VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS, os presentes autos antes

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1 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO DES. SAULO HENRIQUES DE SÁ E BENEVIDES ACÓRDÃO MANDADO DE SEGURANÇA N /001 Relator : Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides Impetrante : Marcos Antônio Gonçalves Brasileiro Advogada : Cynthia Maria Santos Maciel Impetrado : Secretário da Receita do Estado da Paraíba Interessado : Estado da Paraíba por seu Procurador Alessandra Ferreira Aragão CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO CONVÊNIO 03/2007 DECRETO ESTADUAL /09 ISENÇÃO DE ICMS PARA PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS ROL NÃO TAXATIVO COMPROMETIMENTO DA FUNÇÃO MOTORA INABILITAÇÃO PARA VEÍCULOS CONVENCIONAIS PRINCÍPIO DA IGUALDADE CONCESSÃO DA ORDEM. A isenção do pagamento do ICMS sobre as saídas de veículos adaptados para serem utilizados por deficientes fisicos ostenta caráter pessoal, sendo concedida em razão da particular necessidade do portador de deficiência. O raciocínio que orienta a compreensão do princípio da isonomia tem sentido objetivo: aquinhoar igualmente os iguais e desigualmente as situações desiguais. Dessa maneira, atribui-se ao princípio sentido real e não nominal, igualdade integral e não incidental ou particular, porquanto a igualdade consiste em assegurar aos homens que estão equiparados os mesmo direitos, benefícios e vantagens, ao lado dos deveres correspondentes. O Mesmo ocorre em relação àqueles que estiverem desequiparados, os quais deverão receber o tratamento que lhes é devido à medida de suas desigualdades. (Uadi Lammêgo Bulos. Consituição Federal Anotada) identificados. VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS, os presentes autos antes ACORDAM os integrantes da Segunda Seção Especializada Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, à unanimidade, em conceder a segurança, nos termos do voto do relator. RELATÓRIO Trata -se de Mandado de Segurança impetrado por Marcos Antônio Gonçalves Brasileiro contra ato do Secretário de Estado da Receita que, no processo no , indeferiu o pedido de aquisição de veículo com isenção do ICMS, sob o fundamento

2 de que o CID identificador da patologia da impetrante não consta na relação do Anexo II do Decreto n /09, que prevê a benesse da isenção tributária (fls. 22/23). O impetrante alega ser portador de "protusão discal" L3 -L4 e "hérnia discal" (L5-S1), além de citalgia e déficit de força para o membro inferior, encontrando-se definitivamente inapto para dirigir veículos automotivos convencionais, devendo, portanto, adquirir veículo com isenção de ICMS. Em sede de liminar, pugna pela concessão de isenção do referido imposto para aquisição do veículo automotor. Liminar indeferida às fls.30/31. A autoridade impetrada, às fls.45/52, prestou informações afirmando em síntese, que as CID's indicadas pelo impetrante não estão entre as doenças relacionadas pelo Decreto n /09 A Procuradoria de Justiça, em parecer às fls.57/62, opinou pela concessão da É o relatório. VOTO A questão se refere à possibilidade de concessão de isenção a impetrante uma vez que é inapta para dirigir veículos automotores convencionais. Para que seja deferida a isenção do ICMS na aquisição de veículos, alguns requisitos previstos no Decreto Estadual n /09 devem ser considerados: Art.1. Ficam isentas do ICMS as saídas internas e interestaduais de veículo automotor novo com características específicas para ser dirigido por motorista portador de deficiência física, desde que as respectivas operações de saída sejam amparadas por isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados IPI, nos termos da legislação vigente. 3 Para a fruição da isenção de que trata este Decreto, o interessado deverá dirigir requerimento ao Secretário de Estado da Receita, instruído com: I laudo de perícia médica fornecido pelo Departamento de Trânsito do Estado DETRAN, onde estiver domiciliado o interessado que: a) Ateste, de forma expressa, que o interessado é deficiente físico, capaz de dirigir veículo automotor especialmente adaptado, especificando o tipo de deficiência física com seu respectivo Código Internacional de Doenças CID, desde que esteja relacionada no Anexo II deste Decreto; b) Discrimine as características específicas necessárias para que o motorista portador de deficiência física possa dirigir o veículo; Vê-se que o primeiro requisito exigido no Decreto é o laudo atestando a deficiência com a consequente justificativa para a aquisição de veículo adaptado. Considere-se, primeiramente, que o impetrante, segundo laudo médico da Controladoria Regional de Trânsito (f1.12), é portador de "protusão discal" lombar entre os

3 seguimentos (L3 -L4) e L4-L5) e "hérnia discal" entre o seguimento (15-S1) que evoluiu com citalgia e défcit de força para o membro inferior esquerdo. CID: M51.1 G 57. A conclusão do laudo aponta que a mesma apresenta apta para dirigir veículos automotores categoria "B", com transmissão automática ou uso obrigatório da embreagem manual. Inapto definitivamente para dirigir veículos automotores convencionais. Desta feita, o impetrante não pode ser visto como simples portador de doença que não se enquadraria no conceito de deficiência física trazido pela Decreto em comento: Art. 2 Para aplicação das disposições de que trata este Decreto, são considerados: I - pessoa portadora de deficiência fisica, aquela que apresenta alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, cujo CID esteja relacionado no Anexo II deste Decreto, acarretando o comprometimento da função física, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldade para o desempenho de fim ções de dirigir veículo; Ora, se o requerente tem limitações nos movimentos e este comprometimento a impede de optar se adquirirá o veículo com ou sem embreagem automática, esse item passou a ser essencial para o exercício da direção, e não mero item de conforto. É irrelevante saber o modo como ocorreu a limitação, o fato é que a impossibilidade de dirigir veículos convencionais, se constatada, deve conferir a portadora o mesmo direito assegurado àquele cuja enfermidade encontra-se elencada no Anexo II do Decreto n /09. Da análise do laudo (fl.12), percebe-se que o órgão responsável pela perícia nos candidatos à isenção do ICMS afirma, categoricamente, que o impetrante/periciando não tem condições de dirigir veículos convencionais, em decorrência da limitação do membro inferior esquerdo. Sendo assim, o impetrante não pode ter o pleito de isenção do ICMS negado em razão da ausência do CID no anexo II do Decreto /09, pois, não apenas o CID deve ser considerado para que o pedido seja deferido, mas, principalmente, a necessidade demonstrada pelo requerente, que deve ser aferida caso a caso. Uadi Lammêgo Bulos: Sobre o princípio da igualdade, convém ressaltar lição do eminente jurista O raciocínio que orienta a compreensão do princípio da isonomia tem sentido objetivo: aquinhoar igualmente os iguais e desigualmente as situações desiguais. Dessa maneira, atribui-se ao princípio sentido real e não nominal, igualdade integral e não incidental ou particular, porquanto a igualdade consiste em assegurar aos homens que estão equiparados os mesmo direitos, benefícios e vantagens, ao lado dos deveres correspondentes. O mesmo ocorre em relação àqueles que estiverem desequiparados, os quais deverão receber o tratamento que lhes é devido à medida de suas desigualdades. (..) Devido à indeterminação que os caracteriza, caberá ao magistrado precisar a extensão do que seja igual ou desigual, idêntico ou diferente, equiparado ou desequiparado, à luz da discricionariedade que norteia a sua atuação funcional. Nisso, recomenda-se o prevalecimento do bom senso e até das máximas de

4 experiência (art.126 do CPC). Destarte, considerando que a condição de inaptidão para dirigir veículos convencionais foi devidamente comprovada, a ausência do CID no anexo do Decreto não é argumento plausível para o indeferimento do pedido de isenção. O referido Decreto Estadual também exige como requisito para concessão da benesse fiscal, a isenção do IPI pela Receita Federal, requisito este devidamente cumprido de acordo com fl.14. Desta feita, corroborando a tese até aqui esposada, o Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba vem decidindo nos mesmos moldes, senão vejamos: TRIBUTÁRIO. CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. DEFICIENTE FÍSICO. PRETENSÃO DE ISENÇÃO DE ICMS PARA ADQUIRIR CARRO ZERO QUILÔMETRO ADAPTADO. INDEFERIMENTO ADMINISTRATIVO SOB O /ARGUMENTO QUE O CID NÃO CONSTA NA LISTA DO DECRETO. DEFICIÊNCIA COMPROVADA. ROL EXEMPLIFICATIVO. DIREITO LÍQUIDO E CERTO VIOLADO. SEGURANÇA CONCEDIDA. A isenção, como exceção ao princípio da igualdade fiscal, deve ser interpretada restritivamente, mas não pode ferir o principio da isonomia. O objetivo da lei que criou a isenção foi excepcionar o tratamento dado aos deficientes físicos, reduzindo-lhes os ônus fiscais na aquisição de veículo automotor, como forma de compensação dos encargos com as adaptações necessárias ao seu manuseio pelo proprietário. Precedentes desta corte. (TJPB; MS /001; Segunda Seção Especializada Cível; Rel. Des. Genésio Gomes Pereira Filho; DJPB 23/10/2012; Pág. 5) MANDADO DE SEGURANÇA. REQUERIMENTO DE ISENÇÃO DE ICMS PARA AQUISIÇÃO DE VEÍCULO COM TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA. PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA FÍSICA. ISENÇÃO DE IPI. INAPTIDÃO DEFINITIVA PARA DIRIGIR VEÍCULOS AUTOMOTORES CONVENCIONAIS. VEÍCULO FABRICADO EM SÉRIE, BASTANDO SUA ADEQUAÇÃO AO MANEJO POR DEFICIENTE. ORDEM. CONCESSÃO. Comprovando-se a falta de condições para dirigir um veículo comum e a consequente necessidade de aquisição de um automóvel adequado, às necessidades especiais do comprador, deficiente físico, possui este direito à isenção do ICMS, sendo irrelevante se a adaptação vem de fábrica ou se foi realizada após a aquisição. (TJPB; MS /001; Primeira Seção Especializada Cível; Rel. Juiz Conv. Aluizio Bezerra Filho; DJPB 04/10/2012; Pág. 8) MANDADO DE SEGURANÇA. ISENÇÃO DE ICMS PARA AQUISIÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. DEFICIENTE FÍSICO. INDEFERIMENTO DE REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. CID NÃO RELACIONADO NO ANEXO II DO DECRETO N /09. DESNECESSIDADE. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. VIOLAÇÃO. LAUDO PERICIAL DE JUNTA MÉDICA DO DETRAN CONFIRMANDO A SUA DEFICIÊNCIA FÍSICA. PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. CONCESSÃO DA SEGURANÇA. Resta indubitável que a impetrante possui impossibilidades motoras para conduzir veículos sem adaptações. Não gozar do benefício de isenção, porque o cid de sua debilidade não consta no rol previsto no aludido decreto, mostra-se ilegal e desarrazoável. Concessão da segurança. (TJPB; MS /001; Primeira Seção Especializada Cível; Rel. Des. Marcos Cavalcanti de Albuquerque; DJPB 02/08/2012; Pág. 6) Conclui-se, portanto, que o impetrante não deve ser excluído da aquisição do veículo apenas em decorrência da inexistência do CID no anexo do Decreto /09. Ex positis, CONCEDO A SEGURANÇA para garantir a isenção do 1 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 9 ed. Rev. E atual. Até a emenda Constitucional n.57/2008 São paulo: Saraiva, 2009.p.120.

5 ICMS em favor do impetrante. É como voto. Presidiu a sessão o Excelentíssimo Senhor Desembargador Saulo Henriques de Sá e BenevideS. Presidente. Relator: Excelentíssimo Senhor Desembargador Saulo Henriques de Sá e Benevides. Participaram ainda do julgamento os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Romero Marcelo da Fonseca Oliveira, João Alves da Silva, Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho, Maria das Graças Morais Guedes e Ricardo Vital de Almeida (Juiz convocado para substituir o Des. José Aurélio da Cruz). Presente à sessão, representando o Ministério Público, o Excelentíssimo Senhor Doutor José Raimundo de Lima, Procurador de Justiça. João Pessoa, 06 de março de 2013 Des. Saulo Hft ques de Sá e Benevides Relator O

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