ARRANCAMENTO DAS PREGAGENS E CABOS DE AÇO NA MINA DO MOÍNHO - ALJUSTREL PULL TESTING OF ROCK BOLTS AND CABLES IN THE MOÍNHO MINE - ALJUSTREL
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1 ARRANCAMENTO DAS PREGAGENS E CABOS DE AÇO NA MINA DO MOÍNHO - ALJUSTREL PULL TESTING OF ROCK BOLTS AND CABLES IN THE MOÍNHO MINE - ALJUSTREL TORRES SILVA COUTO, RUI* RESUMO O Centro de Geotecnia do Instituto Superior Técnico tem vindo a fazer o acompanhamento geomecânico das estruturas de suporte das minas de Aljustrel, nomeadamente dos aspectos de instrumentação geomecânica da mina de Moínho, em consonância com as prioridades estabelecidas pelas Pirites Alentejanas, S.A., tendo em vista a manutenção da estabilidade das aberturas subterrâneas que poderão desempenhar papel relevante na possível reabertura dos trabalhos de exploração da Mina. Este artigo tem por objectivo descrever as acções levadas a efeito para a determinação das capacidades de ancoragem das pregagens instaladas nos locais que se considerem críticos. O equipamento disponivel para o efeito é o Rock Bolt Pull Test- Model 30, de origem canadiana, que foi modificado para permitir o ensaio de pregagens por cabo e com qualquer inclinação, dado que originalmente se destinava apenas ao arrancamento de pregagens instaladas na vertical. O apreciável rigor com que estas determinações foram feitas, algumas das quais apresentadas no texto do artigo, fornecem uma contribuição valida para a definição das condições reais dos cabos ensaiados, servindo para o dimensionamento do suporte por pregagens e cabos de aço similares que poderão vir a instalar-se futuramente, assim como à determinação da funcionalidade de sistemas já colocados há varios anos, cuja eficácia necessite de ser avaliada. ABSTRACT The CEGEO of Instituto Superior Tecnico has studied the geomechanic behaviour of the suport structures of the Aljustrel Mines, namely the monitoring of the Moinho mine according to the priorities of Pirites Alentejanas S.A., with the purpose of stability maintenance of the underground works that may have relevant role on the future possible reopening of their exploitation works. The objective of this paper is to describe the studies and tests for determining the load support capacity for the already installed rock bolts and cables with resin and cement bonds. The available equipment of CEGEO is the canadian Rock Bolt Pull Test Model RPT 30 that was modified, allowing testing to be made for bolts an cables with any inclination. The several load versus displacement curves obtained are in accordance with typical curves, thus giving a good contribution for the support dimensioning and evaluation rock bolts and cables similar to those to be installed in the future, as the funcionablity of the existing systems must be evaluated. (*) Investigador do Núcleo de Rochas, Centro de Geotecnia do IST, pedro.bernardo@ist.utl.pt
2 1. INTRODUÇÃO E OBJECTIVOS O Núcleo de Rochas do Centro de Geotecnia do IST tem vindo a fazer um acompanhamento geomecânico das estruturas subterrâneas da Mina do Moínho em Aljustrel[1], em consonância com as prioridades estabelecidas pelas Pirites Alentejanas S.A., tendo em vista o plano de manutenção da estabilidade das aberturas subterrâneas que poderão desempenhar papel relevante na possível reabertura dos trabalhos de exploração das suas minas. Embora este plano de manutenção de estabilidade das estruturas subterrâneas seja bastante mais abrangente, este artigo tem por objectivo descrever as acções levadas a efeito para a determinação da integridade e das capacidades de ancoragem das pregagens por meio de cabos e tirantes instalados há vários anos nos locais que se consideraram críticos, bem como discernir sobre aspectos técnicos que conduzissem a uma optimização dos resultados pretendidos. Procurou-se também averiguar se os efeitos temporais, mecânicos e outros não afectaram as referidas pregagens e caso afirmativo, quantificar esses desvios e dar directrizes para o dimensionamento do suporte por pregagens e por cabos similares que poderão vir a instalar-se futuramente. 2. INSTALAÇÃO DE SUPORTES 2.1 Sustimento por meio de cabos Os trabalhos de colocação do sustimento com cabos têm sido efectuados pelas Pirites Alentejanas S.A., nomeadamente na secção 3 da rampa principal, segundo uma determinada malha, com aberturas que variam de 1,2 m x 1,2 m a 2 m x 2 m. O aproveitamento dos cabos de aço, existentes em significativas quantidades, permitiu uma minimização dos custos inerentes à sua aquisição, observadas que foram certas características, como sejam, o estado geral destes materiais, utilizações a que foram sujeitos, o seu grau de oxidação, se foram sujeitos a grandes esforços ou se apresentam ainda resquícios de lubrificação, motivando a degenerescência das suas propriedades de resistência mecânica. Tomados estes cuidados, a sua aplicação é vantajosa como sistema de suporte de maciços rochosos por ser um sistema durável e capaz, assim como flexível, em condições distintas de instalação, podendo ser fixados em comprimentos variados. Outro aspecto a ter em consideração é o de ordem técnica, onde estão em jogo a eficiência e validação do processo de fixação dos cabos. Assim, no âmbito deste relatório, dar- -se-á ênfase a considerações desta índole, à luz de abordagens teóricas que possam servir de orientação aos procedimentos praticados. Um dos aspectos mais sensíveis desta técnica, relaciona-se com as solicitações que actuam após a fixação dos cabos, nomeadamente na interface da superfície lateral dos cabos e a calda injectada. De facto, quando as tensões induzidas nesta interface se tornam superiores ao atríto ocorrerá a rotura e provocando a redistribuição dos esforços nas demais estruturas [2] e [3]. Acresce ainda que, para além dos cuidados nas técnicas e materiais utilizados, há que considerar as características do maciço onde são implantados estes suportes. O recurso ao sustimento por cabos e caldas torna-se inadequado quando a relação água / /cimento óptima não puder ser controlada, nos furos onde existam fluxos contínuos de águas subterrâneas, quando se verifiquem condições de instabilidade que obriguem à actuação
3 imediata do suporte, não existindo um período de repouso para a consolidação do agente de cimentação (tempo de presa do cimento) e quando seja previsível a presença de falhas abertas, a menos que seja possível o controle das injecções, o que se encontra às vezes relacionado com o tipo de diagrama de fogo utilizado, o qual deve ser corrigido, caso se verifiquem tais fenómenos [4]. Deve-se ter ainda em atenção que, na evolução dos trabalhos, o dimensionamento das estruturas deve ser reajustado, fazendo uso dos resultados das monitorizações e observações, procurando- -se sempre um bom compromisso entre economia e segurança, implementando as aplicações teóricas em conjunto com a experiência prática adquirida. 2.2 Avaliação do sistema de suporte A avaliação quantitativa dos cabos aplicados nas áreas mais sensíveis passa pelo estudo da densidade mínima necessária para que a área afectada confira condições de estabilidade. Para tal, considera-se serem válidas um conjunto de variáveis estabelecidas pelas características dos materiais e as condições em que são desenvolvidos os trabalhos, nomeadamente as dimensões e espaçamento com que são implantados os cabos, o rigor com que são efectuadas as operações de instalação e as características geológicas e geotécnicas inerentes do maciço. Assim, numa primeira abordagem, interessa prever qual será o comportamento do sistema implantado nas actuais condições, através do cálculo dos esforços admissíveis nos cabos, nas caldas de cimento utilizadas e nas tensões de rotura do maciço. Cabo de aço Para um cabo de 17 mm de diâmetro e considerando uma tensão de tracção do aço de 160 kg/mm 2 (1.600 MPa), resulta uma carga de rotura do cabo de aproximadamente 173,5 kn. Cimento Adopta-se o valor para a tensão de rotura do cimento, σ c, correspondente a 10 MPa. Maciço Atendendo-se à natureza e estado de fracturação do maciço, considera-se o valor médio representativo de70 MPa como resistência à compressão. Pela análise realizada pode-se concluir que, quando comparadas as magnitudes dos valores aferidos, o material que se apresenta mais susceptível aos esforços que possam actuar no sistema, corresponde à calda de cimento. Assim, devem haver especiais cuidados na sua preparação e colocação, devendo-se optar por outro tipos de suporte caso não se verifique eficiência do material, conclusões essas que só podem ser obtidas através da prática dos ensaios de arrancamento das pregagens. 2.3 Ensaios de arrancamento de cabos e pregagens Para a análise da eficácia do sistema de suporte utilizado, foram realizados ensaios de arrancamento tendo como base a metodologia indicada nos Suggested Methods da Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas [5]. Estes ensaios destrutivos foram realizados in situ sob um certo número de cabos e pregagens, onde foram determinados os parâmetros necessários para a verificação das condições de actuação dos mesmos e, consequentemente, saber se o número de suportes instalados é o mais adequado.
4 A utilização do equipamento disponível, para o efeito, no Centro de Geotecnia do I.S.T é o Rock Bolt Pull Tester Model RPT-30, representado na Figura 1, que foi modificado para permitir o ensaio de pregagens, com qualquer inclinação, dado que originalmente se destinava apenas ao arrancamento das pregagens instaladas na vertical. Na hipótese de ocorrência de rotura numa área já sustida interessa considerar três situações distintas responsáveis pelo desabamento dos tectos de escavação. Na primeira destas, ocorre o desabamento do bloco do maciço, juntamente com o sustimento incorporado. Neste caso, o comprimento ou o número das ancoragens não se apresenta suficiente de forma a tornar o bloco individualizado pelas descontinuidades que o ligam ao remanescente maciço. Para tal dimensionamento, a avaliação do volume dos blocos soltos torna-se necessária, apesar das dificuldades relativas a esse levantamento; no entanto, uma primeira ordem de aproximação dos valores do volume, tamanho e orientação das descontinuidades que individualizam o bloco são suficientes para esta definição. Um levantamento mais elaborado do formato, volume e peso, assim como a direcção de escorregamento ou queda dos blocos das paredes ou dos tectos do túnel, pode ser feita com recurso à utilização da técnica de projecção estereográfica [6]. Uma vez obtida a informação sobre os blocos através desta técnica, pode ser determinado o número de cabos necessários ao sustimento do material individualizado pelas descontinuidades. A determinação do comprimento das pregagens basear-se-á simplesmente nas dimensões dos blocos a serem tratados. O comprimento dos mesmos deve ser tal que os segmentos fixados no maciço sejam capazes de suportar o peso resultante. Foi considerado importante dispôr de um sistema de aferição das capacidades de suporte que estariam a ser desempenhadas pelos cabos e pregagens já existentes na Mina do Moínho. Esta verificação aplicar-se-ia, também, aos cabos e pregagens recentemente instalados em zonas menos estáveis, uma vez que é importante determinar a sua capacidade de ancoragem.
5 Figura 1 Componentes do aparelho de arrancamento de pregagens 2.4 Necessidade de alteração do equipamento original O equipamento originalmente disponível para realizar ensaios na Mina do Moínho foi transportado até ao local (Rampa Principal a cota 100) e foram efectuadas diversas tentativas, todas incompletas, face às dificuldades seguintes: - O aparelho era especialmente destinado ao arrancamento de parafusos de tecto, que possuam a extremidade roscada, onde se aplica uma porca que entra no interior da câmpanula de distribuição de carga. No caso de se trabalhar com cabos, era necessário criar um encabeçamento do cabo compatível com os esforços a aplicar, que podem chegar aos 270 kn; - Verificou-se ainda a ausência de alongas na perna telescópica que permitissem ensaiar cabos instalados no tecto, devido à grande altura do mesmo relativamente ao piso de rodagem; - Foram assim tentados ensaios para cabos instalados nos hasteais, a alturas convenientes (1 a 1,8 m do piso) com a perna telescópica colocada na horizontal ou inclinada, fixando-se no
6 8º Congresso Nacional de Geotecnia, Lisboa 2002 veículo de carga. Porém, verificava-se encurvadura da haste devida ao seu peso próprio, facto que impedia o deflectómetro do aparelho de realizar medições de deslocamentos; - O encabeçamento da extremidade livre do cabo (contido no interior da câmpanula do aparelho) era realizado por "serra-cabos" de parafuso, que não exerciam convenientemente a sua função, deixando deslizar o cabo antes de este romper. Foi assim decidido suspender o ensaio e promover as seguintes modificações: - Alterar o sistema de encabeçamento do cabo, através do aproveitamento da sua própria cunha e bucha, e acrescentando-lhe uma bolacha de 55 mm de diâmetro exterior. - Executar uma placa de chapa, com 10 mm de espessura e 250 mm de lado, destinada a ser colocada entre a rocha e a campânula do macaco do aparelho de arrancamento; - Remover totalmente a perna telescópica do aparelho e substitui-la por um conjunto tubular, onde se posiciona o deflectómetro. Esta última peça, construída especialmente para o efeito, foi subsequentemente ensaiada no Laboratório, tendo fornecido apreciável melhoria no processo de registo das deformações, levando a dispensar completamente a referida perna telescópica (ver Figura 2). Feita a alteração referida, foi o sistema ensaiado em laboratório, antes de ser usado na Mina. Naturalmente que apenas foi aferido o comportamento à tracção que apresentava o conjunto formado pelo cabo de aço e o respectivo encabeçamento. A curva força-deslocamento típica que se obteve nos ensaios de laboratório efectuados está representada na Figura 3, revelando possuir três partes: a curva inicial de ajuste do sistema (caracterizada por um coeficiente de rigidez crescente), a fase elástica em que se verifica proporcionalidade entre forças e deslocamentos (tendo coeficiente de rigidez constante) e a fase plástica, com grandes deslocamentos para pequenos acréscimos de carga aplicada (coeficiente de rigidez decrescente). Figura 2 Conjunto tubular onde se posiciona o deflectómetro É de assinalar que a transição da fase elástica para a fase plástica se dá para a chamada carga de cedência do cabo, que deve ser o limite da sua utilização como elemento de ancoragem, sendo que a respectiva tensão de rotura ocorre para cargas ainda mais altas, no termo da fase plástica. Na Figura 3 está representada a curva característica obtida em testes de laboratório.
7 F (kn) F rotura F rotura Fase plástica Fase elástica Fase de ajuste do sistema Figura 3 - Comportamento obtido em testes laboratoriais de arrancamento 3. ENSAIOS EFECTUADOS E RESULTADOS OBTIDOS 3.1 Com cabos de aço e ligação com calda de cimento Deslocamentos Efectuaram-se quatro ensaios de arrancamentos de cabos, um dos quais foi anulado por razões de mau funcionamento do sistema de encabeçamento e fixação da extremidade do cabo de aço Figura 4. No Quadro 1 estão patentes os resultados dos ensaios efectuados na zona da cota 100 da Rampa principal. Em face dos ensaios efectuados, foram extraídas as características geométricas dos segmentos que constituem tais curvas, sendo as mesmas apresentadas no Quadro 1. Figura 4 Curva força/deslocamento do ensaio de arrancamento do cabo de aço
8 Quadro 1 - Valores dos coeficientes angulares dos ramos das curvas força vs. deslocamento para os 3 ensaios efectuados Fase Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Valores médios Ajuste 2.63 Não verificada Elástica Plástica não verificada 2.16 Tensão de rotura (MPa) Carga de rotura (kn) Verifica-se através do Quadro 1, que os ensaios se aproximaram bastante do valor calculado para a carga de rotura, se considerarmos o estado de uso do cabo apresentando alguma corrosão entretanto ocorrida desde que está em serviço. Face aos valores numéricos obtidos nos ensaios realizados na mina, chegou-se a algumas conclusões, que a seguir se enumeram. Entre os três componentes que poderiam ceder sob a acção das cargas aplicadas (rocha, cimento e cabo de aço) verificou-se que foi o último que constituiu o elo mais fraco, sendo a respectiva carga de rotura compreendida entre 123 e 148 kn, com uma média de 136 kn. Já os valores da carga de cedência, correspondentes ao final da fase elástica, cifram-se entre 120 e 137 kn, com um valor médio de 127 kn, indicativo do limite de carga que o cabo deverá suportar enquanto elemento de suporte de tectos e hasteais. Estes resultados não devem ser generalizados para outras situações que envolvam outros tipos de cabos, ou diferentes comprimentos de furos, ou ainda, distintas composições da calda de cimento a utilizar. Também a idade das pregagens constitui parâmetro a registar, face aos efeitos de corrosão que se verificam na Mina e que reduzem as suas capacidades de ancoragem com o decorrer do tempo. 3.2 Com pregagens de varão de aço e com ligante de resina Realizaram-se três ensaios e apresenta-se na Figura 5, a curva força versus deslocamento, relativa ao ensaio nº 3 realizado na galeria a muro 272 Norte, no acesso à câmara 16 no hasteal nascente. Interpretação No Quadro 2 estão patentes os resultados dos ensaios efectuados, referidos nos pontos anteriores. Em face dos ensaios efectuados, foram extraídas as características geométricas dos segmentos que constituem as curvas de variação das cargas aplicadas no arrancamento vs. deslocamentos na cabeça da pregagem, sendo as mesmas apresentadas no Quadro 2.
9 Fase Plástica Força (kn) Fase Elástica R2 = 4.63 ROTURA DA ROSCA DO PREGO R1 = Deslocamentos (mm) Figura 5 Curva força/deslocamento referente ao ensaio nº 3 RIGIDEZ (kn/mm) Quadro 2 Resultados dos ensaios de arrancamento de pregagens. Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Valores médios Fase Não Não 2.53 Ajustamento verificada verificada - Fase Elástica Fase Plástica Não verificada CARGAS (kn) Carga de resistência Elástica Carga de resistência Plástica Carga eficaz de resistência Não verificada * Rotura do parafuso à tracção σt=480 Mpa * 81.1 Os dois primeiros ensaios revelaram a cedência da resina que rodeia os tirantes, precedida, no primeiro caso, por um comportamento elástico, e no segundo, por uma fase plástica bem nítida[8]. Já o terceiro ensaio foi caracterizado por uma rotura do tirante (verdadeiro ensaio de tracção), após ter existido comportamento plástico, em que intervêm simultaneamente a resina e o tirante.
10 Assim, os ensaios serviram para demonstrar que a resistência eficaz do conjunto resina/tirante não deve ultrapassar 38 a 50 kn, correspondente ao termo da fase elástica de deformação. 4. ENSAIO NÃO DESTRUTIVO AVALIADOR DA INTEGRIDADE DAS PREGAGENS DE SUPORTE DA TELA TRANSPORTADORA NA RAMPA DE STº ANTÃO Com o objectivo de avaliar o comportamento das ancoragens que suspendem a estrutura metálica onde funciona a tela transportadora de minério, quando sujeitas a esforços de tracção, foram efectuados testes in situ. A determinação incidiu sobre as características elásticas das ancoragens e as condições da sua aderênia ao maciço rochoso em que as mesmas estão instaladas. c 4.1 Localização dos ensaios Por indicação de Pirites Alentejanas, o trabalho incidiu sobre duas das ancoragens de suporte da estrutura que suspende a tela transportadora nº 4, instalada na Rampa de Santo Antão da Mina do Moinho. As ancoragens de suporte da tela estão colocadas aos pares, distando 4 metros entre pares sucessivos, pelo que sustêm um peso morto da estrutura de cerca de 8 kn, ou seja, 4 kn por cada ancoragem. Tais ancoragens são constituídas por varões de aço nervurado com 2,5 a 3 metros de comprimento, estando ligadas ao maciço por meio de resina epoxy, ao longo de um comprimento aproximado de 1,5 a 2 metros, e com 1m abaixo do tecto da rampa. O diâmetro desses varões era de 17,7 milímetros e a resina utilizada para a sua instalação era da marca Celtite C5-3150, com 3 cartuchos de 50 cm por furo. O equipamento de ensaio constou de sistema de carga, de sistema medidor de extensões, de sistema medidor de deslocamentos e ainda, de medidor de temperaturas. O sistema de carga que foi preparado pela Empresa Pirites Alentejanas constou de uma "cesta" em varão de aço e de várias massas metálicas marcadas com os respectivos pesos. O sistema medidor de deformações foi constituído por extensómetros eléctricos de resistência, com base de medida 16 mm, e por um indicador de extensões Vishay, modelo P-3500, já o sistema medidor de deslocamentos foi constituído por comparadores digitais (deflectómetros) Mitutoyo, com precisão 1 µm e por hastes de fixação. O ensaio consistiu, fundamentalmente, na aplicação de cargas de tracção às ancoragens e na medição de extensões e deslocamentos motivados por essas cargas (ver Figura 6). Em complemento, para medição dos deslocamentos relativos das ancoragens, motivados pelas cargas a aplicar no ensaio, foram nelas instalados, a uma distância do tecto da rampa de cerca de 12 cm, comparadores digitais Nas proximidades dos extensómetros eléctricos de resistência colados à ancoragem (extensómetros activos), foi colocada uma placa de aço, livre de qualquer solicitação, na qual estavam colados dois extensómetros eléctricos de resistência (extensómetros compensadores) do mesmo tipo dos extensómetros activos. Estes estensómetros compensadores, para além de, conjuntamente com os extensómetros activos, constituirem meia ponte no indicador de extensões, permitem remover, das extensões a medir, os efeitos de qualquer variação de resistência nos extensómetros activos, resultantes de variações de temperatura durante o ensaio.
11 (1) Ancoragens (2) Extensómetros Deflectómetros Carga de Ensaio Aparelho de Leitura Figura 6 Ensaio de tracção sobre ancoragens Estabelecidas as ligações dos extensómetros eléctricos de resistência (activos e compensadores) ao indicador de extensões, e ajustados os comparadores digitais, colocou-se, na vizinhança das ancoragens a ensaiar, a ponta sensível de um par termo-eléctrico ligado a um aparelho medidor de temperaturas e iniciou-se o ensaio. No esquema apresentado na Figura 6 podem ver-se alguns aspectos do ensaio, a aparelhagem instalada nas ancoragens, e o sistema de aplicação de cargas. As ancoragens em ensaio foram submetidas a um ciclo de carga e descarga, no qual, quer as cargas, quer as descargas, foram efectuadas por incrementos (patamares). Decorridos cerca de 30 s após cada incremento foram medidos os correspondentes deslocamentos e extensões e, também, a temperatura ambiente. As massas marcadas, correspondentes às cargas de cada patamar do ensaio, foram introduzidas numa cesta metálica, cesta esta suspensa da viga I suportada pelas ancoragens em ensaio. Na aplicação das cargas de ensaio procurou-se que a linha de acção das mesmas se situasse, o mais possível, a meio da distância entre as ancoragens, por forma a que fossem equivalentes as forças de tracção transmitidas a cada uma delas.
12 Interpretação Na Figura 7 apresenta-se a curva força versus deslocamentos totais. A resistência do conjunto varão de aço + resina + rocha, admitindo 60 MPa como o valor mais aceitável para a resistência à tracção das resinas (epoxy e poliester), permite determinar o factor de segurança das ancoragens em causa da ordem de 3,1, que prova a integridade das ancoragens Forças aplicadas F (kn) Ancoragem 1 Ancoragem Deslocamentos totais, d (mm) Figura 7 - Variação das forças aplicadas com os deslocamentos totais nas ancoragens 1 e 2 Esta ordem de grandeza permite incorporar eventuais diminuições da resistência da resina em função do tempo que decorreu após a sua instalação, levando a considerar como segura a actual configuração das ancoragens da Rampa de Santo Antão. Esta conclusão não envolve a participação da rocha como elemento resistente, uma vez que ela possui resistências muito variáveis, dependendo da sua xistosidade, do grau de alteração, da presença de água e de falhas geológicas. Dada esta complexidade de comportamento, considera- -se importante não descurar o trabalho de observação contínua e de monitorização do desempenho dos tectos rochosos situados na vizinhança directa da tela. Dado o elevado número de ancoragens (da ordem das três centenas) que suportam a estrutura que suporta a tela transportadora nº 4, e tendo o ensaio incidido apenas sobre duas delas, para que as conclusões a tirar possam ser extrapoladas para o seu conjunto, recomenda-se que sejam efectuados ensaios complementares sobre alguns conjuntos de pares de ancoragens. 5. CONCLUSÕES FINAIS Face aos resultados dos ensaios de arrancamento de pregagens e cabos efectuados, provou-se que a carga eficaz do suporte dos conjuntos tirante/resina e cabos/cimento não ultrapassa valores que poderão ser utilizados em previsões da sua contribuição para a estabilidade das cavidades onde estão instalados[9]. Assim, a integridade das ancoragens ensaiadas ficou comprovada perante os resultados dos ensaios efectuados.
13 No entanto, dado o elevado número de ancoragens, e para que as conclusões a tirar possam ser extrapoladas para o seu conjunto, será aconselhável que sejam efectuados rotineiramente ensaios de arrancamento de pregagens. AGRADECIMENTO O autor está reconhecido à Administração de Pirites Alentejanas S.A. pela autorização concedida para a publicação desta comunicação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] CEGEO/IST Janeiro de 2000;Janº,Fevº e Março de 2000;Abril,Maio e Junho de 2000; Julho e Dezº de Relatórios Trimestrais de Acompanhamento Geomecânico das Estruturas das Minas de Aljustrel, liderados pelo Prof C.A.J.V Dinis da Gama [2] Beniawski, Z. T Design Methodology in Rock Engeneering - A.A. Balkema, Rotherdam [3] Brady, B.H.G.; Brown, E.T 1985 Rock Mechanics for Underground Mining George Allen Unwin, Ltd London [4] Hoek, E ; Kaiser P. K.; Bawden W. F Support of Underground Excavations in Hard Rock A.A. Balkema / Brookfield [5] I.S.R.M Suggested Methods for Rock Bolt Pull Tests - Pergamon Press [6] Hoek, E.; Brown, E.T 1980 Underground Excavations in Rock Institution of Mining and Mettalurgy London [7] Peng, S. S Coal Mine Ground Control - John Wiley Sons New York [8] Walthan, A.C Foundations of engineering Geology Blackie Academie & Professional London [9] Hugon et A. Corts (1959) Le Boulonnanage des Roches en Souterrain Eyrolles Paris
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