Selvagens sim, mas precisamos de atenção e cuidados especiais

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1 JORNAL IMPRESSO ESPECIAL /2010/DR-ES CRMV-ES CORREIOS CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO CRMV-ES JORNAL DO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO ESPÍRITO SANTO - Nº 13 - EDIÇÃO TRIMESTRAL ABR/MAI/JUN Selvagens sim, mas precisamos de atenção e cuidados especiais DE OLHO NO AMANHÃ Muitas vezes ameaçados de extinção, os animais selvagens precisam de tratamento diferenciado e que deve ser realizado por profissionais qualificados. O diretor científico da ABRAVAS e professor João Luiz Rossi Júnior fala nesta edição sobre a atuação dos médicos veterinários no cuidado aos animais selvagens. O assunto também foi destaque no I Simpósio Abravas de Medicina e Conservação de Animais Selvagens, realizado de 22 a 24 de julho, em Vila Velha. Confira nas páginas 5, 6 e 7. Veterinário empreendedor: invenção capixaba é premiada na Suíça Colhendo os frutos de seu trabalho em prol da Medicina Veterinária, o Doutor Marcelo Vivacqua conquistou o primeiro lugar na categoria Medicina no Salão do Inventor de Genebra, na Suiça. Sua criação, uma técnica para castração biológica de animais ruminantes, elimina a necessidade de intervenções cirúrgicas e facilita o manejo dos animais. Veja mais na página 4. Onça anestesiada durante curso de contenção física de animais selvagens, ministrado pelos professores João Rossi e Flaviana Lima G. Leite para o Corpo de Bombeiros Militares de Minas Gerais. Vem aí mais uma edição da Semana Capixaba do Médico Veterinário Neste ano serão 26 palestras e quatro mini cursos. Serão realizados também o IV Encontro Regional de Saúde Pública e o II Encontro de Clínicos de Pequenos Animais. Página 3. CRMV-ES prepara Curso de Responsabilidade Técnica O curso, pré requisito para módulos específicos em várias áreas de atuação do Responsável Técnico, será realizado no dia 18 de setembro na sede do Conselho. Veja detalhes na página 3.

2 2 JORNAL DE OLHO NO AMANHÃ - CRMV-ES EDITORIAL Aposentadoria? Estado de espírito PALAVRA DO PRESIDENTE Perguntaram-me qual a sensação de ser um aposentado. Para muitos, é uma resposta fácil. Não precisa mais trabalhar porque associa-se aposentadoria a descanso. Quando entrei com meu pedido de aposentadoria na Secretaria de Estado da Saúde, após mais de 36 anos de lutas e serviços prestados na Vigilância Sanitária e Ambiental, fiquei preocupado e ansioso. Ao mesmo tempo, pude olhar para trás e ver com muito orgulho que em cada pedaço da Vigilância Sanitária Estadual existe a minha marca, assim como de muitos outros colegas. Em 22 de setembro de 1972, recém formado, eu era o único Médico Veterinário efetivo na Secretaria de Estado da Saúde. O outro Médico Veterinário no Estado era o Dr. Elvécio, lotado no Ministério da Agricultura e que ficava à disposição da Saúde. Na época, deparei-me com uma estrutura deficiente. A própria secretaria era carente, com poucos profissionais. Na Grande Vitória, à epoca, viviam em torno de 600 a 800 mil habitantes, nada comparado aos aproximadamente 4 milhões de habitantes de hoje. É muito bom crescer junto com a população de um estado. É certo que o estado não memoriza aqueles que passaram e deixaram suas marcas. Isso já ocorreu com médicos, engenheiros, enfermeiros, odontólogos e outros profissionais. Talvez o leitor deste Editorial queira uma explicação sobre o que é ser um aposentado. Praticamente não tenho uma resposta conclusiva, uma vez que nunca fiquei totalmente parado. Antes de me afastar da Secretaria da Saúde, em 1988, escolhi o CRMV-ES para dar minha colaboração para a classe, tendo assumido a presidência desta casa em Aposentar-se, na força da expressão, é não trabalhar. Acredito assim que só com a morte estarei aposentado e terei muito tempo para descansar. Enquanto puder estarei trabalhando, e não só pela classe da Medicina Veterinária, da qual muito me orgulho, mas também para presenciar o sucesso do meu filho na mesma profissão, escolhida há 12 anos, assim como minha filha, que está finalizando a faculdade. Tenho a absoluta certeza que plantei e que continuarei a plantar meus ideais, em meu filhos e netos, pois desejo ver Silvio Queiroz de Oliveira, presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo novas gerações de profissionais médicos veterinários. Aposentadoria, a meu ver, é um estado de espírito. Aproveito este espaço para convidar a todos os profissionais para a XXXVII Semana Capixaba do Médico Veterinário, de 22 a 24 de setembro. O evento será realizado novamente no Sesc de Guarapari. Com a Semana serão realizados ainda dois eventos paralelos: o IV Encontro Regional de Saúde Pública e o II Encontro de Clínicos de Pequenos Animais, organizado pela Anclivepa. Participe e ajude a fortalecer nossa categoria. Este jornal é editado trimestralmente pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo (CRMV-ES) e destina-se a divulgação de matérias e notícias de interesse da Medicina Veterinária e Zootecnia. A distribuição do jornal é gratuita aos inscritos no CRMV-ES e à órgãos públicos. Para solicitar números avulsos entre em contato com o CRMV-ES no seguinte endereço: Rua Cyro Lima, 125, Enseada do Suá - Vitória/ES - CEP Tel/fax: (27) Comissão responsável pela elaboração do boletim informativo do CRMV-ES Fausto Moreira da Silva Carmo - Conselheiro Suplente Gilberto Marcos Júnior - Conselheiro Efetivo José Carlos Landeiro Fraga - Vice Presidente Luiz Carlos Barboza Tavares - Secretário Geral Jornalista Responsável: Stephenson Grobério (ES1084-JP) - groberio@gmail.com Fotos: Stephenson Grobério, e arquivo CRMV-ES O CRMV-ES não se responsabiliza pela qualidade dos produtos e/ou serviços oferecidos neste boletim. Colegas médicos veterinários e zootecnistas: atualizem seus cadastros pelo crmves@terra.com.br. DIRETORIA EXECUTIVA Sílvio Queiroz de Oliveira - Presidente José Carlos Landeiro Fraga - Vice Presidente Luiz Carlos Barboza Tavares - Secretário Geral Alexandre Câmara dos Santos - Tesoureiro CONSELHEIROS EFETIVOS Daniele da Costa Rodrigo Ribeiro de Assis Nildo Marcelo Milanezi Osvaldo Góis de Oliveira Filho Isabella Vilhena Freire Martins Gilberto Marcos Júnior CONSELHEIROS SUPLENTES Wberley Rangel Martins Fausto Moreira da Silva Carmo Ted Renan Sanxo Nézio Faber da Silva Giuliano Moraes Figueiró Hans Friedrich Bérgamo de Lourenço Procurando emprego? Procurando um profissional qualificado? Consulte o site Profissionais da Medicina Veterinária associados ao CRMV-ES podem adquirir plano de saúde da Unimed. Obtenha maiores informações pelo telefone (27) CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO CRMV-ES

3 EVENTOS O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo (CRMV-ES) realiza no dia 18 de setembro, na sede do Conselho, em Vitória, o Curso Básico de Responsabilidade Técnica (RT). O treinamento possui carga horária de oito horas e é prérequisito para módulos específicos JORNAL DE OLHO NO AMANHÃ - CRMV-ES 3 CRMV-ES promoverá Curso Básico de Responsabilidade Técnica em várias áreas de atuação do Responsável Técnico na Medicina Veterinária. O curso será ministrado pelos Médicos Veterinários José Carlos Landeiro Fraga, Nézio Faber da Silva e Osvaldo Góis de Oliveira Filho. Dentre os temas a serem discutidos estão O que é ser RT, Responsabilidade Civil e Criminal do RT, Código de Ética, Fiscalização do RT, Livro de Registro do RT, Anotação da RT, Relatório de Visitas ao Estabelecimento e Procedimentos Administrativos para ser um RT. As inscrições para o curso podem ser feitas pelos telefones (27) e (27) , com Marcelo ou Maria Luiza. XXXVII Semana Capixaba do Médico Veterinário acontece de 22 a 24 de setembro O Sesc de Guarapari será novamente palco do maior encontro de Médicos Veterinários e Zootecnistas do Espírito Santo. A XXXVII Semana Capixaba do Médico Veterinário será realizada na cidade saúde de 22 a 24 de setembro. Junto com a Semana Capixaba do Médico Veterinário serão realizados dois eventos paralelos: o IV Encontro Regional de Saúde Pública e o II Encontro de Clínicos de Pequenos Animais, organizado pela Anclivepa. Na programação do encontro estão previstas 26 palestras, quatro mini cursos em auditórios simultâneos e apresentação de trabalhos. Os mini cursos programados para a Semana são os seguintes: Ortopedia em Pequenos Animais, com o Dr. André Luis Selmi; Plano de Ação para a Febre Aftosa, com a Dra. Márcia Letícia Mourão; Doenças do Aparelho Respiratório dos Equinos, com o Dr. Daniel Lessa e Aplicação dos Métodos BPF e ARCPC na Indústria de Alimentos e Frigoríficos, com o Dr. Vaner Nunes. A programação completa do evento e a ficha de inscrição podem ser acessadas no site Decreto institui passaporte de cães e gatos Foi publicado no dia 30 de março, o Decreto no , de 29 de março de 2010, que institui a utilização do passaporte para trânsito de cães e gatos, como certificação sanitária de origem para o trânsito internacional, e dá outras providências. Confira o Decreto na íntegra. DECRETO No , DE 29 DE MARÇO DE 2010 Institui a utilização do passaporte para trânsito de cães e gatos, como certificação sanitária de origem para o trânsito internacional, e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, alínea a, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 27, inciso I, alínea e, da Lei nº , de 28 de maio de 2003, D E C R E T A : Art. 1º Fica instituído o documento denominado Passaporte para Trânsito de Cães e Gatos, que poderá ser utilizado em substituição ao certificado sanitário internacional e ao atestado de saúde para trânsito de cães e gatos. 1º O passaporte previsto no caput será expedido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que reconhecerá também como certificado sanitário de origem os passaportes expedidos por países que o aceitem como documento equivalente para fins de reciprocidade. 2º Para países que não emitam o passaporte como certificação sanitária, será aceito o certificado sanitário de origem, desde que atendidos os requisitos sanitários do Brasil e fornecidas as informações obrigatórias estabelecidas neste Decreto. Art. 2º O Passaporte para Trânsito de Cães e Gatos será utilizado também para o trânsito nacional dos animais e será individual, intransferível e válido por toda a vida do animal. Art. 3º O Passaporte para Trânsito de Cães e Gatos expedido pela República Federativa do Brasil na forma deste Decreto e os passaportes expedidos pelos países terceiros, que desejem sua aceitação para o envio de cães e gatos para o Brasil, deverão conter, obrigatoriamente, as seguintes informações: I - nome completo e endereço do proprietário do animal; II - dados do animal: a) nome, espécie, raça, sexo, data estimada de nascimento e pelagem; e b) identificação do animal: 1. número do elemento de identificação eletrônica do animal em microchip; e 2. data de aplicação e localização do microchip; III - dados da vacinação antirrábica: a) data de aplicação e validade de vacinação; b) nome comercial da vacina, fabricante e número do lote ou partida; e c) nome, número do registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária - CRMV e assinatura do médico veterinário responsável pela vacinação; IV - dados de outras vacinações, tratamentos, exames laboratoriais e análises exigidas pelo país de destino dos animais; V - dados do exame clínico realizado por médico veterinário responsável; e VI - legalização pela autoridade veterinária do país exportador. Art. 4º O Passaporte para Trânsito de Cães e Gatos será confeccionado em modelo oficial estabelecido em ato próprio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que fixará as regras para cumprimento do disposto neste Decreto. Art. 5o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 29 de março de 2010; 189º da Independência e 122º da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA - Reinhold Stephanes

4 4 JORNAL DE OLHO NO AMANHÃ - CRMV-ES VETERINÁRIO EMPREENDEDOR Técnica para castração rende prêmio para veterinário capixaba na Suíça O médico veterinário, professor e pesquisador capixaba Marcelo Vivacqua, de Castelo, conseguiu um feito histórico para o Brasil: conquistou o ouro inédito na categoria medicina do 38º Salão de Inventores de Genebra, na Suiça, pela criação de uma nova técnica para castração. Marcelo foi premiado pela criação do Stop Sex-100 (SS100), um medicamento para castração biológica de animais ruminantes (bovinos, ovinos e caprinos) que elimina a necessidade de cirurgias. Depois de pesquisar por dez anos, ele patenteou a invenção em julho de O produto tem bases naturais como a papaína extraída do látex do mamão e o ácido lático, presente em alimentos como o requeijão e o iogurte. O SS100, em contato com o tecido testicular do animal, induz a substituição desse tecido pelo tecido fibroso, além de conter uma enzima biológica que promove a digestão do tecido testicular, o que torna o animal estéril. Dentre as vantagens, em relação à castração cirúrgica, estão a ausência dos riscos de hemorragias, infecções, tétano, problemas que resultam em gastos com mão de obra, medicamentos, perda de peso e em muitos casos a morte do animal. Manejo A castração tem como principal objetivo facilitar o manejo dos animais, já que o animal se torna mais dócil; elimina distúrbios da conduta sexual e reduz a incidência de cortes escuros, visto que o animal castrado produz mais gorduras e isso evita o escurecimento da carne durante o resfriamento, agregando mais valor comercial ao produto. Pesquisas comprovam que animais castrados são de melhor qualidade e de maior aceitação no mercado. Muitas pessoas já demonstraram interesse em comercializar o SS100 na Europa, mas gostaria de concentrar esforços para que essa invenção ficasse no Brasil, especificamente no Espírito Santo, consolidando-o como um exportador de tecnologia, afirmou Marcelo Vivacqua. Testes O pecuarista Emerson Faccin testou a o procedimento em 40 animais de sua propriedade e aprova o resultado. A diferença é que nessa aplicação o animal não precisa voltar para o curral para fazer o processo de cura. Já fizemos abate e os animais stopsexados apresentaram um ganho de peso superior em mais de 15 kg quando comparado aos castrados cirurgicamente e com a mesma qualidade de carcaça, inclusive na cobertura de gordura, diz. Mais de três mil animais já foram esterilizados em vários estados, mas o produto ainda não pode ser vendido. Ele aguarda a liberação do registro junto ao Ministério da Agricultura. Acreditamos que em meados do ano que vem ele já poderá ser vendido. Ele já tem eficácia totalmente comprovada, explica Marcelo, que lembra ainda que todos os procedimentos experimentais foram realizados de acordo com as normas de bem estar animal e autorizados por comitês de ética. Membros da equipe técnico-científica: Dr. Felipe Berbari Neto, à esquerda; Dr. Marcelo Vivacqua, ao centro, e Dr. Fausto Moreira da Silva Carmo, à direita. Empreendedorismo As pesquisas não param. Um novo produto antineoplásico biológico já está em fase final de testes e, assim como o StopSex100, promete ser um novo marco na história da Medicina Veterinária mundial, existindo perspectivas de seu uso em seres humanos. O pesquisador destaca a importância do trabalho dos membros de sua equipe: os Médicos Veterinários e Professores Fausto Moreira, Diogo Vivacqua, Felipe Berbari e os acadêmicos Paulo Cezar Passamani e Diego Volpini, além da Médica Veterinária Ana Paula Moreira. Cita também o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do ES (FAPES), o Instituto Brasileiro de Inovação (IBI), CRMV-ES e CFMV. Não pode deixar de ser citado o publicitário Frederic Decatoire, fundamental como intérprete e estrategista de marketing. Marcelo Vivacqua diz que além do orgulho em elevar o nome e a autoestima do profissional Médico Veterinário brasileiro, essa conquista inédita serve como estímulo aos pesquisadores que dedicam suas vidas ao estudo e desenvolvimento de novas tecnologias e que na maioria das vezes não se beneficiam dos resultados econômicos gerados pelas mesmas, lembra. Vivacqua deixa ainda um questionamento para reflexão: Porque transferir os lucros gerados pelo seu árduo trabalho para empresas que muitas vezes só se pronunciam quando tudo já está pronto e adquirem essas tecnologias a preços irrisórios?, finaliza. Em Genebra, Marcelo Vivacqua recebe sua condecoração das mãos de Manuel Londreira, presidente da Associação de Inventores Portugueses.

5 ENTREVISTA JORNAL DE OLHO NO AMANHÃ - CRMV-ES 5 Diretor da ABRAVAS fala ao CRMV sobre Medicina Veterinária de Animais Selvagens O Dr. João Luiz Rossi Júnior, professor de Anatomia Animal e Zoologia e Diretor Científico da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Silvestres (ABRAVAS), fala ao CRMV-ES sobre a atuação dos profissionais que se dedicam a esta especialidade. Rossi lembra durante a conversa que o Estado recebeu pela primeira vez, de 22 a 24 de julho, o Simpósio de Medicina e Conservação de Animais Selvagens, realizado pela Abravas e pelo Instituto Marcos Daniel, com apoio do CRMV-ES e da UVV. Confira. CRMV - Qual é o maior desafio para os médicos veterinários que se especializam em animais sel- vagens? Dr. João Luiz: O maior desafio é se dizer especialista em animais selvagens! Na verdade este profissional não existe e acho que nunca existirá. Como pode um profissional se dizer "especialista" em qualquer grupo de animais selvagens? Por exemplo, temos aproximadamente 10 mil espécies de aves. Com este número, alguém pode se julgar especialista? Impossível! Na verdade o que os profissionais precisam é ter formação para atender algumas espécies de animais selvagens, saber que existem diferenças notórias de anatomia, fisiologia e maneiras de abordagem a uma espécie selvagem. Outro desafio é conhecer as leis que regulamentam a posse (pessoa física e jurídica) e até onde o Médico Veterinário pode atender um paciente que não doméstico (vamos chamá-lo de "silvestre") sem encobrir crimes ambientais ou ser omisso no exercício da nossa profissão. CRMV - Onde no país o médico veterinário pode se especializar? Dr. João Luiz: O conhecimento sobre animais selvagens iniciou com eméritos colegas de profissão que há mais de 30 anos começaram a trabalhar com espécies não domésticas no Brasil, ajudando a organizar as coleções de grandes zoológicos e criadouros brasileiros. Estes Médicos Veterinários pioneiros tiveram que aprender na prática ou buscar conhecimento fora do Brasil, principalmente na Europa e Estados Unidos. Uma vez que o conhecimento foi adquirido, tivemos então a formação de núcleos de saber em várias regiões brasileiras, principalmente Macaco prego anestesiado durante curso de Contenção Físico-Química realizado pelo Instituto Marcos Daniel no criadouro 2C, em Cachoeiro de Itapemirim. Várias instituições de ensino da Medicina Veterinária criaram os Grupos de Estudo de Animais Selvagens no Sudeste e Sul. Aí tem início da formação de entidades de classe que agregam profissionais que militam na área de animais selvagens. Surge a 19 anos a ABRAVAS- Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens, uma entidade sem fins lucrativos, de caráter cientifico e cultural e âmbito nacional. Sua missão é congregar médicos veterinários e estudantes de Medicina Veterinária interessados na clínica, manejo e conservação de animais selvagens, promovendo o conhecimento e a integração dos associados. Após 19 anos de existência, a ABRAVAS goza de posição de destaque no cenário nacional e internacional. Congrega clínicos e pesquisadores de várias instituições do país, como centros de pesquisa e órgãos governamentais e nãogovernamentais. Todos os anos a entidade organiza congresso e encontro nacional e este ano, graças a parceria feita com o Centro Universitário Vila Velha (UVV) e o Instituto Marcos Daniel (OSCIP capixaba que atua em Medicina da Conservação), com apoio do CRMV-ES, tivemos pela primeira vez um Um dos erros mais comuns neste tipo de atendimento é a prescrição incorreta de medicamentos evento fora do congresso da ABRAVAS, mas com a mesma qualidade científica e missão: divulgar a medicina veterinária de animais selvagens e ajudar na formação de profissionais e alunos. Devemos mencionar ainda o trabalho de outras entidades como as ANCLIVEPAS regionais e a nacional e o próprio CRMV-ES que há alguns anos inclui na grade de palestras da Semana Capixaba do Médico Veterinário temas relacionados com manejo e conservação de animais selvagens. Para aqueles que já têm formação na área e querem se aperfeiçoar como pesquisadores e docentes, temos na UVV uma linha de pesquisa em Manejo e Conservação de Animais Selvagens no curso de Mestrado em Ciência Animal, destacando o Estado do Espírito

6 6 JORNAL DE OLHO NO AMANHÃ - CRMV-ES ENTREVISTA Santo no cenário acadêmico brasileiro, pois são raros os programas de mestrado que desenvolvem pesquisas específicas com animais selvagens. CRMV - O desconhecimento da área atrapalha de alguma forma o cuidado com algumas espécies em extinção? Dr. João Luiz: Muitas vezes sim, principalmente quando alguns colegas praticam "achismos" em uma consulta ou quando se envolvem no atendimento de animais selvagens sem ter conhecimentos básicos sobre a biologia da espécie que estão atendendo. Como foi dito, para profissionais que têm alguns anos de experiência existem algumas dificuldades no atendimento de animais selvagens, agora imagine para um profissional que nunca teve contato com estes animais. Um dos erros mais comuns que vejo neste tipo de atendimento é a prescrição incorreta de medicamentos. Por vários motivos não podemos simplesmente pegar a dose de determinado medicamento que é usado em um cão e aleatoriamente aumentar ou diminuir esta dose para aplicar em uma ave. Existem fatores metabólicos muito diferentes que devem ser levados em consideração e isso, infelizmente, foge do conhecimento da maioria dos colegas, não por sua culpa, mas sim por não terem tido formação básica para atuar com espécies não domésticas. CRMV - O país consegue absor- ver a mão de obra de veterinários especialistas em animais selva- gens? Dr. João Luiz: Sim, mas isso depende muito da qualificação e área que o profissional que- substituir por "deseja" atuar. Se formos considerar a área de docência, são poucos cursos de graduação em Medicina Veterinária que têm na sua grade uma disciplina relacionada com animais selvagens. Aí temos um efeito cascata: poucas escolas oferecem disciplinas para formar profissionais que tenham condições de atuar na área, consequentemente temos menos professores qualificados lecionando e menos futuros profissionais com capacidade de atuar. O que vemos hoje é que nos grandes centros urbanos cresce a demanda de profissionais qualificados para atenderem animais selvagens, isso considerando os animais legalmente comprados. Órgãos como o IBAMA, IEMA, Polícia Ambiental, ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), Polícia Federal, todos, tem necessidade de profissionais com essa formação. Alguns destes órgãos já Os profissionais precisam ter formação para atender algumas espécies de animais selvagens, saber que existem diferenças notórias de anatomia... contam com Médicos Veterinários que atuam na área de fauna, inclusive aqui no Espírito Santo, como é o caso do IBAMA, IEMA e Polícia Ambiental. Quando vemos colegas atuando nestas intuições, nota-se o quanto podemos contribuir na melhora da qualidade dos serviços prestados a sociedade e aos animais. CRMV - Os centros de tratamen- to e reabilitação de animais, como o Cereias, são a melhor opção de trabalho para o profissional? Dr. João Luiz: Estes locais são extremamente necessários para o recebimento de fauna, triagem, reabilitação e em alguns casos como última morada

7 ENTREVISTA de inúmeros animais que são mutilados nas mãos de traficantes ou de proprietários sem menor respeito a vida. Infelizmente, no Brasil, não dispomos de quantidade suficiente de CETAS (Centros de Triagem de Animais Selvagens) para atender a demanda de animais apreendidos ou de profissionais que necessitam se colocar no mercado de trabalho. CRMV - Os atuais alunos de vete- rinária se interessam pela área? Dr. João Luiz: Sim. É claro que existe uma minoria dentro de um grupo de alunos que se interessam pelo assunto e buscam conhecimento complementar à sua formação acadêmica. A maior prova disso é que em várias instituições de ensino em Medicina Veterinária foram criados os GEAS (Grupo de Estudo de Animais Selvagens). Os alunos se reúnem, selecionam temas sobre medicina de animais selvagens e discutem o assunto, sob tutela de professores responsáveis. É uma forma muito produtiva de buscar conhecimento e uma maneira encontrada por centenas de alunos de Medicina Veterinária no país de adquirirem conhecimento na área de animais selvagens, mesmo que seus cursos não ofereçam uma disciplina específica. JORNAL DE OLHO NO AMANHÃ - CRMV-ES 7 Avaliação oftalmológica em uma coruja. O procedimento foi realizado pela Doutora Séfora Vieira S. Barros, no Hospital Veterinário da UVV. CRMV - Qual é o animal mais raro que o senhor já examinou? Dr. João Luiz: Das espécies ameaçadas de extinção no Brasil, já passaram pelas minhas mãos onça-pintada, jaguatirica, lontra, ariranha, micoleão-da-cara-preta, lobo-guará, anta, arara-azu e papagaio-de-peito-roxo. Me sinto feliz por ter cuidado de todos esses animais, mas preferiria que estas espécies não fossem raras por serem todas ameaçadas de extinção.

8 EVENTOS Agenda Veterinária Julho a Setembro de 2010 Curso de Transferência de Embriões em Ovinos Data: 28 de julho a 1º de agosto de 2010 Local: Unidade de Ensino CPT - Viçosa (MG) Informações: (31) cursospresenciais@cpt.com.br II Congresso Brasileiro de Bioética e Bem Estar Animal Data: 04 a 06 de agosto de 2010 Local: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Informações: (31) II Seminário Brasileiro de Residência em Medicina Veterinária Data: 16 e 17 de agosto de 2010 Local: Quality Suites Imperial Hall - São Paulo (SP) Informações: (11) / (11) Curso de Atualização em Medicina Felina Data: 20 a 22 de agosto de 2010 Local: Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) Informações: (22) cursosmedvet@gmail.com Curso de Odontologia de Pequenos Animais Data: 02 a 04 de setembro de 2010 Local: Unidade de Ensino CPT - Viçosa (MG) Informações: (31) cursospresenciais@cpt.com.br XXVI Semana do Médico Veterinário Data: 20 a 24 de setembro de 2010 Local: Campus da UFRRJ - Seropédica (RJ) Informações: badaro@ufrrj.br JORNAL DE OLHO NO AMANHÃ - CRMV-ES 8 Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo Balanço Financeiro até Maio de 2010 Receita Receita de contribuições Receita patrimonial Receita de serviço Receita de transf. correntes Outras receitas correntes Receitas de capital TOTAL Despesa Pessoal Material de consumo Serv. de Terceiros e encargos Outros serv. de terceiros e encargos Diversas despesas de custeio Transferências correntes Despesas de capital TOTAL ,46 Comparando as Receitas Arrecadadas com as Despesas realizadas até o mês de maio de 2010, verificou-se um superávit orçamentário no valor de R$ ,43. Silvio Queiroz de Oliveira - Presidente - CRMV-ES Nº. 048 Alexandre Câmara dos Santos - Tesoureiro - CRMV-ES Nº. 87/Z Francisco Pereira Pinto- Contador - CRC-ES Nº. 3447/ , , ,70 0, ,94 0, , , , , ,89 0,00 0,00 919,00 Escola Latino Americana de Odontologia Equina Curso de Odontologia Equina para Veterinários e Estudantes Curso Teórico com Prática Individual Datas: 23 a 26 de setembro de 2010 Temas abordados: Técnica de Exame Oral do Equino, Reconhecimento de Patologias Dentais, Tratamento de Patologias mais Comuns e outros temas. Aprenda a ser eficiente no exame e tratamento oral do equino Maiores informações e contato: Telefone (21)