Temos a satisfação de apresentar o Projeto Pedagógico da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília.
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- Aníbal Cordeiro Fragoso
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1 Temos a satisfação de apresentar o Projeto Pedagógico da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília. Nosso objetivo é que este projeto possa ser difundido para uma ampla comunidade interna e externa, que não é apenas acadêmica, mas integrada por todos/as que pensam e realizam a educação jurídica como um processo de formação de pessoas capacitadas a atuar local e globalmente como agentes de formulação, promoção e defesa de direitos, também comprometidos/as com o fortalecimento da democracia associada aos Direitos Humanos e às garantias institucionais do Estado Democrático de Direito. O processo de construção deste projeto visou também a atender ao que nele se preconiza como fundamentos da educação jurídica contemporânea. Para tanto, foi importante sensibilizar e envolver um espectro diversificado de participantes em todas as suas fases, e aprofundar-se nas práticas de acolhimento da manifestação das múltiplas concepções sobre sua natureza, objetivos, elementos, princípios e metodologias voltadas à formação do/a bacharel/a em Direito. Neste processo, teve-se de construir as formas de uma convivência produtiva, criativa e motivadora entre participantes para o desenvolvimento de uma proposta consistente de pedagogia universitária a partir de suas próprias experiências acadêmicas, sociais e evidentemente pedagógicas. A construção do projeto iniciou-se como tantas outras atividades nas instituições educacionais de ensino superior, por meio de nomeação de uma comissão de docentes, com atividades institucionais na Faculdade de Direito e representação discente minoritária. Coube- nos a indicação para coordenação dos trabalhos. Apesar das qualidades individuais de cada membro desta comissão, ficou evidente, desde o início, que este era um cenário demasiado restrito para conter as pulsantes aspirações de uma comunidade complexa, imersa na expansão de 1 / 6
2 vagas discentes e sua consequente multiplicidade de perfis e demandas. Esta constatação levou a uma abertura para as possibilidades de participação de interessados/as na construção do projeto. Outra metodologia foi então adotada a partir de março de 2011, quando grupos de discussão foram estruturados a partir dos eixos temáticos da Resolução n.o 9, de 24 de setembro de 2004, do Conselho Nacional de Educação. As dificuldades de efetiva participação na construção institucional em um cenário de baixa confiança na capacidade de trabalho colaborativo entre os integrantes da comunidade acadêmica foram então explicitadas. Desde trincheiras opostas, docentes e discentes manifestaram a urgência de um reconhecimento mútuo quanto a sua condição de legítimos/as participantes na construção do projeto. Em um cenário de rupturas do modelo de acumulação do conhecimento como método pedagógico preponderante, tornou-se imprescindível construir as formas de diálogo e de conforto comunicativo entre vozes assertivas e ávidas de escuta. O processo revelou uma banalidade pedagógica: para ser escutado, há que ouvir antes. Um terceiro modelo de atuação coletiva foi então desenhado, de forma a propiciar o diálogo franco e construtivo. Docentes e discentes passariam a atuar em espaços distintos, mas sempre de forma associada, com base em uma estrutura síntese que foi apresentada pela coordenação do projeto. Ao iniciar-se o 5o semestre de trabalhos em torno do Projeto Pedagógico, tornara-se necessário, a despeito de eventuais riscos de rejeição tanto por parte de docentes quanto discentes, apresentar uma proposta concreta que contivesse uma estrutura curricular viável e ao mesmo tempo que pudesse expressar as mudanças de concepção sobre as atividades típicas da formação universitária. A proposta síntese, que também elencava as principais atividades em relação ao projeto desenvolvidas até a primeira semana de abril de 2012, demonstrava a possibilidade metodológica de um modelo integrado de compartilhamento curricular entre as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Quanto a esta última modalidade pedagógica os/as representantes discentes manifestaram sua posição, que foi acolhida, da necessidade de previsão no novo projeto de uma posição de autonomia desta frente às Atividades Complementares, rompendo-se com uma prática institucional que era replicada no modelo apresentado pela coordenação do projeto. Feito o ajuste em relação às atividades de extensão, a boa acolhida da proposta síntese por docentes e discentes permitiu um entendimento que se revelou crucial para a evolução dos trabalhos a partir de então. O contexto de elaboração do projeto foi rico e dinâmico, propiciando experiências inovadoras quando comparadas aos sistemas e métodos tradicionais, tanto em termos de comunicação e métodos de trabalho em grupo, como pela capacidade de representar um novo e necessário 2 / 6
3 modelo de educação em Direito. As primeiras atividades sistemáticas em torno de sua construção podem ser localizadas no mês de março de Em 9 de julho de 2012, o projeto foi aprovado pelo Conselho da Faculdade de Direito. O projeto é, também, o resultado de um diálogo de expectativas quanto ao que se imagina como as melhores possibilidades pedagógicas da Faculdade de Direito da UnB. Nas páginas do texto construído com a participação efetiva de todo o grupo, emerge uma concepção pedagógica que clama pelo reconhecimento do/a discente como sujeito ativo do processo pedagógico. Assim, as ditas atividades pedagógicas devem ter como foco o que acontece com o/a discente enquanto inserido/a em um processo de educação institucionalizado. O planejamento destas atividades, seus princípios, formas, duração, natureza, tudo afinal deve estar condensado na formação de competências cognitivas, metodológicas e interpessoais que o/a bacharel/a deve portar ao término de um período, certamente longo, de cinco anos de graduação. O/A estudante é o objeto do processo pedagógico. Mas não objeto passivo e acomodado quanto ao que a instituição, a sociedade e o estado lhe propiciam unilateralmente. É um sujeito que atua, é uma personalidade integral que não apenas mira um futuro que é indeterminado. Seus desejos e planos transparecem desde seu ingresso no curso de bacharelado, na forma com que poderá se mover em um currículo que se abre em tantas possibilidades pedagógicas quanto a miríade de personalidades que se expressam no corpo discente. É um currículo que acredita na possibilidade da construção de uma autonomia cognitiva, metodológica e de compreensão ética das relações humanas. Mas este objetivo do processo, a construção desta autonomia por parte do/a estudante, não implica menor destaque para a atividade docente. Muito ao contrário. O projeto vai exigir maior reflexão e comprometimento daqueles/as que têm a docência como atividade profissional. É um currículo também mais consistente e eficaz para com os/as docentes. Em lugar de destinar precipuamente ao corpo docente uma atuação monológica em sala de aula, convida-o a transformar este espaço em lugar de sua realização profissional. Seus estudantes deixam de ser meros/as ouvintes passivos/as e passam a ser colaboradores/as em pesquisa, parceiros/as de projetos de extensão, e as atividades de ensino-aprendizagem podem ser planejadas em território de maior liberdade epistemológica e diversidade metodológica. A redução significativa do número de disciplinas obrigatórias na nova matriz curricular é um convite a que os/as docentes possam atuar efetivamente em seus campos de especialização acadêmica e associem de forma 3 / 6
4 integrada suas atividades próprias de pesquisa, extensão e ensino- aprendizagem. O projeto é certamente bem mais do que o contido nas páginas apresentadas à comunidade interna e externa. Nestas não há excesso quanto ao que se construiu como cenário de futuro quase imediato para as relações pedagógicas que devem vigorar na FD-UnB. É um currículo tão inovador quanto factível, mas que demandará decisões, esforços, planejamento, dedicação e monitoramento constante para sua sustentabilidade e plena consolidação. Finalmente uma palavra necessária sobre o texto que contém o projeto. Na elaboração do texto, que ocorreu entre os meses de março a julho deste ano de 2012, houve a rica e efetiva participação de um grupo mais atuante de 7 estudantes interessados/as e dedicados/as a esta atividade institucional. As mais de 14 reuniões de trabalho que desenvolvemos, coordenação e representantes discentes, a partir de 11 de abril, com a finalidade precípua de elaborar o texto, podem dar uma ideia da intensidade de esforços que este objetivo demandou. A título de curiosidade, registre-se que as reuniões tinham em média 4 h de duração. A mais longa chegou a alcançar 12 h de trabalho em grupo. Cabe ressaltar que a mais abrangente greve já deflagrada no sistema federal de educação superior, com todas as dificuldades decorrentes em termos operacionais, foi, de certa forma, convergida numa oportunidade. Libertos/as das amarras temporais do horário de aulas, nos devotamos em mais de 10 semanas, quase exaustivamente, ao Projeto Pedagógico da FD-UnB. Compor trechos, discutir cada afirmação, colocar em xeque todas as concepções pré-compreendidas, indagar incansavelmente sobre cada ideia oferecida pelos demais artífices, esta foi uma importante etapa da metodologia do trabalho. Paralela a esta dimensão relativa ao texto, há que mencionar a contribuição para o projeto de docentes que participaram das muitas reuniões ocorridas nas áreas de Direito e Interdisciplinaridade, Direito Público, Direito Privado e Direito do Trabalho e Direito Processual e Prática. Se esta parece uma abordagem epistemológica comum pela divisão das áreas, as reflexões ofertadas por colegas comprometidos/as em sua cultura jurídica foram das mais elevadas e as experiências metodológicas, das mais instigantes, além de inovadoras e criativas. 4 / 6
5 No ambiente da sala de professores e professoras da Faculdade de Direito da UnB, o texto foi ganhando densidade. Suas fontes foram múltiplas. E uma publicação já em andamento tem o objetivo de compartilhar com os interessados uma história de feliz colaboração em torno de um projeto inovador, que vem à luz sedimentado na confiança que se soube construir entre seus artífices e também na experiência acadêmica disponível em uma área de conhecimento que vai se afirmando como uma das vocações institucionais da FD- UnB: a da educação jurídica. Na tarefa de elaborar o texto, estiveram comigo os/as estudantes Gabriela Rondon, João Otávio Fidanza Frota, Vítor Magalhães, Victor Reis e Renata Cristina de F. G. Costa. No tocante à extensão, fomos também acompanhados/as por Sinara Gumieri Vieira. Nas partes relativas à Prática Jurídica, estiveram conosco João Gabriel Lopes e Gisele Barrozo. Na finalização dos trabalhos, contamos também com Lucas Carneiro. Gostaria de expressar uma palavra de carinho e gratidão por quem me designou a honrosa tarefa de coordenar os trabalhos relativos ao projeto pedagógico. Em Ana de Oliveira Frazão, Diretora da FD-UnB de janeiro de 2009 a agosto de 2012, obtive apoio e confiança irrestritos ao longo deste período. Sua atitude de coerência em relação aos melhores interesses da Faculdade de Direito foi muito valiosa para todos nós. Com esta breve apresentação, que pretendeu compartilhar uma centelha do que foi a elaboração do Projeto Pedagógico da Faculdade de Direito da UnB, convido-o/a a examinar o texto, fruto de um rico processo para nós sobretudo de educação nas perspectivas de uma outra pedagogia. A da confiança. Para visualizar integralmente o Projeto Pedagógico, clique aqui. Loussia Penha Musse Felix 5 / 6
6 Coordenadora dos Trabalhos de Construção do Projeto Pedagógico Professora de Teoria Geral e Filosofia do Direito da UnB 6 / 6
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