TREPANAÇÃO EM CÃO COM ASPERGILOSE NASAL RELATO DE CASO
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- Manuella Madeira Santarém
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1 1 TREPANAÇÃO EM CÃO COM ASPERGILOSE NASAL RELATO DE CASO GUILHERME FERNANDO DE CAMPOS¹, REBECA BACCHI-VILLANOVA 2, RODRIGO NUNES 1, SABRINA MARIN RODIGHERI 3, ANDRÉ JAYR CASAGRANDE 1, KARYNA IZABEL HARTMANN 1 1 Médico Veterinário Autônomo 2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal - PUCPR 3 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Cirurgia Veterinária FCAV-UNESP/Jaboticabal Resumo A aspergilose sinonasal é caracterizada pela infecção da cavidade nasal e do sino frontal por grandes colônias de hifas fúngicas. Seu diagnóstico geralmente é tardio o que dificulta o tratamento. Foi atendido um paciente da espécie canina com histórico de aspergilose sinonasal e epistaxe bilateral. Após o insucesso com a terapia antifúngica oral, optou-se pela realização da trepanação combinada com lavagem tópica com clotrimazol. Devido ao diagnóstico tardio o tratamento não foi eficaz, demonstrando a importância do diagnóstico precoce. Palavras chaves: Aspergillus; sinonasal; trepanação; cão. TREPANATION WITH NASAL ASPERGILLOSIS IN A DOG - CASE REPORT Abstract The sinonasal aspergillosis is characterized by infection of the nasal cavity and the front bell of large colonies of fungal hyphae. The diagnosis is usually late making it difficult to treat. A patient history canine species of sinonasal aspergillosis and bilateral epistaxis was granted. After failure with oral therapy, it was decided to carry out the trepanning combined with topical wash using an antifungal solution. Due to late diagnosis treatment was not effective, demonstrating the importance of early diagnosis. Key words: aspergillus; sinonasal; trepanation; dog. 2326
2 2 Introdução A aspergilose nasal é uma doença relativamente comum em cães onde há a infecção por Aspergillus spp. (Benitah, 2006). É a segunda causa mais comum de descarga nasal crônica em cães, após a neoplasia nasal. A aspergilose sinonasal geralmente permanece confinada a cavidade nasal ou aos seios paranasais, onde causa marcante destruição dos turbinados. (Harkin, 2003). Quanto mais rápido for o diagnóstico e o início do tratamento, melhores os resultados e a resolução da infecção (Garcia et. al., 2001). O presente relato de caso apresenta um caso de aspergilose sinonasal em que foi realizada a trepanação associada a lavagem com clotrimazol. Relato de Caso Foi atendido um cão de 4 anos, macho, sem raça definida (SRD), porte médio, não castrado, com histórico de perda de peso, apatia, dispneia inspiratória, espirros e epistaxe na narina esquerda com evolução progressiva há nove meses, sendo que há um mês o sangramento estava ocorrendo em ambas as narinas. Rinoscopia prévia detectou rinite atrófica sugestiva de infecção fúngica, porém a cultura para fungos foi negativa. O paciente já havia recebido antibiótico sistêmico e atualmente fazia uso do itraconazol há 40 dias. No exame físico o paciente apresentava intensa dispneia inspiratória, ofegância, epistaxe bilateral, sensibilidade na região das narinas, despigmentação e ulceração do espelho nasal. Hemograma e análises de creatinina e alanina aminotransferase não apresentaram alterações. Recomendouse manter itraconazol (8,3 mg/kg/vo/sid) e associar com amoxicilina + ácido clavulânico (20 mg/kg/vo/bid). Após 10 dias houve melhora significativa dos sinais clínicos. No entanto com a suspensão do antibiótico os espirros e a dispneia voltaram. Foi prescrito prednisona (0,5 mg/kg/vo/bid) por 20 dias com redução gradual da dose. Em 2327
3 3 virtude da resposta insatisfatória ao tratamento, o paciente foi submetido a trepanação combinada com lavagem com clotrimazol 1%, 50 ml em cada narina, durante uma hora. Também foi utilizada uma pomada a base de clotrimazol nos seios nasais. No pós-operatório foi realizado bandagem compreensiva para minimizar o enfisema subcutâneo. Foi mantida terapia antibiótica e introduzido fluconazol (5 mg/kg) uma vez por semana, durante 8 semanas em substituição ao itraconazol. Os sinais clínicos persistiram de forma mais discreta, porém após 2 meses da trepanação, o paciente estava apático, com retorno do quadro de dispneia intensa e com indisposição para realizar pequenos esforços físicos. Foi indicado nova lavagem com clotrimazol 1%, porém devido a redução da qualidade da vida do cão e do prognóstico reservado, o responsável optou pela eutanásia. Discussão Cães com qualquer idade podem apresentar aspergilose nasal (Hawkins, 2014), porém a literatura relata maior predisposição em cães com um a sete anos, cães do sexo masculino e raças dolicocefálicas (MacPhail, 2013; Rodrigues et. al., 2011), corroborando com o caso do presente relato. Os sinais clássicos são intensa descarga nasal mucopurulenta ou serosanguinolenta. A secreção nasal é inicialmente unilateral, mas pode progredir para bilateral devido à destruição do septo nasal. Espirros, ulceração e despigmentação das narinas, desconforto facial e osteomielite dos seios paranasais também podem ser observados (Hawkins, 2014; Zonderland et al., 2002). Geralmente a forma nasal ocorre sem doenças imunossupressoras ou malignidades concomitantes (MacPhail, 2013). Todos estes sinais foram observados no paciente relatado, o que permite definir diagnóstico presuntivo de aspergilose nasal, mesmo que a cultura fúngica e o exame histopatológico foram 2328
4 4 negativos para o fungo. Tais resultados podem ser oriundos de uma falha na coleta do material dos locais da lesão. MacPhail (2013) descreve sobre a importância de coletar amostras de vários pontos da lesão. O diagnóstico definitivo da aspergilose sinonasal é difícil e geralmente é realizado quando a doença já progrediu, dificultando o sucesso do tratamento (Harkin, 2003). Devido ao diagnóstico tardio da doença, o paciente já apresentava lesões graves em seios nasais. O tratamento efetivo da doença é comprovadamente difícil. Quanto mais rápido são o diagnóstico e o início do tratamento, melhores os resultados (Garcia et al., 2001). A abordagem terapêutica mais utilizada consiste na remoção cirúrgica dos tecidos onde se encontram as colônias fúngicas, combinada com aplicação tópica e/ou sistêmica das drogas escolhidas (Hawkins, 2014). A administração oral de antifúngicos izóis é eficaz em apenas 43 a 70% dos casos, requerendo meses de tratamento (MacPhail, 2013). Como o paciente não apresentava melhora com a administração do itraconazol, foi optado em realizar a trepanação associado a administração tópica de clotrimazol, em que estudos relatam uma taxa de sucesso de 80 a 90% (MacPhail, 2013). Os principais inconvenientes da técnica são os riscos impostos pela anestesia geral, o desenvolvimento de enfisema subcutâneo e a insatisfação dos proprietários com a aparência física do animal (Stamm, 2002). Com o uso da bandagem compressiva o enfisema subcutâneo foi minimizado. Corrimento nasal leve a moderado pode persistir nesses cães no pós operatório, apesar da melhora dos sinais clínicos (MacPhail, 2013), o que ocorreu neste relato. É provável que a demora do responsável em procurar atendimento veterinário no início dos sinais clínicos pode ter contribuído para o comprometimento nasal avançado. Mesmo utilizando terapia agressiva 2329
5 5 através da trepanação em conjunto com terapia antifúngica tópica e sistêmica, casos refratários podem existir. Casos relatados na literatura (MacPhail, 2013) que foram diagnosticados precocemente, obtiveram resultados satisfatórios. MacPhail (2013) relata que em alguns pacientes, uma única lavagem com clotrimazol é eficaz, mas alguns cães requerem repetição do tratamento. O diagnóstico tardio da doença, o retardo na realização da trepanação e a não repetição da lavagem tópica antifúngica podem ter contribuído o insucesso desse caso. Conclusão A aspergilose sinonasal é um doença crônica que destroi gravemente os seios nasais. Geralmente seu diagnóstico é tardio e há refratariedade à terapia antifúngica sistêmica, devendo a trepanação ser considerada como uma opção de ampliar as chances de cura dos pacientes. Referências 1. BENITAH, N. Canine nasal aspergillosis. Clinical techniques in Small Animal Practice, v. 21, n. 2, p , GARCIA M.E.; CACABALLERO, J.; CRUZADO, M. et. al. The value of the determination of anti-aspergillus IgG in the serodiagnosis of canine aspergillosis: comparision with galactomannan detection. Journal of Veterinay Medicine Series B, v. 48, n.10, p , HARKIN, K.R. Aspergillosis an overview in dogs and cats. Veterinary Medicine, v.98, n.7, p , HAWKINS, E.C. Manifestações clínicas das doenças nasais. In: NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina Interna de Pequenos Animais, 5 ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2014, p MACPHAIL, C.M. Surgery of the Upper Respiratory System. In: FOSSUM, T.W. Small Animal Surgery, 4 ed., Missouri: Elsevier, 2013, cap. 29, p QUINN, P.J.; MARKEY, B.K.; CARTER M.E. et. al. Microbiologia veterinária e doenças infecciosas. Porto Alegre: Artmed, p RODRIGUES, R.; FERREIRO, L.; SPANAMBERG A. et al. Canine sinonasal aspergillosis. Acta Science Veterinary, v.39, n.4, p. 1-6,
6 6 8. STAMM, A. Cirurgia micro-endoscópica d conceitos básicos. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 68, n. 3, p , Zonderland J.L.; STORK C.K.; SAUNDERS J.H. et. Al. Intranasal infusion of enilconazole for treatment of sinonasal aspergillosis in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 22, n.10, p ,
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