RECOMENDAÇÃO CONJUNTA nº 006/2013 PGJ/NUCAP/PJIC/PJDPP/PJMA/14PJ

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1 RECOMENDAÇÃO CONJUNTA nº 006/2013 PGJ/NUCAP/PJIC/PJDPP/PJMA/14PJ Destinatários: Prefeito Municipal de Natal, Comandante Geral da Polícia Militar, Superintendente da Polícia Rodoviária Federal, Delegado Geral de Polícia Civil e Secretária Municipal de Mobilidade Urbana. Objeto: adoção de medidas inerentes ao poder de polícia administrativa, de atividade policial ostensiva e de investigação criminal concernentes a eventos em que ocorra a obstrução de vias públicas com veículos ou outros instrumentos, em manifestações de rua sem prévia comunicação às autoridades competentes e que causem dano à coletividade e ao regular fluxo de pessoas e veículos. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, através do Procurador-Geral de Justiça em exercício e por seus representantes com atuação nas áreas de investigação criminal, meio ambiente, defesa do patrimônio público e de cidadania, no uso de sua atribuição constitucional de zelar pelo efetivo respeito aos direitos assegurados na Carta Magna, promovendo as medidas necessárias para a sua garantia, na forma dos arts. 127 e 129, da Constituição Federal; e CONSIDERANDO os transtornos ocasionados pela paralisação levada a efeito por um grupo de permissionários de transportes alternativos no dia 04 de dezembro do ano corrente, oportunidade em que bloquearam os cruzamentos da Avenida Bernardo Vieira com as Avenidas Prudente de Morais, Romualdo Galvão e Senador Salgado Filho, além do trânsito na Ponte Newton Navarro, resultando na interrupção do trânsito desta capital, prejudicando toda a coletividade natalense e da região metropolitana, tolhendo o direito constitucional de ir e vir; e ainda, com base nas considerações de cada órgão de atuação do Ministério Público adiante expostas: INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL CONSIDERANDO que este tipo de conduta observada na data de ontem em nossa capital prejudica o regular funcionamento de serviços essenciais, como a saúde (através de serviços de ambulâncias ou prestação de socorro) e a segurança pública (viaturas policiais e de corpo de bombeiros), expondo a vida e a saúde de outrem a perigo direto e iminente crime capitulado no art. 132 do Código Penal; CONSIDERANDO que, nos termos do art. 5º, inciso XVI, da Constituição da República, é exigido prévio aviso à autoridade competente para a reunião pacífica de pessoas; CONSIDERANDO que a autoridade policial civil, contando com o auxílio da autoridade policial militar, de acordo com o que preceitua o art. 6º, II, do Código de Processo Penal, logo que tiver conhecimento da prática de infração penal, deverá apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais (Redação dada pela Lei nº 8.862, de ); CONSIDERANDO que tal preceito se aplica a todas as espécies de infrações penais, sejam elas denominadas Contravenção Penal ou Crime, sendo este entendimento convalidado pelo Superior Tribunal de Justiça, como se infere de seu julgado no REsp /RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 18/08/2009, DJe 14/09/2009, acórdão que segue remansosa jurisprudência daquele mesmo tribunal; CONSIDERANDO ser crime, tipificado no art. 262 do Código Penal, impedir ou dificultar o funcionamento de meio de transporte público; CONSIDERANDO que também é crime expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente, previsto no art. 132 do referido Código; CONSIDERANDO ser crime, tipificado no art. 265 do Código Penal, atentar contra a segurança ou o funcionamento dos serviços de utilidade pública; CONSIDERANDO ser crime, tipificado no art. 330 do Código penal, desobedecer a ordem legal de funcionário público, notadamente, no caso concreto, os funcionários encarregados de ordenar o trânsito urbano; DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO

2 CONSIDERANDO que a Constituição Federal outorga aos Municípios a competência de organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial, nos termos do artigo 30, inciso V; CONSIDERANDO que, nos termos da lei, a concessão de serviço público consiste na delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado; bem como que a permissão de serviço público é conceituada como a delegação, a título precário, mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco (Lei 8.987/95, artigo 2º, incisos II e IV); CONSIDERANDO que, conforme estatui o artigo 37, XXI, da Constituição Federal, ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações ; CONSIDERANDO que o procedimento licitatório destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos (art.3º da Lei nº8.666/93); CONSIDERANDO que tramita perante a 4ª Vara da Fazenda Pública a Ação Civil Pública nº , aforada pelo Ministério Público em face do Município de Natal, da antiga Superintendência de Trânsito e Transportes Urbanos STTU e das empresas exploradoras de serviços de transporte coletivo urbano, visando, dentre outras providências, a discutir a legalidade das permissões referentes às linhas de ônibus de Natal, uma vez que estavam em desacordo com a legislação atinente à espécie, mormente no que diz respeito à realização de processo licitatório; CONSIDERANDO que, dando cumprimento a sentença exarada nos autos da Ação Civil Pública suso referenciada, o Prefeito Municipal de Natal enviou à Câmara Municipal, em 21 de junho de 2013, a Mensagem nº 029/2013, veiculando o Projeto de Lei nº 095/2013, que dispõe sobre a organização dos Serviços Públicos de Transportes Coletivos de Passageiros no Município de Natal, autoriza o Poder Executivo a delegar sua execução por via licitatória de Concessão e Permissão e dá outras providências ; CONSIDERANDO que o Projeto de Lei em comento veicula previsão que limita a competição entre possíveis interessados à prestação dos serviços públicos de transportes urbanos e coletivos de passageiros no tipo complementar, ao restringir a contratação apenas às entidades associativas legalmente constituídas por autônomos, excluindo, por conseguinte, a pessoa jurídica não associada (art. 3º, 2º), obrigando eventuais interessados a se filiarem às associações previamente existentes, em patente violação dos princípios e normas legais que regem o processo licitatório já citado; CONSIDERANDO que o óbice legal identificado inibe a concorrência e privilegia tão somente os atuais prestadores de transporte do tipo complementar, implicando grave violação aos valores constitucionais que a exigência do procedimento licitatório procura, ao fim, preservar; CONSIDERANDO o disposto no art. 12 da lei nº 5.022/1998, que institui o Código de Infrações do Sistema de Transporte Público de Passageiros do Município de Natal, no sentido de caber à Superintendência de Transportes Urbanos, atual SEMOB, exercer o controle e fiscalização do sistema de transporte público de passageiros do Município de Natal, adotando as medidas necessárias para assegurar a continuidade e a adequação dos serviços, nos termos da legislação em vigor; DEFESA DO MEIO AMBIENTE CONSIDERANDO que a realização de protestos e manifestações que desbordem da legalidade e não atendam à prévia comunicação às autoridades agridem dramaticamente o direito urbanístico de transitar pela cidade e, por conseguinte, produz diversos riscos à saúde e segurança das pessoas que se encontram expostas e essa danosa situação, estando portanto sujeita a restrições legais de proteção ao meio ambiente, em atendimento à tranquilidade e ao bem-estar da comunidade; CONSIDERANDO o que determina a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e, em harmonia com a Constituição Federal, em seu art. 3.º define poluição como a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população, bem como que criem condições adversas às atividades sociais e econômicas,

3 sendo esta exatamente a situação ocorrida durante grande parte do dia 04 de dezembro do corrente ano nas principais vias públicas de Natal durante a realização do protesto dos permissionários de transporte alternativo, quando cerca de duas dezenas de motoristas abandonaram seus veículos na via pública, impedindo o trânsito regular das demais pessoas e produzindo enorme poluição, trazendo caos, transtornos de toda ordem e indignando a sociedade natalense, que se viu impedida de transitar regularmente pelo espaço público, que pertence a toda coletividade e restou usurpado e invadido pelos autores do dito protesto; DEFESA DA CIDADANIA CONSIDERANDO que, nos moldes do art. 24, incisos VI e VII, do Código Brasileiro de Trânsito, compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição: VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste Código, no exercício regular do Poder de Polícia de Trânsito; e VII - aplicar as penalidades de advertência por escrito e multa, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste Código, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar ; CONSIDERANDO que o art. 26 e seus incisos da referida norma de trânsito determina ser dever dos usuários das vias terrestres: I - abster-se de todo ato que possa constituir perigo ou obstáculo para o trânsito de veículos, de pessoas ou de animais, ou ainda causar danos a propriedades públicas ou privadas e II - abster-se de obstruir o trânsito ou torná-lo perigoso, atirando, depositando ou abandonando na via objetos ou substâncias, ou nela criando qualquer outro obstáculo ; CONSIDERANDO que, nos termos da Resolução nº 66 do CONTRAN, que institui tabela de distribuição de competência dos órgãos executivos de trânsito, compete ao Município fiscalizar, aplicar as medidas administrativas, penalidades cabíveis e arrecadação das multas no caso da infração administrativa de bloquear a via pública; CONSIDERANDO que o art. 95 do Código de Trânsito prevê: Art. 95. Nenhuma obra ou evento que possa perturbar ou interromper a livre circulação de veículos e pedestres, ou colocar em risco sua segurança, será iniciada sem permissão prévia do órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre a via. 1º A obrigação de sinalizar é do responsável pela execução ou manutenção da obra ou do evento. 2º Salvo em casos de emergência, a autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via avisará a comunidade, por intermédio dos meios de comunicação social, com quarenta e oito horas de antecedência, de qualquer interdição da via, indicando-se os caminhos alternativos a serem utilizados. 3º A inobservância do disposto neste artigo será punida com multa que varia entre cinqüenta e trezentas UFIR, independentemente das cominações cíveis e penais cabíveis. 4º Ao servidor público responsável pela inobservância de qualquer das normas previstas neste e nos arts. 93 e 94, a autoridade de trânsito aplicará multa diária na base de cinqüenta por cento do dia de vencimento ou remuneração devida enquanto permanecer a irregularidade. CONSIDERANDO que constitui infração administrativa gravíssima, prevista no art. 253 do Código de Trânsito Brasileiro, bloquear a via com veículo, punível com multa e apreensão do veículo, cabendo à autoridade de trânsito a remoção do veículo; CONSIDERANDO que a autoridade de trânsito ou a autoridade policial que deixar de executar atos que deveriam ser feitos de ofício pode ser responsabilizada pela prática de improbidade administrativa, nos termos do art. 11, inciso I, da Lei nº 8.429/92; RESOLVE RECOMENDAR às seguintes autoridades públicas para que adotem providências efetivas nos seguintes termos, dentro de suas respectivas atribuições: NA ÁREA DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL A) Ao Comandante Geral da Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte: 1. a elaboração de plano de atuação policial em manifestações em vias públicas; e 2. a orientação para que seus respectivos subordinados:

4 2.1. façam cessar a ocorrência de ilícitos penais com a rapidez que a situação exija, empregando progressivamente a força necessária; 2.2. previnam o cometimento de novas infrações penais; 2.3. promovam a apreensão e retirada imediata de todos instrumentos utilizados para cometer a infração penal, inclusive veículos, e a condução de seus autores e de eventuais testemunhas (cidadãos ou policiais militares) à Delegacia de Polícia para a lavratura de flagrante ou Termo Circunstanciado de Ocorrência; B) Ao Superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Rio Grande do Norte, em caso de obstrução vias federais que cortam a área urbana: 1. a orientação para que seus respectivos subordinados: 1.1. façam cessar a ocorrência de ilícitos penais com a rapidez que a situação exija, empregando progressivamente a força necessária; 1.2. previnam o cometimento de novas infrações penais; 1.3. promovam a apreensão e retirada imediata de todos instrumentos utilizados para cometer a infração penal, inclusive veículos, e a condução de seus autores e de eventuais testemunhas (cidadãos ou policiais militares) à Delegacia de Polícia para a lavratura de flagrante ou Termo Circunstanciado de Ocorrência; C) Ao Exmo. Delegado Geral da Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Norte: 1. com esteio no art. 5º, inciso II, do Código de Processo Penal, que determine a instauração de inquérito policial para apurar a responsabilidade criminal dos autores do fato ocorrido na data de ontem (04/12/2013), citado nesta Recomendação; e 2. que a Polícia Civil só efetue a restituição dos bens eventualmente apreendidos em razão do cometimento de crime ou contravenção penal nas situações autorizadas pelo art. 120 do Código de Processo Penal, sempre ouvindo previamente o Ministério Público, nos termos do 3º do mesmo enunciado normativo; NA ÁREA DE DEFESA DA CIDADANIA D) À Ilustríssima autoridade municipal de trânsito que, em qualquer situação onde ocorra bloqueio das vias públicas, adote a medida administrativa de remoção dos veículos, conforme determina o art. 253 do Código de Trânsito Brasileiro, sem prejuízo das demais cabíveis, solicitando apoio policial quando necessário; NA ÁREA DE PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE E) À Senhora Secretária da Secretaria de Mobilidade Urbana - SEMOB, o seguinte: 1. Durante a realização de quaisquer tipos de protestos na via pública que possam impedir o trânsito regular das pessoas, tomar imediatamente as necessárias providências administrativas para restabelecer o fluxo de veículos pelo espaço público urbano, utilizando incontinenti guinchos para a retirada de quaisquer entraves à livre circulação de carros e pedestres, bem como enviando ao local número suficiente de agentes de trânsito para controlar a situação e evitar o aumento da degradação ambiental. NA ÁREA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO F) Ao Exmo. Prefeito do Município de Natal, CARLOS EDUARDO NUNES ALVES a exclusão do edital do certame a exigência de que a parte contratada para prestação dos serviços públicos de transportes urbanos e coletivos de passageiros no tipo complementar integre, necessariamente, uma entidade associativa, conforme redação do artigo 3º, 2º, do Projeto de Lei nº 095/2013, bem como promova a exclusão, no edital, de quaisquer cláusulas impostas por grupos de pressão, inclusive os atuais permissionários, que restrinjam a competitividade do certame; G) À Ilma. Secretária Municipal de Mobilidade Urbana de Natal/RN - SEMOB, Elequicina Maria dos Santos, que promova a identificação dos permissionários envolvidos na paralisação ocorrida no dia 04 de dezembro do ano corrente, nos cruzamentos da Avenida Bernardo Vieira com as Avenidas Prudente de Morais, Avenida Romualdo Galvão e Avenida Senador Salgado Filho, instaurando, para tanto, procedimentos administrativos individuais com vistas à identificação dos responsáveis e aplicação das sanções correlatas às infrações praticadas, com fundamento no artigo 6º da Lei Municipal nº 5.022/1998. As autoridades ora recomendadas deverão, no prazo de 10 (dez) dias úteis, informar ao Ministério Público Estadual as providências adotadas, inclusive se acatam, ou não, a presente Recomendação. Publique-se no Diário Oficial do Estado.

5 JOVINO PEREIRA DA COSTA SOBRINHO Procurador-Geral de Justiça do MPRN, em exercício VINÍCIUS LINS LEÃO LIMA ROSSANA MARY SUDÁRIO Promotora de Justiça MARANTO FILGUEIRA RODRIGUES DE CARVALHO JOSÉ ALVES DA SILVA Natal/RN, 5 de dezembro de 2013.