RELACIONES ENTRE ARTE Y SOLIDARIDAD
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- Mateus de Miranda da Rocha
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1 Modalidade: Resumo Expandido GT: Artes Visuais Eixo Temático: Ensinar e aprender Artes Visuais na Educação Formal e Não Formal SOLIDARITY DRAWING : UM IMPULSO PEDAGÓGICO ENTRE ARTE E SOLIDARIEDADE Marcos Vinícius Magalhães (Universidade de Brasília, Brasil) RESUMO: O discurso estruturado no trabalho diz respeito a uma prática pedagógica desenvolvida em uma Unidade de Ensino da rede CNEC, no município de Unaí-MG. A atividade desenvolvida com alunos do Ensino Fundamental buscou estabelecer relações entre o processo artístico e as ações possíveis de solidariedade. O Nepal, reconhecida como uma nação rica em sua cultura e diversidade foi o motivo dos desdobramentos da proposta artística, contudo, os efeitos de uma catástrofe natural na nação asiática, em 2015, foram responsáveis por atrair ações de solidariedade ao redor do mundo. Assim, o presente trabalho buscou compartilhar ações do desenho a partir de um impulso solidário à nação nepalesa. Ao tecer os vínculos entre arte e solidariedade, a aprendizagem por meio das visualidades parece ser primordial. Palavras-chave: Artes Visuais, Educação, Solidariedade, Nepal RELACIONES ENTRE ARTE Y SOLIDARIDAD RESUMEN: El discurso estructurado en el trabajo se refiere a una práctica pedagógica desarrollada en una red de Unidad Docente CNEC en el municipio de Unaí, Minas Gerais, Brasil. La actividad desarrollada con estudiantes de Educación Primaria trató de establecer relaciones entre el proceso artístico y las posibles acciones de solidaridad. Nepal, reconocido como una nación rica en cultura y diversidad fue la razón para la propuesta artística, sin embargo, los efectos de un desastre natural en el país asiático en 2015, fueron los responsables de la atracción de las acciones de solidaridad en todo el mundo. Así, este estudio trata de compartir acciones de la producción con diseño y las acciones de un impulso de apoyo a la nación de Nepal. Para tejer los vínculos entre arte y solidaridad, el aprendizaje con las artes visuales parece ser primordial. Palabras clave: Artes Visuales; Educación; Solidaridad; Nepal 2557
2 As ideias, aqui sistematizadas, foram concebidas em meio às dinâmicas e conversações articuladas nas aulas de Artes Visuais com alunos do Ensino Fundamental, especificamente com os alunos do 5º Ano. Assim, os percursos delineados apontaram para construções enriquecedoras acerca das relações entre os processos artísticos e as ações possíveis de solidariedade. Em meio a esses trânsitos, o impulso inicial aconteceu em primeira pessoa. Como arte/educador e sensibilizado com as questões humanitárias em âmbito nacional e internacional, uma realidade, em particular, chamou a atenção. No dia 25 de abril de 2015 um terremoto, com dimensões catastróficas, atingiu o Nepal. Essa pequena nação asiática, desconhecida por muitos alunos da nossa escola, seria o ponto de partida para o desenvolvimento de uma proposta poética envolvendo arte e solidariedade. Como apresentado, a proposta pedagógica em Artes Visuais foi de encontro à realidade dos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental. No entanto, as dimensões do trabalho desenvolvido tiveram como expectativa a parceria e sensibilidade de todos da escola. É certo que as ações educacionais permeadas por práticas de solidariedade são perspectivas mais que necessárias na sociedade atual, sobretudo quando se reconhece a existência de valores que determinam modos distorcidos de ser e obter. Nesse sentido, como fortalecer processos de incluir, diferir, comunicar, solidarizar e amar, numa humanidade onde também estão em latência as hierarquias, excludências, violências de diferentes ordens e culto a um deus do mercado? (MAGALHÃES, 2007, p. 675). Segundo Solange Magalhães (2007), professora e doutora em educação, se faz necessária uma ação que inspire a educação para o sentimento, sendo este voltado para processos de sensibilização, empatia e humanidade, ademais, que inspire os alunos a construir atitudes que alimentam novas características e perspectivas diante do outro. A solidariedade, vista como uma ação necessária e propulsora de motivações que desfazem a indiferença e turbulência do nosso século, poderá ser concebida como uma enriquecedora perspectiva educacional. A solidariedade relaciona-se com afeto e com uma prática interativa livre que concretiza-se no momento em que o sujeito passa a sentir o que o outro sente. Só assim pode-se aflorar em si um sentimento que o levará a agir, quer generosamente, amorosamente ou solidariamente (MAGALHÃES, 2007, p. 687). Assim, sob tais considerações, de modo a motivar os alunos para a prática solidária, uma realidade específica foi apresentada em meio às aulas de Artes Visuais. É certo que os objetivos sistematizados para a organização das aulas estiveram relacionados ao trabalho específico da instituição escolar, uma vez que valeria o esforço de estabelecer uma pausa nos discursos e diretrizes estabelecidas pelo livro didático. Sob um processo crítico e reflexivo, tais movimentos se fazem necessários na medida em que se estabelecem vínculos e expectativas para além dos pressupostos rígidos e tradicionais dos conhecimentos prontos. Ora, construir um percurso educacional que visa estimular os alunos para um conhecimento concreto e sensível à realidade parece ir ao encontro de uma aprendizagem significativa, sobretudo no tocante ao imediatismo das novas visualidades e construções imagéticas da sociedade contemporânea. Nesse sentido, a partir do estudo de Lopes e Krauss (2010), a visualidade pode ser compreendida como uma forma de representação social, envolvendo discursos provenientes de diferentes contextos e comunidades. Assim, pode ser compreendida como uma 2558
3 perspectiva que contribui para diferentes aprendizagens tendo em vista as relações entre homem e imagem. Ao reconhecer os impulsos pedagógicos que se viabilizam por uma necessidade do educador em arte e também dos seus alunos, Rosa Iavelberg (2003) contribui para a formação e prática do professor de arte. Muitas vezes, o professor é absorvido pelo cotidiano escolar reproduzindo, nas aulas, ideias alheias, as quais encontra em planejamentos prontos ou em livros didáticos que não estimulam a reflexão (IAVELBERG, 2003, p. 55). Desse modo, um processo didático que se abre para as incertezas e dinâmicas da realidade pode ir ao encontro de novos rumos e edificações da educação em arte (EISNER, 2008). De modo evidente, os valores que a sociedade nos impõe sugere sistematizar um processo ensino-aprendizagem que coloque em cheque as consequências das relações permeadas pela indiferença e pelo ego consumista. Assim, atividades pedagógicas que possuem a solidariedade como a força motriz poderão ser essenciais para a formação de cidadãos compromissados e sensíveis com as questões sociais, sobretudo, poderá contribuir para o desenvolvimento de processos reflexivos diante de uma realidade árdua e competitiva. Nessa perspectiva, tais processos foram evidenciados na prática sistematizada com os alunos da educação básica. Como discutido, o ponto de partida para o trabalho foi a realidade de um país distante, cujos reflexos de comoção e afeto reverberaram em nossa sociedade. Bastou ligarmos a televisão, ou talvez, abrirmos as primeiras páginas das revistas para percebemos que, naquele momento, era somente a realidade daquela singela nação asiática que, de fato, importava. O abalo sísmico que atingiu o Nepal, de magnitude de aproximadamente 7,8 na escala Richter, deixou milhares de mortos e feridos. Ocorrida em 25 de abril de 2015, a catástrofe natural que atingiu a nação causou uma mobilização de âmbito internacional. Ainda, nas semanas que se seguiram ao grande terremoto, novos abalos sísmicos foram registrados, gerando medo e preocupação nas pessoas que viviam na região. Os números de desaparecidos e desabrigados se apresentavam de modo cada vez mais alarmante.. Sob tal realidade, uma estratégia pedagógica se fez necessária. Desse modo, como as informações e imagens seriam apresentadas a alunos de 8 a 10 anos? Como apresentar as imagens cujo conteúdo abarcava uma realidade desoladora e cruel? O país, que até então não era conhecido pelas crianças, se revelaria somente a partir dessa perspectiva? Assim, de modo a estabelecer as relações entre arte, cultura e ações de solidariedade, uma dinâmica de trabalho foi estruturada. A proposta foi desenvolvida durante três semanas, tendo em vista uma aula simples (50 minutos) da disciplina de Artes Visuais em cada uma das semanas. Assim, de início, foi apresentada aos alunos a visualidade específica da cultura asiática, imagens estas resgatadas por meio da internet, as quais revelavam o cotidiano e as tradições da população nepalesa. Ao reconhecer tais necessidades, considera-se, aqui, a capacidade das imagens em conectar os alunos à conhecimentos específicos. Segundo Marián López F. Cao, doutora em Belas Artes e professora da Faculdade de Educação da Universidade Complutense de Madrid: A imagem tem a capacidade de nos conectar com o mundo mais próximo, mas também com o distante, com a realidade mais individual, bem como com a mais social. Nessa perspectiva, o esquema educativo aluna/oconteúdo-sociedade pode se articular a partir da imagem ao se trabalhar 2559
4 com a nossa própria imagem, a imagem do mundo que recebemos, e isso permite a articulação de conteúdos humanos, artísticos e técnicos (2010, p. 188). A partir das imagens apresentadas e dos processos de discussão e análise desenvolvidos por meio delas, novas ideias surgiram. A configuração específica daquela cultura, como por exemplo, dos seus templos, construções, vestuários e modos de vida foi o alvo das discussões na sala de aula. Ao reconhecer que aquela realidade simples, porém exótica e exuberante, se tratava de uma respectiva nação, foram reveladas, por meio do discurso verbal, as condições atuais nas quais o Nepal se encontrava. A partir das relações com as imagens, um novo discurso foi estruturado: Vamos, crianças, observar o quão belo são essas imagens, porém, muito do que estamos vendo não existe mais... É certo que, a partir desse novo discurso, uma nova reação dos alunos foi identificada: Por que essa construção não existe? O que houve com essas casas? Eram tão bonitas... Assim, em meio a esses percursos, a realidade dos noticiários veio à tona, revelando olhares mais atentos e ouvidos curiosos às informações que viriam. Por fim, os alunos haviam entendido que o Nepal, situado no continente asiático, embora seja um país rico em sua cultura e diversidade estava precisando de ajuda. Nesse sentido, tais conclusões foram desenvolvidas a partir das contribuições de outra visualidade. Juntamente com essas reflexões, foi apresentada uma produção audiovisual de uma artista da cultura pop, sendo esta conhecida pelos alunos. Embora o vídeo revele certo glamour e produção cinematográfica, ele revela o trabalho social desenvolvido pela ONU (Organização das Nações Unidas) a partir do comprometimento e atuação dos voluntários. Essa específica produção visual e musical é um convite para o envolvimento em ações solidárias, possuindo como essência a frase em inglês I was here (Eu estive aqui). Por meio do jogo entre essas visualidades foi apresentado aos alunos a proposta do trabalho. Como poderíamos, então, desenvolver nossa produção artística a partir do nosso impulso solidário? Assim, os alunos foram convidados a desenvolver um desenho que pudesse revelar a realidade do Nepal. A partir das informações e visualidades, ainda recentes, os alunos desenvolveram seus trabalhos. Desse modo, um outro desafio nos foi apresentado: Como converter nosso trabalho poético em artes visuais em uma ação prática de solidariedade? Comovidos por essa realidade e atravessados pelo comprometimento de seus papéis sociais, as crianças começaram e pensar em ações que poderiam de algum modo, ajudar o povo nepalês. Desse modo foi discutido com os alunos sobre a possibilidade de investir, financeiramente, em instituições que estavam à frente dessas mobilizações. Partiríamos, então, para um processo de conscientização, de modo a incentivar a comunidade de pais, alunos e professores a fazer o mesmo. A produção poética dos alunos ganhou uma nova motivação. Imersos nessas questões, os desenhos foram articulados a partir do desejo de expressar uma realidade mundial, de modo a potencializar ações práticas de solidariedade. O trabalho de mobilização por meio da arte teve por objetivo contribuir com a sociedade independente: Cruz Vermelha Brasileira (CVB), que, em ocasião, estava desenvolvendo uma campanha de ajuda e socorro às vítimas do terremoto no Nepal. Assim, após os diálogos e poéticas desenvolvidas durante as aulas, uma exposição com os trabalhos foi organizada. Durante uma semana os trabalhos foram apresentados, nessa perspectiva, a própria escola foi reconhecida como um espaço específico para a divulgação e partilha dos processos artísticos. Juntamente com os 2560
5 desenhos, um cofre, produzido de forma simbólica, foi apresentado. Nele seriam depositadas as doações e expectativas de ajuda ao Nepal. Desenho de uma aluna Fonte: Arquivo Pessoal Ao compartilhar os processos de trabalho que estávamos desenvolvendo, bem como o impulso gerador na nossa atividade, pôde-se perceber os reflexos dessa ação. Cabe considerar, ainda, que as doações não aconteceram de forma impositiva, antes, elas perpassaram por um processo de identificação dos próprios alunos. Muitos que não conheciam a realidade atual da nação nepalesa acabaram conhecendo-a por meio das sutilezas dos desenhos das crianças. Considera-se, mais uma vez, que a ação solidária aconteceu a partir do diálogo entre arte e realidade. Por fim, após a semana de exposição, o cofre, reconhecido aqui como um objeto artístico e simbólico, foi aberto. A equipe pedagógica, juntamente com os representantes das turmas dos 5º s anos foram os responsáveis por fazer a contagem das doações, para, ao final desse processo, realizar o depósito bancário para a instituição comprometida com o trabalho social no Nepal. Após essa ação, o comprovante do depósito foi apresentado aos alunos ressaltando a importância da presença e participação de todos. Sob um processo de reflexão e identificação, caberia reconhecer que, de algum modo, estávamos vivenciando aquela realidade, por meio da nossa ajuda e lembrança daquele povo. Percebeu-se que as ações entre arte e solidariedade não aconteceram de forma pontual e isolada, no entanto, tais percursos foram evidenciados em outros momentos, sobretudo quando as crianças se deparavam com as novas notícias daquela nação. Ademais, cabe considerar que no processo de problematização da proposta conhecimentos específicos de outras disciplinas se faziam presentes. Os conhecimentos das disciplinas de Inglês e Geografia foram primordiais nessa tarefa. A partir da articulação de tal proposta, observou-se que as especificidades da disciplina de Artes Visuais assumiram uma postura diferenciada de trabalho, revelando trajetórias possíveis de atuação e produção artística. A comunidade de pais e professores havia, naquele momento, reconhecido as novas dimensões que se abrem para o campo da arte e da educação na contemporaneidade. Dimensões estas que concebem o humano a partir do seu caráter criativo e solidário. Como evidenciado, a arte tem muito a acrescentar nos processos de formação e humanização dos sujeitos (EISNER, 2008). Por fim, ressalta-se que os processos poéticos desenvolvidos pelas crianças, embora tenham sido motivados pela lógica da proposta pedagógica, estiveram 2561
6 relacionados às particularidades de cada uma delas. Ora, o desenho infantil pressupõe o reconhecimento de outras relações, nas quais estão em jogo outros tipos de configuração estética e simbólica. Ademais, o desenho infantil é fruto de esforço, trabalho e criação (IAVELBERG, 2013). Certamente que a valorização e o conhecimento teórico do trabalho artístico de crianças se fazem necessários a cada proposição pedagógica. A partir dos esforços e construções sistematizadas, ainda que sob uma perspectiva inicial, o trabalho artístico dos alunos intitulado Solidarity Drawing alcançou outros meios de divulgação, participando da exposição virtual de trabalhos durante as comemorações da Semana Internacional de Educação Artística promovida pela UNESCO, em maio de Assim, as relações estabelecidas não se limitaram às nuances da vida do mundo globalizado, uma vez que ações como essa podem se fazer presentes em atitudes simples da vida cotidiana. Em suma, busca-se o ensejo por desdobramentos que alcancem perspectivas artísticas e solidárias tendo em vista a realidade próxima a cada um de nós. Referências CAO, Marián López F. Lugar do outro na Educação Artística olhar como eixo articulador da experiência: uma proposta didática. In: BARBOSA, Ana Mae (Org.). Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais. 3. Ed. São Paulo: Cortez, p EISNER, Elliot W.. O que pode a educação aprender das artes sobre a prática da educação?. Currículo sem Fronteiras, v.8, n. 2, p. 5-17, jul./dez IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores. Porto Alegre: Artmed, Desenho na educação infantil. São Paulo: Melhoramentos (Coleção Como Eu Ensino). LOPES, Marcelo Silvio; KRAUSS, Regina. O sujeito e a visualidade: parábolas do olhar contemporâneo. Visualidades, Goiânia, GO, v.8, n. 2, p , jul./dez MAGALHÃES, Solange M. O.. A arte de educar para a solidariedade: uma proposta para a educação do sentimento. Fragmentos de cultura, Goiânia, GO, v. 17, n. 7/8, p , jul./ago Marcos Vinícius Silva Magalhães Mestre em Arte Contemporânea pelo Programa de Pós-graduação em Arte - UnB, integrante da linha de pesquisa em Educação em Artes Visuais. Possui estudos e trabalhos acadêmicos voltados para o contexto da educação especial e hospitalar. Atualmente é professor da Rede CNEC, no município de Unaí, MG
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