Dioctophyma renale em lobo-guará Relato de caso post mortem. Dioctophyma renale in guará wolf (Chrysocyon brachyurus) Post mortem case report

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1 Dioctophyma renale em lobo-guará Relato de caso post mortem Dioctophyma renale in guará wolf (Chrysocyon brachyurus) Post mortem case report Dioctophyma renale en el aguará guazú (Chrysocyon brachyurus) Relato de caso post mortem Aline Fernanda Squilasse 1 *, Aricia Noelli Brega Monteiro 1, Marina Xavier Martins 1 e Helder Esteves Thomé 2 Resumo O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é um canídeo sul-americano selvagem de alto valor biológico. O aumento dos centros urbanos e a destruição de seu habitat natural estão fazendo com que estes animais percam cada vez mais seu espaço na natureza, tornando-se uma espécie em risco de extinção. É um animal que hospeda diversos parasitas, sendo comumente encontrado o Dioctophyma renale, preferencialmente no rim direito causando a destruição do órgão. O objetivo desse trabalho é relatar o caso de dioctofimose renal e abdominal em lobo-guará. Palavras-chave: Chrysocyon brachyurus, Dioctophyma renale, lobo-guará, parasita, rim. Abstract The Guará Wolf (Chrysocyon brachyurus) is a canid from South America, wild and with a large biological value. The growing of the urban centers and its natural habitat devastation are decreasing this animals spaces in the nature and putting them in serious extintion risc. This kind of animal hosts lots of types of parasites, one of the common ones it s the Dioctophyma 1 Discente de medicina veterinária Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos UNIFEOB, São João da Boa Vista SP. * alinesquilasse@gmail.com 2 Docente de Medicina veterinária - Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos UNIFEOB. 566

2 Renale, preferably in the right kidney causing its destruction. The purpose of this paper is report the case of kidney and abmidominal dioctofimosis. Key words: Chrysocyon brachyurus, Dioctophyma renale, guará wolf, parasites, kidney. Resumen El Aguará Guazú (Chrysocyon brachyurus) es un cánido sudamericano, salvaje de alto valor biológico. El incremento de las zonas urbanas y la destrucción de su hábitat natural están logrando que este animal pierda paulatinamente su lugar en la naturaleza, haciendola una especie en peligro de extinción. És un animal que suele alojar distintos tipos de parásitos, el más común es el Dioctophyma renal, preferiblemente en el riñón derecho provocándo la destrucción del órgano. El objetivo del presente estúdio es relatar el caso de Dioctophymose Renal y abdominal en el Aguará Guazú. Palabras-clave: Chrysocyon brachyurus, Dioctophyma renale, aguará guazú, parasitos, riñón. Introdução O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), maior canídeo sulamericano, é encontrado em algumas áreas da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai, Peru e Uruguai. Apesar da ampla distribuição, a espécie está entre as ameaçadas de extinção no Brasil, na categoria vulnerável a quase ameaçada ¹. A proximidade do lobo-guará com animais domésticos vem ocorrendo devido à expansão da pecuária e à urbanização, que aliadas à fragmentação de áreas florestais e à destruição de áreas naturais podem aumentar a ocorrência de doenças infectocontagiosas e parasitárias nos canídeos selvagens ¹. Em estudos epidemiológicos de canídeos selvagens, as doenças parasitárias são citadas como uma das principais causas de mortalidade em lobos-guarás em cativeiro¹. O lobo-guará é hospedeiro de inúmeros parasitas, dentre eles o nematoide da família Dioctophymatidae (Dioctophyma renale), que apresenta distribuição mundial e é frequentemente descrito parasitando carnívoros domésticos e 567

3 silvestres, principalmente cães e lobos¹. O Dioctophyma é o maior nematoide parasita dos animais domésticos. A fêmea pode ter mais de 60 centímetros de comprimento e até um centímetro de diâmetro, fazendo com que seu tamanho e sua localização renal sejam suficientes para que sejam identificados². A dioctofimose é considerada uma afecção rara em cães, acometendo principalmente os animais de vida errante, possivelmente em virtude de hábitos alimentares menos seletivos ³. Pode acometer, raramente, bovinos, equinos e suínos e há também descrição da presença desse helminto na pele e nos rins de humanos causando cólicas renais e hematúria ³. Os animais e o homem adquirem o nematoide a partir de carne de peixe pouco cozida e de anelídeos aquáticos infectados com a forma larval 4. Este parasito localiza-se nos rins, preferencialmente no rim direito, ou livre na cavidade abdominal de seus hospedeiros, causando a destruição progressiva das camadas cortical e medular renal, reduzindo o órgão a uma cápsula fibrosa 4. Relato de caso Em fevereiro de 2013 foi recebido no Hospital Veterinário Vicente Borelli, do Centro da Fundação de Ensino Octávio Bastos, na cidade de São João da Boa Vista, um lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) fêmea, aparentemente jovem, apresentando uma fratura radial em membro torácico esquerdo. Após avaliação clínica e cirúrgica, optou-se pela eutanásia devido ao tempo do processo, quadro geral do animal e o difícil manejo no período pós-operatório. Durante o exame necroscópico foram encontrados quatro parasitas da espécie Dioctophyma renale localizados no interior do rim direito, o qual já apresentava grande destruição medular e cortical, sendo observada somente a cápsula renal (Figura 1). Havia também um parasita da espécie livre na cavidade abdominal. Estes exemplares apresentavam tamanhos variados, de 12 a 60 centímetros de comprimento (Figura 2). Em exame de sedimento urinário realizado durante o procedimento de necropsia pôde-se observar inúmeros ovos acastanhados com a 568

4 casca escavada na microscopia óptica. Discussão No presente relato, o D. renale foi um achado de necropsia, uma vez que o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) chegou muito debilitado e optou-se pela eutanásia. Na necropsia encontraram-se cinco parasitas, dos quais quatro estavam no rim direito (Figura 3) e um na cavidade abdominal (Figura 4), confirmando o que Pesenti (2012) relatou. De acordo com Amour (1996), o Dioctophyma é o maior nematoide parasita de animais domésticos. A fêmea possui mais de 60 cm de comprimento, com diâmetro de 1 cm, e quando localizada no rim causa destruição progressiva das camadas cortical e medular, reduzindo o órgão a uma cápsula fibrosa 4. Os principais métodos para diagnósticos descritos na literatura são o achado de ovos do parasita na urina 3, contudo neste caso foi realizado somente a urinálise, pois o animal já havia vindo a óbito. Os animais infectados com este parasita apresentam alguns sinais clínicos como: apatia, emagrecimento, hematúria, arqueamento do dorso, aumento de volume palpável na região renal e, em alguns casos, andar vacilante, também podendo observar peritonite e uremia, devido à insuficiência renal 5. No entanto, como o animal era de vida livre, tais sinais não puderam ser observados. De acordo com Martins (2007), o tratamento da dioctofimose se resume a uma nefrectomia do rim parasitado, desde que o rim oposto esteja com seu funcionamento normal, fazendo se possível antes da cirurgia, a correção dos desequilíbrios metabólicos e hídricos. 569

5 Figura 1: Rim direito reduzido a uma cápsula fibrosa. Figura 2: Variação dos tamanhos dos parasitas encontrados. 570

6 Figura 3: Rim direito com quatro parasitas. Figura 4: Parasita encontrado na cavidade abdominal. 571

7 Considerações finais Atualmente, o contato com animais de vida livre aumentou devido à proximidade desses animais com as áreas urbanas, permitindo o diagnóstico de patologias já conhecidas. O loboguará (Chrysocyon brachyurus) se infecta alimentando-se de peixe cru, e o parasita migra para o rim direito, preferencialmente, devido à proximidade com o duodeno. No caso relatado, os parasitas foram um achado de necropsia, uma vez que foi realizado a eutanásia em virtude do estado crítico do animal. Referências bibliográficas 1. Varzone JRM, Aquino LPCT, Rodovalho MVT (2008). Achados macroscópicos de lesões resultantes do parasitismo por Dioctophyma renale em Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Ensaios e Ciências: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, 12. Disponível em: < Acesso em: 07 julho Armour J et al. (1996). Parasitologia Veterinária. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan SA, 429 p. 3. Pedrassani D (2009). Aspectos morfológicos, imunológicos e epidemiológicos do Dioctophyme renale em cães no distrito de São Cristóvão, Três Barras, Santa Catarina. Tese de Doutorado. Ciências Agrárias e Veterinária, Universidade Estadual Paulista. Jaboticabal, 131p. Disponível em: < Acesso em: 07 julho Pesenti TC et al (2012). Dioctophyma renale (GOEZE, 1782) Collet-Meygret, 1802 (Dioctophymatidae) em Galictis cuja (MOLINA, 1782) (Mustelidae) no Rio Grande do Sul, Brasil. Neotropical Helminthology, 6. Disponível em: < Acesso em: 07 julho

8 5. Alves GC, Silva DT, Neves MF (2007). Dioctophyma renale: O parasita gigante do rim. Revista Cientifica Eletrônica de Medicina Veterinária, 08. Disponível em: < Q8A_ pdf>. Acesso em: 07 julho Martins AM (2007). Nefrectomia em cão (Cannis familiaris) secundária a nefropatia por Dioctophyma renale (GOEZE, 1782) Relato de caso. Monografia de Pós-graduação, Universidade Castelo Branco. Rio de Janeiro, 66p. Disponível em: < %20Alessandra%20Moreira%20Martins.PDF>. Acesso em: 07 julho Recebido em: Dezembro de 2014 Aceito em: Julho de 2014 Publicado em: Julho de