A FEIRA DAS TROCAS EM ARACAJU: EXPRESSÕES DA PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO. Sharlene Souza Prata, UFS,
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1 A FEIRA DAS TROCAS EM ARACAJU: EXPRESSÕES DA PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO. Sharlene Souza Prata, UFS,
2 A FEIRA DAS TROCAS EM ARACAJU: EXPRESSÕES DA PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO. Sharlene Souza Prata UFS RESUMO Este trabalho objetiva fazer uma analise do trabalho informal em Aracaju sua precarização e ilicitude. Para tanto, apresentamos os resultados iniciais de uma série de pesquisas que realizamos com os trabalhadores da Feira das trocas situada na capital sergipana no período compreendido entre os anos de A escolha da periodização deve-se ao fato não só dos índices de crescimento que alcançaram a informalidade em Sergipe como também por ser uma etapa marcada de profunda contradição na relação deste setor com o Estado. Isto se mostra evidente quando verificamos que ao mesmo tempo em que o Estado regulariza o espaço desta feira que estava há décadas na clandestinidade, também persegue os trabalhadores que lá se encontram por meio de constantes ataques da polícia e os deixam sem qualquer tipo de segurança ou proteção social. Palavras-chave: Trabalho, informalidade, precarização. 1. Introdução No intento de tentar compreender os novos desdobramentos do mundo trabalho em sua complexidade, o presente estudo objetiva fazer uma analise do processo de precarização do trabalho observando a informalidade na Feira das trocas situada na cidade de Aracaju, no período compreendido entre os anos de 2002 a É importante salientar que esta fase é marcada pelo avanço da informalidade no Brasil e em Sergipe, bem como uma etapa de grande intervenção do Estado no sentido de estimular este mercado. A comprovação de tal premissa é facilmente verificável seja por causa da regularização do local da Feira das Trocas aqui
3 na cidade, ocorrida nos últimos oito anos, ou do avanço de políticas públicas neste sentido. Além disso, convém destacar que a relação que o Estado estabelece com a informalidade é assinalada por contradições, onde ao mesmo tempo em que os trabalhadores são colocados no âmbito da ilicitude (clandestinidade, sem segurança ou proteção social) seu trabalho também é estimulado e garantido por esse mesmo Estado. Pretendemos então, reconstituir a trajetória dos trabalhadores da Feira das Trocas elucidando suas condições de vida e trabalho, revelando como a dinâmica do local e a constante interferência do Estado se manifestou na singularidade do trabalhador que lá se encontra. Para tanto, utilizaremos um referencial bibliográfico que transitam não apenas pela História, como também pela Sociologia e Geografia. Revelaremos também os primeiros resultados de levantamentos da mídia local, impressa e eletrônica, bem como entrevistas e questionários aplicados com os trabalhadores da referida feira. 2. Breve contextualização: 2.1 Sobre o Trabalho Informal O trabalho informal não é um elemento novo no mundo do trabalho. No Brasil, manifestou-se de forma mais clara na transição da sociedade escravocrata para a capitalista. Apesar de conceitualmente esse tipo de trabalho só firmar-se partir da década de 60, a caracterização deste já havia se dado por volta de quando ocorre o processo de formalização do trabalho com a criação das leis do trabalho que garantiam direitos aos trabalhadores. A noção de informalidade era tão-só uma oposição à formalidade, uma vez que o desenvolvimento do capitalismo no Brasil não eliminou as formas e relações de trabalho tipicamente não-capitalistas, apenas elas subordinaram-se ao capital. Na
4 ocasião, o trabalho informal era visto apenas como resultado de uma economia semi-industrializada, um atraso provisório. Entretanto, a informalidade irá ganhar uma nova dimensão nos últimos anos. A crise que o capitalismo enfrenta desde a década de 70 levou a tentativa reestruturação do capital em escala global com o intuito de alcançar os mesmos índices de acumulação e hegemonia no espaço produtivo. Esta fase também ficou também conhecida pelo que Harvey chamou de acumulação flexível 1 e foi igualmente impulsionada pelas novas tecnologias e técnicas de gestão de trabalho. Deste modo, nos anos de 1990 ocorreu uma ruptura na crescente formalização do trabalho no país e no mundo. Consolidou-se a partir de 1994 o avanço da flexibilização das relações de trabalho, surgindo, portanto uma nova classe trabalhadora de trabalho precário, de tempo parcial, temporário, multifuncional, subcontratado, terceirizado e vinculados à economia informal. Essas categorias têm em comum uma regressão dos direitos sociais e ausência de proteção sindical. Dados do DIEESE já apontavam esse fenômeno em Sergipe entre janeiro de 2001 a fevereiro de 2002: o crescimento de demissões de trabalhadores antigos e novas contratações sem carteira assinada e com baixos salários. Foram demissões contra contratações 2. Atualmente apenas 40% dos trabalhadores brasileiros desfrutam de proteções mínimas. Quase 60% vivem em situação próxima da informalidade (NOGUEIRA, 2004). Tais índices aparecem como resultado direto do crescente número de desemprego. Uma alternativa de sobrevivência para quem está sem opção. Em Sergipe os indicadores não são diferentes. O IPEA divulga que 1 HARVEY, David. Do Fordismo a acumulação flexível IN: Condição pós- moderna. São Paulo: Loiola, Dados publicados no Cinform (03 a 09 de junho de 2002).
5 2005 a informalidade em Sergipe atingiu o número de , ou seja, novamente 60% da população economicamente ativa do Estado 3. Segundo Barbosa, a partir da década de 90 o governo irá incentivar a informalidade por meio de políticas públicas, como estratégia de contenção do desemprego. Só em Aracaju despontaram diversos programas de amparo ao trabalhador ligado a esse ramo, são eles: Programa crédito para todos, Projeto pequeno empreendedor, projeto trabalho cidadão, Projeto Cooperar e projeto freguesia, o que acabou fortalecendo o crescimento dessas relações no Estado. 2.2 Sobre a Feira das Trocas A Feira das trocas já percorreu uma extensa trajetória durante algumas décadas até chegar ao estágio atual. Para compreendermos a situação que iremos abordar, faz-se proeminente esclarecer que o quadro de ilegitimidade na Feira das trocas é agravado por outro fator: o local é constantemente foco de troca e venda de produtos de origem duvidosa, que seriam supostamente frutos de roubos e furtos. Essas e outras circunstâncias deixou a Feira a mercê de frequentes investidas policiais impulsionando-os a clandestinidade total, sem qualquer autorização para funcionamento, condenando-os a se retirarem sempre dos locais onde se instalavam. Para termos um exemplo, somente no período compreendido entre os meses de março a junho de 2002 a Feira foi obrigada a mudar-se por três vezes. A Feira das trocas encontra-se hoje situada em um terreno baldio da periferia Aracajuana que foi concedido em caráter provisório pelo governo, há sete anos. 3
6 A despeito do que comumente a feira possa estar associada quanto a sua ilegitimidade, ela é socialmente aceita, tendo muitas vezes apoio de populares ao sofrer ofensivas do poder policial. 3. O conceito de Informalidade Assim sendo, tentaremos apreender as metamorfoses do mundo trabalho em sua complexidade, nos apoiando na utilização da categoria informalidade, dada por Malaguti, em detrimento do conceito de setor informal, pois, consideramos este bastante restrito para dar conta das novas dimensões da informalidade. A abordagem dualista que setorializa o trabalho formal e o informal mostram-se insuficientes face à necessidade de compreender a nova padronização do mercado. Consideramos estes indissociáveis visto que as práticas cotidianas se interpenetram e condicionam, uma vez que, muitas vezes existe formalidade no setor informal e informalidade na formalidade. Não existe espaço para segmentações ou dicotomias: sejam elas setoriais ou categoriais. A clara impossibilidade de separação dos processos sociais deve levar a análises críticas que questionem a parte e o todo sob um prisma único e integrado: sistêmico. (MALAGUTI, 2000:105). 4. Trabalhadores da Feira das Trocas: uma realidade marcada pelo conflito com o Estado. Podemos então verificar que o mercado ilegal (trabalho irregular, sem garantias, precário) vem assumindo proporções gigantescas em razão dos novos desdobramentos do mundo do trabalho. Observaremos deste modo a experiência do trabalhador informal na feira das trocas perante a um Estado controverso. Não irei me deter sobre a condição dos trabalhadores quanto ao fato de desenvolverem uma atividade mais ou menos ilícita que outros na informalidade, ou, se seus produtos são ou não resultado de roubos, contrabando e etc. O Grau de ilegalidade não influência
7 o estudo que desenvolvemos, tampouco nos conceitos que fizemos uso. Salientamos também que falar da realidade desses trabalhadores não é uma tarefa fácil. Apresentam comportamento distintos. Muitas delas são originárias de outros estados do país. Algumas delas já acompanham a feira há muito anos, mas conforme seus relatos, o aumento do número de feirantes deu-se de forma mais intensa nos últimos anos. Os motivos apontados por eles para o ingresso na informalidade sugerem o desemprego e a profissão instável como principais fatores. Junto ao crescimento da feira ocorreu também um avanço na ocorrência de blitz policiais, as chamadas batidas que na maioria dos casos aparece lá sobre o pretexto de ausência da comprovação na origem dos produtos que lá se encontram. Os trabalhadores tiveram que aprender a conviver com essa realidade, mas não a aceitam. Sentem-se lesados, pois muitas vezes precisam entregar suas mercadorias acarretando em prejuízo financeiro para eles. O que é mais chocante nesse tipo de ocupação é que, apesar de não haver controle sobre as atividades que esses feirantes desempenham, a necessidade financeira causada pelos baixos rendimentos impulsionam as pessoas a trabalharem ali até 12h todos os dias, num ambiente altamente insalubre. Essa não é uma ocasião isolada, e sim majoritária. A constatação de que a renda extraída daquela atividade é à base do sustento familiar talvez explique essa conjuntura. Torna-se evidente então que a concessão do Estado em deixar os trabalhadores naquele terreno veio acompanhada de um controle coercitivo muito mais forte e não de melhorias ou garantias de quaisquer direitos sociais. Tudo isso transformou o exercício dessa atividade em algo mais inconstante, fragilizando de forma mais drástica as condições de trabalho e de vida deste setor.
8 Permanecem deste modo latente as contradições que permeiam o Estado e os trabalhadores informais desta feira, tendo em vista a forte pressão policial presente nesse comércio. Então, resta-nos responder ainda alguns questionamentos: o poder público tem ou não intensão na manutenção desse tipo de feira? Se não, por que o Estado não opta pela retirada daqueles trabalhadores do mencionado local determinando pelo fechamento da feira? 5- Considerações finais Partindo da abordagem exposta, concluímos que o trabalho informal colabora estrategicamente para sustentação do chamado exército de reserva de trabalho 4, além de servir como uma alternativa de sobrevivência para quem foi afastado da formalidade. Sendo assim, não há interesse do Estado em definir a linha entre o que é legal e o que é ilegal, pois este trabalho contribui para refrear uma parcela da população que estaria desempregada, não acarretando com isso nenhum ônus para o Estado com pagamento de benefícios trabalhistas. Tudo isso não impede de afirmarmos que exista uma informalidade mais aceita que outra e que receba mais incentivos, destoando desta que tomamos como objeto de estudo. Todavia todas elas estão regidas pela mesma lógica e são impulsionadas a permanecerem flexíveis, adaptando-se as mais diversas mutações do mercado de trabalho. 4 - A existência de uma reserva de força de trabalho desempregada e parcialmente empregada é uma característica inerente à sociedade capitalista, criada e reproduzida diretamente pela própria acumulação do capital a que Marx chamou de exército de reserva de trabalho. Bottomore, Tom. Dicionário do pensamento marxista, RJ: Zahar, p. 144.
9 7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho?: Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho, 2ª ed. São Paulo: Cortez, Riqueza e miséria do trabalho no Brasil- São Paulo: Boitempo, A classe-que-vive-do-trabalho: a forma de ser da classe trabalhadora hoje. IN: Os Sentidos do Trabalho. Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 5ª ed. São Paulo: Boitempo, (org.) A dialética do trabalho. São Paulo: expressão popular, p. BARBOSA, Ivan Fontes. Politicas públicas e informalidade na grande Aracaju f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Núcleo de Pós-graduação em Ciências Sociais, Próreitoria de Pós-graduação e Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe. Documento sergipano. COSTA, José Eloízio. Os sub-centros de Aracaju IN: O ambiente urbano: visões geográficas de Aracaju-Hélio Mário de Araújo (org.). São Cristóvão: Departamento de Geografia da UFS, HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loiola, HOBSBAWN, Eric. Mundos do trabalho: novos estudos sobre a historiografia operária. Trad.: Waldea Barcellos e Sandra Bedran. Rio de Janeiro: Paz e terra, MALAGUTI, M. L. Crítica a Razão Informal: A imaterialidade do salariado. Espírito Santo: Boitempo, MÉSZÁROS, I. O Desafio e o fardo do Tempo Histórico. São Paulo: Boitempo Editora, 2007.
10 MORAIS, Maria de Lourdes Silva. Mercado informal - uma alternativa a crise do emprego? Analise do setor em Aracaju f. Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) - Departamento de Economia, Centro de Ciências Sociais e Aplicadas, Universidade Federal de Sergipe. Documento sergipano. NOGUEIRA, Claudia Mazzei. O trabalho Duplicado: a divisão sexual no trabalho e na reprodução: um estudo das trabalhadoras do telemarketing. 1ª Ed. São Paulo: Expressão Popular, PASSOS SUBRINHO, Josué Modesto dos. A Transição do Trabalho Escravo para o Trabalho Livre no Nordeste Açucareiro. Tese de doutorado. Campinas, mimeo, ROMÃO, Frederico Lisboa. Na trama da história: o movimento operário de Sergipe 1871 a Aracaju, TAVARES, Maria Augusta. Os fios Invisíveis da Produção Capitalista Informalidade e Precarização do Trabalho. São Paulo: Cortez Editora, THOMPSON, Edward. A formação da classe operária inglesa. 2ª ed. Paz e Terra, FONTES : Jornais: CINFORM (25 a 31 de março de 2002) (15 a 21 de abril de 2002) (03 a 09 de junho de 2002) (24 a 30 de junho de 2002) Orais (4 entrevistas)
11 8- Referências eletrônicas: +da+batida+na+feira+das+trocas+desativa+bancas+e+apreende+ve iculos.html A+MILITAR+CONTABILIZA+OPERACAO+NA+FEIRA+DAS +TROCAS.html e
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