DIFERENÇAS ENTRE OS SETORES PÚBLICO E PRIVADO QUE FUNDAMENTAM A ATUAÇÃO DO PES PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL
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- Gilberto Osório Nunes
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1 . DIFERENÇAS ENTRE OS SETORES PÚBLICO E PRIVADO QUE FUNDAMENTAM A ATUAÇÃO DO PES PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL Comparação entre os âmbitos para suporte à decisão sobre que conhecimentos são necessários para modernizar uma organização pública. Aristogiton Moura 2009
2 DIFERENÇAS ENTRE OS SETORES PÚBLICO E PRIVADO QUE FUNDAMENTAM A ATUAÇÃO DO PES PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL. A grande dúvida que surge no processo de contratação de uma consultoria baseada em PES é a confusão dos gestores públicos de qual é a melhor metodologia a ser aplicada em organizações públicas. Há no mercado uma grande oferta de métodos que prometem planejamento estratégico, sendo que a quase totalidade deles desenvolvidos para o setor privado e adaptados para o setor público. Para o gestor público, responsável por contratar conhecimentos para reforma e melhoria de organizações públicas é imprescindível que o mesmo saiba quais são aquelas que efetivamente foram desenhadas para esse segmento e que tem condições de melhorar suas capacidades de forma a que cumpram com sua missão institucional com eficiência e eficácia e essa ação transforme a realidade social na qual essa organização está inserida e pretende transformar. No texto seguinte nesse documento, intitulado COMPARAÇÃO ENTRE MODELOS DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO QUE MAIS SE ADEQUAM À GESTÃO PÚBLICA, é feita uma análise que busca fundamentar o julgamento e a decisão de gestor público quando se encontra na situação de ter que comprar uma metodologia de modernização de organizações públicas. A questão em pauta, decidir qual é a melhor metodologia para modernizar organizações públicas não é nova e nem incomum. A questão da distinção entre estes âmbitos é uma confusão permanente e agravada nesses últimos tempos por experiências bem sucedidas de organizações públicas que tem obtido relativo sucesso com metodologias desenhadas para o setor privado. A questão é se perguntar quais resultados interessam a sociedade: se um mero equilíbrio das contas públicas ou se a organização pública, ademais de equilibrar suas finanças consegue atuar no jogo social e atender as reais necessidades das pessoas quando enfrenta, com efetividade, os problemas sofridos por essas. O mote deste documento então é o de diferenciar esses âmbitos e mostrar que a natureza desses é diferente e por isso requer diferentes formas para se planejar e modernizar. H. Arendt (2004) remete o debate sobre a distinção público privado a partir da origem das concepções gregas de oikos e polis. O oikos se refere ao espaço privado e faz referência ao conjunto de casa, família e propriedades que constituem a unidade básica da sociedade na maioria das cidades-estado, onde a cabeça ou o pai (ou varão de maior idade) era quem dominava os assuntos domésticos, predominando assim relações assimétricas de mando e obediência; a polis, em contraste, é o espaço público onde os homens livres se reconheciam como iguais para a discussão coletiva dos problemas que afetavam a toda a cidade. Deste modo, para os gregos, o público se associava à política e à visibilidade. Quanto à concepção romana da res privada se 2
3 situa na esfera do patrimônio por parte do chefe de família no âmbito do lar a diferença da res pública ou coisa pública, a qual se refere à propriedade acessível ao populus. Observamos como do pensamento grego e romano, a relação entre o público e o privado adquire a forma de uma dicotomia. Bobbio (1997) define o conceito de dicotomia como: uma distinção em que é possível: a) dividir um universo em duas esferas, onde os entes desse universo ficam incluídos nelas sem excluir a nenhum, e reciprocamente exclusivas, no sentido de que um ente compreendido na primeira não pode ser ao mesmo tempo compreendido na segunda; b) estabelecer uma divisão que ao mesmo tempo está total, quanto a todos os entes aos que atual ou potencialmente se refere a disciplina devem entrar nela outras dicotomias que se tornam secundárias com respeito a ela. (pp ). É assim entre o que é público e o que é privado, e a relação que há entre ambas, existe uma profunda dicotomia em que é preciso primeiro dissertar sobre o significado e alcance de cada uma que ajude a entender tal dicotomia. Poderíamos precisar que o público se remete ao interesse público, ao que pertence à coletividade, de caráter aberto e visível; seguindo ao Arendt (1998), a esfera pública está apoiada na igualdade, o diálogo, a liberdade e a universalidade da lei. A noção de privado se contrapõe à noção do público, ou como enfatiza Bobbio (1997) sobre a freqüente afirmação que se faz de que o privado se define como não público. O privado se denota pelo predomínio do interesse privado ou individual sobre o coletivo, quer dizer, a esfera privada se apóia na particularidade; inclusive alguns autores se referem ao caráter fechado e secreto do âmbito privado. De acordo com o Bobbio, as duas acepções desta dicotomia remetem a que o interesse público contrasta com o interesse privado e vice-versa; o aumento da esfera pública, diminui a privada e o aumento da esfera privada afeta a pública. Um necessita do outro. O público lhe fecha e lhe abre possibilidades ao privado, restringindo a ação privada nos limites permitidos pelo público. E o privado, em seu caráter individualista e de particularidade, exigindo a não intromissão do público no desenvolvimento da liberdade e a busca do interesse próprio ou da utilidade do indivíduo. É assim N. Rabotnikof (1997) diferença três significados na dicotomia público-privado: a) o comum e geral por oposição ao privado ou individual; b) o notório evidentemente contra o oculto; e c) o aberto contra o exclusivo. Bobbio específica que a relevância de tal dicotomia está em que nela convergem outras dicotomias tradicionais que a complementam. refere-se à dicotomia sociedade de iguais/sociedade de desiguais, a qual não se contrapõe com a dicotomia públicoprivado. Deste modo, a família que faz parte da esfera privada não se encontra por cima de uma organização muito mais complexa que é a cidade (Aristóteles) ou o Estado, quer dizer, da sociedade adicionada composta pela conformação do grupo amplo de cidadãos que habitam dentro deste. 3
4 Na primazia do direito privado está sua resistência à ingerência do público no sentido de expropriar o que lhe pertence ao particular ou de sua intromissão na autonomia, sua liberdade e seus direitos como indivíduo. A supremacia do público se fundamenta na contraposição do interesse coletivo ao interesse individual, do bem-estar comum sobre o bem-estar individual e da submissão do privado sobre o público. Entretanto, M. Retamozo (2006) sustenta que na construção da nova ordem social contemporânea se produziu uma reconfiguração na dicotomia público-privado, trazendo consigo uma maior problematização nesta relação. Por um lado a autoridade política e pelo outro o espaço privado ligado ao mercado. Levada esta dicotomia ao âmbito das políticas públicas, deve-se diferenciar claramente o que podemos considerar a ação da perspectiva do público versus a ação da visão empresarial. Especificamente, nos remetendo ao Matus (1997b), está dicotomia se translada às esferas da gerência privada e a alta direção pública. Com o questionamento dos pobres resultados alcançados pelo aparelho público nas últimas décadas, muitos chegaram a considerar que a solução a este problema está em aproveitar as qualidades e a eficiência e eficácia do gerente privado de alto nível para substituir ao dirigente do setor público. Matus considera que detrás desta proposição existem duas intenções fortes: introduzir os supostos da empresa privada no âmbito público e reduzir o espaço dos partidos políticos no manejo dos assuntos públicos. Entretanto, esta solução não parece ser tão fácil e direta posto que, pelo general, os gerentes privados não se encontram preparados para exercer as funções da alta direção pública. A causa desta deficiente preparação tem três causas essenciais: vocação e valores, âmbito de experiência e formação intelectual. Somado a isto, as diferenças missionais de interesse público e de interesse particular suportam a uma relação de comando diferente nestes dois tipos de organizações (públicas e privadas). No âmbito privado a recompensa é o poder econômico e o prêmio ao esforço individual e a busca do êxito pessoal e empresarial; trabalha-se em um contexto de exigente e permanente competência onde não sobrevivem os fracos, sendo este um entorno incompatível com a solidariedade e as considerações sociais. portanto, seus valores se acomodam à motivação da busca do poder e a riqueza pessoal e à luta desumana e extrema. Adicionalmente, o gerente privado possui alta governabilidade ao interior de sua organização pelo que pode decidir, contratar, conceber projetos e reorganizar. O argumento válido e forte é a relação custobenefício ou perda-ganho empresarial. Na esfera pública, em contraste, estes mecanismos do âmbito privado não funcionam de igual modo. A função pública é uma atividade extremamente regulada, enquanto no setor empresarial as regras que lhe regem são muito mais abertas. Assim, a luta do empresário se dá com competidores externos e não internos, enquanto no setor público muitas vezes os inimigos se encontram dentro da própria organização, sendo atores políticos com forte peso e motivação para alterar ou obstaculizar os planos do dirigente. Além disso, um projeto social pode ser muito mais complexo que um projeto de desenvolvimento empresarial. No setor público, o projeto social está sujeito à multiplicidade de critérios de eficiência e eficácia que busca encontrar o equilíbrio político, econômico, ambiental, de valores humanos, éticos, entre outros. O gerente 4
5 privado deve atuar no entorno do sistema político, mas essa é apenas uma restrição que deve considerar, enquanto que o dirigente é parte da produção desse contexto e seu êxito depende dos resultados gerados pela ação política. Enquanto isso, o gerente gira em torno do lucro e à luta pela supremacia de sua empresa por cima de todas as demais, o dirigente político pensa em torno da população que lhe escolheu nesse posto com a alta responsabilidade de solucionar seus problemas da vida cotidiana. O lucro e o benefício pessoal são uma deformação da política (Matus, 1997b:95) Os problemas que deve resolver o dirigente político (um presidente, um prefeito, um governador) vão além de um espaço específico de atuação, eles têm que ver diretamente com as necessidades humanas básicas, a proteção do meio ambiente, a redução da violência, o acesso eqüitativo à educação, a saúde e a segurança social, e, a construção de um projeto social que de resposta a todos os problemas da população. As afirmações anteriores mostram que são duas visões muito diferentes: a) o gestor privado (o empresário) rege-se pelo critério unidimensional e simples da rentabilidade e seu ideal é um Estado mínimo com escassa capacidade de regulação e ingerência nos assuntos privados. Sua responsabilidade não é social nem seu objetivo pretende ser solucionar os problemas de um conglomerado, já que sua única responsabilidade é com os acionistas e com a sobrevivência da empresa, de outro modo não poderia sobreviver no mercado e, b) o gestor político, por outro lado, enfoca sua preocupação no ataque às causas que geram desigualdade na sociedade e iniqüidade no acesso às oportunidades. São dois atores distintos, com objetivos, responsabilidades, modos de atuação e regras que marcam sua diferença. A seguir se mostram de forma comparativa estas claras diferenças a partir da vocação e os valores, a experiência, a formação intelectual e o vocabulário cotidiano que caracterizam ao dirigente político e o dirigente privado: GESTOR POLÍTICO Vocação e Valores Experiência Formação Intelectual Vocabulário Cotidiano Motivação geral e causas sociais. Fontes de prestígio: Reconhecimento social de suas capacidades de condução, valores e ideologias. Valoração da eqüidade, solidariedade, e inclusão social. Cresce na competição política sob múltiplos critérios de eficiência e eficácia. A governabilidade interna nem sempre está assegurada. Oponentes internos podem ser mais poderosos que os externos. O projeto social deve conciliar objetivos conflitivos e conservar um equilíbrio entre o político, econômico, ambiental, valores humanos. Restrições para contratar, fixar salários, reformar. Definir a grande estratégia. Explicar a realidade, identificando e processando problemas sociais complexos. Calcular sobre um futuro incerto e avaliar apostas difusas. Realizar análise estratégica para construir viabilidade; estudar outros atores que participam do jogo social. Monitorar e avaliar a mudança da realidade intervinda. Desenhar e redesenhar o aparelho público. Usuários, beneficiários, atores, contribuintes, condenado, parlamentar, prefeito, político Organizações, instituições, empresas, partidos políticos, ramos de poder, etc. Aliados, adversários, opositores, correligionário. Líder, dirigente, gerente, gestor. Eqüidade, igualdade, responsabilidade social. Risco, incerteza. 5
6 GESTOR PRIVADO Vocação e Valores Experiência Formação Intelectual Vocabulário Cotidiano Motivação do ganho pessoal. Fontes de prestígio: acumulação de riqueza pessoal e poder econômico. Sub-valorização das deficiências humanas e a solidariedade social. Critérios limitados de êxito. Cresce na competição econômica desumana e extrema. Governabilidade alta dentro da empresa. Seus inimigos são externos. Critério de custo-benefício simples e com peso forte Baixa fricção burocrática. Alta flexibilidade e liberdade para contratar, fixar salários e preços, reorganizar e planejar projetos. Sua permanência depende da eficácia de sua gestão, que pode ser medida pela rentabilidade do negócio. Explorar opções sob competência, incerteza e complexidade. Analisar estados financeiros e verificar rentabilidades econômicas. Estudar mercados e manejar inventários. Negociar créditos, salários, preços e acordos trabalhistas Definir processos de produção, selecionar tecnologias e desenhar organizações. Negócio. Mercado. Cliente, distribuidor, administrador. Empresa. Competidor. Patrão, gerente, executivo. Risco / incerteza. Lucro. Acionistas /sócios. 6
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