PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Porto Velho - Fórum Cível Av Lauro Sodré, 1728, São João Bosco,

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1 CONCLUSÃO Aos 26 dias do mês de Novembro de 2013, faço estes autos conclusos ao Juiz de Direito José Antônio Robles. Eu, Irene Costa Lira Souza - Escrivã(o) Judicial, escrevi conclusos. Vara: 4ª Vara Cível Processo: Classe: Procedimento Ordinário (Cível) Requerente: Allisson Eric Bertuol Requerido: Azul Linhas Aéreas Brasileira (Trip - Linhas Aéreas S/A Vistos, etc. I RELATÓRIO Trata-se de indenização por danos morais e materiais movida por ALLISSON ERIC BERTUOL em face de TRIP LINHAS AÉREAS S/A. Nela, narra o autor, em síntese, ter adquirido passagem aérea da empresa ré, com destino de Porto Velho/RO para Manaus/AM, em 14/12/2011, com saída prevista para 21h32min. Contudo, a saída teria atrasado mais de 06 (seis) horas, o que teria levado ele a perder o vôo adquirido pela empresa aérea COPA AIRLINES S/A para a cidade de Medellin, na Colômbia (seu destino final). Diz, também, que diante da impossibilidade de acomodação em outro vôo junto a empresa COPA partindo de Manaus, buscou atendimento junto a requerida. Todavia, os prepostos desta teriam afirmado que a sua responsabilidade limitava-se ao trecho Porto Velho/Manaus, não podendo transportá-lo para outra cidade em que houvesse mais oportunidades de voo. Demais disso, que sem outras alternativas, teria arcado com despesas de alimentação, hospedagem, taxi no valor de R$ 446,54 (quatrocentos e quarenta e seis reais e cinquenta e quatro centavos), passagem para o trecho Manaus/São Paulo, no valor de R$ 2.282,15 (dois mil, duzentos e oitenta e dois reais e quinze centavos), nova passagem com destino a Medellín (desta vez partindo de São Paulo), no valor de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais) para o dia 17/12/2011, e uma multa por no-show no valor de US$ 485,00 (o equivalente a R$ 850,64), justamente para não perder o voo de volta, perfazendo o total de R$ 7.079,33 (sete mil, setenta e nove reais e trinta e três centavos). Pág. 1 de 8

2 Sustenta, ainda, que os fatos relatados lhe causaram aflição, sentimento de impotência e transtornos de toda a ordem, razão pela qual, além de indenização pelos danos materiais, também requereu a condenação da requerida no pagamento de indenização pelos danos morais sofridos, acrescido de custas e honorários advocatícios (fls. 03/11). Juntou procuração e documentos (fls. 12/26). Citada, a requerida apresentou contestação (fls. 33/50). Nela, preliminarmente alegou que houve nulidade do ato citatório, por ter sido efetivada por funcionário sem poderes de representação. Quanto ao mérito, justificou que a aviação sofre a influência de fatores externos como a manutenção não programada, tráfego aéreo, más condições meteorógicas, falta de infraestrutura aeroportuária, problemas com passageiros, entre outros, que podem causar anomalia na regular prestação do serviço. Sustenta, também, que tais acontecimentos seriam imprevisíveis, de força maior, excludentes do nexo de causalidade. Além disso, especificamente quanto ao voo do autor, afirmou que houve um pequeno atraso e que inexistiu falha no serviço, pois teria cumprido integralmente o contrato, transportando o autor ao seu destino final, e quanto à pretensão indenizatória, que o ocorrido não caracterizaria dano moral, mas mero transtorno, e que o dano material deve ser provado de forma cabal o que não teria sido feito pelo autor. Arrematando a sua retórica, propugna pela a improcedência dos pedidos, invertendo-se o ônus da sucumbência. Convertido em diligência o julgamento (fl. 63), foi determinado ao autor a apresentação de comprovante de pagamento da passagem da rota São Paulo-Medellin, no dia 17/12/2011, bem como do pagamento da multa por no-show, mencionada na inicial, que se manifestou (fl. 78) e juntou aos autos documentos (fls. 79/84), em face dos quais pronunciou-se o requerido (fl. 90). Vieram-me conclusos os autos. É o relatório. II DECIDO Do Julgamento Antecipado da Lide Preliminarmente, constato a desnecessidade do prosseguimento do feito com a consequente instrução probatória, motivo pelo qual, com base na faculdade conferida pelo artigo 330, I, do Código de Processo Civil, julgo antecipadamente a lide. Pág. 2 de 8

3 DA PRELIMINAR DE NULIDADE DA CITAÇÃO A preliminar de nulidade da citação, suscitada pelo requerido, deve ser rejeitada. É que o fato da citação ter sido recebida por preposto sem poderes para recebê-la, a meu ver, é irrelevante, eis que em se tratando da citação de pessoa jurídica não é necessária a formalização do ato na pessoa de um dos sócios gerentes, diretores ou representantes legais, basta que seja realizada na pessoa do administrador local. Aliás, acerca deste entendimento, o TJRO assim decidiu : Embargos à execução. Nulidade da citação. AR recebido por funcionário sem poderes de representação. Honorários de advogado. Para a decretação de nulidade de ato processual, necessária é a verificação da existência de vício e de prejuízo às partes. Para a validade da citação, basta que o AR seja enviado para o endereço correto da pessoa jurídica e seja recebido por funcionário que integra seu quadro funcional. Desnecessidade de que o ele detenha poderes de representação. Os honorários de advogado podem ser cobrados juntamente com o valor da execução e nos embargos, a fim de viabilizar os princípios da economia processual e da celeridade (TJ/RO, 1ª Câmara Cível, Apelação Cível n , Rel. Des. Gabriel Marques de Carvalho, publicado no DJ n. 152 em 16/08/2006). Essa é a interpretação que mais se adequa ao sistema atual, na sua pretensão de dar mais praticidade às comunicações dos atos judiciais, pois as normas processuais não devem ser interpretadas com exaltações desnecessárias, como se em si mesmas estivesse o próprio objetivo dos processos, mas sim, de forma contida, restringindo-as à sua verdadeira destinação que não é outra senão a de compatibilizar o seguro encaminhamento dos feitos à celeridade de sua finalização. Assim, concluo que o ato citatório realizado foi perfeitamente válido. DO MÉRITO Quanto ao mérito, considerando que a atividade da requerida é classificada como serviço público de transporte de pessoas prestado por pessoa jurídica de direito privado, a requerida responde objetivamente pelos danos causados (art. 37, 6º, da CF). Ademais, trata-se inegavelmente de relação de consumo, disciplinada pelos princípios e normas de ordem pública e interesse social constantes do Código de Defesa do Consumidor - o qual, além de também prever a responsabilidade objetiva (art. 14 do CDC), exige que o fornecedor, ou prestador de serviço, seja diligente na execução de seus serviços, prevenindo a ocorrência de danos ao consumidor (art. 6º, VI, do CDC). In casu, conforme relatado, o autor pretende a condenação da requerida ao pagamento de indenização pelos danos morais e materiais que alega ter sofrido, cingindo-se o presente feito na constatação de sua ocorrência e na Pág. 3 de 8

4 ausência de hipóteses elisivas dessa responsabilidade tais como culpa exclusiva da vítima ou rompimento do nexo de causalidade. O art. 737 do Código Civil deixa claro que o transportador que não respeitar os horários e itinerários previstos, violando as expectativas legítimas do passageiro, responderá pelas perdas e danos ocasionadas pelos atrasos e desvios verificados. Ainda, dispõe o art. 741 da Lei Civil: "Interrompendo-se a viagem por qualquer motivo alheio à vontade do transportador, ainda que em conseqüência de evento imprevisível, fica ele obrigado a concluir o transporte contratado em outro veículo da mesma categoria, ou, com a anuência do passageiro, por modalidade diferente, à sua custa, correndo também por sua conta as despesas de estada e alimentação do usuário, durante a espera de novo transporte" Nesse mesmo sentido, dispõe o art. 231, parágrafo único, do Código Brasileiro da Aeronáutica (Lei n /1986): "Art Quando o transporte sofrer interrupção ou atraso em aeroporto de escala por período superior a 4 (quatro) horas, qualquer que seja o motivo, o passageiro poderá optar pelo endosso do bilhete de passagem ou pela imediata devolução do preço. Parágrafo único. Todas as despesas decorrentes da interrupção ou atraso da viagem, inclusive transporte de qualquer espécie, alimentação e hospedagem, correrão por conta do transportador contratual, sem prejuízo da responsabilidade civil". Esclarecidos estes aspectos, conforme se depreende da declaração constante na fl. 15, no presente caso o atraso se deu em razão da manutenção não programada da aeronave e tal hipótese não configura causa excludente de nexo de causalidade, já que configura fortuito interno, fato previsível, inerente ao serviço prestado. Ademais, evidencia-se que a requerida não se desincumbiu do ônus que lhe competia, a teor do art. 333, II, do CPC, pois não comprovou ter fornecido alimentação, informação e alojamento em local adequado ao autor. Ou seja, houve, ainda, deficiência por parte da ré quanto à assistência prestada ao autor, impondose assim, o dever de indenizá-lo moral e materialmente. Quanto aos danos morais, revelaram-se os elementos do dano, caracterizado pela violação à própria dignidade do autor por ter sido submetido ao descaso, falta de informação, abandono, constrangimento, demora excessiva, desconforto, aflição, etc, emergindo a obrigação da requerida em indenizar o autor. Pág. 4 de 8

5 Aliás, nesse sentido é a jurisprudência, senão vejamos TRANSPORTE AÉREO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. APLICABILIDADE. ATRASO DE VOO. DANO MATERIAL. DANO MORAL PRESUMIDO. VERBAS DEVIDAS. VALOR. MANUTENÇÃO. Tratando-se de relação de consumo, em que as autoras figuram inquestionavelmente como destinatárias finais dos serviços de transporte aéreo, é aplicável o Código de Defesa do Consumidor e não o Código Brasileiro de Aeronáutica para fins de apuração da responsabilidade civil do fornecedor. Comprovado que houve atraso de voo e ausente excludente de responsabilidade do fornecedor de serviço, é devida a reparação do dano material e dano moral, sendo que, quanto este último decorre da demora, desconforto, aflição e dos transtornos suportados pelo passageiro, não se exigindo prova de tais fatores segundo a jurisprudência do STJ. O arbitramento da indenização decorrente de dano moral deve ser feito caso a caso, com bom senso, moderação e razoabilidade, atentandose à proporcionalidade com relação ao grau de culpa, extensão e repercussão dos danos, à capacidade econômica, características individuais e o conceito social das partes. (TJ/RO, Apelação Cível N , Rel. Des. Marcos Alaor D. Grangeia, J. 30/05/2012) INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. TRANSPORTE AÉREO. CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DESFAVORÁVEIS. ATRASO DO VOO. NÃO PRESTAÇÃO DE ASSISTÊNCIA PELA EMPRESA TRANSPORTADORA. REDUÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. O atraso do voo pela impossibilidade de pouso ante a ausência de condições climáticas favoráveis, por si só, não gera dano moral, todavia, impõe-se o dever de indenizar a empresa requerida que não presta assistência aos passageiros, deixando de fornecer acomodação e alimentação de maneira adequada. Opera-se a redução do valor dos danos morais quando fixados em valor excessivo, atendendo-se a um juízo de razoabilidade e proporcionalidade, bem como para que a condenação atinja seus objetivos e se afine aos precedentes desta Corte sobre o tema. (TJ/RO, Apelação Cível N , Rel. Des. Alexandre Miguel, J. 09/05/2012) Reconhecido o dano moral em casos desta natureza, recomenda-se que o julgador se paute pelo juízo da equidade, levando-se em conta as circunstâncias de cada caso, devendo o quantum indenizatório corresponder à Pág. 5 de 8

6 lesão, e não a ela ser equivalente, porquanto impossível, materialmente, nesta seara, alcançar essa equivalência. O valor fixado deve proporcionar às vítimas satisfação na justa medida do abalo sofrido, produzindo, nos causadores do mal, impacto suficiente para dissuadi-los de igual procedimento, forçando-os a adotar cautela maior diate de situações como a descrita nos autos. Assim, tendo em vista as circunstâncias do caso e levando-se em consideração as condições do ofendido e ofensor bem como a teoria do desestímulo e da proporcionalidade na fixação do dano moral, tenho como razoável que o valor da indenização deva ser fixado em R$ 7.000,00 (sete mil reais) No que tange aos danos materiais, o autor juntou aos autos os seguintes comprovantes de pagamento: a) R$ 2.282,15, referente à passagem que custeou de Manaus até São Paulo, adquirida na data de 15/12/2011 (fl. 18); b) R$ 116,00 referente às despesas com taxi, correspondente aos dois recibos anexados à fl. 21, cada qual no valor de R$ 58,00, emitidos nos dias 15/12/2011 e 16/12/2011; c) R$ 150,00, referente ao pagamento de diária no Hotel do largo em Manaus, datado de 15/12/2011 (fl. 22); d) R$ 1.425,78, relativo à passagem perdida de ida e volta, de Manaus/BR à Medellin/CO, efetivado em 13/08/2011 (fl. 23); e) R$ 36,24, relativos aos gastos com alimentação na data de 15/12/2011, correspondendo ao somatório dos dois recibos anexados à fl. 24, um no valor de R$ 13,00 e outro no valor de R$ 23,24. Não havendo justificativa lógica em se admitir que a parte requerida se beneficie diante do serviço deficientemente prestado, deve o autor ser ressarcido das despesas comprovadamente gastas, cuja somatória totalizou R$ 4.010,17 (quatro mil e dez reais e dezessete centavos) e não os R$ 7.079,33 (sete mil, setenta e nove reais e trinta e três centavos) pleiteados na inicial. Quanto à diferença, ressalte-se que ainda foi oportunizado ao autor (fl. 63) a apresentação de comprovante de pagamento da suposta passagem relativa à rota São Paulo- Medellin, no dia 17/12/2011, no valor de R$ 3.500,00 (três Pág. 6 de 8

7 mil e quinhentos reais), bem como o da suposta multa por no-show no valor de US$ 485,00 (quatrocentos e oitenta e cinco dólares). Contudo, o autor limitou-se a apresentar fatura de cartão de crédito de terceiro (Luiz I Madrid) que não se presta a comprovar as despesas remanescentes, sobretudo diante da inexistência nos autos de qualquer bilhete/passagem aérea/comprovante de embarque relativo a rota São Paulo/Medellin. III CONCLUSÃO Diante do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE os pedidos deduzidos na inicial, para condenar a ré TRIP LINHAS AÉREAS no pagamento de R$ 7.000,00 (sete mil reais) a título de danos morais, bem como a restituir o autor as despesas comprovadamente por ele arcadas com as passagens aéreas (fls. 18 e 23), táxi (fl. 21), diárias de hotéis (fls. 22 e 25) e alimentação (fl. 24), totalizando R$ 4.010,17 (quatro mil, dez reais e dezessete centavos), que deverá ser corrigido monetariamente pela Tabela da Corregedoria de Justiça do Estado de Rondônia a partir da data do desembolso e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir da citação. condenação. Fixo os honorários advocatícios em 15% sobre o valor da Considerando o contexto desta decisão, com base no artigo 21, caput, do CPC, determino que as custas e honorários advocatícios fiquem rateados em 75% (setenta e cinco por cento) a cargo da parte ré,e 25% (vinte e cinco por cento) a cargo do autor, compensáveis. Certificado o trânsito em julgado, a parte devedora deverá efetuar o pagamento do valor da condenação na forma do art. 475-J, do CPC, no prazo de quinze dias, sob pena de multa de 10% (dez por cento) sobre o valor do débito. Não havendo pagamento e nem requerimento do credor para a execução da sentença, proceda-se às baixas e comunicações pertinentes, ficando o credor isento do pagamento da taxa de desarquivamento, se requerida no prazo de seis meses do trânsito em julgado. Pagas as custas ou inscritas em dívida ativa em caso de não pagamento,o que deverá ser certificado, arquivem-se. P.R.I. Porto Velho-RO, segunda-feira, 10 de fevereiro de Pág. 7 de 8

8 José Antônio Robles Juiz de Direito RECEBIMENTO Aos dias do mês de Fevereiro de Eu, Irene Costa Lira Souza - Escrivã(o) Judicial, recebi estes autos. REGISTRO NO LIVRO DIGITAL Certifico e dou fé que a sentença retro, mediante lançamento automático, foi registrada no livro eletrônico sob o número 136/2014. Pág. 8 de 8