Seminário Abrap - A Advocacia Pública nos Estados

Transcrição

1 SRA. CLAIR DA FLORA MARTINS: Eu já estou finalizando, abreviando o meu tempo aí. Queria finalizar dizendo o seguinte: que há conquistas que dependem de uma única pessoa. Então, por exemplo, eu posso ter um empenho pessoal para me formar em advogada, não é? Para adquirir um status dentro da sociedade, enfim, depende de um empenho individual, mas há conquistas que depende de um grupo de pessoas e, muitas vezes, até de toda a sociedade. Essa reivindicação de vocês, ela não depende só de uma única pessoa, porque, se dependesse de uma única pessoa ou de um pequeno grupo, nós já teríamos aprovado esse dispositivo lá na PEC paralela, como eu já mencionei. Então, essa reivindicação de vocês, ela depende da mobilização dos estados, essas audiências públicas estaduais são de fundamental importância para vocês encorparem esse movimento, como é de fundamental importância a presença de todos vocês, de todos os estados... Não de um estado só, lá no Congresso Nacional, para dizer, como até falou aqui a Meire, quantos vocês são, qual a necessidade para a sociedade dos advogados públicos, quanto que vai implicar essa alteração constitucional em termos de valores, não é? Tudo isso vocês têm que estar preparados para colocar no momento oportuno, e essas reivindicações só serão aprovadas se vocês tiverem uma grande mobilização, porque, como até a Meire falou, são inúmeros os projetos que tramitam lá na Câmara Federal, são inúmeras as PECs, as propostas de emenda à Constituição Federal, e, para você achar um espaço para garantir a aprovação de uma PEC, depende, então, de uma grande mobilização dos segmentos organizados da sociedade. Agradeço e sempre me coloco à disposição para colaborar com as reivindicações da categoria, obrigada. SR. EDMÍLSON MOURA(F): Parabenizo Dra. Clair, pela brilhante exposição que revelou o conhecimento que ela tem do histórico de lutas desse quadro, dessa carreira, desses servidores, e também de ser conhecedora do estágio atual do nosso movimento. O auditório cheio de pessoas, doutora, e eu vejo aqui pessoas de várias regiões e de vários estados do Brasil. Por um lado eu acho que atesta o avanço que nós já experimentamos; por outro lado, eu penso que sinaliza a necessidade de continuarmos avançando, de expandirmos nossas fronteiras, trazer mais colegas para cerrar fileiras conosco e avançar para cima do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas... Enfim, ocupar os espaços que precisamos ocupar para o fortalecimento da Advocacia Pública como um todo, e não simplesmente como um privilégio de um ou de poucos cargos. Muito obrigado. Parabéns! Gostaria de apresentar... [palmas] Gostaria de apresentar nosso próximo palestrante, Dr. Fernando Capez, que, na verdade, dispensa muitas apresentações, conhecido de todos nós. É provável que muitos, senão todos, aqui presentes, devem alguma coisa ao Dr. Fernando Capez, porque ele compartilhou conosco uma parcela do seu conhecimento jurídico, através de livros que nos SA/mi 1

2 ajudaram, com certeza, seja na aprovação de concursos, seja na elaboração de um parecer, de uma peça processual. Dr. Fernando Capez é Procurador de Justiça, ingressou no Ministério Público em 88. Todos também tivemos a oportunidade de conhecer o seu trabalho, a sua atuação decisiva no Ministério Público de São Paulo, sobretudo nos episódios das torcidas organizadas, da chamada máfia do lixo. É doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Tem diversos livros publicados na área de penal, processo penal, sobretudo. Foi eleito deputado estadual em 2006 e, quando ocupou a presidência da CCJR (Comissão de Constituição, Justiça e Redação) da Assembleia Legislativa de São Paulo. Foi reeleito no pleito de 2010, sendo um dos três deputados mais votados da Assembleia Legislativa do estado de São Paulo, onde coordena a Frente Parlamentar pela Advocacia Pública na Assembleia Legislativa daquele estado. Seja muito bem-vindo, Dr. Fernando. O senhor tem 20 minutos para fazer suas explanações. SR. FERNANDO CAPEZ: Bom dia a todos. Queria agradecer ao presidente da Mesa, Dr. Edmílson Moura, pelas gentis palavras. Parabenizar a palestrante que me antecedeu, deputada Clair da Flora Martins, meu amigo aqui, o procurador autárquico, Paulo Eduardo de Barros Fonseca, que teve grande participação na minha introdução, nessa batalha, nessa luta, agradecer o Dr. João Clímaco, presidente da Associação dos Procuradores Autárquicos do Estado de São Paulo, com seu apoio decisivo, e dizer ao Dr. Marcos Stamm, presidente da Associação Brasileira de Advogados Públicos, que é uma honra muito grande ter recebido esse convite para estar aqui, e, nesta casa, aqui, no auditório do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, eu quero cumprimentar a todos os advogados - advogados públicos, advogados privados, sob a presidência do presidente Ophir Cavalcante. E dizer que, quando um advogado atua, ele não defende apenas aquela pessoa que ele representa; quando um advogado atua, ele defende muito mais do que o seu cliente, ele defende muito mais do que aquela pessoa que eventualmente esteja sendo acusada numa seara criminal. Ao atuar, o advogado defende um princípio, não uma pessoa. O princípio de que nenhum de nós poderá ser privado de sua liberdade, amesquinhado em seu patrimônio, ou alvitado em sua honra, sem que antes sejam obedecidos, estritamente, todos os princípios e garantias derivadas do estado democrático de direito. Não fosse a figura do advogado, e o estado se transformaria num verdadeiro leviatã acusatório, rememorando os piores pesadelos de Hobbes. E esse leviatã acusatório teria a tese da acusação, sem a antítese da defesa, e, quando há tese sem antítese, fica inviabilizada a síntese de uma prestação jurisdicional equilibrada, ponderada, serena, responsável, equidistante e, por conseguinte, justa. E é por isso que, sem advogado, não se faz justiça, e é por essa razão que, se existe um tripé, e um desses pés é a Advocacia pública e privada, se, nesse tripé, um dos pés não estiver fincado e enraizado com a mesma força que os outros dois, toda a estrutura do sistema se desequilibra e SA/mi 2

3 tende a desmoronar. E por isso, depois de 23 anos no Ministério Público, ao assumir o mandato como deputado, deputado que representaria ali, dentre outros segmentos, o segmento da Advocacia Pública Estadual do estado de São Paulo, eu me preocupei, desde o primeiro dia, em colocar na cadeira que eu ocuparia, comigo, a Ordem dos Advogados do Brasil. Nós elaboramos um código de procedimento do estado, uma vez que normas de processo são privativas do Congresso Nacional, objetivando agilizar a tramitação dos processos por meio de soluções como os procedimentos que pudessem tornar mais célere a tramitação, protocolamos uma PEC que estamos lutando para aprovar, que é da autonomia financeira do Poder Judiciário, para que seja cumprido o disposto no 2, do art. 98, e toda a arrecadação proveniente de custas e emolumentos ser revertida para modernização e investimento no Judiciário, para que, no estado de São Paulo, se possa atingir os bons resultados que hoje são vistos nos estados que já adotaram essa autonomia financeira. E, dentro dessa linha, eu, logo no início do meu mandato, ao conhecer o nosso querido Paulo Roberto de Barros Fonseca, o João Clímaco, e, aquela altura, um ex-deputado e procurador autárquico, já falecido, chamado Ademar de Barros, homônimo de um filho de um exgovernador, sentamos, e ele disse: A situação aqui, no estado de São Paulo, para a Advocacia pública, especificamente os procuradores autárquicos, é caótica, é deplorável. Nós chegamos a receber, durante três meses, o piso remuneratório da administração pública, ganhávamos, sem qualquer pejoração a esta função, mas ganhávamos a remuneração dos serventes públicos, durante três meses, por meio de decreto, até que foi aprovada a Lei Complementar Estadual 827, de 98, acabando com a participação dos procuradores autárquicos na percepção da verba honorária. E, com isso, criou-se uma odiosa distinção remuneratória, onde a Constituição não distinguiu, de maneira que os procuradores do estado passavam a perceber cerca de 40% a mais do que a remuneração dos procuradores autárquicos, contrariando o inciso XI, do art. 37, e o próprio art Fazia uma distinção, onde o texto constitucional não distinguiu. Nós, então, começamos essa luta. E eu lembro, nós estávamos sentados num restaurante, numa churrascaria, e eu falei: Nós vamos partir para cima, vamos tentar resolver esse problema. E o Dr. Ademar de Barros se levantou, abruptamente, saudoso Ademar de Barros, já falecido, não sobreviveu para ver o fruto de sua luta, disse: O senhor não vai conseguir. Mas nós precisamos acreditar. E, como a Dra. Clair falou, há necessidade da união de esforços, nesse caso, das várias Assembleias Legislativas e Estaduais... Nós estamos aqui... O seminário é sobre Advocacia Pública nos Estados, para dar força ao Congresso Nacional e fazer a pressão, a legítima pressão. Muito bem, para resumir, o mandato... Nós tivemos essa conversa em Em 2008 era aprovada a Lei 1077, restabelecendo a paridade remuneratória entre procuradores do estado e procuradores autárquicos, SA/mi 3

4 mas ainda com uma distinção: a continuidade de um subteto, que impedia (que impede ainda) a percepção do teto estabelecido no inciso XI, do art. 37. Nós estamos aguardando o julgamento de um mandado de segurança por outra turma do Supremo Tribunal Federal, e aí há o compromisso do governo em encaminhar definitivo projeto e restabelecer a situação. Mas, diante disso, de todo esse trabalho, para o segundo mandato, nós resolvemos constituir a frente parlamentar em defesa da Advocacia Pública, porque não apenas essa questão afeta acabar com qualquer distinção entre procuradorias, procuradoria de estado e procuradoria autárquica, mas, também, lutar por algumas conquistas para estas carreiras em comum. Essa frente parlamentar teve o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil seção São Paulo; Associação dos Procuradores do Estado de São Paulo; Associação dos Procuradores Autárquicos do Estado de São Paulo; Associação Nacional dos Procuradores da Assembleia Legislativa; Associação dos Assessores Técnicos Legislativos e Procuradores; Associação dos Procuradores do Município de São Paulo; Associação Brasileira de Advogados Públicos, que aqui estamos, tanto que nos convidou; Associação Nacional dos Procuradores do Estado; Instituto Brasileiro de Advogados Públicos; Fórum da Advocacia Pública Federal; União dos Advogados Públicos Federais do Brasil; Sindicato dos Procuradores do Estado, das Autarquias, das Fundações e Universidades Públicas do Estado de São Paulo e Procuradores da Câmara Municipal. Vejam, é um bocado de gente unida em prol de um objetivo comum, que é a valorização das carreiras, não como um benefício sindicalista, corporativista, mas, no momento em que você tem carreiras comprometidas com a defesa do patrimônio público em juízo, carreiras com função de consultoria, assessoramento, de cuja competência ou de cuja estrutura, maior ou menor, dependerá as percepções de ganho para o estado em benefício da sociedade. Então, há um interesse claro da sociedade em que as carreiras estejam bem estruturadas do ponto de vista dos serviços de apoio, que estejam remuneradas à altura e com certas garantias para exercerem a sua função. Nós realizamos, então, no dia 13 de setembro, uma reunião importante dessa frente parlamentar, e pelo menos neste âmbito do estado de São Paulo, mas nós gostaríamos de interagir com as assembleias de todos os estados, para formarmos uma força em comum. Estamos já apresentando ao governador do estado, conseguimos uma reunião agora para o dia 7 de novembro, uma reunião com o governador do estado de São Paulo, para a apresentação do anteprojeto de estruturação das carreiras de apoio. Nós temos enfrentado, visto problemas no âmbito da procuradoria do estado... A minha esposa é Promotora de Justiça e tem uma amiga que é procuradora do estado. Você não tem estagiário, aí você contrata o estagiário pagando do bolso, porque você quer fazer render. Não pode contratar o estagiário pagando do bolso. Não pode pegar os volumes de processos e levar para casa, para trabalhar, não tem apoio, no sentido técnico. Ou seja, servidores da área de engenharia, da área contábil, de outras áreas que possam subsidiar a realização desse trabalho, e o que acontece? Prejuízo para o erário, ou SA/mi 4

5 não percepção de ganhos para o erário. Nós estamos com problema de 18 milhões de processos no estado de São Paulo. Seiscentos mil recursos, e a maioria desses processos que atrasam a prestação jurisdicional são processos em que o estado é parte. Apresentamos um Projeto de Lei para permitir que sejam feitos acordos que o Procurador-Geral possa delegar a possibilidade de acordo em causas de até 60 salários mínimos, e causas de natureza alimentar que não exceda a 500 salários mínimos, também possibilitar a celebração de acordos, inclusive, extrajudiciais, porque o que acontece hoje é que está florescendo uma indústria de compra de créditos, sub-rogação de créditos. Ou seja, aquela parte titular do direito, sabendo que vai receber depois de muito tempo, aceita vender por qualquer valor aquele seu crédito para grandes escritórios especializados, que sub-rogam no processo e não se preocupam que vá demorar, porque, quanto mais demorar, maior será o ganho, e aí o prejuízo também é para o estado. Então, apresentamos esse projeto. Agora, a estruturação das carreiras de apoio seria fundamental. Nós temos outro dispositivo que, a nosso ver, passa despercebido, mas ele diminui o valor e a importância da função e o próprio status dessa carreira. É um dispositivo... Está certo que é de um dispositivo de uma lei estadual, a Lei Orgânica da Procuradoria-Geral do estado, que proíbe o procurador de dar entrevista, de se comunicar, dar uma satisfação daquilo que ele está fazendo. Ora, é importante que a sociedade, por meio da imprensa, tome conhecimento da relevância das atuações dos procuradores, para que possa estar ao seu lado, quando forem ser elaborados pleitos perante o Poder Legislativo, a sociedade saber que é um braço aliado seu na defesa do patrimônio, para que haja recursos públicos para investimento na área da saúde, da educação, segurança e assim por diante. Quem cuida desses recursos, no âmbito do assessoramento administrativo e da representação judicial, são os advogados públicos. A questão do teto, nós temos um problema, que deve se repetir em alguns estados, que é de um subteto estadual, em desobediência e inobservância ao inciso XI, do art. 37. Estamos lutando para que isso venha cair. E o assento obrigatório da PGE em todos os Conselhos Estaduais, órgãos de deliberação coletiva, que tenham âmbito estadual. Elaboramos, também, um Projeto de Lei, que já se transformou em lei. É simbólico, mas é importante que existam datas, para que as datas marquem movimentos, que é o dia da Advocacia Pública, que fica instituído, aqui, anualmente, no dia 14 de abril. É a Lei 14025, de 13 de abril de E nós continuamos permanentemente atentos a todos os movimentos que, de alguma maneira, digam respeito à Advocacia. Eu gostaria de lembrar aqui, em tom até de exortação, meu querido Dr. Edmilson, a história de uma pessoa que parecia não ver qualquer saída no seu caminho. Aliás, foi como nós nos conhecemos, ali, com relação à questão dos procuradores autárquicos. E esta pessoa só tinha ao seu lado a fé, que é a mola propulsora da sua conduta, e a esperança, que é o leme que a direcionaria no caminho certo, ainda que a visão pudesse SA/mi 5

6 estar [ininteligível] por problemas no cotidiano. E eu me lembrarei da história do sujeito que estava preso num calabouço, atado aos grilhões, acorrentado, sem qualquer esperança de, um dia, sair mediante um julgamento justo. Mas, ainda que a situação não lhe desse qualquer esperança, ao seu lado a companhia era apenas de ossada e esqueletos humanos, de presos que morreram na vã esperança de um dia serem julgados, essa pessoa teimou em não perder a fé e não perder a esperança, e tanto mentalizou positivamente que chegou o dia em que as portas do calabouço se abriram e por lá entrou o ditador, olhando para aquele homem preso, falou: Pobre coitado, você tem alguma esperança de sair daqui? Eu vou lhe dar uma oportunidade. Vou submeter lhe a um julgamento, que eu sei que você jamais deixou de acreditar nesse julgamento. Em uma das minhas mãos eu manterei um bilhete contendo a palavra culpado e, na outra mão, vou botar um bilhete contendo a palavra inocente. Se você escolher a mão que tem a palavra culpado, será executado, e, se pegar a mão que tem a palavra inocente, estará livre para partir, ainda esta noite. Veja como eu sou misericordioso ao lhe dar a chance de um julgamento.... SA/mi 6