A bandeira de ser um novo senador

Transcrição

1 Entrevista por dina magalhães e FÁBIO LIMA Ciro Nogueira revista@cidadeverde.com A bandeira de ser um novo senador O Senador Ciro Nogueira critica o comportamento histórico dos senadores que lhe antecederam e diz que a diferença do seu mandato é ter colocado o Piauí no mapa político das decisões nacionais. O senador Ciro Nogueira Filho é hoje um dos políticos mais influentes do Brasil. Foi deputado federal por quatro mandatos e chegou ao Senado aos 42 anos de idade. Exerce seu primeiro mandato de senador pelo PP, tendo como primeiro suplente o empresário João Claudino Fernandes. foto Sanmya Meneses Ciro tem sido importante articulador do seu partido, em nível nacional, e se destacado em busca de colocações para correligionários no alto escalão do Governo Federal, como a indicação do Diretor Nacional do Denatran, o piauiense Júlio Arcoverde. Ele vem de um núcleo tradicional da política piauiense. É filho de Ciro Nogueira Lima e Eliane e Silva Nogueira Lima. Iniciou sua vida pública como herdeiro de uma família com larga tradição política no Piauí: seu avô paterno, Manoel Nogueira Lima, foi prefeito do DE FEVEREIRO, 2012 REVISTA CIDADE VERDE

2 município de Pedro II, nomeado logo após a Revolução de 1930, e seu pai foi eleito deputado federal por duas vezes, além de outros familiares que ingressaram na política, como sua esposa, a deputada Iracema Portela, herdeira de um sobrenome forte na política piauiense. É também empresário, graduado em Direito pela PUC do Rio de Janeiro, e divide ainda seu tempo entre a política e o time do Ríver Atlético Clube, do qual foi presidente. Acho que o orçamento impositivo pode melhorar o relacionamento do Congresso com o Executivo e apagar essa imagem de subserviência do parlamento. Sua carreira política começou cedo. Filiado ao antigo PFL, sucedeu ao pai como deputado federal, sendo eleito em 1994 e reeleito em No ano 2000 foi candidato a Prefeito de Teresina. Reeleito deputado federal em 2002, deixou o partido ao qual pertencia e ingressou no PP a convite de seu sogro, o médico e político Lucídio Portela. Conquistou um novo mandato de deputado federal em Foi candidato à Presidência da Câmara dos Deputados em E em 2010 chegou ao Senado. Antenado com as novas ferramentas de comunicação, Ciro Nogueira é um entusiasta das tecnologias e faz questão de divulgar sua atuação por meio das mídias sociais da internet. Nesta entrevista exclusiva a Revista Cidade Verde, ele fala de política, sucessão municipal e destaca como tem sido sua atuação. Já apresentou 26 importantes projetos que vão beneficiar idosos, contribuintes, jovens, deficientes e fazer mudanças importantes nos setores de segurança e educação. Apresentou, por exemplo, uma proposta polêmica que estabelece a identificação genética de criminosos condenados por crimes hediondos e violentos. A proposta prevê a criação de um banco nacional de DNA à disposição da justiça para ajudar e tornar mais rápidas as investigações criminais. RCV - Durante a campanha eleitoral o senhor disse que faria um mandato diferente dos senadores que o antecederam. Qual a diferença do seu mandato para o dos seus antecessores? CN - Como é do conhecimento de todos, nos últimos anos o Piauí não esteve presente nas grandes discussões sobre como tirar proveito dos bons ventos da economia brasileira. Isso foi ainda mais nítido, e grave, no Senado, onde o Estado se afastou do Brasil, de Brasília, do governo federal, ficando ausente da partilha de oportunidades a que outros Estados do Nordeste, como Pernambuco, por exemplo, souberam tirar proveito. Fui eleito com a bandeira de ser um novo senador, de atuar de uma maneira nova. E essa forma nova significou, nesses primeiros anos, colocar o Piauí presente no mapa político das decisões. Afinal, foram muitos anos de afastamento, sobretudo no Senado. Por isso, entendi que deveria compensar todos esses anos de ausência. Historicamente, convivemos no Piauí com uma forma de fazer política em que apuradas as urnas, REVISTA CIDADE VERDE 12 DE FEVEREIRO,

3 detentor de um mandato, já se estava quase que automaticamente em campanha para a eleição seguinte. Com isso, a atividade parlamentar se confundia com a de candidato. Nessa primeira etapa de trabalho, fiz 27 proposições no Senado, entre elas, a Bolsa Verde, projeto incorporado pela presidenta Dilma Rousseff dentro do Plano Brasil Sem Miséria, e o Projeto que apresentei de identificação genética para os condenados por crime hediondo o chamado banco de DNA. Todas as acusações que recebemos foi uma forma que encontraram para justificar uma derrota avassaladora nas urnas. RCV - O que o motivou a priorizar infraestrutura, turismo e desenvolvimento sustentável nas suas últimas emendas para o Piauí? CN - Esses setores estão entre os mais carentes de nosso Estado, que tem muito potencial nessas áreas e muito ainda a ser desenvolvido. Mas, para gerar desenvolvimento, são necessários bons projetos, que priorizem nossas riquezas. Temos projetos que contemplam a área de infraestrutura como, por exemplo, o que cria a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) nos municípios de Eliseu Martins e Pavussu. Essa iniciativa tornará possível o escoamento das riquezas geradas no nordeste de forma muito mais econômica que o transporte rodoviário e permitirá que a produção alcance o mercado internacional a custos competitivos. Outro exemplo é a nossa Proposta de Emenda à Constituição (51/2011), que cria o Fundo para a Revitalização Ambiental e o Desenvolvimento Sustentável da Bacia do Parnaíba, umas das nossas maiores riquezas, e que por muitas vezes é esquecido. O novo Fundo terá recursos provenientes de várias fontes, que vão custear programas e projetos de recuperação hidroambiental do Rio Parnaíba e seus afluentes, além de promover o desenvolvimento sustentável da região banhada pelo rio. RCV - Depois de quatro mandatos na Câmara, o senhor foi para o Senado. Essa transição foi como o senhor esperava ou o surpreendeu? Há muitas diferenças? CN - Está sendo uma experiência diferente sim. As duas Casas tem suas semelhanças e suas particularidades. No Senado, o trabalho é muito mais amplo. Além de representar os municípios, participamos de uma grande quantidade de comissões e a demanda de trabalho do senador é muito maior, pois aqui somos apenas 81. Eu diria que no Senado as coisas acontecem mais rapidamente do que na Câmara. Por exemplo, no meu primeiro ano de mandato já tive um projeto aprovado, e que foi enviado àquela Casa. RCV - O senhor chegou ao Senado com 42 anos de idade. Como é sua convivência com os demais senadores, sendo um dos mais jovens do Brasil? CN - É muito gratificante. Temos aqui grandes senadores, com vivência pública e conhecimentos admiráveis. Por outro lado, senadores mais jovens, recém- -chegados e com a vontade de construir, como eu. Essa combinação de juventude com experiência é estimulante ao trabalho legislativo. RCV - O projeto de sua autoria, que cria um banco de DNA de acusados de crimes hediondos gerou polêmica entre alguns juristas, que apontam inconstitucionalidade na proposta. O argumento é que a lei não pode obrigar o suspeito a produzir provas contra si. Como o senhor reage a essas oposições? CN - Esses questionamentos foram levantados durante a discussão da matéria no Senado. O texto aprovado é resultado de uma decisão conjunta do Senado com o Ministério da Justiça, e foi acatado por unanimidade na Comissão de Constituição e Justiça. O projeto que foi para a Câmara é um avanço na legislação criminal, que vai priorizar a defesa da sociedade como um todo. A identificação genética não será uma prova, mas sim um complemento da identificação criminal. No meu entendimento, a discussão sobre a produção de provas contra si não tem como prosperar DE FEVEREIRO, 2012 REVISTA CIDADE VERDE

4 RCV - A bancada piauiense no Congresso Nacional está realmente unida? O que faltava para acontecer essa tão esperada união? CN - Sim, mas temos que reforçar a atuação no que diz respeito ao acompanhamento de matérias importantes, principalmente matérias relativas ao orçamento. Tomarei isso como uma das minhas prioridades este ano. RCV - O senhor tem como desafeto o ex-senador Mão Santa (PSC) que, inclusive, moveu um processo pedindo a cassação do seu mandato. Como o senhor reage às acusações dele? CN - Todas as acusações que recebemos foi uma forma que encontraram para justificar uma derrota avassaladora nas urnas. Juntamos todas as declarações e estas se tornaram ações penais e cíveis na Justiça. Cabe então, à Justiça decidir. RCV - O nome da deputada Margarete Coelho, do seu partido (PP), chegou a ser citada como possível indicação para vice em uma eventual chapa do prefeito Elmano Férrer (PTB) para a reeleição em Teresina. O partido vai mesmo reivindicar a vaga de vice? CN - O partido se orgulha de ter Margarete Coelho como deputada. Seria uma perda para a Assembleia Legislativa do Piauí a sua candidatura, mas essa discussão, e principalmente, essa decisão, ainda não aconteceram. RCV - Qual a expectativa para as eleições municipais em Teresina? CN - Temos uma parceria política e administrativa com o prefeito Elmano Férrer e estamos trabalhando para viabilizar sua reeleição. Acredito na sensibilidade do prefeito em administrar nossa Teresina e considero que ele tenha competência para continuar fazendo um bom trabalho pela capital. Questionamos, pontualmente, e isso foi público, a condução do processo no tocante a algumas alianças. RCV - Em 2009, na eleição para a presidência da Câmara o senhor defendia na campanha independência do Legislativo e igualdade política para os deputados na Casa. Chegou a falar que os deputados não poderiam ser marionetes e criticou o número de medidas provisórias, defendendo um distanciamento do Executivo. Mesmo não sendo mais deputado, o senhor acha que essa situação na Câmara mudou? CN - Acredito que não mudou. O nosso presidente, José Sarney, na abertura dos trabalhos desta legislatura voltou a criticar o excessivo número de Medidas Provisórias, que de certa forma paralisam o Congresso. Isso é verdade. Outra mudança positiva seria a aprovação do projeto que torna o Orçamento Geral da União impositivo. O orçamento autorizativo que temos hoje, mesmo aprovado pelo Congresso, deixa o Executivo livre para fazer os cortes que entender necessários. Acho que o orçamento impositivo pode melhorar o relacionamento do Congresso com o executivo e apagar essa imagem de subserviência do parlamento. RCV - Como o senhor, que já presidiu o River Atlético Clube, avalia a crise atual do futebol piauiense? CN - Vejo com muita tristeza essa atual situação. Enquanto não houver investimento do setor público e do setor privado e, principalmente, o incentivo à profissionalização dos atletas, nada vai mudar. A situação só será diferente quando o torcedor voltar a se sentir motivado a frequentar os estádios. RCV - É possível intervir de alguma forma no sentido de encontrar solução para o caso da Federação de Futebol do Piauí, há 13 meses com comando incerto? CN - Acho que é uma decisão que cabe à Federação. Eu espero que eles tenham bom senso e entrem em acordo para a composição de uma chapa única, que possa juntar as tendências existentes dentro da entidade. RCV - O senhor é usuário assíduo das redes sociais, especialmente do twitter. Os internautas lhe cobram muito? Essa interação já rendeu alguma proposta levada ao Senado? CN - É verdade, sou um twiteiro assíduo. Mesmo antes da campanha para o Senado eu já usava essa ferramenta com bastante frequência. Na minha opinião, as redes sociais são uma forma maravilhosa de prestar contas do meu mandato, além de serem um canal de comunicação que tenho com o Piauí e com todo o Brasil. No meu Twitter, além de informações sobre o meu trabalho como senador,

5 posto e debato diversas notícias de interesse da população. Os internautas cobram bastante e acho isso maravilhoso, pois serve para balizar e aperfeiçoar o meu trabalho. No facebook faço o mesmo, deixando espaço para cada um dar a sua opinião. Recentemente, a pesquisa Político 2.0, me apontou como um dos senadores mais atuantes na internet. Fico feliz por estar acompanhando as mudanças na forma de se fazer política em nosso país. RCV - Durante muitos anos, Iracema Portella foi lembrada apenas como a esposa do político Ciro Nogueira. Como ficou a rotina do casal, com sua esposa sendo agora uma deputada federal? CN - Nossa vida ficou um pouco atribulada. Ela passou a ter uma série de novos compromissos e o tempo em casa ficou reduzido. Graças a Deus, nossas filhas são bastante estudiosas e têm uma boa formação, e isso nos tranquiliza. Além disso, contamos com o apoio de minha mãe, que está sempre por perto. Mas temos que nos desdobrar para estarmos mais com elas e todo nosso tempo livre é da família. RCV - Como o senhor equilibra carreira política com seus empreendimentos no Piauí? CN - Não tem sido fácil. É muito trabalho. Nossas empresas demandam cuidado e atenção. Temos um grupo executivo maravilhoso que tem tido um desempenho muito bom. São pessoas boas e de inteira confiança e graças a isso, fico tranquilo. Me posiciono totalmente a favor da criação do Gurgueia. (...) a divisão seria de fundamental importância para que os recursos possam ser destinados de forma mais igualitária. RCV - Sua opinião sobre temas relevantes para o Piauí: CRIAÇÃO DO ESTADO DO GURGUEIA: CN - Me posiciono totalmente a favor da criação do Gurgueia. Sendo o Piauí um Estado de grande extensão territorial, a divisão seria de fundamental importância para que os recursos possam ser destinados de forma mais igualitária. Essa divisão trará uma administração mais próxima para a região e, assim, o Gurgueia certamente terá a devida valorização do seu potencial gigantesco. Historicamente, nós temos uma discriminação de destinação de investimentos para aquela região. Outro ponto importantíssimo é que essa discussão seja levada à população, às escolas, universidades, entidades de classe para que todos entendam a importância dessa divisão. O Vale do Gurgueia é uma das áreas mais produtivas do Estado, por causa do grande volume de água em seu lençol freático, que permite a agricultura irrigada, principalmente de frutas para exportação. Embora a área onde se pretende criar o novo Estado possua terras férteis, vales úmidos, rios perenes e o maior lençol freático do mundo, não possui energia elétrica capaz de suportar um projeto de 5 mil hectares irrigados, pois o sul do Piauí, onde está, encontra-se abandonado. DIVISÃO DOS ROYALTIES DO PRÉ-SAL: CN - Considero esta uma das proposições mais importantes em tramitação no Congresso e acredito que deva ser uma das prioridades de votação em Esse é um assunto de vital importância para os Estados e que depende da construção de um entendimento entre todas as partes. Para que isso aconteça é preciso que os deputados se mobilizem para colocar a matéria na pauta da Câmara. Sabemos que existe muita polêmica em torno do assunto, mas vamos nos empenhar para aprovar a proposição, de preferência ainda este ano. TRANSPORTES PÚBLICOS NA CAPITAL DO PIAUÍ: CN Considero esse um grande gargalo existente em Teresina. Investir em transporte de massa é essencial para a cidade. Quando falo em transporte não me refiro apenas aos ônibus, mas também aos veículos leves sobre trilhos.