AMS PE ( ). RELATÓRIO

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1 AMS PE ( ). APELANTE : GRUPO ATUAL DE EDUCACAO LTDA. ADVOGADO : JOÃO ANDRÉ SALES RODRIGUES E OUTROS. APELADO : SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO - SESC. ADVOGADOS : ANA PATRICIA PONTES CARNEIRO E OUTROS. APELADO : SERVIÇO BRASIL. DE APOIO ÀS MICROS E PEQ. EMPRESAS - SEBRAE/PE. ADVOGADO : PETRONIO RAYMUNDO GONÇALVES MUNIZ. APELADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS. REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE. ORIGEM : JUÍZO DA 12a. VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO. RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. RELATÓRIO 1. Trata-se de Apelação Cível, interposta pelo GRUPO ATUAL DE EDUCAÇÃO LTDA, contra sentença (fls. 347/357) prolatada pelo eminente Juiz Federal da 12a. Vara da SJ/PE, que denegou o pedido de segurança formulado para que o Gerente Executivo do INSS em Recife fosse impedido de recolher as contribuições em favor do SESC, do SENAC e do SEBRAE, bem como para que fosse declarado o direito à compensação dos valores recolhidos sob tal título, pela apelante, nos últimos dez anos, compensando-se estes créditos com contribuições devidas ao INSS (pró-labore e folha de salário por parte do empregador), sem observância dos limites impostos pelas Leis 9.032/95 e 9.129/95; a decisão recorrida, extinguiu o processo com julgamento de mérito, condenando a parte autora, ora recorrente, ao pagamento das custas processuais (fls. 357). 2. O GRUPO ATUAL DE EDUCAÇÃO LTDA, em suas razões de Apelação (fls. 380/389), sustenta que sua atividade não tem cunho comercial, nem encontra-se vinculada à Confederação Nacional do Comércio (CNC), pois é vinculada à Confederação Nacional de Educação e Cultura (fls. 381); sustenta, ainda, que não devem prevalecer, em seu caso, os precedentes do STJ, pois estes tratam de prestadoras de serviços vinculadas à CNC; por fim, requer que se dê provimento à Apelação, para reconhecer a ilegalidade das cobranças ora questionadas, declarando-se o direito à compensação das parcelas pagas indevidamente com débitos de outros tributos administrados pelo INSS (fls. 389). 1

2 3. O SESC, ao apresentar contra-razões à Apelação (fls. 395/418), sustenta a legalidade do recolhimento das contribuições ao SESC pelas empresas prestadoras de serviços deriva de disposição expressa do DL 9.853/46 (art. 3o.); defende, ainda, que a atividade exercida pela apelante integrou-se no quadro do plano básico da Confederação Nacional do Comércio (fls. 402); por fim, requer que se negue provimento ao recurso, mantendo-se a sentença em todos os seus termos (fls. 418). 4. É o relatório. 2

3 AMS PE ( ). APELANTE : GRUPO ATUAL DE EDUCACAO LTDA. ADVOGADO : JOÃO ANDRÉ SALES RODRIGUES E OUTROS. APELADO : SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO - SESC. ADVOGADOS : ANA PATRICIA PONTES CARNEIRO E OUTROS. APELADO : SERVIÇO BRASIL. DE APOIO ÀS MICROS E PEQ. EMPRESAS - SEBRAE/PE. ADVOGADO : PETRONIO RAYMUNDO GONÇALVES MUNIZ. APELADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS. REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE. ORIGEM : JUÍZO DA 12a. VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO. RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. VOTO 1. O cerne da questão, no caso em apreço, é o enquadramento, ou não, da recorrente, prestadora de serviços educacionais, como sujeito passivo das contribuições para o SESC, SENAC e SEBRAE; eis que a apelante defende que a tal sujeição apenas se submetem aqueles que desenvolvem atividades mercantis e, concomitantemente, estão filiados a entidade sindical subordinada à Confederação Nacional de Comércio CNC. 2. Passando-se à análise do regramento normativo dessas exações, tem-se que, anteriores à CF/88, os DL s 9.853/46 e 8.621/46, instituidores, respectivamente, do SESC e SENAC foram recepcionados pela nova Ordem Constitucional, mormente tendo em vista que o art. 240 da CF/88 fez expressa referência às contribuições compulsórias destinadas às entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical. 3. O produto da arrecadação dessas contribuições não integra o orçamento da União Federal, nem da Seguridade Social (art. 165, parág. 5o., incisos I e II da CF/88), entretanto, sua destinação está vinculada a finalidade de interesse público, em especial a promoção da integração ao mercado de trabalho (inciso III do art. 203 da CF/88), não obstante destinadas à manutenção de pessoas jurídicas de direito privado. 3

4 instituí-lo assim dispôs: 4. No que diz respeito ao SENAC, o DL 8.621/46, ao Art. 1o. - Fica atribuído à Confederação Nacional do Comércio o encargo de organizar e administrar, no território nacional, escolas de aprendizagem comercial. (...). Art. 4o. - Para o custeio dos encargos do SENAC, os estabelecimentos comerciais cujas atividades, de acordo com o quadro a que se refere o artigo 577 da Consolidação das Leis do Trabalho, estiverem enquadradas nas Federações e Sindicatos coordenados pela Confederação Nacional do Comércio, ficam obrigados ao pagamento mensal de uma contribuição equivalente a um por cento sobre o montante da remuneração paga à totalidade dos seus empregados. (...). Art. 5o. - Serão também contribuintes do SENAC as empresas de atividades mistas e que explorem, acessória ou concorrentemente, qualquer ramo econômico peculiar aos estabelecimentos comerciais, e a sua contribuição será calculada, apenas sobre o montante da remuneração paga aos empregados que servirem no setor relativo a esse ramo. (...). Art. 9o. - A Confederação Nacional do Comércio fica investida da necessária, delegação de poder público para elaborar e expedir o regulamento do SENAC e as instruções necessárias ao funcionamento dos seus serviços. determina: 5. Quanto à contribuição ao SESC, o DL 9.853/46 4

5 Art. 3o. - Os estabelecimentos comerciais enquadrados nas entidades sindicais subordinadas à Confederação Nacional do Comércio (art. 577 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovado pelo Decreto de 27 de maio de 1943), e os demais empregadores que possuam segurados no Instituto da Aposentadoria e Pensões dos Comerciários, serão obrigados ao pagamento de uma contribuição mensal ao Serviço Social do Comércio, para custeio de seus encargos. 6. O art. 577 da CLT, mencionado no caput do art. 4o. acima, insere-se no capítulo que cuida do enquadramento sindical e trata do já citado Quadro de Atividades e Profissões, que fixa o plano básico do enquadramento sindical; este quadro enuncia, ao tratar das atividades ou categorias econômicas e das categorias profissionais abrangidas pela Confederação Nacional de Educação e Cultura, da seguinte forma: CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA 1o. GRUPO ESTABELECIMENTOS DE ENSINO Atividades ou categorias econômicas Entidades mantenedoras de estabelecimentos de ensino superior Estabelecimentos de ensino de artes Estabelecimentos de ensino de 1o. e 2o. graus Estabelecimentos de ensino técnico-profissional Estabelecimentos de ensino comercial (...). 7. Tal enquadramento, em termos de associação ao sindicato, não é obrigatório a partir da CF/88, pois, conforme seu art. 8o., é livre a associação profissional ou sindical, tendo sido criadas novas entidades após as acima relacionadas; entretanto, o quadro continua válido para identificação dos empregadores responsáveis pelas contribuições compulsórias destinadas às entidades privadas de serviço social e de formação profissional, em conseqüência da recepção desta sistematização pelo art. 240 da CF/88. 5

6 8. No caso do custeio do SENAC, vê-se que estão sujeitos à contribuição os estabelecimentos comerciais cujas atividades, de acordo com o quadro a que se refere o artigo 577 da Consolidação das Leis do Trabalho, estiverem enquadradas nas Federações e Sindicatos coordenados pela Confederação Nacional do Comércio (art. 4o. do DL 8.621/46); dessa forma, não estando a atividade da apelada enquadrada naquelas que estão abrangidas pela CNC, não há sua sujeição ao pagamento da contribuição, sendo pouco razoável entender que a atividade desenvolvida pela recorrente é comercial e não figura expressamente dentre as abarcadas pela Confederação do Comércio. 9. É suficiente, para efeito de exigibilidade da contribuição ao SESC, SENAC e SEBRAE o enquadramento da atividade da empresa dentre as que figuram no rol da CNC, permanecendo íntegro para este efeito a correspondência entre a categoria econômica e a profissional, prevista no art. 577 da CLT; entretanto, tal hipótese não ocorre no caso em apreço. 10. Autônoma em relação às contribuições do art. 240 da CF/88, a contribuição ao SEBRAE foi instituída pela Lei 8.154/90 como adicional às contribuições ao SESC, SENAC, SESI e SENAI; dessa forma, o sujeito passivo destas contribuições, também são serão contribuintes do adicional ao SEBRAE. 11. Dessa forma, a condição de sujeição ao pagamento da contribuição para o SESC e SENAC é a simples previsão da atividade no quadro sindical da CNC, previsto pelo art. 577 da CLT, decorrendo desta a obrigação de contribuir para o SEBRAE; assim, desobrigado de contribuir para o primeiro, inexiste sujeição para que contribua para o segundo. 12. No que diz respeito ao pedido de compensação dos créditos em questão com outras contribuições arrecadadas pelo INSS, não é possível prover a Apelação, eis que se tratam de contribuições com destinações diversas (as do INSS destinam-se à Seguridade Social e as feitas ao SESC, SENAC e SEBRAE são destinadas às suas próprias atividades. 6

7 13. Quanto à prescrição, aplica-se, por se tratar de tributo sujeito a lançamento por homologação, aplica-se o prazo decenal (cinco anos para a homologação tácita e em seguida cinco anos prescricionais). 14. Voto pelo provimento parcial da Apelação para que o INSS se abstenha de cobrar da recorrente as contribuições ao SESC, SENAC e SEBRAE, sem, todavia, reconhecer o direito à compensação destas exações com as que são próprias do INSS. 15. É como voto. 7

8 AMS PE ( ). APELANTE : GRUPO ATUAL DE EDUCACAO LTDA. ADVOGADO : JOÃO ANDRÉ SALES RODRIGUES E OUTROS. APELADO : SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO - SESC. ADVOGADOS : ANA PATRICIA PONTES CARNEIRO E OUTROS. APELADO : SERVIÇO BRASIL. DE APOIO ÀS MICROS E PEQ. EMPRESAS - SEBRAE/PE. ADVOGADO : PETRONIO RAYMUNDO GONÇALVES MUNIZ. APELADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS. REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE. ORIGEM : JUÍZO DA 12a. VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO. RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. ACÓRDÃO TRIBUTÁRIO. EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS NÃO VINCULADA À CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO E SIM À CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA (GRUPO 1o.). ART. 577 DA CLT. NÃO SUJEIÇÃO ÀS CONTRIBUIÇÕES PARA O SESC, SENAC E SEBRAE. IMPOSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO COM CONTRIBUIÇÕES DO INSS. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. 1. A sujeição do empregador às contribuições para o SESC e SENAC, nos termos dos DL s 9.853/46 (art. 3o.) e 8.621/46 (art. 4o.), depende apenas da existência de previsão de suas atividades entre as abarcadas pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), conforme quadro indicado no art. 577 da CLT. 2. O quadro previsto pelo art. 577 da CLT indica, no 1o. Grupo das atividades abrangidas pela Confederação Nacional de Educação e Cultura, os estabelecimentos de ensino, que estão expressamente excluídos, portanto, do rol abarcado pela CNC. 3. A compensação apenas pode ocorrer entre tributos da mesma espécie e destinação orçamentária-constitucional; não sendo possível, portanto, compensar as contribuições ao SESC e SENAC, destinadas a entidades privadas, com as contribuições previdenciárias. 4. Apelação parcialmente provida para que o INSS se abstenha de cobrar da recorrente as contribuições ao SESC, SENAC e 8

9 SEBRAE, sem, todavia, reconhecer o direito à compensação destas exações com as que são próprias do INSS. 5. Apelação parcialmente provida. Vistos, relatados e discutidos estes autos de AMS PE, em que são partes as acima mencionadas, ACORDAM os Desembargadores Federais da Segunda Turma do TRF da 5a. Região, por maioria, em dar parcial provimento à Apelação, nos termos do relatório, voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte do presente julgado.custas na forma da lei. Recife, PE., 26 de julho de Napoleão Nunes Maia Filho RELATOR 9