Vivências do acadêmico do curso de letras em busca de compreensões da sequenciação nas falas dos adolescentes
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- Octavio Carrilho Sabrosa
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1 Vivências do acadêmico do curso de letras em busca de compreensões da sequenciação nas falas dos adolescentes Cristina Maria de Oliveira 1 Resumo: Neste artigo, registramos parte do estudo desenvolvido com os acadêmicos do curso de Letras. Nosso discurso dialoga com concepções da Análise do Discurso para descrever e analisar o processo de orientação dos projetos de iniciação científica criados pelos acadêmicos. Objetivamos construir desafios aos futuros profesores para que compreendam a contribuição da pesquisa à construção do conhecimento sobre a fala e à formação docente. Palavras-chave: sequenciação da fala identidade - análise do discurso formação de professores de língua - pesquisa Abstract: In this article, we recorded part of the study carried out among the students of Languages. Our speech dialogues with conceptions of Discourse Analysis to describe and analyze the orientation process of beginning research projects created by students. We aim to build the future challenges for teachers to understand the contribution of research to develop knowledge on speech and teacher training. Keywords: speech sequencing - identity discouse analysis - language teacher s formation - research Introdução No processo de formação dos graduandos de licenciatura em Letras, desenvolvemse estudos que desafiam à análise e discussão sobre o interacionismo discursivo que constitui e reproduz o discurso, articulando concepções de sociedade, cognição e discurso em diferentes manifestações e situações culturais. Na disciplina de Análise do Desempenho Linguístico articulado ao Discurso, propõem-se atividades de iniciação científica que objetivam alcançar uma reflexão analítica e crítica sobre a linguagem como fenômeno psicológico, educacional, social, histórico cultural, político e ideológico. No decorrer dessas atividades, investigam-se diferentes contextos interculturais e tem-se também o compromisso de reflexionar sobre o discurso na escola, com adolescentes e jovens. Os graduandos de Letras vivenciam conversação, buscando significância no processo interativo em sua história de vida escolar, no contato com discursos acadêmicos e com atos discursivos nos diferentes espaços sociais. Os estudantes são desafiados a serem autores discursivos e não repetidores. 1 Profª Draª Em Ciência da Educação / Metodologia do Ensino da Língua e de Literatura Curso de Letras /FACOS - letras@facos.edu.br 119
2 Ao analisarem esses múltiplos discursos dos espaços sociais do cotidiano, percebem, por exemplo, que algumas das diferenças de sonoridade ou de vocabulário dos falantes recebem a classificação sócio-discriminativa de incompetência de fala, o que contritribui para apagar marcas de autoria nos discursos. Surgem, então, entre outras, questões reflexivas sobre: que identidade cultural está presente nas diferentes falas? que relações de poder se estabelecem na interação entre falantes? que marcas discursivas denotam a intencionalidade e a compreensão do discurso? a escola contribui na construção da autonomia e da autoria discursiva ou exige a reprodução dos discursos socialmente aceitos?. Tais questões são discutidas em aula; nesse processo, os acadêmicos interagem e estudam diferentes enfoques teóricos da Análise do Discurso: Teorias Crítica da AD, Discurso e Argumentação, Ideologia do Discurso, Marcadores Discursivos, etc. No presente documento, apresentamos um breve comentário sobre os projetos de iniciação científica que os acadêmicos do sexto semestre do curso de Letras/FACOS RS estão desenvolvendo. Os dados são coletados em diferentes espaços sociais, não necessariamente com adolescentes nesta etapa do projeto, mas que, posteriormente, quando professores, os acadêmicos possam valer-se deste conhecimento para interagirem com seus alunos da educação básica. O estudo da argumentação na organização dos projetos: No decorrer das aulas do curso de graduação, desenvolvem-se reflexões sobre situações sociais de preconceitos (raciais, por opção sexual, por escolhas profissionais, por necessidades biológicas, por condições financeiras, etc.), manifestadas nos discursos dos cidadãos. São levantadas questões que envolvem os seguintes enfoques: - discurso e desevolvimento cognitivo; - discurso e elementos linguísticos; -discurso e representações sociais; - discurso e interação cooperativa; 120
3 - discurso e interação polêmica. Para desenvolver a proposta, partiu-se de um exercício da relação argumentativa (Plantin, 1998). Para o autor, a argumentação, permite-nos parafrasear o discurso, enunciando que tal discurso: Motiva, legitima, defende, fundamenta... Permite crer, dizer, pensar que... Apoia, implica... Causa, explica, prova, demonstra... Apresenta-se como uma boa razão para admitir, crer... Enuncia-se com a intenção de fazer aceitar, agir, dizer... Essas etapas orientam o acadêmico na organização de sua fala sobre a e na identificação dos argumentos utilizados nos discursos observados (falas políticas, documentários, depoimentos de entrevistados, etc.) Na etapa conclusiva, Plantin (1998) sugere o uso de um conector para sintetizar e recontar o ouvido; por exemplo: por conseguinte, assim pois, dessa forma.../ posto que, porque, pois..., o que acaba por conectar um argumento de autoria do falante/ escritor. A argumentação, em um sentido mais amplo, marca como funciona a rede, interconecta os enunciados.. Seguindo-se os estudos, analisa-se a argumentação, apresentando diferentes teorias: - argumentação como atividade linguística e atividade de pensamento; -argumentação língua/discurso (pela propriedade semântica das frases; no contexto da prática da linguagem fala e pela organização do discurso) -argumentação estudada numa situação dialógica, analisando em debates e conversações as interações verbais; -argmentação do ponto de vista monológico como todo discurso que apresenta a situação, enfoca o interlocutor/passa adiante...; da garantias/crenças ou e resume/ conclui; 121
4 -crítica no estudo da argumentação: a eficácia da argumentação; o que assegura a conversação, situações discursivas formais e não formais... Destaca-se, neste estudo, que a argumentação é um recurso discursivo para quem quer chegar a um consenso de opiniões e que também permite transparecer o conflito de opiniões. Linguagem como organização e movimento social Os acadêmicos produzem projetos de iniciação científica ao estudarem as diferentes manifestações discursivas; escolhem um enfoque discursivo que se concretiza em um gênero textual a partir do qual também constroem algumas questões orientadores para análise. Observemos: Discurso, sonoridade e identidade social O enfoque da identidade social destacou-se no projeto, em que os acadêmicos projetaram estudar marcas que identificassem a cultura dos portugueses, ainda presente em falas de moradores do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Esse espaço geossocial teve, durante longos anos, uma influência marcante da cultura açoriana; no entanto, agora, esses traços culturais tendem a se esvair através do processo de urbanização com características globalizadas, ou, como criticamente poderíamos destacar, massificadas. Diferentes leituras foram desenvolvidas, entre essas Grice. Na etapa atual do estudo do grupo de acadêmicos, fizeram um delineamento para estudo destacar a sonoridade da consoante r, em falas espontâneas sobre o jeito de viver aprendido com seus familiares e buscam aportes em fonologia. Discurso e memória Os acadêmicos envolvidos nos estudos do Resgate da Infância através da Memória dos Idosos recuparam alguns discursos para crianças da década de cinquenta (de 1950), consideradas histórias orais ouvidas por crianças, e que hoje são discursos perdidos entre o público infantil. O resgate dessas falas age como tomada de 122
5 consciência da identidade através do discurso. Estudam que o discurso apresenta marcas do meio e quem foi constituído; pode revelar a identidade do enunciador e de sua interação no espaço social. Fundamentam parte de seu estudo com aproximações a Marcuschi, nas questões de fala, e a Fairclough, na análise crítica do discurso. Discurso nas relações de trabalho e estudo A relação de trabalho e estudo está sendo analisada em um projeto denominado As dificuldades de ser trabalhador e estudante, em que os acadêmicos analisam discursos de estudantes trabalhadores. A partir das entrevistas realizadas, estudam os princípios de implicitude e de pressuposição em diferentes autores, entre eles Levinson e Ducrot. Compreensões Discursivas na ação leitura Será que a escola básica tem se preocupado com a argumentação no decorrer do processo de leitura? Essa é uma das questões em que os acadêmicos analisam a leitura e argumento de ler entre alunos do 5º ano do Ensino Fundamental. Consideram que a escolha da leitura envolve uma decisão pessoal e que conflitos podem se estabelecer no diálogo construído no decorrer da leitura, considerada como ação dialógica e, por isso, interativa. Nesta etapa do projeto, os aportes teóricos aportam a Charaudeau (2008); e em Contos populares para crianças da América latina, de A.A.Rocha tem sido os textos oferecidos para leitura; o grupo de acadêmicos optou por estes contos, também objetivando resgatar contos fantásticos e fantasmagóricos que permeiam o imaginário literário. Esta decisão implica uma análise crítica da realidade escolar, em que, a partir do quinto ano, o lúdico, o emotivo e o criativo são pouco contemplados na ação pedagógica. Interações discursivas com recursos de tecnologia Neste estudo, os acadêmicos analisam quais artifícios que os publicitários se valem para instigar e persuadir o público alvo da propaganda televisiva. Buscam 123
6 compreender que elementos linguísticos e imagísticos constituem a força persuasiva das propagandas e seus marcadores argumentativos. Os estudantes iniciaram a revisão da literatura pela leitura da arte retórica de Aristóteles; eles objetivam compreender como é elaborado esse tipo de discurso e por que convence o público. Intencionalidade no discurso Político Ao analisarem as marcas de intencionalidade em discursos políticos, os acadêmicos estão destacando, através da compreensão da articulação textual e intertextual dos segmentos de discursos políticos como ocorre o domínio discursivo e as relações de poder discursivo. Analisam discursos de candidatos ao cargo de Presidente do Brasil, em entrevistas gravadas na campanha eleitoral de Estudam a conectividade, a existência de marcas de subordinação e a intencionalidade articuladas à interdiscursividade. Na etapa atual de seus estudam já destacam a relevância de uma análise discursiva para a compreensão da própria gramaticalidade do texto (entrevista televisiva). Entre outros, referem aportes a Fairclough, a Dijk, a Neves e a Bechara.. Entre outros estudos, os referidos anteriormente envolvem os acadêmicos em um processo interativo de estudos de iniciação científica que prevê a análise de produções do entorno social e, em especial, da produção de cada acadêmico para desafiar a auto-percepção do desempenho lingüístico como falante, como leitor e como escritor, bem como do falante, do leitor e do escritor em outras etapas de escolaridade. A avaliação desta etapa Conforme já referido, a proposta está em desenvolvimento no segundo semestre do corrente ano letivo. Este desafio de aprendizagem inclui um processo avaliativo interativo, o qual compreende acompanhamento permanente do professor, do grupo de acadêmicos diretamente em seu projeto e através da socialização das etapas para s demais colegas que cursam a disciplina; o planejamento também prevê a socialização dos estudos aos demais acadêmicos do curso e a produção de um 124
7 ensaio final a ser disponibilizado na revista eletrônica do curso. A primeira socialização, interna na instituição já ocorreu como parte da I Mostra Integrada de Iniciação Científica, em que cada grupo comunicou o projeto e a etapa de estudos com muito sucesso. Assim, podemos avaliar que a proposta alcança o objetivo de tomada de consciência do efeito discursivo de procedimentos interacionistas em diferentes manifestações culturais nos diferentes cenários sociais. Esta disciplina do curso de Letras propõe análise do desempenho linguístico na produção escrita e oral, promovendo estudos que articulem especificidades das variedades linguísticas com textualização, gramaticalidade, discurso e cognição, numa reflexão analítica e crítica sobre a linguagem como fenômeno psicológico, educacional, social, histórico cultural, político e ideológico. Os acadêmicos, através da escolha do desenvolvimento de diferentes projetos, estudam enfoques de diferentes teorias de Análise do Discurso e outras. Consideramos que este procedimento pedagógico seja um valioso desafio à formação de um profissional crítico e reflexivo, conforme o previsto no PPC do curso. Referências BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da linguagem. SP: Hucitec, BECHARA, E. Moderna Gramática de Língua Portuguesa Revista e Reformulada. RJ: Lucerna, 2001 CHARAUDEAU, P. A linguagem como interação, competência social em / Linguagem e Discurso. /,1983 (1992, 1997,2004) DIJK, T.A. Ideología una aproximación multidisciplinária. Barcelona: Gedisa, DOOLEY, R; LEVINSOHN, S.H. linguísitca. RJ: Vozes, Análise do Discurso conceitos básicos em DUCROT, O. Princípios de Semântica: Linguística: dizer não dizer. SP: Cultrix, FAIRCLOUGH, N. Critical Discourse Analysis. London and New York: Longman, 1995 (1985, 1992). FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade. SP: Martins Fontes, GREGOLIN, M.R. Foulcault e Pêcheux na análise do discurso diálogos & duelos. SP: Claraluz, GRICE,H.P. Lógica e conversação. Em DASCAL (org.), Fundamentos metodológicos da lingüística: pragmática.sp: Mercado de Letras,
8 MAINGUENEAU, D. Novas tendências em análise do discurso. Campinas: Ed. Campinas/Pontes, 1993, MARCUSCHI, L.A. Letramento e oralidade no contexto das práticas sociais e eventos comunicativos. Em I. SIGNORINI (org), Investigando a relação oral/escrita. SP: Mercado de Letras, MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (orgs.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, PLANTIN, C. Argumentação no discurso. Barcelona/ES: Gedisa, NEVES, M. H. Moura. Gramática de Usos. SP: UNESO,
Orientadora: Profª Drª Telma Ferraz Leal. 1 Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE.
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