TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL
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- Gabriel Henrique Castanho Guimarães
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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL APELAÇÃO CRIMINAL Nº (Juízo de Direito da 2ª Vara de São Pedro da Aldeia) APELANTE: LEONARDO TEIXEIRA LUCIO APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO RELATOR: DES. ANTÔNIO CARLOS NASCIMENTO AMADO APELAÇÃO CRIMINAL. Condenação por furto simples. Réu preso em flagrante por ter furtado rádio, no interior de veiculo. Ausência de avarias no automóvel. Inaplicabilidade do princípio da insignificância. A inexpressividade do valor do bem subtraído não torna atípica a conduta do agente e nem elimina a antijuridicidade, pois, em si, a ação do agente traduz desrespeito aos valores sociais, estando a merecer a reprovação penal. Inaplicabilidade de estado de necessidade, por crime famélico. O bem furtado sequer é gênero alimentício. O estado de necessidade é caracterizado pela extrema gravidade da situação vivenciada pelo agente e ausência de outro recurso que possibilite a satisfação dessa necessidade vital, o que não é o caso dos autos. Dosimetria mantida. Desprovimento do recurso. Unânime. A C Ó R D Ã O VISTOS, relatados e discutidos estes Autos de Apelação Criminal n , em que é Apelante LEONARDO TEIXEIRA LUCIO e Apelado o MINISTÉRIO PÚBLICO.
2 ACORDAM, por unanimidade, os Desembargadores que compõem a Egrégia Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator. Custas ex lege. Rio de Janeiro, 24 de setembro de DES. ANTÔNIO CARLOS NASCIMENTO AMADO Relator
3 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL APELAÇÃO CRIMINAL Nº (Juízo de Direito da 2ª Vara de São Pedro da Aldeia) APELANTE: LEONARDO TEIXEIRA LUCIO APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO RELATOR: DES. ANTÔNIO CARLOS NASCIMENTO AMADO V O T O Trata-se de recurso da Defesa requerendo a absolvição com base na atipicidade da conduta - principio da insignificância, ante a inutilidade da res furtivae ou o reconhecimento de furto famélico, excluindo a ilicitude da conduta. Os depoimentos prestados, mediante sistema audiovisual, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, revelam a dinâmica dos fatos. Policiais militares receberam ligação 190 avisando sobre a pratica de um crime de furto, ocasião em que se dirigiram ao local declinado e lograram encontrar o meliante sendo perseguido por populares, o detendo. Na posse do infrator, foram apreendidos, no interior de uma mochila, o radio furtado e uma chave de fenda. A vítima que estava almoçando, ao perceber uma aglomeração suspeita de pessoas, dirigiu-se ao seu veiculo estacionado, descobrindo que seu radio havia sido furtado. Foi, então, ao encontro dos policiais, avistando o acusado na posse do seu bem. O ofendido disse não ter havido nenhum sinal de arrombamento no seu carro, que não sofreu sequer arranhões. Registrou que o rádio furtado estava quebrado e não funcionava. O réu confessou a prática do crime. Disse que viu a porta meio aberta e a puxou com a mão, retirando o radio de seu interior. Declarou
4 estado de necessidade, eis que sua mulher, soropositivo, e suas duas filhas estavam passando fome. Os PMs, que foram até a residência do réu, afirmaram o estado lastimável em que este vive. Entretanto, não há como aceitar que indivíduos, que se encontram abaixo da linha de pobreza, possam praticar tais delitos, na medida em que estaríamos abrindo precedente perigoso, eis que muitos são os que vivem em condições precárias, e não por isso, deixam de agir com honestidade. O furto famélico ou necessário, o qual podemos definir como o furto de alimento para o próprio sustento do indivíduo em necessidade extrema, deve ser avaliado com extrema cautela, sob pena de instituirmos à desordem e o incentivo à criminalidade menor. No cenário sub judice, houve o furto de um radio, sendo certo que este sequer é gênero alimentício, afastando-se, assim, a necessidade da satisfação vital, ou seja, o estado de necessidade. Para configuração do estado de necessidade, exige-se o sacrifício de um bem de menor valor em detrimento de um bem de maior valor. Certo é que existindo outro modo de evitar o detrimento do bem de menor valor, não há que se falar em estado de necessidade. Com efeito, não há provas ou sequer indícios de que o réu estivesse agindo em estado de perigo atual. Nesse sentido, os julgados: Estado de necessidade indemonstrado. Pobreza, desemprego, carências materiais, de per si, não possibilitam o reconhecimento da excludente de estado de necessidade, até porque nenhuma prova foi produzida pela Defesa que pudesse confirmar a alegada situação de miserabilidade e premência. ( Apelacão Criminal. Des. Maria Raimunda t. Azevedo - julgamento: 18/10/ Oitava Câmara Criminal). FURTO NAO FAMELICO CARACTERIZACAO
5 PRINCIPIO DA INSIGNIFICANCIA OU DA BAGATELA. NAO APLICACAO. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. REJEIÇÃO DA DENÚNCIA. IMPUTAÇÃO DO CRIME DE FURTO TENTADO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E DA EXCLUDENTE DO ESTADO DE NECESSIDADE (FURTO FAMÉLICO). DESCABIMENTO. REFORMA DA DECISÃO QUE SE IMPÕE. A recente alteração do Código de Processo Penal provida pela Lei nº /2008 positivou expressamente a necessidade, há muito já estabelecida pela doutrina e pela jurisprudência, de se verificar a existência de justa causa para propor a ação penal, quando do recebimento da denúncia pelo magistrado. Na hipótese dos autos, ao contrário do que entendeu o magistrado a quo, a hipótese, obviamente, não é de furto famélico. Para caracterização do furto famélico é necessário que (i) seja o fato cometido para saciar a fome ou satisfazer necessidade vital; (ii) que seja o único e derradeiro recurso e (iii) que haja subtração de coisa capaz de diretamente contornar a emergência. O furto de duas latas de azeite, dois pacotes de carne seca e bacalhau do Porto não podem ser considerados como gêneros alimentícios subtraídos para saciar a fome do réu, até porque é evidente que o réu não poderia se alimentar diretamente de duas latas de azeite. Pelos mesmos motivos, é inviável o reconhecimento do furto bagatelar. Para aplicação de tal princípio, deve-se avaliar o relevo material da tipicidade penal, bem como a presença de certos vetores, tais como a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada. Logo, não basta a comprovação do pequeno valor da coisa subtraída, sob pena de se criar um verdadeiro salvo-conduto para o cidadão praticar subtrações de bens de pequeno valor. O apelante foi preso em flagrante ao furtar duas latas de azeite, dois pacotes de carne seca e mais de 3Kg de bacalhau, sendo certo que só o valor deste último gênero é de R$173,14, quantia esta que não pode ser paga por dezenas de trabalhadores, que nem, por isso, decidem subtraí-lo do interior do estabelecimento empresarial. Outrossim, a despeito de a lesão patrimonial não ter sido de grande e significativa monta (total de R$ 206,95), está longe de poder ser considerada como desprezível, até mesmo se considerarmos que o crime foi perpetrado em Bangu, bairro economicamente desfavorecido de nossa cidade, onde inúmeras pessoas recebem salário mínimo. Provimento do recurso. (grifo nosso).
6 A tese de aplicabilidade do principio da insignificância igualmente não merece guarida. Admite-se o reconhecimento do princípio da insignificância em situações excepcionais sempre levando em conta não só o pequeno valor da res, mas principalmente a ausência ou reduzidíssimo risco social, a mínima periculosidade da conduta revelada pelo comportamento que se mostra quase ingênuo na tentativa de subtrair a res, conduta desde logo percebida e obstaculizada, sem nenhum prejuízo ao lesado, e no reduzido e mínimo grau de responsabilidade. Ressalte-se que a absolvição com fundamento no Princípio da Insignificância deve atentar não apenas ao valor do bem subtraído, mas também para os seus elementos constitutivos, quais sejam: o mínimo grau de ofensividade da conduta e nenhuma periculosidade do comportamento do réu, além da inexpressividade da lesão jurídica. Com efeito, a jurisprudência vem se pronunciando que a medida descriminalizadora depende do contexto em que está inserido o fato e, por isso, havendo reiteração de conduta justifica-se o tratamento rigoroso aos criminosos usuais e não episódicos. Evidencie-se que, apesar de a FAC adunada não constar nenhuma anotação, o réu assumiu, em interrogatório, já ter sido condenado pela prática de furto e por ele ter respondido, em outro Estado. O relevante princípio não pode ser utilizado de forma abusiva, a ponto de tolerar condutas atentatórias à tranquilidade da vida em sociedade, não se podendo concluir genericamente que inexiste atipicidade pelo simples fato de ser o objeto de pequeno valor, seja em relação ao patrimônio da vítima ou do salário mínimo vigente. Desta forma, tal princípio deve ser considerado com extrema cautela e bom senso, a fim de evitar a sua utilização de forma desenfreada causando, assim, injustas absolvições. Por isso, inconvincentes meras citações de ementas sem exame dos detalhes concretos. Deve-se indagar da mínima ofensividade da conduta, ausência de periculosidade da ação, ínfimo grau de reprovabilidade do
7 comportamento, além da inexpressividade da lesão jurídica (H.C /SP, Rel. Min. Celso Melo). O próprio Superior Tribunal de Justiça não discrepa dessa orientação, como se vê no REsp /Paraná, em 26/02/07, sendo Relator, o Min. Félix Fischer. Uma coisa é a distinção do valor ínfimo (ninharia), o que configura furto privilegiado e a atipia, em vista da nenhuma gravidade do comportamento. Embora seja pequeno o valor da coisa furtada, e esta não estar funcionando, configura injusto típico e, como tal, acarreta benefícios na imposição da pena e não a absolvição. Nesse sentido, cabe destacar trecho das contrarrazões oferecidas pelo Ministério Público: Em primeiro lugar, é bom que se diga, o fato de o bem furtado, um rádio automotivo original da GM, apresentar defeito, não lhe retira o valor, eis que pode, a qualquer tempo, ser consertado. O fato de o bem subtraído não funcionar corretamente não permite a presunção absoluta de que foi inexpressiva a lesão suportada pela vítima. Não obstante, conforme bem salientado pelo i. Magistrado, ao praticar a conduta típica, o apelante não tinha conhecimento de que a res furtiva apresentava defeito. Logo, não pode o Judiciário legitimar a subtração de coisa alheia móvel por esta não ter representado o lucro esperado pelo agente. Certo é que: "O reconhecimento da insignificância material da conduta increpada ao paciente serviria muito mais como um deletério incentivo ao cometimento de novos delitos do que propriamente uma injustificada mobilização do Poder Judiciário". (HC /RS, DJe de 28/5/202). Sendo assim, improsperáveis os pleitos defensivos.
8 Registre-se que, muito embora, o parquet, de forma acurada, tenha realizado consulta eletrônica e verificado a vultosa quantidade de condenações com transito em julgado por delitos contra o patrimônio ostentados pelo apelante, este estudo não pode ser levado a efeito, na medida em que não há nos autos tal avaliação, não tendo sido oportunizado o contraditório. lançada 1. Nessa perspectiva, há que se manter a dosimetria tal qual Voto, pois, pelo desprovimento do recurso defensivo, mantendose integralmente a r. decisão monocrática. Sessão realizada em 24 de setembro de Rio de Janeiro, 02 de outubro de DES. ANTÔNIO CARLOS NASCIMENTO AMADO RELATOR 1 O réu é tecnicamente primário não havendo elementos para aumentar a pena-base. Nessa linha, a atenuante da confissão não pode incidir para fixação da pena além do mínimo legal. Assim, aquieto a reprimenda do réu em 01 ano de reclusão e ao pagamento de 10 (dez) dias - multa, na razão unitária mínima. Com base no artigo 33, 2, "c", do Código Penal, o acusado deverá cumprir á pena privativa da liberdade em regime aberto. Estão presentes os requisitos do artigo 44 do CP, razão pela qual substituo a pena anteriormente imposta por uma pena restritiva de direitos, consistente na prestação de serviços à Comunidade por 12 (doze) meses, por 07 (sete) horas semanais, em favor da Secretaria de Ação Social.
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
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