-ÍSIPV PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. ACÓRDÃO uiiji mil um fim mu.,,,...

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1 -ÍSIPV PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA REGISTRADO(A) SOB N ACÓRDÃO uiiji mil um fim mu.,,,... * * Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação n , da Comarca de Campos do Jordão, em que são apelantes HENRIQUE ROXO LOUREIRO e AGRICOBRAZ SOCIEDADE DE EXPANSÃO AGRÍCOLA E COMERCIAL LTDA sendo apelado MINISTÉRIO SÃO PAULO. PUBLICO DO ESTADO DE ACORDAM, em Câmara Reservada ao Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AOS RECURSOS. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores ANTÔNIO CELSO AGUILAR CORTEZ (Presidente sem voto), RENATO NALINI E EDUARDO BRAGA. São Paulo, 04 de novembro de o TORRES DE CARVALHO RELATOR

2 Voton AC-5.714/10 Apelação n ou /1-00 Câmara Reservada ao Meio Ambiente Apte: Henrique Roxo Loureiro Apdo: Ministério Público Origem: I a Vara (Campos do Jordão) - Proc. n 4.198/99 ou 905/99 Juiz: José Cláudio Abrahão Rosa AÇÃO AMBIENTAL. Campos do Jordão. Descansópolis. Margem de rio. Restaurante Gato Gordo. Construção em área de preservação permanente. Dano ambiental. Demolição Cerceamento de defesa. Perícia. A falta de intimação do assistente técnico dos réus para acompanhar a perícia, inobstante violar o art. 431-A do CPC não gera a nulidade da prova. Não houve prejuízo aos réus, que tem acesso livre ao local, questionaram o laudo à exaustão e anexaram as fotos pretendidas. Ausente o prejuízo não cabe a nulidade do ato processual. Cerceamento de defesa afastado Cerceamento de defesa. Alegações finais. O juiz não andou bem em sentenciar o feito sem colher suas alegações finais. Hipótese, no entanto, em que a documentação e a prova pericial permitem a compreensão dos fatos e em que as razões foram longamente expostas nos recursos. Anulação do processo que, sem proveito prático, viria tão somente privilegiar a forma sobre o fundo. Defesa exercida com amplitude. Falha suprida. Alegação de nulidade afastada Responsábilidade. A obrigação de conservação e recomposição atinge o proprietário do imóvel, ainda que não tenha diretamente causado a degradação. Obrigação 'propter rem' e infração permanente. Hipótese em que apenas o proprietário tem a possibilidade de recompor a área protegida Legislação aplicável. LF n" 4.771/65. LF n" 6.766/79. A localização do imóvel em área urbana não dispensa a observância do art. 2 o, 'a', item 1 da LF n 4.771/65 que veda a construção em 30 metros ao longo de cursos d'água. A proteção legal dispensada pelo Código Florestal, por ser mais restritiva, se sobrepõe à disposição do art. 4 o, Dl da LF n 6.766/79, atendendo à finalidade protecionista da norma ambiental Construção. Área de preservação permanente. A área de preservação deve ser conservada, não ocupada. Inviabilidade de manutenção de construção na faixa protegida ao longo do rio. Intervenção que exige prévia autorização dos órgãos competentes a teor do art. 4 o da LF n" 4.771/65. Na falta de apresentação das autorizações, as construções irregularmente erigidas devem ser desfeitas e a área deve ser recuperada. - Procedência. Recurso dos réus desprovido. ARTES GRÁFICAS - TJ

3 Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Apelação n fls A sentença de fls. 504/509, vol. 3 julgou procedente a ação para condenar os réus a (i) desocuparem a área de preservação permanente de trinta metros à margem do Rio Sapucaí-Guaçú, na qual está edificado o Restaurante 'As Alegrias do Gato Gordo', procedendo à demolição de todas as construções dos acessórios e à remoção completa do material dela resultante, no prazo máximo de trinta dias; (ii) se absterem da realização de quaisquer novas construções no local em questão ou em outras áreas de preservação permanente próximas, de domínio público ou particular, sem a devida autorização expressa dos órgãos ambientais; (iii) realizarem a recuperação ambiental do local, mediante a apresentação, em trinta dias, ao DEPRN de projeto de recuperação da área degradada - PRAD, feito por profissional habilitado e a execução em sessenta depois da aprovação do projeto. Para o caso descumprimento das condenações, a multa diária será de um salário mínimo vigente à data do pagamento. Condenou ainda os réus a arcarem com as custas e as despesas processuais. Apelam os réus (fls. 513/550, vol. 3); preliminarmente alegam que (i) o agravo retido merece acolhimento para que seja anulada a perícia e os atos processuais posteriores, pois não foram informados da data e horário da vistoria como prevê o art. 431-A do CPC; (ii) se desacolhidos os termos do agravo retido, a perícia é nula porque o perito não esclareceu qual o tipo de vegetação existente antes das intervenções, não se sabendo se tratava de vegetação permanente; era de suma importância a indicação de quando ocorreu a degradação da área antes da construção e de quando houve a supressão de vegetação permanente, bem como quais as medidas compensatórias a serem adotadas; tais questões são de ordem pública e devido à natureza ambiental da matéria podem ser alegadas depois da contestação; (iii) a sentença é nula por ferir os art. 454, 3 o e 456 do CPC; não houve oportunidade para apresentação de alegações finais em afronta ao contraditório e à ampla defesa positivados no art. 5 o, LV da CF; a inobservância da regra processual causou lhe causou prejuízos diante da complexidade da causa. No mérito dizem que (i) não há prova de que a construção, ARTES GRÁFICAS -TJ

4 Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Apelação n fls. 3 ocorrida há mais de uma década, tivesse causado danos ao meio ambiente; a devastação na área ocorreu muito tempo antes da aquisição do imóvel; para a implantação do empreendimento não houve supressão de vegetação permanente, pois não havia tal vegetação no local; (ii) a sentença está em dissonância com a prova dos autos; a perícia não indicou a demolição do empreendimento; o laudo do IBAMA e do perito sugerem o recuo de 15 metros nos termos da LF n 6.766/79 ao invés de 30 metros; o parecer do Ministério Público não recomenda expressamente a demolição, que por fim trará mais prejuízos ao meio ambiente e à sociedade; (iii) foram tomadas medidas de recomposição e prevenção ambiental. Por se tratar de área urbana, as margens do ribeirão estão ocupadas. As medidas compensatórias são mais eficazes que a demolição para fins de recuperação ambiental. Pedem a reforma da decisão e a improcedência da ação. Apelo tempestivo e preparado (fls. 748, vol. 4). Contrarazões a fls. 554/599, vol. 3. A Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo desprovimento do recurso (fls. 754/756, vol. 4). Os autos foram originariamente distribuídos para a 3 a Câmara de Direito Público, , Rei. Antônio Carlos Malheiros, negaram provimento aos recursos, v.u. (fls. 763/769, vol. 4), declarado a fls. 780/785, vol. 4, ED n /3-01, , acolheram os embargos de declaração para anular o acórdão por falta de intimação dos patronos dos réus para acompanhar o julgamento, v.u. Em os réus apresentaram ao Tribunal uma proposta de recuperação ambiental elaborada em 2006 (fls. 703/733, vol. 4, não aceita pelo autor (fls. 829/833, vol. 4). No julgamento de , a 3 a Câmara de Direito Público, Rei. Antônio Carlos Malheiros, não conheceu do recurso e determinou a remessa dos autos a esta Câmara Especial (fls. 858/861, vol. 4). Em os réus anexaram aos autos laudo técnico sobre os danos ambientais decorrentes da demolição do imóvel (fls. 871/930, vol. 5), impugnado pelo autor a fls. 938/958, vol. 5. É o relatório. ARTES GRÁFICAS-TJ

5 Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Apelação n fls Fatos. Em julho de 1996 o representante do Parque Estadual de Campos do Jordão reclamou à Promotoria de Justiça a ampliação de obras na margem esquerda do rio Capivari-Sapucaí, realizadas pelo restaurante Gato Gordo (fls. 12/13), cujas atividades comerciais foram iniciadas em (fls. 29). A reclamação foi instruída com (i) laudo técnico de danos ambientais elaborado pelo Instituto Florestal da Secretaria do Meio Ambiente em , no qual afirma a instalação do restaurante em área de preservação permanente, com recomendação de interrupção das atividades e recomposição do ambiente (fls. 14/19); (ii) AIA n lavrado em pela Polícia Florestal em desfavor do proprietário do restaurante por suprimir com emprego de enxadões vegetação do tipo gramínea em área de preservação permanente (fls. 23). Em a Prefeitura de Campos do Jordão informou à Promotoria que em vistoria realizada em constatou-se a construção e ampliação do restaurante Gato Gordo a 2 metros e a 6 metros do rio Sapucaí-Guaçu, na margem esquerda (fls. 34/35); em razão disso o proprietário do restaurante recebeu duas notificações, uma em e outra em para regularizar a aprovação da construção em área de preservação permanente (fls. 36/37); o descumprimento levou à lavratura dos autos de infração municipais n 379 e 2077 (fls. 38/39). Em o proprietário do restaurante foi novamente multado pela Polícia Florestal por suprimir vegetação em área de preservação permanente para a construção de um barraco de madeira, AIA n (fls. 41). Em vistoria realizada pelo DEPRN em constatou-se que imóvel está totalmente inserido em área de preservação permanente ou reserva ecológica do rio Sapucaí-Guaçu conforme a LF n 4.771/65 e Resolução CONAMA n 4/85 (fls. 46/47); as afirmações foram ratificadas em , com sugestão do DEPRN de remoção imediata do deck e churrasqueira erigidos em área 'non edificandi' de 15 metros conforme LF n 6.766/79 (fls. 49/50). Em a Prefeitura informou a Promotoria que o empreendimento não possuía planta aprovada, bem como que o projeto sanitário aprovado pela gestão anterior estava em desacordo com as normas vigentes (fls. 27); em o restaurante foi autuado pela ARTES GRÁFICAS-TJ

6 Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Apelação n fls. 5 Polícia Florestal, AIA n por suprimir vegetação em área de preservação permanente (fls. 52). A liminar, concedida em para acolher a sugestão dada pelo DEPRN, bem como para proibir novas construções na faixa de trinta metros do rio Sapucaí-Guaçu (fls. 55), foi suspensa por decisão do juízo com concordância do autor (fls. 98 e verso). (fls. 258, vol. 2): Em o IBAMA vistoriou o imóvel e concluiu 1. As edificações ocupando a faixa *non edificandi' deverão recuar 15 metros, partindo-se do leito sazonal mais elevado. 2. Tão logo efetivado o recuo das edificações, deverá seguidamente ser realizado o plantio com espécies nativas adequadas ao local e o rebatimento dos taludes com plantio de gramíneas. 3. Deverá também ser apresentado um projeto de recuperação ambiental para uma área degradada, localizada na mesma bacia hidrográfica, equivalente a 5 vezes a área de preservação permanente ocupada pelo empreendimento. 4. O projeto de recuperação acima indicado deverá seguir os padrões técnicos delineados para recuperação de áreas degradadas, conforme estabelecido pelos órgãos ambientais que compõem o SISNAMA. Em o DEPRN, nomeado pelo juízo para realizar a perícia com anuência expressa do réu (fls. 290, vol. 2), vistoriou a área onde se situa o restaurante Gato Gordo e concluiu que (fls. 323, vol. 2): A ocupação da área é ilícita e irregular, ferindo a legislação ambiental vigente (LF n 4.771/65) e também a lei de ocupação do solo em área urbana (LF n 6.766/79). Que os proprietários, através da ocupação das faixas de preservação permanente, não evitaram a degradação da vegetação, ocupando a área preocupados somente no embelezamento do ponto comercial, a fim de garantir aos freqüentadores um bem estar através da observação da vegetação superficial, sobrepondo o desrespeito ao meio ambiente, prova esta o desrespeito aos embargos administrativos juntamente com vários autos de infração ambiental. Desta forma, sou do parecer para que se reverta o quadro de degradação; sejam recuadas as edificações em 15 metros, obedecendo a LF n 6.766/79 e seja elaborado um projeto de

7 Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Apelação n fls. 6 recomposição ambiental na área com plantio de espécies arbóreas nativas da região, a fim de garantir em parte a originalidade da vegetação, promovendo a recomposição da mata ciliar, para a preservação e equilíbrio da biota. O assistente do Ministério Público se manifestou a fls. 333/388, vol. 2. Os réus se manifestaram a fls. 392/397, vol. 2 apenas para alegar a nulidade da perícia ante a falta de intimação para acompanharem a vistoria; não contraditaram especificamente as informações constantes do laudo. O perito prestou esclarecimentos e respondeu os quesitos complementares a fls. 452/457, vol. 3, ratificando o laudo anterior e sugerindo como medida compensatória a apresentação de um PRAD - projeto de recuperação de área degradada. Houve concordância do autor (fls. 459, vol. 3) e crítica dos réus, que afirmam a falta de indicação quanto ao momento exato da supressão da vegetação primitiva em área de preservação permanente, pois ao adquirirem o imóvel o local já estava degradado, bem como a falta de sugestão de medidas compensatórias (fls. 460/462, vol. 3). O perito prestou novos esclarecimentos a fls. 467/468, vol. 3 e respondeu às indagações dos réus. 3. Agravo retido. Nulidade da perícia. Preliminares. Os réus se insurgem contra a perícia por três razões (i) não foram comunicados da data e horário da vistoria realizada pelo DEPRN em desrespeito ao art. 431-A do CPC; (ii) o perito não informou quando a mata nativa localizada em área de preservação foi suprimida, pois disso decorreria o afastamento da responsabilidade pela degradação; (iii) o perito não informa medidas de compensação pontuais para fazer frente ao prejuízo ambiental. As alegações não procedem. As regras de processo civil merecem respeito e obediência, não estando os órgãos públicos isentos ao cumprimento da lei. Ao contrário do afirmado pelo perito a fls. 468, vol. 3, item 5, a data e horário de perícia deveriam ter sido informados para que o assistente técnico dos réus pudessem

8 Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Apelação n fls. 7 acompanhá-la nos termos do art. 431-A do CPC. Não se anula ato processual se não houver prejuízo às partes (art. 249, I o do CPC); é o que ocorre na espécie. Os réus afirmam que não puderam opinar sobre a conduta do perito durante a vistoria (fls. 412, vol. 3), nem lhe mostrar material fotográfico que retratasse a vegetação existente antes da aquisição do imóvel (fls. 415, vol. 3). Das afirmações não se antevê o prejuízo. O cerne da perícia era a constatação de edificações em área de preservação permanente; as constatações foram feitas e contra elas não se voltam os réus; o acompanhamento da vistoria pelo assistente dos réus que, diga-se de passagem, não se manifestou tecnicamente contra o laudo, em nada modificaria a realidade observada pelo perito. O fato de haver ou não vegetação nativa em área de preservação permanente quando da aquisição do imóvel é irrelevante para o caso como se verá no decorrer do voto; de qualquer modo os réus anexaram fotos do local de 1942 em diante (fls. 489/499, vol. 3), afastando de vez por todas as alegações de cerceamento de defesa. No mais, não se justificam as afirmações de que o perito não indicou medidas compensatórias. Como se nota a fls. 455, vol. 3, as respostas aos quesitos complementares n 13 e 14 se referem à possibilidade de recuperação ambiental do local desde que seja elaborado um projeto de recuperação de área degradada - PRAD, deixando implícita a necessidade de um estudo técnico específico, bem como aprovação dos órgãos ambientais. O perito não está obrigado a fornecer todas as informações técnico-ambientais para uma efetiva recomposição ambiental; não foi este o objetivo da perícia. Agravo retido e preliminares rejeitados. 4. Sentença. Nulidade. Alegações finais. Cerceamento de defesa. Os réus alegam cerceamento de defesa ante o julgamento da lide sem a concessão de prazo para alegações finais. 0^1

9 Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Apelação n fls. 8 A hipótese não envolve o julgamento antecipado previsto no art. 330 do CPC; após o saneamento da lide, abertura da instrução e produção da prova pericial tem-se tão somente o encerramento da instrução, com ou sem audiência, e a abertura de prazo para alegações finais. O juiz não andou bem em sentenciar o feito sem colher suas alegações finais; mas disso não decorre a anulação do processo. A documentação e a prova pericial permitem a compreensão dos fatos e as razões dos réus foram longamente expostas no recurso. A anulação do processo não traria proveito prático e viria tão somente privilegiar a forma sobre o fundo, atrasando a solução do processo. A defesa foi exercida com amplitude, a falha foi suprida e não vejo razão para retorno à situação anterior. Afasto a preliminar de nulidade. 5. Dano ambiental. Responsabilidade. A LF n 6.938/81 de define 'poluição' (art. 3 o inciso III) como a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente afetem desfavoravelmente a biota e 'poluidor' (inciso IV) a pessoa física ou jurídica responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de poluição ambiental; e institui no art. 14 I o a obrigação, independente da existência de culpa, de reparar os danos causados ao meio ambiente. Os danos decorrem da supressão da cobertura florestal e da prática de atos que impedem sua regeneração, estes de responsabilidade dos réus. A Constituição Federal de 1988, do mesmo modo, determina no art. 225 ser dever do Poder Público e da coletividade defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações e impõe ( 3 o ) o dever de reparar o dano no caso de lesão ao meio ambiente. A Constituição Estadual, art. 194 único, dispõe ser obrigatória a recuperação, pelo responsável, da vegetação adequada nas áreas protegidas e a LE n 9.989/98 de , que dispõe sobre a recomposição da cobertura vegetal no Estado de São Paulo, atri-

10 Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Apelação n fls. 9 bui aos proprietários a obrigação da recomposição florestal em áreas que se caracterizam como de preservação permanente, incluindo as áreas situadas ao longo de cursos d'água e reservatórios d'água naturais ou artificiais, como é o caso dos autos. A obrigação de recompor o meio ambiente tem sólido fundamento constitucional e legal; a obrigação é considerada 'propter rem', a- companha a coisa e é transmitida ao proprietário atual, ainda que não tenha ele sido o causador do dano. A obrigação tem vários fundamentos. Um, de ordem legal, foi visto acima. Outro de ordem prática, uma vez que apenas o proprietário atual pode recompor o meio ambiente, já que dele é o domínio e a posse do bem. Outro mais amplo que ultrapassa a questão legal, bem expresso pelo Desembargador Renato Nalini no caso Ministério Público vs Canagril - Cana Agrícola Ltda, AC n /1-00 (que cuidou da queima da palha da cana-de-açúcar por ocasião da colheita), e que lembra o dever das gerações presentes de preservar o meio ambiente para as gerações futuras. 6. Área de preservação permanente. Perímetro urbano. Pretendem os réus afastar a aplicação do art. 2 o, 'a', item 1 da LF n 4.771/65 que veda a intervenção em 30 metros ao longo dos cursos d'água, sob o argumento de que às áreas urbanas aplica-se o art. 4 o, III da LF n 6.766/79 que prevê a reserva de uma faixa não edificável de 15 metros de cada lado ao longo das águas correntes e dormentes, salvo maiores exigências da legislação específica. Não tem razão, apesar da opinião concordante do IBAMA. Como bem exposto no caso Joaquim das Neves Costa vs Secretário Municipal de Planejamento da Prefeitura Municipal de Bragança Paulista, AC n /0-00, Câmara Reservada ao Meio Ambiente, , Rei. Jacobina Rabello, negaram provimento ao recurso, v.u:

11 Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Apelação n fls. 10 O Código Florestal, Lei n /65, dispõe que se deve observar nas áreas urbanas o que estabelecido no plano diretor e nas leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere o artigo 2 o, parágrafo único, daquele diploma, segundo a alteração advinda da Lei n , de Por isso, o dispositivo, escreve José Roberto Marques, "afasta qualquer dúvida a respeito do entendimento de que em áreas urbanas devem ser preservadas as formas de vegetação existentes nos espaços indicados" (v. "Meio Ambiente Urbano", Forense Universitária, 2005, pág. 171). Acrescentou o doutrinador que o disposto no artigo 4 o da Lei n , de , concernente à reserva de uma faixa 'non aedificandi' de 15 m de cada lado ao longo das águas correntes e dormentes e das faixas de domínio público das rodovias, ferrovias e dutos, "não produz efeitos no que se refere à preservação da faixa marginal dos cursos d'água... haja vista que ressalva o dispositivo 'maiores exigências da legislação específica', remetido o intérprete, então, para o art. 2 o do Código Florestal...que fixa proteção maior" (obra citada, pág. 172). É o que deixa claro também Paulo de Bessa Antunes: "O parágrafo acima mencionado foi plenamente recepcionado pelo artigo 30 da Constituição Federal. O respeito aos limites e princípios estabelecidos pelo Código Florestal deve ser interpretado como a impossibilidade legal de que os municípios tornem mais flexíveis os parâmetros estabelecidos na lei federal" ("Direito Ambiental", Lumen Júris Editora, 9 a edição, 2006, pág. 526). A proteção legal, pois, como definida no parágrafo único acima mencionado, independentemente de se situar a área no perímetro urbano, se mostra impositiva, cabendo ao Poder Público o dever de fiscalização contra quaisquer ocupações irregulares e atividades de depredação do meio ambiente, pena de se mostrar sujeito a ações de responsabilidade por ação ou omissão, tanto quanto os particulares. Assim, afasto a alegação dos réus para manter a submissão da área às regras do Código Florestal, que por serem mais restritivas, atendem à finalidade de maior proteção ao ambiente do entorno dos cursos d'água.

12 Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Apelação n fls Construção. Área de preservação permanente. A invasão da área de preservação permanente é comprovada pela documentação que instrui a petição inicial, pela perícia e pela vistoria do IBAMA conforme detalhado no item 2 acima. A lei veda a ocupação e o uso da área de preservação permanente e as construções não podem lá permanecer. Os réus admitem a instalação do restaurante desde 1990; a construção em área de preservação permanente exige autorização dos órgãos ambientais a teor do art. 4 o da LF n 4.771/65; sem a apresentação dos alvarás, as construções devem ser desfeitas e área deve ser recuperada. Não se admite o desrespeito à legislação ambiental; e a ela devem amoldar-se as atividades exercidas em seu entorno e não o contrário como pretendem os réus. É o respeito ao ambiente em que todos vivemos, inquilinos de um mundo que não é nosso e que devemos entregar aos nossos filhos, e eles aos nossos netos, sempre em melhores condições. A procedência da ação é de rigor, como determinado na sentença. mantida a sentença. O voto é pelo desprovimento do recurso dos réus, TORRES DE CARVALHO Relator