Poesia do Maternal ao Fundamental: Outros caminhos para o saber
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- Salvador Azambuja Martins
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1 Poesia do Maternal ao Fundamental: Outros caminhos para o saber Elaine Gai Torres 1 RESUMO Unir poesia, linguagem e brincadeira para compor a interiorização do imaginário infantil inegavelmente significa proporcionar aos pequeninos um enriquecimento na formação de estruturas que lhes permitirão compreender melhor e mais rapidamente não só a linguagem falada e escrita, como também aspectos simples do seu dia-a-dia. Nesse sentido, o presente artigo busca mostrar que desde a Idade Média até os dias de hoje a poesia influencia a aprendizagem infantil e leva à construção de seus referenciais psicossociais. Palavras-chaves: Poesia; aprendizagem; linguagem. A poesia representa um meio privilegiado de despertar no universo infantil o amor pela língua materna. A rima, o ritmo, a sonoridade, todos esses elementos permitem uma descoberta progressiva das variações, da riqueza, das potencialidades da linguagem escrita, tão decisiva para a formação do indivíduo, adquirindo assim um carácter lúdico. Brincar com os sons, descobrir novas ressonâncias, ouvir e ler pequenas histórias em verso, memorizar os poemas preferidos, desvendar imagens e sentimentos contidos na palavra, são atividades de adesão imediata que podem e devem ser introduzidas no mundo dos pequenos antes mesmo da alfabetização, pois constituem uma excelente forma de preparação para aprendizagem da leitura e da escrita. Numa época em que a maioria das crianças não têm oportunidade de ouvir histórias no seio familiar, cabe à escola, nos seus variados níveis, assegurar que não lhes falte essa experiência tão enriquecedora e tão importante para a aprendizagem da leitura e da escrita. Para aqueles que acreditam que a poesia e o lúdico são temas um tanto mais atuais, é bom que se diga que desde a Idade Média se encontram registros sobre a necessidade do lúdico na vida do homem. Em sua obra mais importante, a Suma Teológica, Santo Tomás de Aquino (apud Jean 1 Graduação em Letras, Especialização em Educação e Gestão Ambiental. Apresentado em 15/11/2006.
2 Lauand) 2 já prescrevia a brincadeira como necessária ao ser humano, onde, jogando com as palavras, analisa um interessante efeito da alegria e do prazer (delectatio) na atividade humana: o efeito que ele chama metaforicamente de dilatação (dilatatio), responsável em ampliar a capacidade de aprender, tanto em sua dimensão intelectual quanto na da vontade, o que hoje se chama motivação: o deleite produz uma dilatação essencial para a aprendizagem. E, reciprocamente, a tristeza e o fastio produzem um estreitamento, um bloqueio, ou, para usar a metáfora de Tomás, um peso (aggravatio animi) para a aprendizagem. Por isso ele recomenda o uso didático de brincadeiras e piadas para descanso dos ouvintes ou alunos e não chega a causar surpresa sua afirmação sobre a necessidade ética de um tratamento divertido e agradável quando fala sobre o relacionamento humano, baseado no fato tão simples de que ninguém agüenta um dia sequer com uma pessoa aborrecida e desagradável. Com múltiplas possibilidades de abordagem, cabe ressaltar a importância de adequar o tipo de poesia apresentada ao interesse e idade das crianças, avaliando necessariamente seu grau de entendimento e conhecimento, medida essa que fará com que o professor encontre a forma mais adequada e atraente para estabelecer o contato com a expressão poética e as crianças. Como o aprender resulta em boa parte da empatia que se estabelece entre o adulto e a criança, nomeadamente quando o que se pretende é fomentar o gosto pela poesia, pela literatura ou o despertar dos valores estéticos, do belo, deve-se considerar sempre as características do grupo e as preferências do professor, uma vez que para transmitir uma paixão é vital que esta seja presente. Ninguém ensina o que não sabe, ninguém dá o que não tem. Na construção e reconstrução das palavras, a criança vai do concreto ao abstrato, quando então lhe será possível transferir todas as relações que fez para os diferentes aspectos de sua vida (social, emocional, familiar, etc.) palmilhando alegremente degrau por degrau. A simples leitura de um poema, de forma clara, bem ritmada, feita pelo professor ou pelos alunos pode ser extremamente motivante, se for feita com a entoação adequada, com empenhamento, com alegria. Há, no entanto, poemas que pela sua complexidade exigem um trabalho preparatório se se pretende, além do encantamento, levar as crianças à compreensão do conteúdo ou aprofundar qualquer tipo de análise e que pode incluir um enquadramento histórico e geográfico dos acontecimentos que permeiam a obra, bem como esclarecimentos sobre tema, vocabulários e ainda referendar autor e a época em que ele viveu. Suas características permitem 2 LAUAND, Jean. Deus Ludens - O Lúdico no Pensamento de Tomás de Aquino e na Pedagogia Medieval. Disponível em: < www. hottopos.com/ notand 7/ jeanludus. htm. >. Acesso em 14 out
3 descobrir um rosto por trás das palavras, provocando uma adesão em termos afetivos quando despertam nas crianças sentimentos de ligação mais profundos com a poesia. Para inserir nossos pequenos leitores nesse universo mágico da poesia não faltam bons mestres: de Cecília Meireles a Vinícius de Moraes, como também daqueles que nem famosos são, porém capazes sim de fazer os pequenos sonharem. A porta Eu sou feita de madeira Madeira, matéria morta Mas não há coisa no mundo Mais viva do que uma porta. Eu abro devagarinho Pra passar o menininho Eu abro bem com cuidado Pra passar o namorado Eu abro bem prazenteira Pra passar a cozinheira Eu abro de sopetão Pra passar o capitão. Só não abro pra essa gente Que diz (a mim bem me importa...) Que se uma pessoa é burra É burra como uma porta. Eu sou muito inteligente! Eu fecho a frente da casa Fecho a frente do quartel Fecho tudo nesse mundo Só vivo aberta no céu! Vinicius de Moraes
4 Diante disso, ainda cabe acrescentar as palavras do professor e escritor Celso Antunes 3, quando diz que: Fazer de um aluno um leitor é como lhe mostrar um osso e, aos poucos, vê-lo transformando-se em nave espacial, vagando pelo encanto do imaginário, dançado em uma valsa de Strauss. Fazer de um aluno um leitor é, entre outros, apresentá-lo a Arthur Clark e fazê-lo amigo de Stanley Kulbrich. Meta principal do educador, reveste-se a tarefa de significativa importância quando se considera que dos primeiros contatos com a poesia, com os livros, depende o futuro leitor, cabendo ao professor despertar nos pequenos toda a magia que se esconde atrás de cada palavra escrita. REFERÊNCIAS LAUAND, Jean. Deus Ludens - O Lúdico no Pensamento de Tomás de Aquino e na Pedagogia Medieval. Disponível em: < www. hottopos.com/ notand 7/ jeanludus. htm. >. Acesso em 14 out A poesia na sala de aula. Disponível em < : www. Plano nacionaldeleitura. gov.pt/ Lista Conteudos. aspx? area = 79 >. Acesso em 14 out Antunes, Celso. Ser leitor. Disponível em < : http :// www. celsoantunes. com.br/pt/textos_ exibir.php?tipo=textos&id=23>. Acesso em 15 out Antunes,Celso.Serleitor.Disponívelem< exibir.php?tipo=textos&id=23>. Acesso em 15 out
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