FLORES DE MAIO. Hideraldo Montenegro. Recife
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- Sabrina Castelhano Pinto
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1 FLORES DE MAIO 1
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3 FLORES DE MAIO Hideraldo Montenegro Recife
4 Hideraldo Montenegro Impresso no Brasil Printed in Brazil Diagramação: Hideraldo Montenegro Capa: Hideraldo Montenegro Revisão: Hideraldo Montenegro Montenegro, Hideraldo, Flores de Maio, Ano: 2012 p.52 Poesia 4
5 Flores de Maio FLORES DE MAIO...14 PERSPECTIVA...15 O QUE ABRE EM SI UMA LUZ...16 REFLEXO...18 SETEMBRO...19 TURISMO...20 TOQUE...21 ANÚNCIO CLASSIFICADO...22 SEMEADOR...24 A TINTA ESCREVE PALAVRAS TINTAS...25 EM MEUS LÁBIOS NENHUMA PALAVRA...26 EM TEUS OLHOS FLORESTAS...27 CÓPULA...29 VISCERAL...30 CONSCIÊNCIA...31 CEMITÉRIO...32 PRISÃO...33 BRILHO...34 LUZ...35 ANUNCIAÇÃO...36 DESENHO...37 LIBERDADE...38 DELICADEZA...39 ADOÇÃO...40 AMANHECER...41 PEIXE NO AQUÁRIO...42 AFAGO...43 POUSO...44 REFLEXO...45 RECIFE...46 GESTAÇÃO
6 PERCALÇOS...49 A CASA...50 ANSATA
7 7 Agradecimento: Ordem Rosacruz AMORC por existir.
8 8
9 Os poemas Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam vôo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhoso espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... Mário Quintana 9
10 10
11 11 Para todos os poetas que abelham nossas vidas.
12 12
13 FLORES DE MAIO 13
14 FLORES DE MAIO Em maio desmaio em teus braços rimas e flores de um canto senão de amores um canto de sol sal e suores e que recebes molhada de sexo e odores Em maio me abelho 14
15 PERSPECTIVA Mas, não pensem vocês que vou me entregar fácil. Meus pés ainda coçam percursos e estradas se insinuam e desenham os seus traçados Volto como se estivesse indo. Vou como estivesse voltando. E refaço o trajeto em meus pés mapeando histórias de idas e vindas Tudo requer seu passaporte e pago minha passagem por esta vida e durmo sobre travesseiros duros de viajar minh alma Olho para o horizonte que sempre está aos meus pés e não consigo enxergar além de mim mesmo -este cemitério de paixões loucas, atrevidas - covas fundas que vou cavando na vida 15
16 O QUE ABRE EM SI UMA LUZ Mas, há tantas coisas que nos atingem que sobram espaços entre o toque e o coração E nenhum vazio preenche o homem nem mesmo quando ele está sentado sobre pensamento nenhum pois, pensamentos existem mesmo quando não os há -o pensamento da constatação de sua paradoxal ausência! Viver é melhor que sonhar porque todo sonho há de ser viver quando acordado se estar E este universo humano é habitado por tudo que existe fora e dentro dentro e fora da cabeça e do coração 16
17 E o que nos trouxe à vida é o que da vida a morte levará a rosa e a cruz 17
18 REFLEXO Mas, nada me alcança sem razão e todo foco me centraliza no percebido Percebo-me nas coisas que vejo e sinto neste encontro dos meus olhos com as coisas um atingir fundo de mim com o outro que me fita Dentro dos meus olhos vivo dentro do outro que fito 18
19 SETEMBRO Estas flores que carrego em meu peito é para te oferecer primaveras e deixar correr seiva e esperma em tuas veias fogo aceso setembros riso solto gozo de serpente -enchentes em teu coração 19
20 TURISMO Estive em outro coração e lembrei de você 20
21 TOQUE Tua mão desassossego em meu corpo relampeja acende e queima -pura combustão Acorda-me vulcão (ereção na pele tua em mim) 21
22 ANÚNCIO CLASSIFICADO Vende-se um pavimento térreo superior a todas as nuvens que vagam entre a luz das estações onde finca-se os pés e redes mansas que se deitam fantasias Vende-se um superior estado de quietos movimentos de uma rede na varanda entre flores e insetos que pousam Igualmente no nariz Vende-se sonhos que explodem dentro dos pés andarilhos de uma rede 22
23 Vende-se sonhos vende-se sonhos nestes vai-e-vem -a quietude embala o sono de quem sonho tem Vende-se embalos de sonhos a serem construídos 23
24 SEMEADOR Há muitos desertos em meu peito e visito-os como uma ave de rapina apenas à caça de alguma presa -uma sombra que aparece de repente e alerta este instinto caçador de oásis -um jeito de sobreviver nesta fome de solidão Trato o poema como o lavrador açucarando a terra nesta imensidão solitária E, não balancem estas bandeiras em minha cara não assumi nenhuma e não vou indicar estradas a percorrer cada um faça o seu trajeto afinal, nem mesmo sei se estou indo ou voltando Estou plantado como um espantalho no tempo de braços abertos esperando a semeadura do poema 24
25 A TINTA ESCREVE PALAVRAS TINTAS Mas, num dia só gaivotas reviravoltas em torno de mares e olhares alhures navegantes soturnos de vidas presas pescadas em bicos e anzóis toda solução está na cor do mar do olhar em torno da vida o beija-flor beija a flor e corre risco pelo néctar do bico a boca abre a flor e fecunda a bica e o pio todos os olhares voltam-se para si mesmos nada sai inteiro a tinta do tinteiro escreve palavras tintas 25
26 EM MEUS LÁBIOS NENHUMA PALAVRA Concentrado em meu desejo antevejo o gozo de um prazer inalcançável procuro nos dedos o que resta de ti -Uma sombra que se esvai em meus pés o caminho se desfaz sempre nas voltas de desenhos não realizados na estrada Tudo é aconchego em esperanças tratadas como sonhos em meus lábios nenhuma palavra é esboçada para firmar o recorte da quimera do beijo 26
27 EM TEUS OLHOS FLORESTAS Em teus olhos florestas acendem palavras demarcadas pelo espanto do invasor O riso é flor em marcha d alma envolvida em dor Em tua boca o território se recolhe à taba e escondes tua nudez como fosse praga A cicatriz já foi posta em tua alma mata e tua garganta vomita canções de saudades vindas e um passado que não deságua Vontade de ser mãe terra saudade da ausência de quem ficou nos limites extremos entre a civilização e a farsa 27
28 e a falta de pudor do explorador A tua tribo se levanta e o arco alcança a flecha que não foi arremessada atinge o sangue do arremessador -a submissão do braço não confessa a fervura da idéia E teu canto graúna assume a bravura de uma graça que não era para a guerra 28
29 CÓPULA E o beija-flor ejacula na flor a outra flor 29
30 VISCERAL Letal é uma palavra viva como o metal no corpo o poço nos pés Letal anuncia a faca o veneno na veia a aranha na teia o perigo da fala Letal não mata imprime n alma a cova, a vala o gesto fatal a palavra na boca ou no papel 30
31 CONSCIÊNCIA Não controlo meu olhar o meu olhar não controlo e deixo meus olhos em todo instante que minha visão encontra o olhar do mundo e meus olhos são movidos pelo movimento que provoca o olhar em mim quando dentro acorda o eu que vê 31
32 CEMITÉRIO Pequenos pedaços de gente fazem multidão 32
33 PRISÃO O riso solto na gaiola grita a sua dor de não ser 33
34 BRILHO Pequenos diamantes ofuscam grandes olhos 34
35 LUZ Todos os dias as tardes vão se deitar e acordam manhãs 35
36 ANUNCIAÇÃO Todos os toques tocam os sinos que anunciam o sagrado que há em todos 36
37 DESENHO Deus se move nas asas da borboleta e só enxergamos a beleza da simetria do vôo 37
38 LIBERDADE Todas as árvores acenam para o céu em sua alegre prisão terra 38
39 DELICADEZA Os gestos lembram à mente que precisam ser contidos quando o afago é para o vidro 39
40 ADOÇÃO A criança solta no orfanato brinca de aparecer 40
41 AMANHECER Então, por não entender o canto a ave de espanto assume a postura do vôo que enfrenta os ventos e gritos dilacerados assombram o cantar do pássaro humano preso na garganta A liberdade é só um salto da voz que atinge a alma em pleno vôo. E, todos os caminhos voam para um céu aberto à morte do homem e a liberdade do pássaro solto na voz. E todo dia se faz de repente, sem avisos e canta a luz do grito nascente na voz no amanhecer do pássaro que voa todos os dias nos homens 41
42 PEIXE NO AQUÁRIO Nada que está no ar é seguro Nada que voa fixa território Nada que enxerga ao longe guarda saudade Só esta vontade de ficar aqui Nesta proteção amniótica Deste horizonte definido 42
43 AFAGO Se flores eu vou por estradas de mel -Percusos perfumados nos teus pés e faço cera em teu colo até extrair o néctar de tua flor 43
44 POUSO No céu o azul descansa asas e teus olhos adormecem anjos 44
45 REFLEXO A cidade tatua no peito os percursos dos pés A cidade invade o leito das águas que deságuam em viés os sonhos das flores que convidam os insetos ao beijo das cores A cidade me convida a sonhos de luzes que se repartem nas águas no brilho dos meus olhos 45
46 RECIFE Recife e seu banho de águas Recife mergulhado nas águas bebe pontes e brilhos e o sol se reparte nas águas em estrelas mil Recife repartido em pontes que atravessam a vida da gente Recife repartido em gente -pingente no pescoço e grito no asfalto não disfarça a criança que salta na vida pelas pontes que unem todos nós ao mesmo mangue Recife sangue da gente pelas veias 46
47 das pontes que se constroem nos rios da cidade que nos habita 47
48 GESTAÇÃO E assim quando a morte vem de súbito mata-nos a todos mesmo anunciada esperada ou desejada ficamos em susto como ela, a morte, fosse uma espada que sabemos de sua existência mas nos afeta quando é praticada e de espanto morremos sempre com a morte alheia -nossa própria sortee debruçamos sobre lágrimas o choro do nosso destino e esquecemos que a vida existe apenas para criá-la 48
49 PERCALÇOS Há tantos lábios no meio do caminho que os sonhos se desfazem antes de nascer o beijo e o meu encontra o teu congelado na espera do laço da língua e me desfaço em tua boca como aspirina sem me dá conta que morro sempre em teus braços e fico sem opções de novos percursos 49
50 A CASA Aos poucos a casa vai adquirindo vida nos pés de quem a pisa ergue-se entre sonhos da noite os assombros construídos durante o dia e refaz cada pedaço canto e esquima ideias vividas A casa é pranto, dor avenida nos esquadros das janelas o de bruços deita os desejos da casa o aviso no portal é bem-vindo A casa se enche de vida do telhado ao pombo que pousa enxuto o gorjeio da vida 50
51 Vazia a casa desmorona sem vitalidade a ausência de seus vazios 51
52 ANSATA E dela fosse ensinado a fala que germina de seus cantos aquartelados a doçura da menina nascente dos olhos o grito, a sina que tanto gestos cismam em guardar laços do prazer e da ferida e da boca salgada ou doce se faz fera ou santo a alquimia divina 52
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