O Colapso do Aço na NIS
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- Sebastiana Álvaro Amaral
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1 ÁREA DE OPERAÇÕES INDUSTRIAIS 2 Gerência Setorial 3 O Colapso do Aço na NIS 1- Introdução Os países que compunham a antiga União Soviética, atualmente reunidos na NIS - Novos Países Independentes, são palco de significantes mudanças políticas que impactam sobremaneira a indústria siderúrgica na região. Este Informe Setorial foi elaborado com base na análise das informações obtidas junto à OCDE - Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, através da participação da delegação brasileira na 50ª Reunião do Comitê do Aço, realizada em junho passado em Paris - França. A situação do setor siderúrgico na área da NIS, conforme apresentado no referido encontro, é crítica, considerando, principalmente, o colapso dos mercados internos e os graves problemas financeiros das empresas produtoras de aço. 2-Mercado Siderúrgico na NIS A capacidade de produção de aço bruto na área da NIS é apresentada a seguir. Capacidade de Produção de Aço Bruto na NIS -1994/96 Milhões de t República Rússia 81,0 74,7 55,8 55,8 Cazaquistão 6,5 4,0 Bielorússia 1,2 1,2 Moldóvia 0,7 1,0 Uzbequistão 2,0 2,0 Geórgia 1,8 1,8 Azerbaijão 0,8 0,8 Total 149,8 141,3 Apesar do nível da capacidade de aço ser superior a 140 milhões de t/ano, a produção efetiva nestes países vem se reduzindo, tendo atingido 77,6 milhões de t em 1996, representando apenas 55% da capacidade instalada.
2 Produção de Aço Bruto da NIS 1992/96 Mil t República Rússia Cazaquistão Bielorússia Moldóvia Uzbequistão Geórgia Azerbaijão Total Observa-se que a produção de aço bruto da NIS representa cerca de 10% da produção mundial, que atingiu 751,4 milhões de t em A Rússia, com 49,2 milhões de t, é o quarto maior produtor mundial, após China (100,4 milhões de t), Japão (98,8 milhões de t) e Estados Unidos (94,7 milhões de t). O Brasil situa-se na sétima colocação, tendo produzido 25,2 milhões de t em Em termos de consumo aparente de aço, a queda na área da NIS tem sido drástica, cerca de 65% no período 1992/96, tendo o consumo interno destes países atingido 26,4 milhões de t em A Rússia, que consumiu cerca de 15,4 milhões de t de aço em 1996, passa para a 7ª posição em termos de consumo, após os três maiores produtores mundiais e também Coréia ddo Sul, Taiwan e Índia. O Brasil encontra-se na 11ª colocação, tendo seu consumo interno, em 1996, atingido 13,2 milhões de t. Consumo Aparente de Aço da NIS /96 República Rússia nd Cazaquistão nd Bielorússia nd Moldóvia nd Uzbequistão nd Geórgia nd Azerbaijão nd Total Fonte: IISI - International Iron and Steel Institute O drástico decréscimo do consumo aparente de aço nos países que compõem a ex-urss é função, principalmente, do fim da guerra fria, com a redução das atividades das indústrias de armamento e construção mecânica. Do total de aço produzido, o mercado interno absorveu apenas 34% ou 20% da capacidade instalada em 1996, impondo, além da redução da produção, o estabelecimento de exportações em grandes proporções. Mil t
3 3- Exportações da NIS As exportações de aço dos países da NIS correspondem a valores entre 50% e 70% da produção e são vitais para a sobrevivência do parque siderúrgico. Os semi-acabados representam cerca de 39% das exportações. Exportações da NIS por Produto Longos 18% Tubos com e sem costura 6% Semiacabados 39% Laminados Planos 37% Destino das Exportações da NIS África e Oriente Médio 11% América do Norte e Central 13% América do Sul 1% Ásia e Pacífico 36% Europa Central e Oriental 6% Europa Ocidental 33% O grande questionamento, no que concerne às exportações de aço da NIS, refere-se, entretanto, aos baixos níveis dos preços destas vendas externas, substancialmente inferiores aos preços médios praticados nos países de economia de mercado.
4 Preços de Importação de Produtos Siderúrgicos da NIS pelos EUA US$/t ,96-20% 339,75 329,12-20% 340,37-24% 264,24 260,19 503,17-25% 375, Chapa Fina Chapa Grossa Laminado a Quente Laminado a Frio Fonte: Departamento de Comércio dos EUA Economia de Mercado NIS Observa-se que as importações efetuadas pelos Estados Unidos em 1996, provenientes dos países que compõem a NIS, principalmente Rússia e, apresentavam média de preços de cerca de 20% a 25% inferiores à média dos preços dos produtos de aço praticados nas economias de mercado. 4- Situação do Comércio de Aço com a NIS Considerando a prática de preços reduzidos da NIS, diversos países formalizaram recentemente ações anti-dumping em relação ao aço importado da região, conforme pode-se observar a seguir.
5 Ações Relativas às Exportações da NIS País Produto(s) de Aço Ação tomada Canadá Chapa grossa Investigação anti-dumping sobre importações da Rússia e impostos anti-dumping sobre importações da Chile Bobina a quente Investigação anti-dumping sobre importações da Rússia e Formosa Viga-H Investigação anti-dumping sobre importações da Rússia União Européia Tubos sem costura Investigação anti-dumping sobre importações da Rússia Índia Laminados planos e produtos longos Bobina a quente e chapas Repressão sobre importações da Rússia e Investigação anti-dumping sobre importações da Rússia Indonésia Bobina a quente Investigação anti-dumping sobre importações da Rússia e Fio-Máquina Investigação anti-dumping sobre importações da Rússia e Coréia Viga-H Investigação anti-dumping sobre importações da Rússia América Latina não específico Grupos industriais de 9 países latino-americanos emitiram declaração aos governos para que se tomem ações urgentes contra os volumes crescentes de aço da área NIS negociados deslealmente México Bobina a quente Impostos anti-dumping sobre importações da área da NIS Chapa grossa Investigação anti-dumping sobre importações da Rússia e América do Norte não-específico Relatório das indústrias recomendando ação contra importações desleais Tailândia Chapas a quente Investigação anti-dumping sobre importações da área da NIS Turquia Tarugos Investigação anti-dumping sobre importações da Rússia e Estados Unidos Chapas carbono Investigação anti-dumping sobre importações de materiais da Rússia e Fonte: OMC- Organização Mundial de Comércio Na 50ª Reunião do Comitê do Aço da OCDE, os delegados presentes da Rússia e da foram alertados severamente, principalmente pelos Estados Unidos e países da União Européia, sobre como o colapso da siderurgia da NIS e as exportações a preços vis está afetando os mercados e prejudicando as indústrias dos demais países.
6 5- Crise Financeira na Siderurgia da NIS A situação financeira do setor siderúrgico na área da NIS é grave, sendo que as elevadas exportações têm sido apenas um paliativo no contexto, considerando que a lucratividade do parque vem se reduzindo em função dos custos crescentes. A relação entre lucros e custos na Rússia decresceu substancialmente nos últimos 3 anos, de 38%, em 1994, para 18,4%, em 1995, e 5,8% em 1996, sendo que neste último ano 25% das empresas metalúrgicas apresentaram prejuízos. O decréscimo da lucratividade é função do obsoletismo do parque e da baixa produtividade, além da carga tributária crescente e da elevação dos custos de infraestrutura, em particular de transporte. Os custos de transporte elevados afetam significativamente a indústria, impactando, principalmente, a rentabilidade das exportações de produtos siderúrgicos, os quais são transportados por longas distâncias em ferrovias até os portos de embarque. Na Rússia, a participação dos custos de transporte nos custos totais sofreu elevação de 6,3%, em 1991, para 19,5% em Note-se que, com os problemas financeiros, diversas aciarias já interromperam suas atividades e outras vêm reduzindo sua produção e promovendo demissão de empregados. 6- Reestruturação Neste cenário, o setor siderúrgico da NIS necessita de uma reforma urgente que esbarra, entretanto, na escassez de recursos de capital. Programas de reestruturação vêm sendo definidos, mas os progressos na sua implementação têm sido lentos, considerando a dificuldade da obtenção de recursos pelas próprias empresas, que antes tinham o suporte integral do Estado. De acordo com o representante russo na 50ª Reunião do Comitê do Aço da OCDE, os recursos necessários à reestruturação da siderurgia, apenas na Rússia, atingem cerca de US$ 18,5 bilhões nos próximos 5 anos, sendo que a sua implementação reduziria cerca de 310 mil empregos. Dos investimentos necessários, cerca de 50% seriam direcionados à modernização e revamping de equipamentos e a outra metade à aquisição de novos itens. Algumas empresas vêm financiando parcela de seus programas de reestruturação através de acordos com os fornecedores de equipamentos, os quais são pagos através de exportações de aço. Os investimentos externos em siderurgia na área dos Novos Países Independentes, por enquanto, têm sido restritos, tendo correspondido a cerca de 4% dos recursos em 1994 e 1995 e participação nula em 1996.
7 7- Conclusão Conclui-se que o setor siderúrgico, na área da NIS, encontra-se em situação financeira bastante fragilizada, considerando que além da queda vertiginosa do seu consumo interno de aço, o setor também fabrica produtos de qualidade deficiente com baixo grau de acabamento e opera com usinas obsoletas. índice de lingotamento contínuo do parque é de apenas 25% contra a média mundial de 74%, e a utilização de aciaria Siemens Martin, completamente ultrapassada em termos de tecnologia e rentabilidade, ainda é de 30% em relação ao aço produzido. Deste modo, no contexto de mercado globalizado, a siderurgia da NIS apresenta baixa competitividade, sendo aspectos imprescindíveis para a viabilização do setor, a recuperação do seu mercado interno e a obtenção de recursos para a reestruturação do parque. O setor siderúrgico, principalmente na Rússia, ainda não vem se beneficiando do mercado de capitais, como é o caso de setores como petróleo, gás e telefonia, onde estão concentrados os negócios da Bolsa de Valores russa. Esta, por sinal, vem apresentando uma alta performance este ano com ganho acumulado de 143,6%, liderando o ranking das aplicações mais rentáveis entre os países emergentes, de acordo com o IFC- International Finance Corporation. Deste modo, as perspectivas para a reestruturação da siderurgia russa, através do mercado de capitais e de investimentos externos, apresenta viabilidade apenas a médio prazo, considerando a aceleração da privatização e a atual situação do país de redução das taxas de juros e da inflação, com um aparente controle do déficit público e a implementação de reforma fiscal. Conforme exposto, em relação ao setor siderúrgico, os países que compõem a NIS necessitam recuperar seu mercado interno e equacionar os vultuosos investimentos requeridos à reestruturação de seu parque, sendo, entretanto, imprescindível que suas exportações, atualmente vitais para a sobrevivência da indústria a curto prazo, se tornem rentáveis e se realizem com base nas regras internacionais de comércio. Ficha Técnica: Maria Lúcia Amarante de Andrade - Gerente Setorial José Ricardo Martins Vieira - Engenheiro Luiz Maurício da S. Cunha - Economista Renata Strubell Fulda - Estagiária Apoio Bibliográfico: Marlene C. da Matta Editoração: AO2/GESIS
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