II Seminário Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010
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- Marco Antônio Ribas Beretta
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1 O EMPREGO DA TECNOLOGIA DE COMUNICAÇÃO DIGITAL NAS PRÁTICAS EDUCATIVAS E O DESENVOLVIMENTO DE UM ESPÍRITO PLANETÁRIO NECESSÁRIO A EDUCAÇÃO DO SÉCULO XXI DAL MOLIN, Beatriz Helena 1 (UNIOESTE) FIALHO, Francisco Antonio Pereira 2 (UFSC) RESUMO: Este artigo refere-se às infinitas possibilidades que o emprego da tecnologia de comunicação digital faculta para o desenvolvimento de atividades, programas, interatividade e participação solidárias no cotidiano do fazer pedagógico nas escolas brasileiras, independentemente do nível, grau ou modalidade de ensino, nos quais seja empregada. Enfoca também alguns pontos do Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI, coordenado por Jacques Delors, que estabelece os quatro pilares da educação contemporânea também tratados na obra de Edgar Morin Os Sete Saberes Necessários a Educação do Futuro. Aponta a tecnologia digital como um dos atores coadjuvantes para um processo de educação solidária, na qual os princípios da sustentabilidade do planeta, da convivência solidária entre os seres humanos, podem ser amplamente divulgados, e consequentemente, melhor sentidos, compartilhados e, de fato, vividos entre os homens, não somente como seres pertencentes a uma ou outra comunidade, mas como seres planetários que somos. Refere-se ainda ao necessário espírito de boa convivência, respeito e fraternidade que deve difundido e vivenciado cotidianamente por todos os homens. Ocupa-se ainda de relatar algumas metodologias que podem ser empregadas no cotidiano do fazer pedagógico, nas quais a tecnologia pode estar presente como mais dos atores do processo educativo que ruma para o desenvolvimento de um espírito planetário necessário a educação do século XXI. PALAVRAS-CHAVE: Educação; tecnologia; espírito planetário; saberes. 1- Introdução: a educação para o século XXI Ensinemos nossos filhos venerar o mundo e a Consciência que o ilumina. Façamo-los perceber concretamente o caráter sagrado, mágico, da vida: esse inimaginável emaranhado de todas as formas e de todas as histórias possíveis que se originam infinitamente no espaço unitário da consciência. É o fim único da educação, tornar a consciência humana consciente dela mesma e de sua disposição fundamental: sua expansão onidirecional, sua liberdade, seu amor por todas as formas e por todos os seres. É para essa 1 Pos-doutoranda do Programa de Engenharia e Gestão do Conhecimento, área de concentração Mídia e Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Pertencente ao grupo de Pesquisa Científica em Educação a Distância PECEAD/CNPq. Editora da Revista Travessias, e membro do grupo de Pesquisa em Educação Cultura e Linguagens /PECLA/UNIOESTE.. Professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE. Editora da Revista Travessias, e membro do Grupo de Pesquisa em Educação Cultura e Linguagens /PECLA/UNIOESTE. 2 Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina ( UFSC).
2 educação que devem contribuir os pais, os professores, os curadores de museus, os artistas, os filósofos, os empreendedores, os cidadãos, os governos, a Internet, nós todos, aqui, agora. Eis que chegam as crianças do terceiro milênio! LÉVY (2001, p.155) As palavras de Pierre Lévy que emolduram esta reflexão nos levam realmente a repensar qual seria a consciência que ilumina este nosso mundo e como fazer para que no cotidiano das atividades educativas sejam trabalhados valores e sentidos, para a que a natureza planetária seja melhor percebida e,vivenciada cotidianamente. É comum que cada ser humano dispense à sua família, à sua comunidade, à sua cidade, ao seu país uma parte de sua atenção. Também é comum que cada qual cumpra deveres e assuma responsabilidades, mas, cabe ao fazer educativo apresentar meios e formas para trabalhar uma consciência planetária que seja capaz de formar homens que tenham ideais de respeito para com o homem, com a natureza, com o planeta. Urge que trabalhemos a percepção do emaranhado de todas as formas e de todas as histórias possíveis e como educadores desenvolver práticas que promovam um processo capaz de levar os educandos a tornar a consciência humana consciente dela mesma e de sua disposição fundamental: sua expansão onidirecional, sua liberdade, seu amor por todas as formas e por todos os seres, como diz Pierre Lévy. Isso pode acontecer quando colocarmos como prioridade a aprendência, que aponta para um processo de estar em contínuo estado de aprendizagem e, neste processo, quem ensina aprende e quem aprende ensina, portanto, aprendência é dar ao ato de aprender uma importância de equivalência ao ato de ensinar, indicando nossa continua necessidade de estar em estado de aprender sempre diante da vida e do que ela apresenta. 2- A tessitura para uma educação planetária Para trabalhar nos moldes de uma educação para o século XXI, muitos educadores de todas as partes do mundo formaram a Comissão Internacional para tratar da Educação para o século XXI, e, para tanto desenvolveram estudos e trabalhos entre os anos 1993 e A partir dos estudos desta comissão. a Organização das Nações Unidas para a
3 Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), elaborou o Relatório Jacques Delors (RJD) que foi publicado no Brasil, no ano de 2000 sob o título de Educação um tesouro a descobrir. Tal relatório representa a síntese do pensamento educacional oficial da humanidade para o final de milênio, uma vez que foi engendrado e lançado sob a égide do órgão máximo responsável pelo setor educacional no planeta. Segundo o Relatório Delors, a educação necessária ao século XXI, poderia ser sintetizada em um de seus parágrafos: Para poder dar respostas ao conjunto de suas missões, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer isto é adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. É claro que estas quatro vias do saber constituem apenas uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de contato, de relacionamento e de permuta. (RJD). Diferentemente da maioria dos documentos da Organização das Nações Unidas (ONU), que mantém posições que se pode chamar de neutras, o relatório Delors, embora considerado generalista, deixa clara sua escolha por uma concepção pedagógica, que foge do padrão predominante da razão cartesiana, apontando para o movimento dialético da historicidade. Ele o faz quando opta por tornar os educandos sujeitos de seu próprio processo educativo e de seu devir. Para que os estudantes aprendam a viver junto,s aprendam a conhecer, aprendam a fazer e aprendam a ser, existem procedimentos, ações e dispositivos que ajudam sua concretização e desenvolvimento. Importa colocar o conhecimento e a ciência a favor de objetivos de integração, paz e convivência humanitária, de modo que, todos possam compreender o valor de cada gesto humano, no contexto geral. Resumidamente nos referiremos a cada um dos quatro pilares, associando-os ao fazer pedagógico cotidiano permeado pelo emprego da tecnologia digital, como mais um dos atores deste outro modo de educar.
4 Sob esta nova ótica aprender a fazer deve tornar o processo mais significativo do que o resultado em si, o que difere fortemente do que ainda se considera nas escolas, ou seja, apenas os resultados. Com o emprego da tecnologia de comunicação digital é possível que o educador acompanhe todo o processo de seus estudantes, suas tentativas de acerto, as impropriedades cometidas, as dificuldades que encontrou no meio do caminho e por fim, analise criteriosamente e com mais dados, o resultado que pode ou não ser definitivo ou, oferecer novos desdobramentos. Temos ao longo de nossos estudos e pesquisas, acompanhado de perto o processo de produção de objetos de ensino-aprendizagem, originados a partir dos problemas levantados pelos estudantes. Tais objetos procuraram apresentar informações e conhecimentos, que dessem conta do que havia sido levantado como problemática não apenas individual, mas do contexto que originava os objetos em elaboração. Outro pilar para a educação do futuro, segundo consta no Relatório Delors e que necessita ser tocado de perto pelo fazer educativo das escolas diz respeito ao aprender a viver junto. Em termos de práxis educativa sempre nos perguntamos que procedimentos seriam eficazes de propiciar uma forma de educação mais abrangente e voltada ao espírito planetário? Certamente uma educação que leve em conta a totalidade dos seres humanos e não apenas um de seus componentes, aprimorando a compreensão do outro, do diverso, do diferente e ao mesmo tempo enfatizando a percepção das interdependências. Nada mais propício para fazer esta práxis do que empregar programas digitais que estabeleçam conexões com estudantes de outro estado, e de muitos outros países com os quais nossos estudantes poderão dialogar, conhecer, perceber e respeitar outras culturas. Também podem estender convites para a realização de projetos que visem o bem comum, criando comunidades virtuais de aprendizagem nas quais todos aprendam também a gerir conflitos e trabalhar com a diversidade, dentro do respeito pelos valores plurais, preparando-se para ampliar o espírito planetário da compreensão mútua e da paz universal. No desenvolvimento ações que enfatizam o aprender a conhecer, deve-se empregar todos os recursos disponíveis nas escolas. Recursos estes que sejam capazes de promover linhas de fuga para levar os educandos a saírem do enquadramento mínimo do que se pode trabalhar na escola. As atividades devem estar voltadas para a importância de trabalhar o
5 conhecimento de modo que seja estabelecida a necessária ligação entre o que se estuda e a cultura geral. Na perspectiva do emprego da tecnologia em sala de aula ela é uma poderosa aliada em mais este aspecto, permitindo que os estudantes estabeleçam comparações entre um mesmo tema em diferentes culturas e perspectivas. A internet e seus programas em rede permitem o contato entre diversas comunidades virtuais de aprendizagem que em diferentes espaços podem discutir um mesmo tema sob olhares comuns e diversificados, apresentando soluções comuns que podem beneficiar a todos os envolvidos no problema ou tema, posto em evidência para as discussões. Importa instaurar nos estudantes o desejo de saber mais, de extrapolar o mínimo trabalhado no tempo de uma aula, levando-os a investigar como é que aquele mesmo conhecimento é passado e vivenciado por outras culturas, por outros povos, por outras nações. Tal comunicação e informação junto as obtida no contato com comunidades locais, estaduais, nacionais e internacionais promoverá trocando informações, idéias e ações com espírito solidário. Em relação ao princípio do aprender a fazer, a escola deveria trabalhar de modo que o conhecimento não estivesse somente ligado ao que se refere à qualificação profissional, mas, sobremaneira a uma dada performance que capacitasse o estudante a se tornar um cidadão apto a dar conta de incontáveis situações que a vida oferece, propiciando, assim que este aprenda a trabalhar de modo solidário e colaborativo, desenvolvendo atividades no âmbito social de modo que a teoria e, as atividades práticas se intercalem, uma nutrindo a outra. Para que este tipo de princípio seja, de fato, desenvolvido em nossas escolas sugere-se que se desenvolvam atividades baseadas em diversas metodologias. A exemplo citamos a metodologia de atividades baseada em problemas (ABP) e, também a aprendizagem por projetos que se originarão das inferências dos próprios estudantes a partir do que eles imaginam como possibilidades para sanarem as dificuldades contextuais diagnosticadas e implicadas na vida da comunidade. A Aprendizagem Baseada em Problemas é uma metodologia que pode ser desenvolvida no cotidiano escolar e pode ser usadas em qualquer disciplina e com alunos de todas as idades, desde ensino fundamental ao superior. Na Europa e nos Estados Unidos, o uso de problemas como ponto de partida para a aprendizagem é adotado principalmente pelas universidades criadas a partir da década de
6 1970. Apontam-se como centros de referências mundiais da metodologia da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) as universidades Maastricht, na Holanda, e Aalborg, na Dinamarca. Em termos de cenário universitário brasileiro ainda encontramos muita resistência, o que nos amina a continuar com mais empenho, ainda. Ainda referindo-nos aos quatros pilares apresentados pelo Relatório Delors, este apresenta o aprender a ser como a via essencial que integra os demais. 3- Considerações finais No contínuo das reflexões que buscam vias e metodologias para unir educação, ciência e tecnologia, para que juntas possam efetivar a construção e disseminação de uma consciência planetária que redunde em um mundo melhor para todos os homens e todas as espécies e esferas do universo, nos empenhamos em desenvolver cada vez mais, metodologias que conduzam a este caminho. Um caminho nada pronto, mas que vai se delineando entre acertos e tentativas de melhorar as performances, com o passar do tempo e das vivencias, em vários âmbitos das atividades educativas. Mudar a fisionomia do modo como ensinamos é tarefa urgente, uma vez que a supremacia do conhecimento segmentado, compartimentado em forma de disciplinas não faculta a realização dos links e vínculos necessários entre as partes e a totalidade. Outra deve ser a feição educativa, de modo que aquela trabalhe o conhecimento seja capaz de apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade e conjunto. Acreditamos em uma forma de educação que desenvolva as capacidades naturais do espírito humano para situar todas as informações em um contexto e um conjunto articulado. Para tanto se faz necessário ensinar métodos que levem ao estabelecimento de relações mútuas, de influências recíprocas entre as partes e o todo, em um mundo complexo de relações facilitadas, tornadas possíveis e potencializadas pelo emprego da tecnologia digital. Cabe ao corpo escolar ajudar a administrar o dilúvio de informações nas quais os estudantes do novo milênio se vêem envoltos. Para tanto se faz necessária uma reforma do pensamento, de modo tal que ele esteja preparado para articular e organizar os conhecimentos, levando os cidadãos a reconhecer e conhecer os problemas não apenas do
7 entorno de cada qual, mas do mundo, tornando evidente o contexto, o global, o multidimensional e complexo. O fazer educativo reinante na maioria das escolas brasileiras ainda não tem uma posição firme e uma metodologia adequadas que trabalhe a compreensão, meio e fim da comunicação humana. No entanto, a tônica da educação do século XXI deve despertar para a importância da compreensão, em todos os níveis educativos e em todas as idades. Para que isto aconteça, torna-se premente a reforma das mentalidades. Somente assim, a educação a ciência e a tecnologia poderão juntas conduzir à antropo-ética, ou seja, enfatizar a condição humana, que é ao mesmo tempo indivíduo/sociedade/espécie. Poderá, ainda, estabelecer a necessária relação de ajuda mútua entre a sociedade e os indivíduos através da democracia, concebendo a Humanidade como comunidade planetária e, deste modo contribuir não somente para a tomada de consciência de nossas cidadanias individuais, mas, igualmente, permitir que esta consciência se traduza em vontade de realizar a cidadania terrena. Referências bibliográficas ASSMANN, Hugo. Competência e sensibilidade solidária: educar para a esperança. Petrópolis: Vozes, Metáforas para Reencantar a Educação; epistemologia e didática. Piracicaba: UNIMEP, Reencantar a Educação: Rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes, 1998 LATOUR, Bruno. A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru: EDUSC, LÉVY, Pierre. A conexão planetária: o mercado, o ciberespaço consciência. São Paulo: Editora 34, MORIN, Edgard. Os sete Saberes Necessários à Educação do Futuro 3. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001.
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