Eventos. Las Vegas Boulevard, Nevada A GRANDE APOSTA DE LAS VEGAS. por Fabio Steinberg. Fotos: Shutterstock Divulgação.

Transcrição

1 Las Vegas Boulevard, Nevada A GRANDE APOSTA DE LAS VEGAS por Fabio Steinberg Fotos: Shutterstock Divulgação 10 Edição #10

2 campanhas e pesados investimentos transformaram a cidade, nos eua, no centro mundial dos eventos e entretenimento. não é mais a capital do jogo: hoje, apenas 13% dos visitantes vão em busca dos cassinos

3 Cassino em Las Vegas Panoramica de Las Vegas Boulevard The Strip Las Vegas Convention Center Quem ainda pensa que Las Vegas é sinônimo de jogos de azar precisa se reciclar. É que em uma silenciosa, mas bem arquitetada estratégia, desde a virada do século a cidade vem substituindo sua dependência econômica nos cassinos para se tornar o centro mundial do entretenimento, eventos e compras. Basta dizer que em 2010, dos US$ 32,9 bilhões gastos pelos 37 milhões que visitaram a cidade seis vezes mais dos estrangeiros que vieram ao Brasil no período apenas 30% foram gastos em jogos. Pesquisas indicam que só 13% dos turistas vão lá para freqüentar cassinos. A demanda gerada por imensos resorts como o Venetia e MGM, que agregaram 3 milhões de m² de ampla infra-estrutura para eventos, somado à concorrência de cassinos que surgiram em diversos locais nos Estados Unidos e no mundo, nos levou a esta mudança, explica Chris Meyer, vice-presidente de Vendas do Las Vegas Convention and Visitors Authority. Ele revela que com intensas campanhas de publicidade e investimentos entre hotéis e centros de lazer, como o recém-inaugurado City Center, que sozinho engoliu US$ 4,2 bilhões, foi possível modificar a percepção de Las Vegas como capital do vício. Hoje, a missão de Meyers e equipe é atrair visitantes e fazer da cidade a mais desejável do mundo para viagens de negócios e lazer. A mágica deu certo: o lugar fica no meio do calor desértico do estado americano de Nevada, mas, com tanta grama e vegetação mantidos à base de muita irrigação e ar condicionado, ninguém parece se incomodar com isto. 12 Edição #10

4 Vista Panoramica do Show das Aguas do Hotel Casino Bellagio Os resultados não demoraram. Hoje, 150 mil quartos de hotel, com ocupação média de 85% e servidos por 250 mil funcionários, viabilizaram a realização de 18 mil eventos com 10 a até 100 mil participantes, que em 2010 trouxeram 4,5 milhões de visitantes e uma renda de US$ 4,6 bilhões. E mais: 60 das 250 feiras mais importantes do mundo foram realizadas no período, ocupando uma área total de 1 milhão de m², incluindo as de três dos maiores centros de convenções do mundo. É lá que acontecem também os 19 maiores eventos anuais da cidade, com destaque para o ICE, de eletrônicos de consumo, com expositores e 140 mil participantes, o World of Concrete, com expositores e 60 mil profissionais do concreto, e a Advanstar/MAGIC, com marcas do universo têxtil e 60 mil participantes, entre outros. O sucesso pode ser avaliado pelas reservas desde já para eventos que se realizarão em 2026, como a National Automobile Dealers Association, revela Chris Meyers. MUITA DIVERSÃO Mas nem tudo é trabalho. Pesquisas indicam que em média quatro em cada dez turistas vão A demanda gerada por imensos resorts como o Venetia e MGM, que agregaram 3 milhões de m² de ampla infraestrutura para eventos, somado à concorrência de cassinos que surgiram em diversos locais nos Estados Unidos e no mundo, nos levou a esta mudança - Chris Meyers 13

5 a Las Vegas para se divertir em shows. O calendário de atrações é repleto de artistas de primeira grandeza, como Celine Dion e Elton John. Que outra cidade consegue manter simultaneamente sete espetáculos com temáticas diferentes do Cirque de Soleil? (o oitavo terá músicas de Michael Jackson). Há ainda performances de tigres e leões, show de piratas e gôndolas em uma Veneza fake, mas com ar condicionado perfeito e as águas limpas. Para os brasileiros ninguém arrisca dizer quantos visitam Vegas, embora o número de quem fala português por ali não pára de crescer o esporte predileto os espera: compras! Há desde exclusivas boutiques e shopping centers com lojas de todas as marcas e grifes do planeta até outlets com pechinchas imperdíveis. Nem os comilões foram esquecidos: há 1450 restaurantes mais 258 bufês, que cabem em todos os bolsos, como também refinados centros de gastronomia que portam grifes dos maiores chefs do mundo. Isto sem falar no ecoturismo do vizinho Grand Canyon, com a possibilidade de caminhar sobre o Skywalk passarela de vidro em forma de ferradura e suspensa a mais de metros. Explorada pelos indígenas hualapai, permite andar sobre o precipício, com o rio Colorado lá embaixo, e o paredão logo à frente. É uma sensação que equivale ao voo das águias que observam ali ao lado, no pico do Eagle Point. Para quem quer apenas visitar a cidade, uma caminhada pela área que concentra os hotéis mais famosos permite conhecer atrações gratuitas, que vão de vulcões em erupção a águas dançantes. Ou observar a convivência pacífica entre hotéis de arquitetura elegante com vizinhos que são monumentos ao kitsch. Mas nem todos vão a Las Vegas apenas por conta do que a cidade oferece: 10% chegam só para rever amigos e parentes dos 600 mil que moram ali, ou 2 milhões se contada a área metropolitana. Finalmente, 3% dos visitantes têm uma razão muito especial, e que deu fama à cidade: vão até lá Vegas só para casar. O LADO B DO BUSINESS Las Vegas parece uma fábrica de eventos. Milhares de profissionais de empresas atravessam as instalações de grandes hotéis com seus notebooks debaixo do braço, sem dar bola aos caça-níqueis e cassinos. As suas presenças corporativas sóbrias contrastam com o território traiçoeiro do vício, como se fossem galinhas que cruzam um pântano com jacarés. É um apelo diferenciado para o profissional que foge da rotina entediante das empresas, e ninguém explora melhor isto que os gestores de Las Vegas. Tudo lá é exagerado, embora funcione sob total respeito ao horário e qualidade do serviço. Os hotéis gigantescos são limpos com discrição, a comida dos restaurantes é em geral boa, os táxis funcionam com eficiência e honestidade, e os preços são decentes. Este parque de diversões de adultos convive bem com o mundo corporativo, com volumes de profissionais e atividade intensa que viabiliza a ocupação dos hotéis, entope os auditórios e alavanca o entretenimento. Enfim, eis aí um gerador de empregos fenomenal. Basta acompanhar um café da manhã servido a 15 mil pessoas simultaneamente aos participantes de uma convenção. Por trás disto há um exército invisível de operários da comida. Na frente do salão, como guardas de trânsito, colunas de garçons dividem os grupos em até 50 pessoas, indicando o caminho para cada uma das 100 células de alimentos distribuídas pelo local. Pratos de papel e talheres de plástico descartáveis permitem agilizar o processo, entre a alimentação e o descarte da refeição, toda embalada com a devida antecedência. A fila não pára um segundo, e ai dos que interromperem a linha de montagem com perguntas. Um segundo batalhão de garçons fica de olho nas mesas que se esvaziam e as limpa para uma nova turma de esfomeados. Em poucos minutos milhares de pessoas estão alimentadas e felizes. 14 Edição #10