RELATÓRIO DOS TRABALHOS DA 1ª COMISSÃO EM MATÉRIA DE COMBATE AO TRÁFICO DE SERES HUMANOS
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- Miguel Dinis Santarém
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1 RELATÓRIO DOS TRABALHOS DA 1ª COMISSÃO EM MATÉRIA DE COMBATE AO TRÁFICO DE SERES HUMANOS Os peritos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, reunidos em sessões de trabalho nos dias 18 e 19 de Julho de 2012, após procederem à análise exaustiva dos quadros legais existentes em todos os países da CPLP, em matéria de luta contra o Tráfico de Seres Humanos, concluíram o seguinte: 1. Que todos os países da CPLP aderiram à Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional, bem como ao seu Protocolo adicional relativo à Prevenção, à Repressão e à Punição do Tráfico de Pessoas, em especial de Mulheres e Crianças. 2. Que o ordenamento jurídico de grande parte dos países participantes não reconhece o crime de tráfico de seres humanos como uma infracção penal específica. 3. Que a percepção do fenómeno do tráfico difere de país para país, estando a sua prevenção e combate sujeito a regras distintas.
2 4. Que Angola dispõe de um quadro legal mínimo e medidas de prevenção do tráfico, concretizadas através da realização de campanhas de sensibilização e da criação de redes de protecção especialmente dirigidas a mulheres e crianças. 5. Que no Brasil o fenómeno do Tráfico de Seres Humanos começou a ser estudado há 10 anos, verificando-se hoje que é um país de origem, trânsito e de destino e cujas causas são de natureza diversa. 6. Que em Cabo Verde o fenómeno já se faz sentir, nomeadamente, através da entrada de pessoas oriundas da sub -região, para fins de exploração laboral e outros. Face ao problema, as autoridades locais têm adoptado medidas legislativas, administrativas e práticas, bem como mecanismos preventivos sobre a matéria. 7. Que Moçambique dispõe de um quadro legal e institucional, e conta com programas de protecção às vítimas. Além disso, tem vindo a realizar diversas campanhas de informação e sensibilização. 8. Que Portugal tem vindo a implementar ao longo dos últimos anos, uma estratégia contra o tráfico de seres humanos fundada num conjunto alargado de medidas de natureza legislativa, administrativa e prática, com vista a prevenir e combater o
3 problema de forma integrada e a proteger eficazmente as suas vítimas. 9. Que em São Tomé e Príncipe a percepção do fenómeno é, ainda, incipiente, devendo ser adoptadas medidas preventivas nesta matéria. 10. Que existem lacunas legais no que tange à regulamentação da extracção de órgãos e à sua comercialização. 11. Que a complexidade do crime de tráfico de seres humanos justifica que os países desenvolvam mecanismos específicos, transversais e comuns de combate a este tipo de crime. 12. Que na sua generalidade, os ordenamentos jurídicos nacionais punem os comportamentos associados ao crime de tráfico de seres humanos, quer por via da aplicação de sanções às acções típicas punidas autonomamente, quer por via das sanções que derivam de crimes conexos. Contudo, falta adoptar legislação atinente à protecção das vítimas e das testemunhas, identificar as instituições responsáveis pelo acompanhamento das políticas de prevenção e combate ao fenómeno, bem como os meios que devem ser colocados ao seu dispor. 13. Que nas legislações nacionais de alguns países não se encontra ainda definida a componente preventiva do crime de
4 tráfico de seres humanos para os fins específicos da exploração laboral. 14. Que no âmbito da cooperação não existe um quadro de recolha de dados e metodologias comuns de troca de dados para fins estatísticos. 15. Que existe a necessidade de estabelecer um quadro de cooperação forte, quer no que respeita à futura aproximação das distintas legislações nesta matéria, quer no que toca à concepção de metodologias comuns de recolha e intercâmbio de dados para fins estatísticos, quer, ainda, no que respeita à criação de projectos formativos comuns. Assim, Tendo em conta a finalidade específica que presidiu à instituição da CMJCPLP, de promover uma reflexão alargada, sobre as relações bilaterais e multilaterais a estabelecer entre os seus Membros, nos domínios da Justiça, na perspectiva de uma cooperação cada vez mais ampla e efectiva. Tendo presente o objectivo e o mandato conferido à Comissão sobre Tráfico de Seres Humanos criada em 2010, no âmbito da realização da XII CMJCPLP.
5 E com base nas presentes conclusões, os Estados Membros da CPLP, reunidos na Comissão sobre o Tráfico de Seres Humanos da Conferência dos Ministros da Justiça dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CMJCPLP), subscrevem as seguintes Recomendações: RECOMENDAÇÕES 1. O tráfico de seres humanos deve constituir uma preocupação mútua para a Comunidade de países da CPLP, devendo as partes promover o debate sistemático sobre o tema. 2. No quadro das políticas públicas a desenvolver a curto prazo em cada país, deve ser sublinhada a importância do combate ao tráfico e a necessidade de todos se dotarem de um quadro legislativo, administrativo e prático a fim de reforçar o combate institucional a este fenómeno. 3. Dada a importância da sua criminalização, o tráfico de seres humanos deve ser contemplado em todas as legislações nacionais como uma infracção penal específica, definida nos termos previstos no artigo 3º do Protocolo de Palermo, por forma a facilitar a cooperação judiciária e policial entre os diversos países.
6 4. Tendo em conta que a maioria dos países ainda não dispõe de mecanismos específicos internos e transversais de combate ao tráfico de seres humanos, devem os mesmos ser adoptados, com base na partilha de experiência adquirida pelos países cuja legislação avançou mais nesta matéria, designadamente, através da partilha da experiência brasileira e portuguesa adquirida ao longo da última década. 5. A fim de suprimir as lacunas existentes em matéria de extracção de órgãos e respectiva criminalização, reitera-se a recomendação de alinhamento das legislações nacionais com a definição de tráfico de seres humanos constante no artigo 3.º do Protocolo de Palermo, que abrange a punição dos comportamentos típicos do tráfico para fins de extracção de orgãos. 6. Deve ser estabelecida, como uma prioridade, a criação de estruturas e metodologias compatíveis de recolha e de intercâmbio de dados e informações pertinentes sobre o tráfico de seres humanos. 7. Devem ser aprofundadas as medidas de protecção e de apoio às vítimas e às testemunhas em processo penal, designadamente através da implementação das medidas legislativas, administrativas ou práticas necessárias a assegurar às vítimas de tráfico de pessoas a protecção preconizada no artigo 6.º do Protocolo de Palermo.
7 8. Nas questões relacionadas com o tráfico de seres humanos para fins de exploração laboral, os países devem identificar e partilhar as suas melhores práticas e experiências relativamente à forma como compatibilizam as Convenções da OIT com o Protocolo de Palermo, bem como as medidas preventivas adoptadas nessa matéria, nos seus países. 9. Devem ser desenvolvidos planos de formações regulares para as entidades e agentes que actuam na luta contra o tráfico de seres de humanos. 10. Os países devem investir na cooperação internacional, na formação para reforço das capacidades das instituições, assim como na troca de boas práticas e na partilha de projectos pedagógicos.
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