Equidade e FSC. Temas para debate a partir de um estudo de caso no Brasil. Luís Fernando Guedes Pinto - IMAFLORA Constance L.
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- Ísis Mascarenhas Alcântara
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1 Equidade e FSC Temas para debate a partir de um estudo de caso no Brasil Luís Fernando Guedes Pinto - IMAFLORA Constance L. McDermott - OCTF
2 Equidade e FSC Temas para debate a partir de um estudo de caso no Brasil Luís Fernando Guedes Pinto - IMAFLORA Constance L. McDermott - OCTF Adaptado de um artigo científico publicado na Revista Forest Policy and Economics. Para mais informações, favor consultar o artigo completo em: Pinto, LFG, McDermott. C. (2013). Equity and forest certification A case study in Brazil. Forest Policy and Economics. Disponível online em 23 de Abril de 2013, ISSN , /j. forpol
3 Realização: Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) Autoria: Luís Fernando Guedes Pinto e Constance L. McDermott Revisão gramatical: Cimara Pereira Prada Edição: Ozonio Propaganda Fotografias: Acervo Imaflora* *As fotografias utilizadas nesta publicação fazem parte do acervo Imaflora e têm a finalidade de ilustrar os processos e de promover as comunidades e as propriedades certificadas. Ficha catalográfica: Essa licença não vale para fotos e ilustrações, que permanecem em copyright. Você pode: Copiar, distribuir, exibir e executar a obra; Criar obras derivadas. Sob as seguintes condições: Atribuição. Você deve dar crédito ao autor original, da forma especificada pelo autor ou licenciante. Uso Não-Comercial. Você não pode utilizar esta obra com finalidades comerciais. Compartilhamento pela mesma Licença. Se você alterar, transformar, ou criar outra obra com base nesta, você somente poderá distribuir a obra resultante sob uma licença idêntica a esta. Equidade e FSC temas para debate a partir de um estudo de caso no Brasil/ Luís Fernando Guedes Pinto e Constance L. McDermott - Piracicaba, SP: Imaflora, p. ISBN: Certificação. 2. Brasil - Floresta. 3. Manejo. 4. Amazônia. 5. FSC. I. Título. Para democratizar ainda mais a difusão dos conteúdos publicados no Imaflora, as publicações estão sob a licença da Creative Commons ( br), que flexibiliza a questão da propriedade intelectual. Na prática essa licença libera os textos para reprodução e utilização da obra com alguns critérios: apenas em casos em que o fim não seja comercial, citada a fonte original (inclusive o autor do texto) e, no caso de obras derivadas, a obrigatoriedade de licenciá-las também em Creative Commons. O Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) é uma organização brasileira, sem fins lucrativos, criada em 1995 para promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais e para gerar benefícios sociais nos setores florestal e agropecuário. Conselho Diretor: Adalberto Veríssimo André Villas-Bôas Célia Cruz Maria Zulmira de Souza Sérgio A. P. Esteves Tasso Rezende de Azevedo Ricardo Abramovay Conselho Consultivo: Marcelo Paixão Marilena Lazzarini Mário Mantovani Fábio Albuquerque Rubens Ramos Mendonça Conselho Fiscal: Adauto Tadeu Basílio Erika Bechara Rubens Mazon Secretaria Executiva: Maurício Voivodic Eduardo Trevisan Gonçalves Comunicação: Priscila Mantelatto Jaqueline Lourenço Beatriz Borghesi Fátima Nunes Estrada Chico Mendes, 185 Cep: Piracicaba - SP - Brasil Tel/Fax: (19) imaflora@imaflora.org
4 Contexto e objetivo A equidade constitui um elemento central do sistema FSC; por isso incorpora-se em suas estruturas e políticas de governança em vários níveis, incluindo a sua missão, a atual estratégia global, as suas instâncias de tomada de decisão e os seus padrões de certificação. No entanto, hoje, trava-se um debate sobre se os instrumentos de mercado, tais como a certificação e os pagamentos por serviços ambientais, ampliarão a equidade, ou se favorecerão o setor empresarial de grande escala, em detrimento de grupos locais ou marginalizados. Este artigo visa a compartilhar, com os membros do FSC, os resultados de uma pesquisa, realizada em conjunto pelo IMAFLORA (membro do FSC) e uma pesquisadora Sênior do Centro de Oxford para Florestas Tropicais, sobre a equidade no sistema FSC. O objetivo foi avaliar as metas do FSC para a equidade e propor recomendações para melhorá-la frente a esses objetivos.
5 Uma abordagem para a Equidade Assumimos a Equidade como um conceito construído socialmente, com raízes na noção de justiça. De fato, ela engloba a justiça e a igualdade, mas as percepções variam sobre o que seja justo e o que deva ser igual (por exemplo, a igualdade de oportunidades, ou a igualdade de benefícios). A Equidade também pode abranger o contexto social mais amplo, levando ao reconhecimento de que diferentes atores desenvolvem diferentes capacidades e têm acesso diverso aos recursos. Nesse sentido, enquanto A Justiça é cega, a Equidade tem os olhos bem abertos. Analisamos a governança do FSC, as suas políticas e normas, os seus resultados quanto à distribuição de certificados, bem como a aderência das metas do FSC às expectativas dos grupos locais, afetados por operações certificadas no Brasil. A última análise baseou-se em comentários das partes interessadas, registrados nos resumos públicos de diferentes tipos de operação florestal certificados no Brasil (florestas naturais e plantações). Todos os dados foram coletados em setembro de A partir dessa abordagem, conduzimos uma avaliação abrangente sobre as várias dimensões da equidade, em diversas escalas do sistema FSC, apoiando-se a análise local em um estudo de caso no Brasil. Para tanto, utilizamos uma ferramenta analítica que descreve quatro parâmetros de equidade: as metas que direcionam à equidade (o porquê da equidade), o alvo e a escala da equidade (o quem da equidade), o seu conteúdo (o o quê, organizado em dimensões distributivas, processuais e contextuais) e o processo de definição desses parâmetros (o como da equidade). 1 Como as referências são definidas? Meta: porque equidade? Escala: quem conta ou interessa? Conteúdo: O QUE CONTA COMO EQUIDADE? PROCESSUAL DISTRIBUTIVO CONTEXTUAL 1. McDermott, M., Mahanty, S., Schreckenberg, K., Examining equity: A multidimensional framework for assessing equity in payments for ecosystem services. Environmental Science and Policy.
6 Resultados As metas de equidade do FSC incluem a participação equilibrada do Norte e do Sul e sua igual representação, nas câmaras de grupos de interesses econômicos, sociais e ambientais. O FSC também deseja que a certificação seja igualmente acessível a diferentes tipos de produtores florestais, tanto a grandes empresas privadas e a pequenos proprietários, quanto a comunidades e a florestas tropicais manejadas com baixa intensidade. Seu objetivo é beneficiar as pessoas afetadas pelas florestas no longo prazo e distribuir os benefícios da certificação FSC ao longo das cadeias produtivas florestais; Existe um número desigual de membros em cada câmara do FSC internacional, com o maior número na câmara econômica, seguido pela ambiental e a social. Essa desigualdade é reforçada pelo maior número de membros de organizações na câmara econômica. Em qualquer câmara, o voto de organizações tem o peso 10 vezes maior que o voto de membros individuais. O mesmo padrão ocorre entre membros do Norte e do Sul. Apesar de 54% dos membros do FSC serem provenientes do Sul, eles representam apenas 37% do poder de voto, devido à baixa adesão de organizações do Sul; A participação dos brasileiros no FSC Internacional é desigual entre as câmaras, com forte predomínio na econômica. A Iniciativa Nacional brasileira também tem forte presença de membros econômicos, embora venha facilitando o acesso das pequenas e das médias empresas e outros grupos, de modo a atenuar as assimetrias entre os membros no FSC internacional; Apenas uma empresa participa com onze votos no FSC Brasil e Internacional, uma vez que suas subsidiárias estão registradas como membros independentes. O mesmo ocorre no FSC internacional, com ONGs internacionais com organizações afiliadas, registradas em diversos países; A implementação do FSC é assimétrica no Brasil ao longo do setor florestal nacional. Plantações representam a maior parte da área certificada (57%) e do número de certificados (79%), e as empresas respondem por uma parte ainda maior em relação ao perfil do produtor (90% de certificados e 75% da área). Operações indígenas e comunitárias, por outro lado, representam apenas 10% dos projetos e 25% da área certificada. Cerca de metade das plantações brasileiras (53% dos ha) já estão certificadas FSC, enquanto as florestais naturais e comunidades representam menos de 5% das florestas nativas certificadas no país; Apesar da relativamente baixa participação das comunidades e dos indígenas na certificação nacional, a sua presença, no Brasil, é maior do que em muitos outros países. Essa conquista foi resultado de intensos esforços externos para superar as barreiras contextuais à capacidade exigida para cumprirem-se os requisitos formais, a organização social, os mercados, a qualidade e a quantidade da produção, os custos dos investimentos e das auditorias. Políticas públicas e empresariais, ações de ONGs, de doadores e de um organismo de certificação tiveram papel fundamental na conquista e na manutenção da certificação por esses grupos;
7 Verifica-se que, no Brasil, a emissão de certificados de manejo florestal se concentra num organismo de certificação (64% do total de certificados de MF). Trata-se de um certificador (CB) sem fins lucrativos, que funciona em parceria com uma organização nacional, também sem fins lucrativos, atuando como organismo de inspeção (IB). Essa combinação CB-IB é responsável por 100% dos certificados de comunidades do país. Ressaltese que o IB se municia de mecanismos adicionais aos do FSC, visando a aumentar o acesso de produtores comunitários, tal como um fundo social que subsidia as auditorias necessárias; Os Princípios e Critérios (P&C) do FSC enfatizam as dimensões contextuais e processuais da equidade, com menos ênfase na distribuição dos benefícios materiais. Dos quatro princípios sociais explícitos (1 a 4), onze critérios (61%) tratam da dimensão de contexto, cinco critérios (28%) destacam a processual e dois (11%), os aspectos distributivos do manejo florestal; As questões processuais e contextuais das políticas e dos P&C do FSC abrangem a transparência, a participação, o acesso ao sistema, a garantia de direitos, o cumprimento de regulamentos e de mecanismos de consulta e o diálogo entre os empreendimentos certificados e os grupos por eles afetados; Enquanto os P&C do FSC enfatizam as questões contextuais e processuais da equidade, as partes interessadas, afetadas por empreendimentos certificados, alimentam expectativas de que a certificação FSC resulte na distribuição dos benefícios materiais. Mais da metade dos comentários das partes interessadas, constantes dos resumos públicos estudados, trata de aspectos distributivos relacionados à redução da pobreza e ao desenvolvimento local.
8 Temas para discussão e recomendações ao FSC Apoiar, em todas as câmaras do FSC, a adesão de grupos marginalizados pequenas e médias empresas na econômica, ONGs sociais e ambientais do Sul, sindicatos e representantes de comunidades e grupos indígenas; Considerando-se as metas do FSC para a equidade entre Norte e Sul, verifica-se espaço para melhorar o balanço de forças entre os votos do Sul e do Norte. Se não for possível por câmara, ao menos que haja a divisão Norte Sul no conjunto dos membros; Manter o processo de integração entre os membros das Iniciativas Nacionais e o FSC Internacional; Melhorar as ferramentas de acesso para os grupos desfavorecidos, tanto por meio das políticas atuais, como da criação de novas políticas. O SLIMF e a certificação em grupo são importantes, mas não suficientes para atingir as metas da equidade. Nessa direção, o fundo social de certificação para pequenos produtores familiares constitui um importante passo; Investigar se a estrutura de votação atual, que concede, às organizações, poder de voto dez vezes maior que o dos indivíduos, está afetando a capacidade relativa de as diferentes partes interessadas participarem, igualmente, nas tomadas de decisão do FSC; Investigar se a adesão de empresas e de suas subsidiárias e das ONGs e de suas afiliadas impactam o balanço para a tomada de decisão no FSC; Priorizar recursos para, nas parcerias com grupos desfavorecidos, tais como as comunidades e os grupos indígenas, desenvolver a capacidade deles para a pré-certificação; Manter e melhorar os esforços atuais para diferenciar, no mercado, os produtos de comunidades e de indígenas; Priorizar o desenvolvimento do mercado de produtos florestais não-madeireiros em escala nacional e internacional; Envolver-se com os governos para desenvolver políticas públicas que promovam a certificação de grupos locais; Investigar se o perfil de Organismos de Certificação (empresas x ONGs e locais x internacionais) influencia a implementação do FSC em um país, o acesso a ele, a qualidade das auditorias e o desempenho dos empreendimentos certificados; Redesenhar o sistema de acreditação, de modo a facilitar o acesso de organismos locais de certificação, sem fins lucrativos e com missões alinhadas às do FSC. Encorajar os certificadores a inovar, atuando como empreendedores sociais, dedicados a operacionalizar a missão do FSC; Revisar as políticas e os padrões do FSC de modo a responder melhor às prioridades locais quanto à distribuição de benefícios materiais entre as comunidades locais, afetadas pelos empreendimentos certificados com o selo FSC.
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10 Sobre os autores Luís Fernando Guedes Pinto tem colaborado com o IMAFLORA desde 1996 e, atualmente, trabalha como Gerente de Certificação de Agricultura. Atuou como Secretário Executivo do IMAFLORA entre 2005 e Nesse período, representou a organização na Assembleia Geral do FSC, serviu como membro do Conselho Diretor da Rede de Agricultura Sustentável (RAS) e representou a RAS e a Rainforest Alliance no Conselho Diretor da ISEAL Alliance. Em 2011, foi pesquisador visitante no OCTF. Sobre o Imaflora O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola é uma associação civil sem fins lucrativos, fundada em Piracicaba em Tem a missão de incentivar e promover mudanças nos setores florestal e agrícola, visando à conservação e ao uso sustentável dos recursos naturais e à geração de benefícios sociais. É um membro do FSC e também um organismo de inspeção do sistema, atuando em parceria com a Rainforest Alliance. Para mais informações, visite: luisfernando@imaflora.org Constance McDermott é Pesquisadora Sênior James Martin em Governança Florestal na Universidade de Oxford e no Oxford Centre for Tropical Forests (OCTF). Ao longo dos últimos vinte e cinco anos, realizou pesquisas e trabalhos aplicados em governança florestal quanto a abordagens locais, públicas e de mercado, incluindo manejo florestal comunitário, certificação florestal, FLEGT, política pública florestal comparada, negociações intergovernamentais climáticas e florestais e REDD +. Isso inclui trabalho de campo na América do Norte, na Ásia e na América Latina, bem como estudos comparativos globais e regionais, que cobrem mais de 65 zonas de florestais tropicais, temperadas e boreais. constance.mcdermott@ouce.ox.ac.uk Sobre o OCTF O Centro de Oxford para as Florestas Tropicais (OCTF) é uma rede de departamentos da Universidade de Oxford, de ONGs vizinhas, de consultorias e de empresas na região de Oxford, Inglaterra. O OCTF facilita a pesquisa colaborativa e a comunicação entre os seus membros sobre questões relacionadas à governança florestal, ao manejo e à conservação. Além disso, serve como plataforma para uma ampla colaboração entre as instituições da região de Oxford e a comunidade florestal global. O OCTF é um membro da Martin School de Oxford, uma iniciativa de pesquisa interdisciplinar da Universidade de Oxford, criada com vistas a enfrentar os desafios do século XXI. Para mais informações, consulte:
11 Estrada Chico Mendes, 185 Piracicaba/SP - Brasil CEP: Tel/Fax: (19) imaflora@imaflora.org
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