PROCESSO: ( ) - LOCALIDADE: São Paulo

Transcrição

1 Usucapião - condomínio edilício - unidade autônoma inexistente. EMENTA NÃO OFICIAL. Usucapião - condomínio edilício - a parte de unidade autônoma. Tratando-se de pretensão que envolve unidade autônoma em condomínio edilício, toda e qualquer alteração de área comum e privativa deve ser objeto de procedimento que vise alterar a especificação do condomínio. PROCESSO 1ª VRPSP DATA JULGAMENTO: 04/10/2011 DATA DOE: 28/10/2011 PROCESSO: ( ) - LOCALIDADE: São Paulo Cartório: 3º Oficial de Registro de Imóveis da Capital Relator: Carlos Henrique André Lisboa íntegra: Processo ( ) - Usucapião - Registro de Imóveis - Eliza Barnabé Molina e outros Vistos. ELIZA BARNABÉ MOLINA, JOSÉ ANTONIO MANSANO, GINA BERNARDI MANSANO, JOYLSON ANTONIO MANSANO e JAIRO DE JESUS MANSANO, qualificados nos autos, ajuizaram ação de usucapião constitucional urbana referente ao imóvel localizado na Rua Capitão Alberto Mendes Jr., 158, Água Fria, nesta Capital. Alegaram que estão na posse mansa e pacífica do imóvel, para fins de moradia, desde o ano de Afirmaram que sua posse, sem qualquer oposição, preenche os requisitos do art. 183 da Constituição Federal para a aquisição do domínio pela forma da usucapião. A inicial foi instruída com procuração e documentos (fls. 10/44).

2 Sobrevieram informes cartorários (fls. 46/63). Por meio da r. decisão de fls. 68, Gina, Nívea e Maria Angela foram excluídas do pólo ativo (fls. 257). Foram feitas as citações e cientificações necessárias (fls. 103, 168/177 e 219). A União, o Estado e a Municipalidade de São Paulo foram cientificados e informaram não ter interesse na demanda (fls. 89, 108 e 112/113), assim como o membro ministerial (fls. 66). Tito Lívio de Camargo Bicudo e Áurea de Oliveira e Silva Bicudo concordaram com pedido desde que respeitada sua propriedade e resguardada a área comum do condomínio (fls. 92/94). Em virtude da morte da autora Eliza (fls. 99), seu espólio foi incluído no pólo ativo (fls. 109). Foi publicado edital para citação dos réus certos não encontrados e de terceiros eventualmente interessados (fls. 229, 231 e 232), apesar dos informes obtidos junto à Delegacia da Receita Federal e ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (fls. 118/121 e 124/132). Nomeado curador especial para a defesa dos réus certos citados por edital, foi apresentada contestação (fls. 246/247). Alegou o curador, em preliminar, que a citação ficta é nula, porquanto não foram esgotados todos os meios possíveis para a citação dos réus. No mérito, contestou por negativa geral. A preliminar sustentada pelo curador foi afastada (fls. 254) É o relatório.

3 Decido. O caso é de extinção em razão da impossibilidade jurídica do pedido. Os autores requereram a usucapião de metade ideal do imóvel situado na Rua Capitão Alberto Mendes Júnior, 158, Água Fria, nesta Capital. De acordo com a informação prestada pelo Oficial do 3º RI, "de conformidade com o requerimento de fls , fora solicitada a averbação à margem da transcrição nº , desta Serventia, da constituição e especificação em condomínio dos prédios situados na Rua Piquete, atual Rua Capitão Alberto Mendes Júnior, esquina com a Rua Florinéia, tendo nesta última os números 30-A e 30-C, nos moldes do antigo regulamento que dirigia a matéria, de conformidade com o Decreto Federal nº 5.481, de 25 de julho de 1928". "Nesse mesmo requerimento fora consignado que o citado edifício seria constituído de duas residências, uma sob o nº 30-C, localizada no pavimento térreo e a outra sob o nº. 30-A, situada no pavimento superior ou 1º andar, ambas faceando para a Rua Florinéa". "Diante do requerido, foram atendidos os pedidos objetivando a regularização do citado edifício, conforme se constata das averbações realizadas sob os nº(s) 05, 06 e 07, à margem da transcrição nº , já apontada". (...) "Dessa forma, a constituição e especificação do referido edifício foram inteiramente concretizadas" (fls. 48/49).

4 Ainda de acordo com a informação prestada pelo 3º RI, o imóvel pleiteado nesta demanda corresponde a um porão pertencente à residência térrea sob o nº 266, objeto da transcrição º do 3º RI (fls. 48/52). Assim, os autores objetivam o reconhecimento da propriedade de parte do imóvel transcrito sob o nº no 3º RI. No entanto, em se tratando de pretensão cujo objeto envolve unidade autônoma em condomínio edilício, toda e qualquer alteração de área comum e privativa deve ser objeto de procedimento que vise alterar a especificação do condomínio. Por conseguinte, ainda que se trate de área privativa, qualquer modificação deve ser submetida ao aludido procedimento, cujos trâmites são previstos na respectiva convenção condominial. Deste modo, não podem os autores pretender usucapir parte de uma das unidades autônomas no caso, o porão, uma vez que a transcrição nº reflete a descrição contida na especificação condominial. Diz-se, pois, que a averbação da especificação condominial é antecedente ao próprio registro da unidade autônoma e a partir dela são praticados os demais atos registrários. Da mesma forma que não é possível a usucapião de um cômodo de um apartamento, vedada também se mostra a usucapião do porão da unidade 30-C. Mesmo que a posse seja exercida em porção determinada do bem, a procedência do pedido geraria a necessidade de abertura de nova matrícula, com o conseqüente desrespeito da especificação de condomínio. No caso em exame, a usucapião pretendida pela parte autora somente seria viável se alterada a especificação condominial. Em comentário ao art do Código Civil, Francisco Eduardo Loureiro faz as seguintes observações:

5 "O caput do artigo atesta a natureza jurídica do condomínio edilício, que mescla propriedade individual e comum formando uma unidade orgânica e indissolúvel. Não se cogita unidade autônoma sem fração ideal nas coisas comuns, nem vice-versa. O 1º explicita a conseqüência de tal conceito, vedando a alienação ou gravame da unidade sem a correspondente fração ideal, ou o inverso" (in "Código Civil Comentado/ Cézar Peluso (coord.)", Ed. Manole, 2007, p ). Dessa forma, chancelar a alienação do porão (fls. 27) que é exatamente o que se busca por meio desta ação infringiria norma cogente reguladora do condomínio edilício. Do modo como foi requerida, inviável a pretensão. Diante do exposto, julgo extinto o feito, sem resolução de mérito, com fundamento no art. 267, VI, do Código de Processo Civil. Custas pelos autores. Levando em conta o trabalho efetuado, arbitro os honorários do curador especial em R$ 280,00. Transitada em julgado, expeça-se certidão. Oportunamente, arquivem-se. P.R.I. São Paulo, 04 de outubro de Carlos Henrique André Lisboa Juiz de Direito