2. Da conduta antissindical da administração pública
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- Mafalda Custódio Prado
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1 NOTA TÉCNICA N 01/2015/DEPARTAMENTO JURÍDICO SINFFAZ Ementa: A ilegalidade do bloqueio do correio eletrônico institucional do Sinffaz nos computadores da SEF/MG. 1. Introdução Diante do bloqueio, realizado pela Secretaria do Estado de Fazenda do Estado de Minas Gerais dos correios eletrônicos remetidos pelo Sinffaz - e também pelos seus diretores, aos seus filiados, foi necessária a elaboração de Nota Técnica para esclarecer o incidente. 2. Da conduta antissindical da administração pública A conduta da administração pública em bloquear os s remetidos pelo Sinffaz através ou pelo de seus Diretores, revela-se prática antissindical, pois tem como objetivo, ainda que indireto, de limitar o exercício da liberdade sindical, impedindo a livre comunicação entre o sindicato e os trabalhadores por ele representados, em clara violação a preceito constitucional. O institucional é uma forma de comunicação que vai além do mero serviço postal e configura autêntico instrumento de comunicação virtual disponibilizado pelo empregador, assim, equipara-se a uma ferramenta de trabalho. É notório que o correio eletrônico, nesses casos, se destina essencialmente a troca de mensagens de caráter profissional, com o objetivo de maior agilidade, eficiência e produção no serviço público. Contudo, deve-se observar que a utilização da ferramenta de trabalho para fins de veiculação de informações pela entidade sindical não pode ser atrelada ao uso indevido da ferramenta de trabalho, para fins de justificar a recusa na comunicação da entidade sindical com os filiados. Isso porque, a comunicação do sindicato possui como objetivo a 1
2 discussão e o repasse de informações de interesse dos trabalhadores e, portanto, é totalmente atrelada às questões laborais. Com efeito, o poder da Administração Pública não é absoluto e não pode impedir o direito fundamental do servidor à efetiva representação sindical. Ademais, ainda que o trabalhador possa ter outros meios de exercer a liberdade sindical, os bloqueios apresentados explicitam a inexistência de parceria entre a entidade sindical e a SEF/MG, bem como o desinteresse desta em manter uma proximidade com a entidade, com a intenção de discutir questões postas e que poderiam ser negociadas, evitando maiores conflitos de interesses entre a administração e os seus servidores. O óbice ao direito de informação, que possui guarida constitucional (art. 5º, inciso XV 1, CR/88), também restou violado sem qualquer justificativa plausível, apenas com o intuito de enfraquecimento da entidade sindical. A comunicação entre o Sindicato e os seus filiados está relacionada às questões profissionais e, por isso, não há justificativa na conduta da Administração Pública em impedir esse acesso. Tal atitude da SEF/MG é uma tentativa de enfraquecer a tutela sindical, configurando conduta antissindical. Salienta-se que pode ser conceituado como prática antissindical qualquer ato que prejudique indevidamente o titular de direitos sindicais, a causa da atividade sindical ou limite de forma abusiva ao exercício da atividade sindical. Ainda, segundo Raquel Betty de Castro Pimenta "a proteção contra as condutas antissidicais equivale à tutela do direito fundamental à liberdade sindical, reprimindo os atos de violação aos direitos sindicais". 2 O exercício da liberdade sindical como direito fundamental possui previsão, tanto no ordenamento jurídico nacional, no art. 5, XX 3 e art. 8 caput e I 4, da Constituição da 1 Art. 5º (...) XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; 2 Condutas Antissidicais Praticadas pelo Empregador. SP: LTr, 2014, p.57 3 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; 4 Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: 2
3 República de 1988, como no direito internacional, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, a Convenção Americana Sobre Direitos Humanos, assim como também na Constituição da Organização do Trabalho e nas Convenções de n e 98 da OIT, sendo esta última devidamente ratificada pelo Brasil. Acrescenta-se que a Convenção nº. 98/OIT - promulgada pelo Decreto nº /53, com vigência nacional a partir de 18 de novembro de 1953, determina rigorosa proibição de cláusulas antissindicais como observado no caso em análise (o bloqueio dos s enviados pelo Sindicato), in verbis, artigo 1º: Art. 1º - 1. Os trabalhadores deverão gozar de proteção adequada contra quaisquer atos atentatórios à liberdade sindical em matéria de emprego. 2. Tal proteção deverá particularmente, aplicar-se a atos destinados a: a) subordinar o emprego de um trabalhador à condição de não se filiar a um sindicato ou deixar de fazer parte de um sindicato; b) dispensar um trabalhador ou prejudica-lo, por qualquer modo, em virtude de sua filiação a um sindicato ou de sua participação em atividades sindicais, fora das horas de trabalho ou com o consentimento do empregador, durante as mesmas horas. I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical; II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas; IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei; V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato; VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho; VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais; VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer. 5 Art As organizações de trabalhadores e de empregadores terão o direito de elaborar seus estatutos e regulamentos administrativos, de eleger livremente seus representantes, de organizar a gestão e a atividade dos mesmos e de formular seu programa de ação. 2. As autoridades públicas deverão abster-se de qualquer intervenção que possa limitar esse direito ou entravar o seu exercício legal. 3
4 Ainda, referida Convenção Internacional determina que as autoridades públicas deverão abster-se de qualquer intervenção que possa limitar o direito de liberdade sindical ou entravar o seu exercício: Art As organizações de trabalhadores e de empregadores terão o direito de elaborar seus estatutos e regulamentos administrativos, de eleger livremente seus representantes, de organizar a gestão e a atividade dos mesmos e de formular seu programa de ação. 2. As autoridades públicas deverão abster-se de qualquer intervenção que possa limitar esse direito ou entravar o seu exercício legal. Dessa forma, o bloqueio dos s do Sindicato apresenta-se como uma conduta antissindical e, portanto, ilegal e inconstitucional pela violação dos dispositivos mencionados. 3. Fundamento equivocado dos bloqueios com base no Decreto Estadual n /2013 O Decreto Estadual n , de 24 de abril de 2013, dispõe sobre o uso de correio eletrônico institucional no âmbito da Administração Pública Direta, Autárquica e Fundacional do Poder Executivo. Em seu artigo 3 prevê ser possível o bloqueio de usuários, temporariamente ou permanentemente, quando constatado o uso indevido do serviço e, no artigo 4, apresenta rol taxativo 6 do que seria considerado uso indevido, especificamente, no inciso IV, o envio de material com caráter pessoal, associativo ou sindical. 6 Art. 4. É considerado uso indevido do correio eletrônico institucional: I a tentativa de acesso não autorizado às caixas postais de terceiros; II o uso do correio eletrônico institucional para cadastro e acesso a redes sociais pessoais, em sítios de compras, bem como qualquer outra utilização não relacionada às funções profissionais; III o envio de material e mensagens de natureza ou com conteúdo racista, profana, obscena, intimidadora, difamatória, ilegal, ofensiva, abusiva, não ética, comercial, estritamente pessoal, de entretenimento, spam, com caráter eminentemente associativo, sindical, religioso, político e partidário; IV acesso, a qualquer título, da lista de endereços dos usuários do serviço de correio eletrônico institucional a pessoas alheias aos quadros da Administração Pública do Estado, salvo para finalidade institucional; V o envio de mensagens ofensivas que visem atingi r a honra ou a dignidade das pessoas; VI o envio de mensagens contendo vírus ou qualquer forma de rotinas de programação prejudiciais ou danosas às estações de trabalho e ao sistema de correio eletrônico; VII forjar a identidade de outra pessoa ou fazer falsa declaração de sua identidade; 4
5 In verbis: Art. 3. São condições gerais de utilização do correio eletrônico institucional: (...) IV os órgãos e as entidades possuem a prerrogativa de eliminar mensagens e arquivos, e de bloquear conteúdos e usuários, permanentemente ou temporariamente, quando houver ameaças à segurança das informações ou quando constatado o uso indevido do serviço; Art. 4. É considerado uso indevido do correio eletrônico institucional: (...) III o envio de material e mensagens de natureza ou com conteúdo racista, profana, obscena, intimidadora, difamatória, ilegal, ofensiva, abusiva, não ética, comercial, estritamente pessoal, de entretenimento, spam, com caráter eminentemente associativo, sindical, religioso, político e partidário; Assim, o Decreto supramencionado, de fato, prevê que é considerado uso indevido o ENVIO de referidos materiais de cunho estritamente pessoal, associativo e sindical. Contudo, não há nenhuma previsão sobre ser indevido o recebimento de s com conteúdo sindical ou associativo. Percebe-se que, o artigo 4 apenas faz alusão aos s enviados do correio eletrônico institucional, no caso em análise, dos remetidos através para outros destinatários. Portanto, ao analisar o Decreto Estadual n /2013, conclui-se não haver qualquer dispositivo normativo que autorize o bloqueio indevido dos s enviados pela entidade sindical ou seus diretores através Destaca-se que não se discute a legalidade do disposto no Decreto Estadual n /2013, mas fato é que a administração pública somente pode fazer o que a lei autoriza e, portanto, está havendo a violação do princípio constitucional e administrativo da legalidade. VIII transmitir ilegalmente propriedade intelectual de terceiros ou outros tipos de informações proprietárias sem a permissão do proprietário ou licenciante; IX modificar, adaptar, traduzir ou fazer engenharia reversa de qualquer parte do serviço de correio eletrônico institucional; X praticar quaisquer atos que violem a legislação aplicável; XI outras atividades que possam afetar negativamente os servidores ou os órgãos e entidades. 5
6 Na clássica comparação de Hely Lopes Meirelles, enquanto os indivíduos no campo privado podem fazer tudo o que a lei não veda, o administrador público só pode atuar onde a lei autoriza. 7 Dessa forma, os s do Sinffaz e de seus Diretores não podem ser bloqueados sob a justificativa de que configuraria uso indevido do institucional, já que inexiste qualquer dispositivo no Decreto ou na legislação mineira que impeça o recebimento de e- mails emitidos pela entidade sindical para os seus trabalhadores representados. Ademais, referida vedação seria notoriamente inconstitucional, já que configuraria prática antissindical, já que a Administração Pública, na qualidade de empregadora, não pode limitar o acesso às informações repassadas pelo sindicato aos trabalhadores. Percebe-se que está sendo feita uma leitura superficial e insuficiente do Decreto por parte da SEF/MG, e uma interpretação com cunho estritamente antissindical, visto que o referido bloqueio de recebimento de s remetidos pela entidade sindical é evidentemente ilegal e inconstitucional. 4. Conclusão O bloqueio do recebimento dos s enviados pelo Sinffaz (@sinffaz.org.br) e/ou seus Diretores para os servidores no correio eletrônico institucional (@fazenda.mg.gov.br) é ilegal e inconstitucional, pois ausente previsão normativa, além de configurar-se como prática antissindical por parte da SEF/MG e deve ser de pronto suspenso. É o que se tem a esclarecer e orientar quanto ao tema. Belo Horizonte, 26 de fevereiro de Departamento Jurídico do Sinffaz Bárbara Macedo OAB/MG: De acordo, Sarah Campos OAB/MG: Coordenadora Jurídica do Depto. Jurídico do Sinffaz 7 Direito Administrativo Brasileiro, p
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