Processo de Aprendizagem em EaD no Ensino Superior

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1 Processo de Aprendizagem em EaD no Ensino Superior Ana Julia Carvalheiro RA: Susana Mieko Thoma RA: CS405 Educação e Tecnologia Prof. Dr. José Valente Armando Universidade Estadual de Campinas RESUMO Com o crescimento das TDIC e o aumento do acesso à Internet, houve também um aumento do número de plataformas focadas no oferecimento de cursos online. O seguinte artigo tem por objetivo analisar a plataforma Coursera, voltada para cursos à distância para nível Superior, buscando entender sua estrutura e metodologia a partir dos curso de Design. Pretende se, com isso, entender e problematizar questões relacionadas à aprendizagem na Internet, como preferência e estilos de aprendizagem, interatividade e interação e as facilidades e dificuldades em relação ao ensino à distância (EaD). Palavras chave: EaD, Aprendizagem, Ensino Superior, TDIC INTRODUÇÃO O ensino à distância (EaD) oferece uma aprendizagem mais flexível que o modelo presencial tradicional por permitir a superação da distância espacial e, muitas vezes, temporal, entre professores e aprendizes (DEPRYCK, 2014), podendo levar a uma nova organização dos processos de aprendizagem. Nos últimos anos, em decorrência do avanço das TDIC e do crescimento do acesso à Internet, houve um aumento significativo do número de plataformas online focadas neste conceito, tornando a ideia de ensino à distância muito atrelada às TDIC. Assim, vídeos de tutoriais, websites colaborativos, blogs e plataformas institucionais de cursos à distância começaram a se tornar fontes de conteúdo ou consulta cada vez mais frequentes entre usuários. Devido a esse crescimento e à variedade de maneiras de disponibilizar conteúdos de ensino na Internet, acreditamos que poderia ser de grande relevância um estudo sobre a aprendizagem à distância por meio das TDIC. Temos interesse, especificamente, em explorar plataformas de cursos à distância para Ensino Superior, pois já estávamos anteriormente pesquisando sobre o assunto e já tivemos contato e experiência com alguns cursos de EaD. Isso nos motivou a querer pesquisar as diferenças e semelhanças entre as plataformas que oferecem cursos à distância, problematizando as suas vantagens e dificuldades, assim como os aspectos que precisariam ser melhorados para tornar a aprendizagem mais eficaz. Decidimos, então, analisar o curso oferecido pela plataforma Coursera. O Coursera é uma empresa de tecnologia educacional com sede Mountain View e fundada por professores de ciência da computação Andrew Ng e Daphne Koller da Universidade de Stanford. Surgiu em 2012 com associação de mais de 17 países nos EUA, e em 2013 com mais de 29 universidades de outros países. Em 2014 a Unicamp começou a fazer parte desse projeto através de dois cursos à distância: Processamento Digital de Sinais e O Empreendedorismo e as Competências do Empreendedor. Atualmente, o Coursera oferece mais de 400 cursos online gratuitos de diversas universidades do mundo, em diferentes idiomas. O

2 curso que escolhemos analisar é Design: Criação de Artefatos na Sociedade (título original: Design: Creation of Artifacts in Society ), organizado pelo Professor Karl T. Ulrich, da Universidade de Pensilvânia. O programa do curso possui duração de 8 semanas e tem por objetivo unir teoria e prática, buscando proporcionar um conhecimento abrangente sobre design através de leituras e trabalhos práticos semanais. A partir da análise de um aluno do ensino superior fazendo o curso oferecido pela plataforma de ensino à distância, buscamos entender melhor as metodologias que é utilizada, obtendo uma compreensão maior sobre os processos de aprendizagem por EaD e os aspectos que ainda poderiam ser explorados para melhorar o ensino. OBJETIVOS Gerais: Analisar um aluno de ensino superior realizando o curso de Design da plataforma Coursera, identificando a estrutura e metodologia do curso e como o aluno se relaciona com esta forma de aprendizagem. A partir disso, buscar compreender como as TDIC se adaptam ao conteúdo, no caso o Design, analisar os processos de aprendizagem por EaD, eficácia, dificuldades e facilidades encontradas pelo aluno. Específicos: 1. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre cursos online e conceitos básicos de design; 2. Analisamos um aluno realizando uma aula online de Design do Coursera ; 3. Vimos o que foi realizado no curso do aluno analisado; 4. Analisamos os dados coletados; 5. Elaboração do relatório com resultados. METODOLOGIA 1. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre cursos online e conceitos básicos de design. Durante a elaboração do projeto fizemos uma pesquisa bibliográfica sobre EaD nos processos de aprendizagem e cursos online, optando por nos aprofundar na pesquisa da plataforma Coursera. Diante das opções de cursos a serem analisados, escolhemos Design: Criação de Artefatos na Sociedade, que estava nas primeiras semanas quando iniciamos a elaboração do projeto. Em seguida, realizamos uma pesquisa sobre os conceitos básicos de design. 2. Analisamos um aluno realizando uma aula online de Design do Coursera. Utilizamos o método de análise quantitativa, já que contamos com a análise de um aluno realizando os exercícios propostos pelo curso e posteriormente fizemos uma entrevista com ele. Acompanhamos presencialmente o aluno Israel Moraes, do 10º semestre do curso superior de Midialogia, durante cerca de 50 minutos enquanto fazia a aula de Design do Coursera. Para não interferir na sua aprendizagem, apenas o observamos de uma certa distância

3 e evitamos interagir ou opinar sobre aquilo que estava sendo feito. O objetivo final do curso consiste na elaboração de um website onde o aluno disponibilizará os todos os seus exercícios, porém o acompanhamento se limitou à realização dos primeiros exercícios propostos, pois não seria possível chegar ao fim das 8 semanas de curso programadas pelo Coursera até a entrega deste artigo. 3. Vimos o que foi realizado no curso do aluno analisado. Vimos os exercícios finalizados pelo aluno, que foram postados no website, e realizamos um questionário em forma de entrevista, abordando as seguintes questões: como são passados os conceitos e que ferramentas se utiliza para isso, estrutura do curso, continuidade, motivações, dificuldades e facilidades em relação a EaD, outras formas de aprendizagem na internet e preferência de estilos de aprendizagem. 4. Analisamos os dados coletados. A partir da análise da aula e dos exercícios propostos, conversamos sobre os pontos mais interessantes e concluímos quais eram as especificidades das metodologias da plataforma, chegando a uma conclusão sobre as dificuldades e facilidades encontradas pelo aprendiz em relação ao EaD. Nesta etapa, também retornamos a alguns textos estudados na disciplina de Educação e Tecnologia (CS405), que nos ajudaram a formar conclusões mais embasadas e consistentes acerca do tema. 5. Elaboração do relatório com resultados. Com base nessa conversa e nas nossas leituras anteriores, estamos elaborando um relatório com os resultados e nossas conclusões. RESULTADOS Foi analisada a experiência de um aluno matriculado no curso à distância de Design, oferecido pela plataforma Coursera. A análise foi feita com um aluno do curso de Midialogia, portanto do ensino superior, já familiarizado com o uso da internet e que pôde compreender sem dificuldades a interface do curso. O curso disponibiliza o material de aula semanalmente, utilizando plataformas de vídeo, leitura e exercício, que devem ser acessados pelo aluno ao longo de cada semana. Quando você acaba de ver um vídeo ou acessa uma leitura, o site marca como lido, recurso que facilita a organização do que já foi visto pelo próprio aluno. O conceito básico de design passado pelo curso é o de que a palavra em inglês design engloba sentidos variados, fazendo com que profissões como fashion design, business design, architectural design e web design, sejam todos considerados Design mesmo que atuem em áreas diferentes. O profissional de design idealiza e dá forma para artefatos que resolvem problemas (Edgar Kaufmann Jr., curator of the industrial design department at MOMA ). Artefatos incluem produtos físicos, serviços, softwares, gráficos, construções, processos e organizações. A proposta de trabalho final do curso é apresentar um website (que deve ser criado logo na primeira aula) contendo todos os exercícios realizadas em cada aula, constituindo um

4 portfolio. Como apresentado logo no início do curso, a linha de aprendizagem utilizada segue o conceito básico do design: ter um problema>encontrar a origem do problema>planejar uma solução>testar a solução> produzir o artefato. Desenho retirado do video explicativo do curso Design: Criação de Artefatos na Sociedade. Para a realização dos exercícios propostos, o aluno inicialmente focou na leitura do material teórico disponibilizado, que consistia em conceitos fundamentais de design. Em seguida assistiu ao vídeo, também de conteúdo teórico, no qual o professor apresentava com uma linguagem informal e acessível os conceitos a serem discutidos na semana, com o auxílio desenhos e produtos que funcionais para facilitarem a compreensão. É interessante notar que em alguns momentos, depois da explicação e de alguma pergunta feita pelo professor, o vídeo tinha uma pausa de cerca de um minuto, feita para o aprendiz refletir sobre o que acabou de ser explicitado e ter tempo para fazer possíveis anotações. Em uma das pausas o aluno fez algumas anotações em um bloco de notas que tinha à mão e nas outras apenas refletiu sobre o que foi dito, sem escrever nada. Todas estas questões fazem parte do conceito: ter um problema > encontrar a origem do problema > planejar uma solução. Depois, para a questão testar uma solução > produzir um artefato, havia ainda o vídeo tutorial, que demonstrava determinadas ferramentas do software online (Weebly) e como utilizá las para realizar o exercício proposto. O aluno parava o vídeo em diversos momentos, para assim poder minimizar a janela do vídeo e tentar aplicar no software aquilo que acabou de assistir. Como ainda não possuia nenhum conhecimento prévio sobre as ferramentas que estavam sendo ensinadas, o aluno interrompeu o vídeo várias vezes para repetir este procedimento, sempre buscando entender por si só, através da prática, aquilo que estava sendo demonstrado no vídeo. Durante a realização do exercício, o problema encontrado foi a desatualização do vídeo em relação à versão do software que o curso disponibilizou para ser utilizado, pois algumas ferramentas que estavam sendo explicadas já eram antigas e inexistentes na versão atual do software. Isso o impossibilitou entender uma parte de um dos exercícios, e por isso acabou deixando o incompleto. O feedback era estabelecido por datas limites de uma semana, depois de postar os exercícios no website você submetia os a análise para notas. Além disso, você tem acesso aos exercícios de outras pessoas e seu processo de auto avaliação poderia ser feito por comparação. O aluno escolheu postar apenas um dos exercícios realizados, pois deixou o outro incompleto devido à mencionada incompatibilidade entre o software usado por ele e a explicação do vídeo tutorial. Vale notar que o feedback, então, funciona apenas para os exercícios que foram

5 terminados com sucesso, sem fornecer um espaço de diálogo aberto o suficiente para os aprendizes exporem suas dificuldades em relação aos exercícios que não conseguem terminar, o que é um problema para a plataforma. O formador apenas visualizava o trabalho, sem haver a possibilidade de tecer nenhum comentário direcionado individualmente ao aluno. A cada categoria de exercício que o aluno realizava ao longo da semana, acumulava uma determinada quantidade de pontos, que variavam de acordo com o nível de dificuldade da tarefa. Porém, o aluno que completa o exercício automaticamente ganha pontos, sem saber se está correto, se tem erros ou mesmo receber sugestões para melhorá lo. Além disso, é importante notar que o fato do aluno realizar o exercício enquanto assiste o tutorial, mesmo que de forma correta, não necessariamente garante que ele aprendeu o conteúdo e consiguiria aplicá lo novamente em outra situação. O único modo de interação era a possibilidade de enviar um perguntando como resolver seu problema, mas optou por não fazê lo por achar que era muito formal, o que ainda não deixa de ser um problema de interface da plafatorma, que deveria facilitar este mecanismo. Ao conversar com o estudante depois do término da aula, ele afirmou que considera que os cursos à distância são uma forma em que se aplicaria um estudo, levando em conta a variedade de temas disponíveis e o fato de ser gratuito. No entanto, por não saber se os seus exercícios estavam corretos e não ter a possibilidade de tirar dúvidas ou pedir sugestões para o orientador, questionou a eficácia da aprendizagem através da plataforma, observando que interpreta o curso mais como uma ferramenta de estudos complementar e para questões pontuais. Também comentou que há uma grande discrepância entre as horas de dedicação exigidas e a falta de retorno por parte da plataforma e do formador, afirmando que não via muita motivação para dedicar tanto tempo ao curso. Por fim, estes fatores se somavam a fatores externos ao online, como a falta de tempo e dificuldade de aliar seu cotidiano aos horários das aulas. CONCLUSÃO Apesar de termos alterado um pouco a nossa ideia inicial por não ter encontrado alguém que chegou a terminar o curso, isso não nos impediu de atingir nosso objetivo principal de uma maneira satisfatória. Acreditamos que foi desenvolvida uma boa análise sobre a plataforma de EaD e a reflexão sobre os cursos à distância se manteve coesa e pertinente. Também foi muito importante ter ouvido uma pessoa matriculada no curso para entender um pouco melhor as dificuldades e facilidades relacionadas à aprendizagem à distância, que pode ser útil para propor uma reflexão maior sobre os problemas que ainda devem ser superados em EaD. De um modo geral, pudemos concluir que, se por um lado os cursos à distância oferecem maior flexibilidade e liberdade, por outro lado ainda exigem uma disciplina muito grande do aluno, que não está acostumado com esse modelo. Vimos também que os problemas muitas vezes estão relacionados à falta de feedback e a falta de um agente de aprendizagem para orientar o aprendiz quanto a possíveis problemas ou mesmo sugestões ao longo da realização das tarefas. Gostaríamos de chamar a atenção para estas conclusões para que sejam futuramente melhoradas ou repensadas na construção das plataformas de EaD, podendo levar ao aprimoramento dos cursos e um aproveitamento melhor por parte dos alunos. Esta falta de feedback e de diálogo entre formadores e alunos, está relacionada aos conceitos de interação e a interatividade. Como pressupõem as teorias da interacionistas, o conhecimento é algo construído pelo sujeito através da interação entre pessoas e objetos. Esta

6 construção do conhecimento está ligada à qualidade da interação feita pelo mediador entre aluno e o objeto de estudo (VALENTE, 2005). No caso da análise do curso de EaD, a qualidade da interação se demonstrou falha, pois não há um diálogo instantâneo e nem espontâneo entre mediador e estudante, e pouco também na relação estudante estudante. Assim, torna se difícil tirar dúvidas e assegurar de maneira eficaz a aprendizagem do conteúdo que está sendo transmitido. Existe por outro lado interatividade, pois a Internet como TDIC tem o potencial de permitir que o usuário influencie sobre o conteúdo e a forma que a comunicação é feita. Porém, da mesma forma que se estrutura o Coursera, grande parte das plataformas de cursos a distância quase sempre repetem a mesma estrutura analisada neste artigo, sendo muito difícil encontrar o usuário como autor do conteúdo ou como articulador do que está sendo passado, além das problemáticas da falta de feedback e mediador. Nesse sentido, esta estrutura de EaD ainda lembra muito a velha dinâmica das aulas presenciais expositivas, onde o aluno deve apenas receber o conteúdo que lhe foi apresentado e os mecanismos de avaliação não representam um diálogo real entre aprendiz e professor. Apenas o que muda nessa estrutura é a Internet, que se utiliza de outras ferramentas, mas parece que os potenciais das ferramentas digitais ainda tem uma utilidade rasa, repetindo os moldes da educação formal. Por fim, através da pesquisa chegamos à conclusão de que uma possível solução para acompanhar o curso é a realização paralela de grupos de estudos presenciais, que podem funcionar como uma forma de incentivar os alunos a manterem um compromisso de horário para se dedicarem ao curso e obterem um feedback coletivo dos outros alunos. Dessa forma, também estimularia nos casos de EaD tanto para ensino superior como ensinos escolares a criação de projetos e práticas de laboratório e grupo, em que pode aliar o uso de TDIC. No entanto, esta medida ainda não substituiria nem solucionaria a ausência de um mediador na orientação da aprendizagem, que é o foco principal da nossa crítica e, do nosso ponto de vista, o maior problema das plataformas de EaD. REFERÊNCIAS: COURSERA. Disponível em: < Acesso em: 31 out DEPRYCK, K. Ensino à distância: O quê, por quê e para quem? Iniciação ao Ensino à distância. Disponível em: < Acesso em: 23 out ULRICH, KARL T. Design: creation of artifacts in society. Published by the University of Pennsylvania. VALENTE, JOSÉ ARMANDO. Concepções de aprendizagem. Depto de Multimeios e Nied Unicamp & Ced PucSP, 2005.

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