DESCOBRINDO O MUNDO DO TRABALHO NA ESCOLA
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- Vasco Borges Freire
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1 DESCOBRINDO O MUNDO DO TRABALHO NA ESCOLA Míriam Rezende Bueno (UNIBH, EMCLS) miriamrb@uol.com.br Wilmar Ferreira de Freitas (FAMIG, EMCLS) wilmar.freitas@gmail.com O TRABALHO NO CONTEXTO DA ESCOLA DE EJA O trabalho é um tipo de atividade racional característica das sociedades humanas. A ele se atribui complexidade relacionada à realização individual e coletiva, motivação, ética, progresso, conhecimento, técnica e tecnologia. Ele se encontra nas mais variadas formas: da escravista e degradante à democrática e solidária, da alienante à libertadora. Na atual sociedade, as relações de trabalho adquirem enorme complexidade e diversidade relacionadas ao desenvolvimento das tecnologias, ao aumento da competitividade, à valorização da informação e do conhecimento e ao embate social frente o capitalismo, com as propostas de resgate do trabalho comunitário na economia solidária. O trabalho extrapola o instinto que impele o indivíduo no esforço pela sua sobrevivência imediata e se estabelece na perspectiva da construção do futuro, na produção de bens e na realização de serviços que garantam o conforto, a segurança, a paz e outros valores socialmente cobiçados. As lógicas e dinâmicas próprias do trabalho se fazem presentes como fios no intrincado tecido social, interferindo e sustentando a vida de todos, sejam trabalhadores formalmente considerados ou não. Desde sempre, mas principalmente na atualidade, uma competência importante e necessária para o sucesso social tem sido entender tal complexidade e sutileza de processos, de forma a permitir o pensar crítico e o agir efetivo que explora ética e eficazmente a estrutura estabelecida no universo do trabalho. De modo geral, a produção de quem trabalha é superior a sua demanda pessoal, de forma que ele possa sustentar também outros indivíduos. Essa condição de "trabalho pelo outro" estabelece um sistema complexo de interdependências, trocas e complementações que se sofistica mais e mais à medida que a sociedade evolui. A Educação que busca a formação de cidadãos capazes de uma realização social saudável deve destacar o trabalho e suas interrelações como objeto de aprendizagem. A Educação de Jovens e Adultos EJA, em particular, deve privilegiar esse tema por ser 1 1
2 especificamente voltada a um público de trabalhadores e/ou pessoas em busca do primeiro emprego. Esta análise do projeto: DESCOBRINDO O MUNDO DO TRABALHO NA ESCOLA tem como objetivo apresentar a proposta de utilização do tema trabalho na articulação interdisciplinar de conteúdos e na aprendizagem de capacidades e habilidades do currículo escolar. Refere-se a um projeto de intervenção pedagógica desenvolvido durante o ano letivo de 2009 para quatro turmas das séries finais do Ensino Fundamental da EJA em uma instituição de ensino da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte ( Minas Gerais). O projeto analisado firmou-se na relação entre o conceito estruturador trabalho e o processo ensino aprendizagem, através de um conjunto de ações pedagógicas na escola de jovens e adultos. Teve a intenção de garantir e ampliar os conhecimentos dos discentes sobre a sua realidade e o desenvolvimento de competências que possibilitassem problematizar, criticar e argumentar sobre o mundo do trabalho no Brasil e no mundo. Além disso, constituiu-se em uma articulação de ações para a formação cidadã e para a compreensão da cidadania construída e/ou conquistada, com uma percepção ampliada de direitos a usufruir do produto do próprio trabalho, almejando e viabilizando condições dignas de vida numa sociedade desigual. Para captar a lógica das relações triangulares estabelecidas pelo mundo do trabalho, pelo ambiente escolar e pelo aluno jovem ou adulto, esta análise busca evidenciar registros de percepções, vivências e interesses dos alunos que procuram alternativas para melhoria ou qualificação na profissionalização. Nesse sentido, processa informações produzidas no desenvolvimento do projeto escolar DESCOBRINDO O MUNDO DO TRABALHO NA ESCOLA. Parte da problematização da evolução da sociedade tecnológica atual que gera mudanças na regulamentação das territorialidades, com implicações diretas no mundo do trabalho: que nova forma de espaço físico e social é essa e como vem se configurando? Quais têm sido as exigências de qualificação profissional? Como alunos e escola (e seus docentes) têm se portado ou se mobilizado frente a essas demandas? Este trabalho vale-se de pesquisas de diversos autores, de documentos oficiais referentes à EJA e representações de alunos colhidas durante a realização do projeto, no contexto de atividades realizadas dentro e fora da sala de aula. Da análise desse material, 2 2
3 apontam-se as expectativas e perspectivas presentes nas representações dos alunos que, trabalhadores ou não, experimentam um diálogo com o campo teórico a partir de sua atividade escolar. ESCOLA DE EJA E SUAS SINGULARIDADES Uma das preocupações das disciplinas escolares é avançar na proposição de diferentes práticas vivenciadas pelos alunos no seu cotidiano, para que possam construir a cidadania desejada e necessária. Conforme orientam documentos oficiais (LDBN, PCN), a formação integral do aluno implica na visualização complexa e não fragmentada da realidade. As escolas devem organizar seus currículos tendo em vista tais parâmetros de formação, contemplando a pluralidade dos alunos, a inclusão e a intenção das práticas educativas. É necessário um debate sobre a EJA, na consideração de que ela é uma modalidade de ensino que visa atender, prioritariamente, à classe trabalhadora e, portanto, não deve ser pensada desarticulada do mundo do trabalho. Quando a escola oferece oportunidades de escolarização nesse contexto do trabalho está colaborando na ampliação da formação do trabalhador, que retorna à escola em busca da certificação para o trabalho em resposta às exigências específicas do ramo de atividade no qual trabalha. E, por outro lado, contribui no resgate de uma dívida social historicamente acumulada, em que parcela significativa de alunos de EJA (adultos) não teve acesso à escolarização na idade considerada adequada. È o que orienta as diretrizes curriculares nacionais para a educação de jovens e adultos, no parecer CNE/CEB nº 11/2000 (Brasil, 2000), ao evidenciar a dívida social e a necessidade do acesso e conquista da terminalidade do ensino fundamental. No que se refere à atuação da escola na educação de jovens e adultos, o mesmo documento considera que: Os trabalhadores, conscientes do valor da educação para a construção de uma cidadania ativa e para uma formação contemporânea, tomam a EJA como espaço de um direito e como lugar de desenvolvimento humano e profissional (BRASIL, 2000, p. 54). O papel da escola na formação de alunos de EJA não se restringe apenas ao conhecimento formal, mas deve incorporar em sua intenção educativa a cidadania ativa que leve à autonomia, à criatividade e ao empreendedorismo, consideradas competências essenciais para o desenvolvimento e o sucesso humano e profissional no século XXI. 3 3
4 No entanto, há contradições no que se refere à atribuição de responsabilidades na preparação ou qualificação visando ao mundo do trabalho. É comum que se transfira para a educação a responsabilidade de desenvolver competências capazes de habilitar o aluno para superar a concorrência e se adequar à flexibilidade imposta pelo mercado. Na prática, essa articulação entre educação e garantia de emprego, apresenta-se mais desintegradora que integradora, como explica Gentilli (2009) [...] a garantia do emprego como direito social (e sua defesa como requisito para as bases de uma economia e uma vida política estável) desmanchou-se diante de uma economia e uma vida política como capacidade individual para disputar as limitadas possibilidades de inserção que o mercado oferece (Gentili, 1999, p. 89). Esta é a lógica na qual se insere o aluno trabalhador que deposita na escola uma responsabilidade de fazê-lo dar o salto para uma capacitação individual e competente para o mundo do trabalho. E, nesse processo, ele nem sempre se dá conta de que a construção de sua trajetória de direito social é mais um projeto pessoal do que uma proposta das instituições de ensino e de seus educadores. A década de 1990 trouxe mais possibilidades de construção dessa autonomia, criando mais oportunidades de qualificação profissional por meio da escolarização e desenvolvimento de competências relacionadas ao trabalho e à educação necessários à sobrevivência na sociedade capitalista. Esta foi uma mudança significativa em relação às décadas anteriores do século XX, garantida pela reorganização da produção capitalista e, portanto, do processo de industrialização e de desenvolvimento econômico brasileiro (Fogaça, 1999). DESCOBRINDO O MUNDO DO TRABALHO NA ESCOLA A escola onde o projeto analisado foi desenvolvido apresenta um quadro de alunos formados por dois grupos distintos: em menor número, jovens adolescentes sem ocupação, moradores de bairros próximos e uma maioria de adultos trabalhadores, chefes de família, que retornam a escola para completar sua formação em função das demandas do mundo do trabalho. Eles provêm de bairros variados e distantes e frequentam a instituição, sobretudo pela localização próxima ao emprego no centro da cidade. 4 4
5 Os alunos jovens procuram a escola como espaço de formação, especificamente de socialização, sem muita perspectiva e com certa resistência ao mundo do trabalho formal, às vezes, focando no ganho fácil do mundo das redes ilegais. Com a prática de educação inclusiva, a escola também acolhe alunos com Necessidades Educacionais Especiais, heterogêneos quanto às suas deficiências (visão, paralisia cerebral, Síndrome de Down) que procuram a escola por seu caráter socializador. Esses dados revelam a diferenciação e diversidade desses alunos de EJA, bem como suas intenções e desejos em relação à formação escolar. Isto implica, em relação ao currículo e práticas educativas, o desenvolvimento de uma metodologia que atenda as particularidades e especificidades dos sujeitos que a frequentam. Torna-se necessário explorar as experiências de vida e trabalho, as potencialidades e a criatividade no enfrentamento das mudanças de contexto da sociedade atual. A Educação de Jovens e Adultos, como solução de inclusão escolar, recebe atenção especial das políticas públicas educacionais desde 1996, assegurando-lhes oportunidades educacionais e respeito aos seus interesses, condições de vida e de trabalho. Nesta perspectiva, buscou-se desenvolver um projeto interdisciplinar com alunos de EJA do segundo ciclo do Ensino Fundamental (correspondente aos 6º, 7º, 8º e 9º ano de escolaridade no ensino regular) sobre trabalho e formação. A intenção do projeto foi construir competências e conceitos do currículo formal do Ensino Fundamental, articulados aos ofícios e sua diversidade, às condições de vida do trabalhador e sua qualificação, às perspectivas dos sujeitos envolvidos, bem como oportunidades no mundo do trabalho. As práticas educativas planejadas e postas em execução visaram à apreensão de conceitos e desencadeamento de novas atitudes, saberes e interações experimentadas coletivamente. O objetivo do projeto foi envolver e estimular os alunos na problematização e pesquisa de situações concretas do cotidiano do trabalhador que explicasse as representações e significados dos conceitos: ofícios, trabalho, emprego, desemprego, subemprego, trabalho feminino, capital humano, terceirização, sindicalização, carreira, trabalho solidário. Sua tessitura firmou-se na identidade fragmentada dos trabalhadores e em sua luta para sobreviver às mudanças no mundo trabalho. Como empreendimento formador, visou à desconstrução da acomodação em relação à dimensão profissional dos alunos 5 5
6 trabalhadores e abertura de canais e sensibilização para o trabalho dos jovens que ainda não conseguiram seu primeiro emprego. Buscando uma articulação de conteúdos conceituais aos saberes dos alunos, os professores planejaram e partiram do mapa conceitual a seguir. Mediado pela questão do trabalho e transversalizado pelos conhecimentos: geográfico, histórico, matemático, da língua portuguesa e das ciências, o projeto foi desenvolvido tendo como ponto de partida uma avaliação diagnóstica e levantamento do perfil dos alunos. O resultado das representações dos alunos em relação a conceitos estruturadores articulados no projeto (trabalho, emprego, desemprego, primeiro emprego, gênero, salário, investimento profissional, empreendedorismo, mercado de trabalho e trabalho solidário) levou a um repensar do currículo na abordagem relacionada ao mundo do trabalho. Envolveu discussões e estratégias de [...] problemáticas sociais atuais e urgentes, consideradas de abrangência nacional e até mesmo de caráter universal PCN (1997, p.64). Para além de aulas transmissivas e reprodutivas, o projeto DESCOBRINDO O MUNDO DO TRABALHO NA ESCOLA procurou desenvolver capacidades e atitudes que possibilitassem aos alunos jovens ou adultos verem, contextualizarem e agirem na realidade para modificá-la ou para se modificar como cidadão. Com essa perspectiva, buscou na contextualização das práticas sociais a dialogicidade, construída entre a escola e as relações de trabalho. Seguindo indicação de Paulo Freire, procurou fomentar a elaboração de novos esquemas mentais de leitura do mundo e construção de novos pactos sociais e educativos. 6 6
7 O projeto estabeleceu e avançou no desafio do diálogo com os novos atores incluídos na escola, representados por jovens tidos como rebeldes, com perfil de resistência à escolarização por não enxergarem nela horizontes futuros. A complexidade do desafio consistiu em acolher, escutar e construir ou recuperar novas significações com alunos que chegam à escola como meros frequentadores, sem se perceberem como sujeitos nesse tipo de instituição. O PERCURSO PEDAGÓGICO O projeto priorizou a construção de uma base conceitual que possibilitasse uma aprendizagem mais significativa e relevante, dimensionada na construção de competências e habilidades que permitisse: reconhecer nas práticas sociais cotidianas da paisagem urbana, a cultura e o trabalho, que conferem identidade de um lugar e direito à cidadania; reconstruir conceitos referentes ao mundo do trabalho, à segurança, à história do trabalho, às conquistas dos trabalhadores na cidade e no campo; identificar os movimentos sociais que se manifestam em cotidianos urbanos, sabendo categorizá-los e interpretá-los; conhecer as direções do trabalho no país e no mundo, bem como no espaço de vivência; demonstrar compreensão e respeito pelos trabalhos/ofícios tradicionais no espaço urbano; identificar no planejamento da cidade a qualidade de vida e o trabalho; explicar os desafios a serem superados no caminho construtivo do trabalho em espaços sustentáveis. Em seu desenvolvimento, o projeto fundamentou-se nas habilidades consideradas referenciais nos documentos ofíciais: domínio da leitura e escrita; construção e aplicação de conceitos na compreensão dos fenômenos socioambientais, culturais, econômicos; resolução de situações problemas a partir da seleção e organização dos conteúdos e elaboração de propostas de intervenção na realidade. Considerando que a estrutura cognitiva é a base da teoria que explica a aprendizagem, o ponto de partida das atividades foram os conhecimentos prévios dos alunos envolvidos e de suas vivências em diferentes contextos. A atividade proposta iniciou-se com a discussão do tema TRABALHO como conceito estruturador. De uma abordagem ampla inicial, por meio de dinâmicas específicas de problematização (debates, painéis, análises de contexto e estudo de textos e imagens) desdobrou-se o tema geral em uma sequência de tópicos interrelacionados voltadas para trabalho, emprego, ocupações e geração de renda. 7 7
8 Seguiu-se a abertura oficial do projeto, em mesa redonda composta de ex-alunos que obtiveram sucesso em atividades empreendedoras. Nesse momento, os alunos receberam o material impresso em forma de cartilha, contendo o planejamento e as orientações das atividades a serem realizadas. Nas sequências didáticas solicitou-se que os alunos investigassem o mundo do trabalho, partindo do espaço de vivência e das relações com o trabalho mediadas por questões que implicam a tercerização, flexibilização, multifuncionalidade, cooperativas, mercado de trabalho, profissionalização, emprego e desemprego, com olhar nos diversos setores de atividades econômicas, sobretudo, nos serviços e comércio complexos. Tais pesquisas envolveram estratégias como coleta de dados em fontes diversas, seleção de textos, tratamento da informação e apresentação das ideias significativas e necessárias à compreensão do mundo do trabalho em movimento. Seguiu-se a leitura de textos complementares e a organização de sínteses sobre os conceitos relativos ao tema.as abordagens priorizaram a diversidade de temas que contextualizam a globalização e fragmentação do trabalho na metrópole, na dinâmica da vida urbana, envolvendo o resgate histórico dos ofícios com vistas na recuperação do trabalho solidário e da cultura que envolve a economia solidária. Por meio dessa nova lógica socioeconômica buscou-se articular os alunos à realidade do mercado de trabalho e suas modalidades, discutindo atitudes e ações relacionadas ao trabalho, emprego, renda, sustentabilidade, ética e cidadania, paralelamente à construção de competências favoráveis à construção de projetos qualificados de inserção profissional. As estratégias de aprendizagem articuladas às habilidades envolveram atividades diversas como elaboração de curriculum vitae e carta de apresentação a partir da compreensão da lógica do mercado de trabalho e suas variáveis; dinâmicas de orientação e planejamento de formação profissional (coaching); leituras cinematográficas e de documentários que exploram o tema mundo do trabalho entre as permanências e as transformações; visitas técnicas a espaços especializados na formação para o trabalho visando ao entendimento de diferentes instâncias formadoras e estágios desenvolvidos na qualificação para o mercado de trabalho e conhecimento das tecnologias envolvidas; 8 8
9 produção de oficinas de empreendedorismo, envolvendo ex-alunos e professores portadores de habilidades e competências diversas em ofícios e tecnologias. Essas ações foram desenvolvidas visando à autonomia, criatividade e proatividade dos alunos trabalhadores na busca de novas perspectivas de qualificação e ascensão profissional articulados a seus projetos de vida. Procurou-se privilegiar abordagens sobre trabalho e sustentabilidade com foco na economia e no trabalho solidário para recuperar antigos ofícios no formato da solidariedade (associações, cooperativas, feiras de troca) e da geração de renda. Por meio de trabalhos manuais e artesanais buscou-se resgatar a cultura das populações que vivenciam a natureza de forma harmônica, utilizando e reutilizando matérias primas e produtos até o final de sua vida útil, participando da comercialização de forma responsável e não consumista. Tal construção foi desenvolvida na promoção de oficinas de empreendedorismo e criatividade que pudessem contribuir em possibilidaes futuras de trabalho na perspectiva da informalidade. Elas priorizaram saberes de alunos trabalhadores da escola e de ex alunos. As ofcinas envolveram customização, fabricação de produtos de limpeza, pintura guache, enfeites de natal, pizzaria, artesanato, produção de arte (história em quadrinho e fotografia digital). O projeto foi acompanhado pela publicação de um jornal mural denominado JORNAL DA PORTA ( afixado nas portas das salas de aula) que, em edições mensais veiculava informações pertinentes aos conteúdos estudados e aos eventos. A finalização do projeto culminou com a realização de uma Feira Solidária, que despertou grande interesse nos alunos. Eles vivenciaram valores do trabalho em sua singeleza e solidariedade com troca de artigos e prática de escambo, usando de uma moeda solidária denominada LIBANINHO. Nessa feira ocorreram trocas de trabalho e apresentações artísticas no ambiente da escola envolvendo alunos e seus familiare A avaliação formal do projeto foi feita coletivamente, pelos docentes nos conselhos de classe e com os alunos, em mesas redondas para avaliar as aprendizagens. Depoimentos colhidos dos alunos atestam um interessante impacto dessa vivência escolar em seus projetos de vida (ou de profissionalização). Para a aluna adulta, R.F., o projeto contribuiu no desenvolvimento de seu empreendedorismo. Em função dos relatos ouvidos de palestrantes no evento de abertura, resolveu usar suas economias para montar um sacolão na cidade de Urucânia, em Minas Gerais.O negócio ficou sob a responsabilidade 9 9
10 dos irmãos e ela gerencia de longe, indo à cidade nos finais de semana. Diz ela: [...]o projeto me abriu os olhos para as oportunidades do mercado.meu negócio está prosperando.vou fornecer mercadorias para pequenas empresas e, talvez, até para as escolas da cidade (R.F). No depoimento de um aluno jovem, R.L.V. destaca sua aprendizagem relacionada à profissionalização e preparação para o mercado de trabalho [...] refleti sobre minhas oportunidades e pensei sobre o meu futuro profissional com ajuda de um planejamento trabalhado na disciplina de Geografia e o preparo para o mercado de trabalho no Coaching. O aluno adulto, J.N., pai de jovens em busca de trabalho encontrou no estudo da economia solidária alternativa para o trabalho familiar e doméstico. Elogia o trabalho dos professores nos vários eventos promovidos pela escola, que o ajudaram bastante. Para ele foi significativa a formação sobre a cooperativa [...] os professores juntaram os alunos e ensinaram a trabalhar por conta própria ou juntar sócios dividindo os lucros entre si. Isso me ajudou bastante. Eu já tenho a minha venda e minha família me ajuda na lanchonete. Pude comprar móveis novos e um carro (J.N.). CONSIDERAÇÕES O projeto realizado apontou pistas para o resgate da possibilidade de aprendizagem autônoma e empreendedora numa formação inclusiva e cidadã com valoração da potencialidade cultural, criativa e solidária. Os alunos se mostraram interessados tanto em aprender como em buscar soluções de participação social, cultural e econômica. A articulação interdisciplinar do projeto favoreceu o trabalho docente, fortalecendo o espírito de grupo e o ambiente escolar como um todo, com reflexos positivos no ensino de cada disciplina. Os indicadores de mudança são constatados nos relatos informais dos alunos, seja em relação a seus empreendimentos individuais, seja no interesse em atuações coletivas segundo uma perspectiva sustentável de recriação do espaço urbano para todos. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais.Geografia. Brasil: MEC,1997, p.64 BRASIL. Lei nº 9.394/96 Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional, de 20/12/1996. FOGAÇA, Azuete. Educação e qualificação profissional nos anos 90: o discurso e o fato. In: 10 10
11 OLIVEIRA, Dalila de Andrade; DUARTE, Marisa R. T. (Orgs.). Política e trabalho na escola: administração dos sistemas públicos de educação básica. Belo Horizonte: Autêntica, FREIRE, Paulo. Pe dagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24.ed. São Paulo: Paz e Terra, GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José E.(Org.). Educação de Jove ns e adultos: teoria, prática e proposta. São Paulo: Cortez, 2003 (Instituto Paulo Freire). GENTILI, Pablo. Educar para o desemprego: a desintegração da promessa integradora. In: FRIGOTTO, Gaudêncio. (Org.). Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. 4. Ed. Petrópolis: Vozes, 1998, p Coleção Estudos Culturais em Educação. KUPSTAS, Márcia (Org.). Trabalho e m de bate. São Paulo: Moderna,
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