos. Até a década de 80, a produção de algodão e a indústria têxtil sofreram altos e baixos. Mas o saldo sempre foi positivo. No fim dos anos 60, o Brasil era o quinto maior produtor da fibra no mundo, tendo à sua frente os Estados Unidos, a União Soviética, a China e a Índia, nessa ordem. Foto: Carlos Rudiney - Abrapa CAPÍTULO 2 - ALGODÃO NO BRASIL 41