UNIRITTER LAW JOURNAL, Porto Alegre, n.2, 2 semestre 2015 ISSN
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- Antônio Ferretti Madureira
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1 A EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRELI) E OS ASPECTOS QUE VERSAM SOBRE SUA TITULARIDADE. Felipe Navarro Sessim do Amaral Giulia Danielli Gomes Dalla Vecchia Maceno Lisboa da Silva Matheus Santana Schiffner Resumo: Trata-se de estudo da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), em análise crítica aos sujeitos habilitados para sua titularidade (quanto a pessoas físicas e jurídicas) à luz do Código Civil Brasileiro. Além disto, examinam-se interpretações doutrinárias e jurisprudenciais, através de revisão bibliográfica, que visam o suprimento das lacunas deixadas pela legislação que originou esta configuração empresarial, buscando entender a finalidade da norma e sua eficácia social. Palavras chave: EIRELI. Titularidade. Pessoa Jurídica. Abstract: This consists of study of Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI (Individual Limited Liability Company) in critical analysis enabled the subject to their ownership (as for individuals and companies) according to the Civil Code. In addition, it is examined doctrinal and jurisprudential interpretations, through literature review, aimed at the supply of legislative omissions that gave rise to this enterprise configuration, seeking to understand the purpose of the standard and its social effectiveness. Keywords: EIRELI. Ownership. Company. 1. INTRODUÇÃO; 2. EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA; 3. REGULAMENTAÇÃO ADMINISTRATIVA E ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS; 4. POSSIBILIDADE DE A PESSOA JURÍDICA CONSTITUIR EIRELI. 4.1 QUANTO A POSSIBILIDADE DE A PESSOA JURÍDICA FIGURAR EM MAIS DE UMA EIRELI; 5. CONCLUSÃO; 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS. 1 INTRODUÇÃO A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), inserida no Código Civil pela lei /2011, foi constituída com a finalidade de trazer maior segurança ao empreendedor individual, bem como acabar com as sociedades de fachada, em que um sócio detinha quase nenhuma ação, apenas para que a atividade fosse conferida à responsabilidade limitada. Até então, esse Empreendedor Individual só poderia enquadrar-se como Empresário Individual, não beneficiando-se da responsabilidade limitada ao patrimônio social. Com o advento da EIRELI, e a possibilidade de constituição de pessoa jurídica, com personalidade própria, responderá esta com seu patrimônio, protegendo-se o da pessoa instituidora. Apesar das evidentes vantagens trazidas pela EIRELI, os requisitos para sua constituição, elencados no artigo 980-A do Código Civil, deixam dúvidas quanto a quem pode constituí-la (pessoas físicas ou jurídicas). Diante disso, faz-se necessária a análise dos impactos de ordem jurídica e econômica, de referida omissão legislativa, a fim de regularizar o exercício da atividade. Discute-se, no presente estudo, acerca da (im)possibilidade de constituição de EIRELI por pessoa jurídica, considerando a omissão supramencionada, a extensão da 122
2 competência dos órgãos da administração pública para a regulamentação, os impactos econômicos e os princípios constitucionais atinentes ao tema. Além disso, busca-se definir particularidades desse novo ente jurídico dentre as divergências doutrinárias existentes. 2 EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA A EIRELI constitui novo modelo jurídico, inclusive com acréscimo no rol de pessoas jurídicas do art. 44, VI, do Código Civil. Entretanto, parte da doutrina acredita tratar-se de sociedade empresária unipessoal (MAMEDE, p. 161), considerando existentes apenas três formas de pessoas jurídicas: associações, fundações e sociedades; enquadrando-se os partidos políticos e as organizações religiosas na categoria de associações, e a EIRELI como sociedade. Em que pese os argumentos apresentados, entende-se que as organizações religiosas, os partidos políticos e as EIRELI s possuem características próprias que não permitem a adequação aos modelos tradicionais de pessoas jurídicas. Por tal motivo são inseridos em incisos diferentes no art. 44 do Código Civil, determinando a separação das pessoas jurídicas nas categorias fixadas, o que não se vislumbraria necessário se não fossem as particularidades de cada modelo jurídico, conforme aponta José Tadeu Neves Xavier: Se o legislador concebesse esse tipo empresarial como sociedade, não haveria a necessidade de inclusão de outro inciso ao art. 44 da Codificação Civil, que já contemplava como ente personificado as sociedades.. (XAVIER, 2013.p. 203). Ademais, a sociedade possui requisitos fundamentais e característicos à sua configuração, quais sejam a pluralidade de sócios, a affectio societatis, o capital social e a participação nos lucros e perdas (NEGRÃO apud RUIVO, 2013, p. 01). Em sentido oposto, a EIRELI não possui sócios, sendo constituída por única pessoa, não havendo, tampouco, affectio societatis e apuração de haveres, tendo em vista a titularidade individual. Ainda, no que se refere à pluralidade de sócios, explica Xavier: [...] a pluralidade de sócios continua a ser característica indispensável para a identificação de sociedades em nosso direito, sendo a unipessoalidade uma situação precária, restrita ao limite temporal expressamente fixada na legislação, e a casos isolados, como na subsidiária integral e nas empresas públicas. [...] Na leitura deste dispositivo [CC 980-A], portanto, devemos nos ater a efetiva natureza da empresa individual como técnica sui generis, específica e própria, desprezando as referências que a vinculam à natureza societária. (XAVIER, 2013, p. 204) Assim, considera-se a natureza jurídica da EIRELI uma inovação no sistema civilista, sendo espécie de sua própria categoria, e não como uma sociedade unipessoal (TOMAZETTE, 2014, p. 60). No mesmo sentido, os enunciados ns. 469 da V Jornada de 123
3 Direito Civil 1 e 3 da I Jornada de Direito Comercial 2 demonstram-se tratar de novo ente personalizado. Outro ponto que merece destaque é a autonomia patrimonial da EIRELI, desvinculando o patrimônio da pessoa física instituidora ao da empresa, diferente do que ocorre com o Empresário Individual, que não possui patrimônio distinto, respondendo ilimitadamente pelas obrigações decorrentes da atividade econômica (TOMAZETTE, 2014, p ). Isso decorre da criação de ente jurídico personalizado, cuja personalidade jurídica é adquirida com o registro no órgão competente, que deve ser procedido com a integralização total e imediata do capital social mínimo (CC 980-A, caput). 3 REGULAMENTAÇÃO ADMINISTRATIVA E ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS O direito empresarial visa regular, especificamente, as relações jurídicas decorrentes da atividade empresarial e deu seu exercício (TOMAZETTE, 2014, p. 36), sendo assim, ramo do direito privado, regulando sem a intromissão do Estado, logo, agindo com poder de império, qual seja sem uma força superior entre as partes. Após a criação da EIRELI, através da lei n /2011, o Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) produziu instrução normativa de n. 117/2011, com vinculação obrigatória pelas Juntas Comerciais, permitindo a constituição de EIRELI por pessoas jurídicas e, 22 dias depois, vedando tal dispositivo, ou seja, tornouse possível a titularidade do ente jurídico apenas pela pessoa natural - ressalte-se que não há vedação expressa pelo Código Civil, exercendo o DNRC função além de sua competência ao proibir a titularidade por pessoa jurídica. Saliente-se, entretanto, que após uma grande reformulação na estrutura administrativa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e a criação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidência da República, o DNRC foi extinto pelo Decreto n /2013, art. 11, incisos II e IV, diante da revogação dos dispositivos referentes à competência e à natureza do órgão (arts. 2º, inciso III, alínea "c", item 3; e 24 do Decreto n /2010). Em seu lugar, criou-se, através do Decreto n /2013, o Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI). No intuito de uniformizar e simplificar os procedimentos relativos às atividades empresárias perante as Juntas Comerciais, o novo Departamento publica, então, a Instrução Normativa n. 10/2013, cujo item do anexo V vedou a possibilidade da pessoa jurídica ser titular de EIRELI, e foi além, impedindo também de ser administradora desse modelo empresário, conforme itens e Destaquese que tal vedação é a única regulamentação nesse sentido, aduzindo que não pode ser titular de EIRELI a pessoa jurídica [...] (DREI, Instrução normativa n. 10/2013). 1 Nesse sentido dispõe o enunciado n. 469, V Jornada de Direito Civil: A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) não é sociedade, mas novo ente jurídico personificado 2 Nesse sentido dispõe o enunciado 3, I Jornada de Direito Comercial: A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada EIRELI não é sociedade unipessoal, mas um novo ente, distinto da pessoa do empresário e da sociedade empresária. 124
4 Entretanto, carecendo de fundamento jurídico plausível, torna-se o ato arbitrário e contrário ao princípio constitucional da legalidade. Em que pese as regulamentações do DREI, este órgão não possui competência para criar imposições ultra legem, extrapolando os limites do próprio decreto que o constitui (n /13), especificamente no art. 8º. Nesse sentido, o magistrado José Henrique Prescendo, em análise de pedido liminar de mandado de segurança, argumentou que o poder legislativo, competente para legislar sobre a matéria, não diferenciou a pessoa física da jurídica na constituição da EIRELI, restringindo apenas que a pessoa figure em apenas uma empresa dessa modalidade e que, considerada a utilidade única da instrução normativa de regulamentar a lei ordinária hierarquicamente superior, não poderia aquela inovar no ordenamento jurídico e estabelecer restrições não previstas em lei, sob pena de ofensa ao princípio constitucional da legalidade 3. Ainda, mesmo que considerada legítima a regulamentação do órgão, referida instrução normativa não possui o condão de afrontar ou preencher legislação federal, como o Código Civil, tendo em vista a hierarquia normativa existente em nosso ordenamento jurídico. No mesmo sentido, são as razões que impedem a aplicabilidade do enunciado de n. 468 elaborado pela V Jornada de Direito Civil, que aduz: Art. 980-A: A empresa individual de responsabilidade limitada só poderá ser constituída por pessoa natural. Isso porque o referido enunciado constitui ideia de parcela de doutrinadores que, a despeito da aprovação, não significam a melhor técnica ou a melhor solução a ser adotada, considerado o necessário respeito aos princípios constitucionais e a violação dos mesmos pela vedação almejada no enunciado. No intuito de sanar a divergência doutrinária quanto aos sujeitos capazes de serem titulares da EIRELI, o deputado federal Marcos Montes (autor da PLC n. 18/11 que resultou o acréscimo da EIRELI ao Código Civil) apresentou o Projeto de Lei n /2012, que visa incluir no texto legislativo do art. 980-A a possibilidade expressa de pessoa jurídica constituir o ente empresário, além de permitir capital estrangeiro e determinar que o registro seja realizado na Juntas Comerciais, conforme justificativa apresentada: [...] como é natural no início de vigência de normas no País, antes mesmo de sua entrada em vigor, essa nova modalidade de empresa já vinha suscitando diversas dúvidas entre alguns órgãos governamentais, advogados e profissionais que atuam no segmento empresarial. Dentre elas, destacamos o questionamento sobre a possibilidade da Eireli ser constituída por pessoa jurídica, além de se indagar se tais empresas poderiam desempenhar atividades não empresariais, a exemplo de atividades intelectuais: de natureza científica, literária ou artística. Entendemos que não deve haver qualquer óbice legal à possibilidade de uma pessoa jurídica, e não somente as pessoas naturais, poder figurar como titular de uma Eireli. Do mesmo modo, não pode haver obstáculos para que esta nova espécie empresarial possa ser constituída por uma pessoa jurídica de capital estrangeiro, uma vez que a própria Constituição Federal, em seu art. 172, admite os investimentos no País mediante o aporte de capital estrangeiro. Naturalmente, que aqui não se pretende estabelecer qualquer privilégio para o capital estrangeiro que eventualmente constituir uma Eireli, uma vez que o 3 Mandado de segurança n , 22ª Vara Federal de São Paulo, Justiça Federal de São Paulo, Juiz Federal José Henrique Prescendo, decisão disponibilizada em 08/10/
5 mesmo estará submetido igualmente aos ditames da Lei nº 4.131/62. (MONTES, Projeto de Lei n /2012, p. 3) Referido Projeto de Lei foi aprovado pelos relatores da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio - CDEIC - e da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania - CCJC -, havendo apenas uma emenda aprovada, que reduz a exigência de capital social mínimo para 25 (vinte e cinco) vezes o maior salário mínimo vigente no País. O projeto continua em tramitação, mas constata-se desde já que adequado ao saneamento da divergência instaurada e ao fomento da economia brasileira. Assim, em que pese os argumentos arguidos pela corrente proibitiva no sentido da incompatibilidade com a mens legislatoris, evidencia-se que, em verdade, a vontade legislativa não foi no sentido de obstar a constituição de EIRELI por pessoa jurídica. Também, a despeito do instituto ter sido criado com o objetivo inicial de limitar a responsabilidade do Empresário Individual e, portanto, este seria a mens legis, observase que, em verdade, a normativa apresenta caráter finalístico mais amplo ao que primeiramente planejado, sendo a sua finalidade a proteção da pequena e média atividade econômica, ou seja, da empresa em si. 4 POSSIBILIDADE DE A PESSOA JURÍDICA CONSTITUIR EIRELI Observa-se que o art. 980-A, ao utilizar o termo pessoa sem determinar se natural ou jurídica, torna possível a constituição da EIRELI por essa, tendo em vista que será permitido, na sistemática civilista, tudo aquilo que não houver sido prévia e expressamente proibido, em decorrência do princípio da legalidade (CF 5º II) (LENZA, 2009, p. 684). Conforme o dispositivo, in litteris: A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. Ao examinar-se a finalidade social da norma e a intenção do legislador, em interpretação teleológica, atentando também para o contexto histórico em que a lei foi criada, pode-se constatar, sumariamente, que apesar da omissão no texto da lei, a EIRELI foi criada para a pessoa natural, buscando atingir os pequenos empreendedores e estimulando o exercício da atividade com os benefícios de uma Sociedade Limitada a uma Empresa Individual. Entretanto, em análise mais minuciosa à questão, verifica-se que a referida omissão legislativa, que dá cabimento para a constituição de EIRELI por pessoa jurídica, deve ser, em verdade, festejada, eis que não há justa motivação para tal proibição, de forma em que obstar a pessoa jurídica de constituir EIRELI seria ferir, de maneira não razoável, os princípios constitucionais da isonomia (CF 5 caput), da legalidade (CF 5º II) e livre iniciativa (CF 170). Ademais, cabe destacar que, uma vez admitida a constituição de EIRELI por pessoa jurídica, tal evento, em grandes proporções, resultaria em enorme fomento à 126
6 economia Brasileira, demonstrando utilidade de ordem jurídica e econômica. Conforme ensina Marcela Maffei Quadra Travassos: [...] a omissão legal deve ser interpretada de forma mais adequada ao princípio da liberdade e legalidade, funcionalizando-se plenamente a EIRELI em prol da tutela mais ampla possível do valor da livre iniciativa e do estímulo à ordem econômica. Esta funcionalização somente será atingida se admitida também, diante da omissão legal, a constituição de EIRELI por pessoas jurídicas. (TRAVASSOS, 2015, p. 194) Por fim, mostra-se inadequado determinar que a criação da EIRELI seja apenas ao aproveitamento das pessoas físicas, sob pena de violação aos princípios constitucionais supracitados e de desigualdade injustificada, visto que concedidos benefícios em favor de pessoas específicas (naturais) em detrimento de outras (jurídicas) e que ausente vedação legal expressa nesse sentido. Essa omissão, inclusive, já admitiu, em alguns casos, a titularidade de EIRELI s às pessoas jurídicas, através de julgados de tribunais 4-5, que entendem o artigo supra mencionado como um texto exemplificativo, e não taxativo, por não especificar se a pessoa titular [...] deve ser, necessariamente, uma pessoa física. Além da possibilidade da constituição de EIRELI por pessoa jurídica, através da interpretação legislativa referente à omissão no texto da lei, possibilita-se a constituição na forma do 3º do artigo 980-A do Código Civil, que diz: A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração.. Assim, se em uma sociedade houver a concentração de quotas em um único sócio, por exclusão ou saída voluntária dos demais, tendo em vista que a legislação brasileira não permite a sociedade unipessoal (CC IV), excetuada a subsidiária integral (Lei 6.404/76, art. 251), a sociedade poderá se transformar em uma EIRELI. Apesar de a sociedade não ser a titular dessa EIRELI, e sim o sócio restante daquela, pode-se constatar que, neste caso, a EIRELI deriva de uma pessoa jurídica e não de uma pessoa física. Isto porque, nessa hipótese, já haverá patrimônio próprio da sociedade a ser transferido para a EIRELI, além de toda a estrutura já constituída pela antiga sociedade. Nos moldes pretendidos pelo legislador, tal previsão gera uma contradição, pois a EIRELI foi primordialmente criada para atender a demanda dos pequenos empreendedores e, por essa via legislativa (CC 980-A 3º), possibilita que uma pessoa jurídica já constituída e estruturada possa se transformar em uma EIRELI, o que demonstra de forma ainda mais clara a necessidade de admitir a constituição de EIRELI por pessoa jurídica. Ainda, atentando para a grande abrangência da palavra sócio presente no texto, verifica-se a possibilidade de a figura sujeita à concentração de quotas tratar-se de uma 4 Reexame necessário em mandado de segurança n , 1ª Turma, TRF5, Relator: Manoel Erhardt, Julgado em 21/05/ Apelação/reexame necessário n , 4ª Turma, TRF5, Relator: José Lazaro Alfredo Guimarães, Julgamento em 06/05/
7 pessoa jurídica, caso em que seria razoável sua titularidade em uma EIRELI, resultante da transformação do modelo societário ao qual era sócio, não cabendo qualquer ofensa aos princípios de Igualdade e Legalidade. Para fins ilustrativos, menciona-se o caso hipotético de uma sociedade anônima que, por possuir um único sócio acionista, sendo este pessoa jurídica, transforma-se em EIRELI, assumindo o acionista remanescente (pessoa jurídica) a posição de titular do novo ente jurídico, conforme hipótese dos arts , parágrafo único, do Código Civil c/c art. 206, I, alínea d, da Lei n /76 e enunciado 483 da V Jornada de Direito Civil. 4.1 QUANTO A POSSIBILIDADE DE A PESSOA JURÍDICA FIGURAR EM MAIS DE UMA EIRELI Outro ponto fundamental a ser observado é quanto a possibilidade de constituição de várias EIRELI s por pessoa jurídica, tendo em vista que o 2º do art. 980-A diz que: Art. 980-A. [...] 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. Considerada a omissão da lei quanto a quem pode constituir EIRELI, mais a especificidade com que trata a proibição da pessoa natural poder figurar em mais de uma, abre-se espaço à discussão sobre a possibilidade da pessoa jurídica poder, então, figurar em mais de uma EIRELI. Examinando o cerne da questão sob a perspectiva dos princípios constitucionais e buscando ponderá-los da melhor maneira, insurge como necessário interpretar o 2º supratranscrito de forma a não ferir o princípio da isonomia. Assim, novamente a fim de evitar diferenciação sem justificativa, deve-se estender a restrição das pessoas naturais também às pessoas jurídicas, não permitindo que qualquer uma delas figure em mais de uma EIRELI. Note-se que, neste ponto, o princípio da isonomia deve assumir posição de maior importância, em detrimento do princípio da legalidade. 5 CONCLUSÃO A criação da EIRELI visava abranger os pequenos empreendedores, para que, individualmente, pudessem desfrutar dos efeitos de personalidade jurídica distinta, antes possível somente através da criação de uma sociedade, desencadeando fraudes e enfraquecendo o desenvolvimento econômico pelo desestímulo ao empreendedorismo. No entanto, em decorrência da omissão legislativa quanto a quem pode constituir EIRELI, ampliou-se a efetividade do dispositivo, sendo viável a constituição do ente jurídico por pessoa jurídica e, por conseguinte, facilitando a atividade para pequenos e médios empreendedores. Da análise do processo legislativo, observa-se que essa omissão não foi intencionalmente aplicada pelo legislador. Porém, dita indeterminação foi providencial 128
8 para a possibilidade de constituição de EIRELI por pessoa jurídica, efetivada por alguns tribunais, e para preservação dos princípios constitucionais da legalidade (CF 5º II), isonomia (CF 5º caput) e livre iniciativa (CF 170). Além da possibilidade da pessoa jurídica constituir EIRELI pela solicitação de registro no órgão competente, observou-se que viável, inclusive, através da transformação do registro quando da concentração de quotas societárias (CC 980-A 3º c/c 1.033, p.ú.) em um único sócio pessoa jurídica. Nesse sentido, considera-se adequado o Projeto de Lei n /2012, que visa incluir no texto legislativo do art. 980-A a possibilidade expressa de pessoa jurídica constituir o ente empresário, além de permitir capital estrangeiro e determinar que o registro seja realizado nas Juntas Comerciais, ante a impossibilidade de vedação legal e fomento à economia, preservando-se a livre iniciativa e a função social da empresa. Por fim, conclui-se que a despeito da importância da EIRELI e seu impacto social e econômico, são necessários ajustes legislativos que preencham as lacunas existentes na norma, visando a garantia de direitos e ampliação de sua eficácia social. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Departamento de Registro e Integração, Instrução Normativa n. 10/2013, Manual de Registro da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada Anexo V. Disponível em: < Acesso em: Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n A de Disponível em: < Acesso em: COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 18ed. São Paulo: Saraiva, 2014 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13 ed. São Paulo: Saraiva, MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial. 5ed. São Paulo, Atlas: MARIANI, Irineu. Empresa Individual de responsabilidade limitada EIRELI: a nova pessoa jurídica no cenário brasileiro, 1ed. Porto Alegre: Editora Age, RUIVO, Danilo Augusto. Considerações sobre EIRELI - Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo. vol. 32/2013. pp Ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, julho-dezembro
9 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. Vol. 1. 6ed. São Paulo: Atlas, TRAVASSOS, Marcela Maffei Quadra. Empresa Individual de Responsabilidade Limitada: Análise constitucional do instituto, unipessoalidade e mecanismos de controle de abusos e fraudes. Rio de Janeiro: Renovar, 2015 XAVIER, José Tadeu Neves. Reflexões sobre a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI). Revista de Direito Privado. vol. 14, n. 54, pp Ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, abril-junho
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