INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS - IAB COMISSÃO PERMANENTE DE DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO

Transcrição

1 INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS - IAB COMISSÃO PERMANENTE DE DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO INDICAÇÃO N 211/2011 Projeto de Lei no PLS n 498/2011, de autoria da Senadora Vanessa Grazziotin Relator: Dr. Luiz Gustavo de França Rangel SENHOR PRESIDENTE, Encaminho para conhecimento de V. Ex". o parecer da Indicação n? 211/2011, APROVADO, por unanimidade, na Reunião Extraordinária da Comissão, realizada em 29/05/2014. Rio de Janeiro, 03 de junho de 2014.~ HA RIBEIRO FILHO Presidente da Comissão

2 INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS - IAB COMISSÃO PERMANENTE DE DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO INDICAÇÃO N 211/2011 Autor: Presidente Femando Fragoso Proposição: Projeto de Lei do Senado PLS 498/2011, de autoria da Senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) Presidente da Comissão: Alexandre da Cunha Ribeiro Filho Relator da Comissão: Luiz Gustavo de França Rangel Ementa: Projeto de Lei do Senado PLS 498/2011. Imposto de Renda. Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. Pessoas Jurídicas. Empregados com mais de 50 anos. Contratação. Dedução das despesas em dobro. Lei n 9.249/95. Alteração. Lei Complementar n" 101/2000. Renúncia fiscal. Princípios constitucionais. Isonomia. Capacidade contributiva. Inobservância. Rejeição do PLS 498/2011. SENHOR PRESIDENTE DA COMISSÃO, Trata a presente Indicação de matéria atinente a permitir a dedução do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido de pessoas jurídicas, pelo dobro das despesas incorridas com a contratação de empregados com mais de cinquenta anos de idade. RELATÓRIO 1. Trata a Indicação n 211/2011 do Projeto de Lei do Senado PLS 498/2011, de autoria da Senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que pretende alterar dispositivos da Lei n 9.249, de 26 de dezembro de 1995, que versa sobre o imposto de renda de pessoa jurídica e a contribuição social sobre o lucro líquido. 2. A proposição tramita atualmente na Comissão de Assuntos Sociais, onde está em discussão, e está sujeita, ainda, à apreciação da Comissão de Assuntos Econômicos (em decisão terminativa). 3. O PLS 498/ propõe acrescer 3 ao artigo 13 da Lei n" 9.249/95 para dispor que as despesas com salários e encargos sociais de empregados com idade igualou superior a cinquenta anos podem ser deduzidas em dobro, desde que o total deles represente mais de 1Veja-se 27/05/2014. Acessado em 1

3 quarenta por cento do quadro de empregados; prevê no art. 2 que o Poder Executivo estimará o montante da renúncia fiscal decorrente, com vistas ao cumprimento do disposto na Lei Complementar n" 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) e no 6 do art. 165 da Constituição Federal. 4. Em sua justificação, a autora do Projeto de Lei diz que os trabalhadores maduros, lamentavelmente, são o primeiro alvo de demissão das empresas, em momentos de crise ou simplesmente de necessidade de ajuste de custos. Isso porque, segundo a autora, a tendência é que esses trabalhadores tenham para a empresa um custo maior que o de um trabalhador jovem, seja pela qualificação maior adquirida com o tempo, seja pela agregação de vantagens trabalhistas. 5. Ao trocar mão de obra qualificada mais cara por outra mais barata, não apenas os salários pesam, mas também os encargos sociais, principalmente os previdenciários. 6. Com isso, segundo a autora do PLS 498/2011, o País perde não apenas no aspecto social, no que o mecanismo implica na regressividade da distribuição de renda, mas também no econômico, pela perda de qualidade em que o sistema produtivo incorre, ao trocar trabalhadores mais qualificados por outros menos qualificados. 7. Normalmente, acrescenta a autora, o tempo necessário para que desempregados com idade igualou superior a cinquenta anos voltem a se posicionar profissionalmente é bastante superior ao das faixas etárias mais jovens. Diz a senadora que alguns nunca conseguem retomar a sua vida profissional e quase nunca no mesmo patamar anterior, sendo obrigados a aceitar empregos de menor qualificação e de menor salário, quando os encontram, para poder sobreviver. O drama transcende o aspecto pessoal, prossegue a autora, para envolver dolorosamente toda a família, que é forçada a reduzir, súbita e drasticamente, o padrão de vida para adequar-se à nova situação. 8. Busca-se com esse projeto, conclui a senadora, proporcionar aos empregadores uma compensação tributária para que preservem e, se possível, ampliem a quantidade de trabalhadores de idade acima de cinquenta anos. As empresas poderão abater, em dobro, para fins de cálculo do imposto de renda da pessoa jurídica e da contribuição sobre lucro líquido, as despesas salariais e respectivos encargos incorridos com esses empregados. 2

4 9. Por seu turno, o relator do Projeto de Lei, Senador Rodrigo Rollemberg' (PSB-DF), da Comissão de Assuntos Sociais - CAS, após discorrer sobre o conteúdo dos três artigos do PLS 498/2011, informa que, transcorrido o prazo regimental, não foram apresentadas emendas. 10. Constata o relator que o Projeto de Lei atende os requisitos constitucionais previstos nos dispositivos que cita; que a competência da CAS para deliberar sobre a proposição decorre do art. 100, IV, do Regimento Interno do Senado federal, e que o projeto atende os ditames da técnica legislativa prevista na Lei Complementar n 95/ No mérito, diz o relator que a matéria demonstra salutar preocupação com a empregabilidade dos trabalhadores com idade mais avançada, normalmente os alvos prediletos do downsizing das empresas que, em momentos de crise, necessitam reduzir seu quadro de empregados para cortar despesas. 12. Salienta o relator os fundamentos da proposição da autora, já expostos nos itens 4 a 8 supracitados. 13. Contudo, contrapõe o relator afirmando que é preciso também considerar o impacto do beneficio proposto em relação às frnanças públicas. 14. Quando o legislador institui uma benesse fiscal para um setor específico da sociedade, diz o relator, necessariamente encaminha para os demais setores a conta a ser paga, pois as deduções de impostos significam diminuição da expectativa da arrecadação por parte do governo, que fatalmente tentará compensar a perda por meio de aumento/criação de outros tributos ou outras medidas normalmente impopulares e impactantes para a economia das famílias e empresas. 15. No caso em comento, continua o senador-relator, propõe-se permitir que as empresas deduzam em dobro, do imposto de renda da pessoa jurídica e da contribuição social sobre o lucro líquido, as despesas com salários e encargos sociais advindos da contratação de trabalhadores com mais de cinquenta anos de idade. Por maior que seja o mérito social da proposta, diz o relator, não há como ignorar o potencial rombo tributário e previdenciário que sua aprovação proporcionaria. Em última análise, conclui o relator, a proposição abre caminho para que as empresas privadas "estatizem" (original grifado) de certo modo seus custos operacionais, na medida em que possam repassar ao conjunto da sociedade uma 2 Veja-se Acessado em 27/05/

5 despesa que, num ambiente capitalista desenvolvido, deve ser suportada por quem assume o risco do negócio, ou seja, o empreendedor privado. 16. Cumpre à Comissão de Assuntos Sociais, lembra o relator, aprovar projetos que traduzam avanços sociais, mas cumpre, também, zelar para que não prosperem matérias de cunho social relevante, como é o presente caso, que, entretanto, oneram o conjunto da sociedade de tal forma que tomam dispensável a vantagem oferecida. 17. Conclui o relator a sua manifestação votando pela rejeição do PLS 498/2011. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO 18. De uma perspectiva estritamente jurídica, que afinal é a que deve orientar este parecer, é forçoso dizer que o Projeto de Lei PLS 498/2011, s.m.j., se revela inconstitucional, eis que contrariam, pelo menos, dois princípios fundamentais consagrados na Carta Magna de O primeiro deles é o princípio da isonomia, insculpido na Constituição Federal - CF no caput do art. 5, mas também presente em inúmeros outros dispositivos, dentre eles o art, 7, XXX, que proíbe taxativamente diferença de salários e de critérios de admissão por motivo de idade, dentre outros, e, ainda, o art. 150, li, todos da Constituição Federal, que veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios "instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente (...)". Indubitavelmente, a proposição em análise, ao conceder o benefício àquelas pessoas jurídicas que empregassem trabalhadores acima de 50 anos, estaria concedendo tratamento desigual (= mais favorável) em relação às outras pessoas jurídicas que não o fizessem, restando, portanto, ofendido o princípio da igualdade. 20. É relevante enfatizar que, neste caso, não há que falar em violação de outro direito fundamental custodiado pela CF no art. 5, XIII - o direito ao trabalho - posto que, numa ponderação de valores, prepondera o interesse público, vale dizer, o de todos os contribuintes que, em última análise, estariam financiando o benefício. 21. Longe da pretensão de esgotar o assunto, citamos um segundo princípio constitucional ferido pela PLS 498/2011: o da capacidade contributiva, estatuído no art. 145, 1, da CF. Segundo esse princípio, aqueles que têm mais devem contribuir com mais para a manutenção do Estado. Significa dizer que, aqueles que apresentem maior capacidade contributiva paguem mais tributos, ou seja, quanto maior for a base de cálculo, maior haverá de ser a alíquota (= alíquotas progressivas), como acontece com o imposto de renda, por exemplo. Ora, no caso 4

6 em exame, a pessoa jurídica que viesse a fruir dos benefícios concedidos pelo PLS 498/2011, sem dúvida, estaria a revelar uma capacidade contributiva maior do que as dos demais - por conta de menores custos operacionais -, sem que aquele tivesse sido tributado por uma alíquota maior, contrariando, portanto, o princípio constitucional da capacidade contributiva consagrado no art. 145, 1, da Constituição Federal. 22. Por essas razões, somos contrários à aprovação do PLS CONCLUSÃO Em face do exposto, concluímos pela rejeição integral do Projeto de Lei do Senado Federal PLS 498/2011. É o parecer. Rio de Janeiro, 28 de maio de 2014 ~AAw/)Jv LUIZ GUSTAVO DE FRANÇA RANGEL 5