Turma da Música - TDM

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "Turma da Música - TDM"

Transcrição

1 Relatório do Primeiro Semestre de Turma amanda freitas mizrahi antonio conde janequine antonio serafim peres brenno rosa rodrigues eduardo faria flexa ribeiro flora geluda berman joana clark de lamare joão fernandes de medeiros e albuquerque julia sawyer magalhães lorrana rodrigues luana del rio kodato melo luca novello moreira lucas leal de alencar pinto pedro campello do rêgo valença rafael sivieri arruda prado rafaela marques canario moreira sofia morena teixeira coelho stella velho moreira da silva thomas musso mack Professores e Auxiliares clea maria guedes albrecht diana rodrigues valle milman jean philippe trindade conilh de beyssac roberta porto da silva Iniciamos o ano trazendo uma caixa surpresas, preparada pela Diana, com várias novidades escondidas, com o objetivo de integrar a nova turma. As crianças logo a apelidaram de Caixa Misteriosa. Com ela criamos um clima de descontração que também foi aproveitado para organizar o grupo. Depois desse primeiro momento, apresentamos a capa da agenda, com a imagem de uma fábrica com seus operários, de Tarsila do Amaral, chamada Operários. Quem seriam aquelas pessoas? São todas iguais? Será que nasceram no mesmo lugar? O que se vê no fundo? E no primeiro plano? O que é ser operário? O que é trabalho? A partir dessa conversa, fizemos um levantamento sobre as profissões que as crianças conheciam a fim de escolher um nome para a turma que estivesse relacionado ao Projeto Institucional. Surgiram várias idéias, mas Turma da Música ganhou, votado por ampla maioria. Trouxemos a história da Cigarra e da Formiga e lançamos a seguinte pergunta para a turma: "música é trabalho?" Num primeiro momento todos disseram que não. Sofia também trouxe um livro super interessante, com diversos desafios musicais, com indicações sobre a construção de alguns instrumentos bem simples, chamado Som&música, de David Evans e Claudette Williams. Esse trabalho propiciou um grande aprimoramento da atenção auditiva do grupo. A essa altura a cantoria acontecia quase todos os dias. Fomos lendo, em capítulos, o livro Quem canta seus males espanta, além de músicas novas que algumas crianças ensinavam a todos. Conversamos sobre instrumentos, orquestras, maestros e marcamos um passeio ao Museu Villa-Lobos. Conhecemos fatos marcantes da vida de Villa-Lobos, algumas canções e brincadeiras folclóricas que ele havia pesquisado, além do Trenzinho do Caipira. A visita ao museu foi um sucesso! E ainda recebemos elogios que nos deixaram muito felizes. O primeiro foi quando os músicos disseram que o grupo era muito

2 Relatório do Primeiro Semestre de afinado; o segundo, que tinham boa concentração e escuta. Todo esse trabalho em torno do nome da Turma trouxe um sentimento de pertencimento, de identidade, e começou o nosso primeiro projeto: Cantos de Trabalho. Desde os primórdios da civilização o homem canta para plantar, colher, recolher os animais, lavar suas roupas, pescar. A música torna suaves e alegres as árduas tarefas do dia a dia. Os Cantos de Trabalho expressam o sentimento, a sensibilidade de um povo, e através deles podemos conhecer uma nação, sua alma, e explorar sua diversidade cultural. Iniciamos nossas atividades escolhendo uma roupa de boneca, na sala de jogos,

3 Relatório do Primeiro Semestre de para lavar. Preparamos as bacias, o sabão e, ao som da canção de Cartola, Ensaboa Mulata", lavamos as roupinhas e as penduramos no varal. Depois um gostoso banho de chuveirão, encerramos a brincadeira. Pesquisamos sobre as Lavadeiras de Almenara, do Vale do Jequitinhonha. As crianças assistiram vídeos, ouviram histórias narradas por elas e conheceram a lavanderia comunitária que existe atualmente. Apreciaram, ainda, o quadro As lavadeiras, de Portinari, e fizeram uma releitura. Viram, de perto, um ferro de engomar e ouviram a canção Adeus meu ferro de engomar, do CD produzido pelo Coral das Lavadeiras, chamado Batukim Brasileiro. Depois, tingiram um lenço branco com anilina, amarrado com barbantes, para fazer um quadro. Com a letra da música Lenço branco, impressa, as crianças foram desafiadas a encontrar quantas vezes a palavra lavadeira aparecia. Assim, junto ao uso diário das fichas com os nomes e palavras significativas do projeto, fomos configurando, aos poucos, um acervo comum de palavras usadas freqüentemente, que podem ser uma fonte rica de investigações, pesquisa e informações sobre o código alfabético. As crianças foram convidadas a exercitar as suas escritas,

4 Relatório do Primeiro Semestre de confrontando-as com as dos amigos. É diferente, para cada criança, a construção e os estágios de transição de cada hipótese sobre o código da escrita. É no confronto das idéias acerca do nosso modo de comunicação que o adulto pode intervir, com informações adequadas, para ajudar na superação das diferentes idéias. A seguir, começamos a investigar a vida dos lavradores. Para sensibilizar as crianças para a paisagem rural, utilizamos documentários sobre a vida e obra de Portinari e os "Cantos de trabalho", de Humberto Mauro. Sueli e Dona Maria, funcionárias da escola, trouxeram contribuições valiosas sobre o uso da enxada na preparação da terra para a plantação. Paulo, nosso guia no passeio à Fazendinha, além de passar inúmeras informações sobre a rotina de seu trabalho de peão, nos mostrou suas mãos grossas e cheias de calos, adquiridos no trabalho com a enxada, para que pudéssemos tocá-las. No final do passeio, se emocionou com a homenagem das crianças cantando a canção "Sou lavrador", do CD "Cantos de trabalho, do SESC. Nas aulas de artes visuais, propusemos a construção das enxadas que serviram de adereço na apresentação das coreografias da Festa Pedagógica. Mais um trabalhador foi apresentado à turma. Dessa vez entramos em contato com a vida dos pescadores. Livros, vídeos e revistas, entre outras fontes de pesquisa, nos aproximaram desse novo contexto. O nosso querido Dorival Caymmi encantou as crianças com as suas canções: "Suíte dos Pescadores" e O mar. A brincadeira de pescaria foi amplamente apreciada pelas crianças, que além da diversão propicia e garante um contato com o número, a contagem, a seriação, classificação e resolução de problemas, que procuramos trazer na diversidade grande de jogos apresentados ao longo do semestre. Depois de conhecermos alguns cantos de trabalho, aproveitando a sugestão do pai da Stella, trouxemos para as crianças o Jongo, um dos "pais" do samba, dança acompanhada de "pontos", que são cantigas cantadas por escravos numa roda, depois de um dia de trabalho. Através da história O amigo do rei, de Ruth Rocha, aprendemos sobre os escravos, pessoas que não eram remuneradas pelo seu

5 Relatório do Primeiro Semestre de trabalho. Essa informação rendeu algumas conversas interessantes com as crianças que, ao seu modo, refletiram sobre a questão: O escravo trabalha e não ganha dinheiro", "Não é justo, as pessoas ficarem com o dinheiro delas e a outra pessoa trabalhando sem ganhar dinheiro todos os dias!", "Coitados dos escravos!", "Se a pessoa trabalha, tem que ganhar dinheiro para pagar a escola, a babá, o cozinheiro e o garçom, um doce, uma paçoca, uma bananada ou um pedaço de pizza de mussarela!". A partir dessa história, que se passava numa fazenda, aproveitamos para aprofundar a pesquisa sobre os trabalhadores rurais, sua cultura e festas, desembocando no Auto do Boi da Lua. Percebemos como características marcantes desse grupo, dois fatores importantes: a facilidade que tem de interagir e o interesse pelas propostas oferecidas. É comum observarmos diferentes brincadeiras, especialmente nos pátios livres, onde os meninos interagem com as meninas. Circulam com autonomia nos espaços e participam das diversas atividades. Costumam se interessar, bastante, pelas propostas oferecidas, opinando e dando idéias. Mergulham de cabeça nos temas! Terminamos este relato com uma frase do etnomusicólogo Paulo Dias, "A tarefa cantada firma os laços de amizade e fecunda o potencial criativo do grupo. Música Com sua musicalidade à flor da pele, e estampada no nome, a turma mostra muito interesse pelos sons. Logo no começo do ano, por conta carnaval, era visível a vontade de acompanhar as antigas marchinhas com os instrumentos de percussão.

6 Relatório do Primeiro Semestre de Viva o Zé Pereira Viva o carnaval. A marcação binária do surdo nos fez perceber um ritmo intrínseco na maior parte das músicas. O pulso musical, o coração da música. Brincamos de passar o pulso um para o outro, cada um marcando, na sua vez, com palmas, buscando um andamento freqüente. Depois, partimos para algumas reproduções de fraseados rítmicos na brincadeira do eco. Sim, o som é como uma bola de borracha que bate na parede e volta para os nossos ouvidos, num repeteco. Entrando na Loja do Mestre André, nomeamos e reproduzimos, com a boca, alguns instrumentos. E em meio à exploração de sons corporais, brincamos de adivinhar quem era o Maestro, colega que toda a turma imitava em gestual e som. As crianças, junto com a Cléa, construíram diversos instrumentos entre tambores de balão e caixolões de elásticos de tamanhos variados por nós explorados em aula. Quem disse que fazer música não dá trabalho? Quem disse que trabalhar não dá em música? Os cantos de trabalho foram temas. Descobrir que cantar ajuda a diminuir o peso do trabalho, realmente deixou tudo mais leve. Maçariquinha na beira da praia Como é que sua mãe lava a saia? Cacuriá E, ensaboando, conhecemos o trabalho duro das lavadeiras Lava, lavadeira Canta enquanto esfrega o linho quando o rio encontra o mar leva seu canto pros peixinhos Ana Moura e que elas até tem um coral e já gravaram um disco. Mas cadê meu lenço branco Oh lavadeira Não tenho culpa do que se passou Deu uma chuva muito forte e o lenço carregou. D.P., Recolhida e adaptada por Carlos Farias, Batukim Brasileiro Impressionantemente a turma já cantava, afinadinha, toda a letra dessa bela toada, merecendo, também, um registro futuro. Mas nem sempre encontramos o alimento da terra já pronto, no meio do caminho, como na história da Coca Re-coca recontada por Bia Bedran. Às vezes é preciso plantar, colher e moer, como fez a Galinha Ruiva, para cozinhar lindos bolinhos de milho.

7 Relatório do Primeiro Semestre de Quem me ajuda Quem me ajuda A fazer lindos bolinhos Eu, eu não disse o Patinho Eu, eu não disse o Porquinho Coleção Disquinho Mas na hora de comer, todos querem. Bela também é a música interpretada por Renata Mattar Sou lavrador homem da roça Vivo cansado, meu Deus Com a mão grossa Cabelo de Maria Vamos aguardar o que essa turma está aprontando para a Festa Junina. Com certeza vai ter muita música! Expressão Corporal Rever os amigos, acolher os novos, contar as novidades. Foi nesse clima que tivemos o nosso primeiro contato. Iniciamos em roda, falando sobre a aula e sobre o corpo. Relembramos nossas regras de convivência e iniciamos um gostoso alongamento, aquecendo nossos músculos e articulações. Nomeamos e movimentamos as partes do nosso corpo, dissociando os membros e movimentando-os individualmente. Aprendemos, também, a silenciar, tentando fechar os olhos e observar nossa respiração.

8 Relatório do Primeiro Semestre de Na tentativa de nos fortalecer como grupo e estimular novas relações, passeamos com bolinhas pelo nosso corpo e pelo do amigo, ativando a propriocepção e preparando o corpo para receber novos estímulos. Exploramos diferentes direções no espaço, nos organizando e nos deslocando em diagonais, filas e laterais, tentando sincronizar os movimentos com os dos colegas. Com o nome da turma escolhido, era chegada a hora de nos aproximarmos do projeto da turma. Começamos a investigar os sons que o nosso corpo poderia produzir. Ao final de nossa experimentação juntamos os sons criando uma música com os sons pesquisados. De ouvidos atentos aos estímulos sonoros, caminhamos em diferentes direções pelo salão obedecendo ao ritmo do pandeiro. Dançamos diferentes ritmos pesquisando movimentos que se encaixassem, explorando os diferentes planos (baixo, médio e alto). Por acreditarmos que a observação é também um processo de aprendizagem, dividimos a turma em dois grupos: enquanto um criava o outro observava. Ao final, uma conversa sobre as impressões e as descobertas nos ajudava a organizar nossas idéias e próximas ações. Reproduzimos o gestual do corpo ao tocar diferentes instrumentos (sopro, dedilhar, arranhar, bater). Ao final dessa experimentação, criamos uma orquestra de gestos, que foi regida por um CD que reproduzia o som de diferentes instrumentos. Ao entrarmos nos Cantos de Trabalho, pesquisamos os gestuais da lavadeira e dos lavradores. Essas experimentações deram origem ao trabalho da Festa Pedagógica. Ao som de Ensaboa, mulata ensaboa, ensaboamos os amigos utilizando diferentes objetos (bolinhas de tênis, escova de sapato, pano de cetim e bucha vegetal). Com bacias na cabeça percorremos um longo caminho no salão trabalhando a nossa concentração e equilíbrio. Pedaços de bambu foram transformados em enxadas com as quais trabalhamos as qualidades de movimento, dando peso a esse objeto. Para comemorar o feriado do Dia do Trabalho, usamos as fantasias e acessórios do baú da escola. As crianças foram divididas em pequenos grupos e cada grupo recebeu uma sacola com quatro uniformes de diferentes profissões. Teriam que escolher quem seriam e desenvolver uma história na qual todos os profissionais estivessem envolvidos. A proposta teve o intuito de fazer com que as crianças se organizassem espacialmente e desenvolvessem sua capacidade de criação. As experimentações foram cheias de risadas, em um momento muito rico de troca com os colegas. Em meados de junho, começamos os preparativos para a festa junina! Ouvimos e dançamos algumas canções, explorando os movimentos dessa festa tão gostosa. Com as crianças envolvidas pelo tema, iniciamos a montagem do Auto do Boi. Comprometidos com as propostas apresentadas, as crianças desse grupo experimentaram, com seriedade, as diferentes dinâmicas do semestre. Suas descobertas e conquistas só valiam se fossem compartilhadas com os amigos. Tal atitude estabeleceu novas parcerias em nossos processos de criação e pesquisa, enriquecendo os trabalhos nas aulas de Expressão. Chegamos ao final do semestre, satisfeitos e orgulhosos das conquistas dessa turma tão querida, ansiosos por novas aventuras.