PROJETO LUTEARTE Oficina de luteria artesanal com reciclagem
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- Edson Paixão Brandt
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1 PROJETO LUTEARTE Oficina de luteria artesanal com reciclagem Conceição Rocha Marta Gondim Conservatório Pernambucano de Música, Pernambuco Resumo: Esta comunicação apresenta um projeto educacional realizado no Conservatório Pernambucano de Música, a LUTEARTE oficina de luteria artesanal com reciclagem sob a orientação da professora Conceição Rocha e a colaboração da professora Marta Gondim. A criação da oficina de luteria partiu da necessidade de estimular o educando para o fazer musical, despertando-o e motivando-o para as diversas formas de desenvolvimento de suas potencialidades e do interesse pelo estudo da música, seus conceitos e suas práticas. Enfocamos as etapas da oficina desde a sua estruturação aos resultados, com os fundamentos teóricos básicos que justificam e fortalecem a iniciativa deste projeto. Seus objetivos estão voltados à facilitação da linguagem musical, atendendo às diversas necessidades e ao desejo de criar, de socializar, de aprender, de sentir, de fazer, de atingir a consciência e autonomia, e de exercer a cidadania. Apresentação A oficina de luteria é uma das propostas pedagógicas da equipe de professores de iniciação musical do Conservatório Pernambucano de Música (CPM) por entender-se que a atividade artístico-pedagógica na educação musical constitui-se de uma valiosa ferramenta na aquisição e apropriação de conceitos e práticas musicais, constatando-se o benéfico resultado de seus efeitos no desenvolvimento do educando. Desde a origem do mundo a espécie humana imita os sons da natureza e do seu próprio corpo, sonorizandoo ou criando objetos que imitassem esses sons. Segundo a capacidade de perceber, de sentir e de pensar, cada indivíduo ou grupo inventa seus instrumentos de acordo com suas vivências culturais e com os recursos naturais de seu meio. Ainda hoje esta realidade se repete. O sujeito, como ser aprendente, é ávido na sua necessidade e desejo de saber, de fazer, de inventar sem o julgamento certo/errado; belo/feio; de recriar a partir do que já existe; de transformar o mundo subjetivo mediado
2 pelo mundo concreto; de construir a auto-estima, o raciocínio, a imaginação, a percepção, o sentimento; de realizar-se como pessoa, como cidadão e como ser coletivo. Histórico O trabalho com a oficina de luteria teve seu início no Conservatório Pernambucano de Música em Foi de certa maneira uma continuidade ao trabalho iniciado pela professora Eulenice Andrade, que desde 1985 desenvolvia um projeto de Musicoterapia. Tratava-se na época de um serviço aberto à sociedade, desenvolvido inicialmente por uma equipe interdisciplinar (neuropediatra, psicóloga, pedagoga e educadora musical), destinado às crianças com necessidades especiais. Em 1994, com a aposentadoria da referida professora, a atividade passou à responsabilidade da educadora musical e psicóloga Conceição Rocha, que exercia a pré-escola da Secretaria de Educação de Pernambuco, ficando à disposição do CPM desde O novo plano de trabalho deu início a uma nova proposta denominada Atividades Musicoterápicas para alunos das iniciações musicais que apresentassem dificuldades de aprendizado, recebendo supervisão do professor e musicoterapeuta Marco Antônio Caneca, durante seis meses. A partir de 1998 o serviço passa a ter uma nova concepção direcionada à compreensão dos transtornos da aprendizagem, não mais ligada apenas ao papel diagnóstico, e sim, mais comprometida com as condições do desenvolvimento sócio-afetivo-cognitivo. Este novo direcionamento passou a vigorar a partir de 2000, como uma alternativa de intervenção pedagógica através do Apoio Psicopedagógico Musical (APPM), na tentativa de minimizar as dificuldades desencadeadoras do insucesso escolar. No ano de 2000, foi realizada a I Oficina de Luteria Artesanal com Sucata. Com o sucesso dos resultados desta Oficina surge o projeto LUTEARTE construção de instrumentos musicais com reciclagem - em 2003, redimensionando a proposta pedagógica e agregando toda a trajetória do projeto desde o seu início. Inicialmente, a LUTEARTE foi uma atividade eletiva oferecida aos alunos das classes de iniciação musical interessados em vivenciar a construção de instrumentos musicais com materiais recicláveis. Mais recentemente, a LUTEARTE também passou a ser oferecida aos pais, professores, alunos em geral e funcionários do CPM, não
3 havendo restrições de idade ou função. O único limite observado seria o do espaço físico disponível. A LUTEARTE é a principal ferramenta para a proposta pedagógica do APPM, Apoio Psicopedagógico Musical. Este trabalho propõe-se a contribuir com o sucesso da aprendizagem, propiciando condições favoráveis ao despertar musical e ao bom desempenho da musicalidade. Além de auxiliar na compreensão do conteúdo teóricomusical; na motivação da prática de instrumento; no fortalecimento da auto-estima; no encorajamento da autoconfiança; na canalização do potencial criador; na facilitação da comunicação, da sociabilidade e da auto-expressão; e na integração ao contexto escolar. A I Oficina de Luteria Artesanal com Sucata do CPM realizou-se no segundo semestre de 2000 entre os meses de outubro a dezembro, na sala 06 do prédio anexo ao CPM. Foram inscritos 12 alunos, cinco pela manhã e sete à tarde. O planejamento das atividades foi organizado em cinco etapas: 1. construção de instrumentos segundo o interesse e criatividade; 2. construção de instrumentos dirigidos; 3. realização de dinâmica musical com cada grupo utilizando os instrumentos construídos; 4. ensaio das expressões musicais criadas durante as dinâmicas; e 5. apresentação musical. Os resultados desta I Oficina deram origem ao projeto LUTEARTE. A mais nova experiência da LUTEARTE ocorreu em dezembro de 2006, cujo processo de experimentação dos instrumentos construídos ainda está se desenvolvendo neste ano de 2007, como preparação para o evento da semana da música, em novembro, onde faremos uma exposição e um recital com os instrumentos construídos. Fundamentação A abordagem da pedagogia musical ativa possibilita a criança traduzir sua emoção através de uma produção expressiva que permita uma integração formal mais intensa, uma apropriação mais rica e uma familiarização mais satisfatória. A educação musical, nos parâmetros da visão cultural, gestual e emocional enquadra-se numa proposta de formação global da personalidade. O fazer musical tem tanta importância quanto o tipo de relacionamento do educador lateral e não de frente (autoritário) encorajando a corrente interpessoal que se estabelece entre as crianças. Assim, enfatizamos a vivência em detrimento a uma teorização que antecede a prática. Sua
4 abordagem direciona-se à participação corporal ligada ao sentimento e traduzindo a vivência diretamente no plano sonoro, sem que passe antes pelo plano do intelecto. Sua metodologia respeita a liberdade da criança dentro de um terreno delimitado. Sua maior preocupação é proporcionar à criança o aprendizado da liberdade dentro de uma coletividade, uma oportunidade de socialização e também de desenvolvimento pessoal. Seu objetivo é encorajar a descoberta do resultado em direção a caminhos inesperados. O papel do professor neste enfoque é o de animador, facilitador. A LUTEARTE teve uma brilhante repercussão no Conservatório Pernambucano de Música justamente por se tratar de uma escola de música. O grau de familiarização que a criança instala entre si e o universo sonoro provocado pelo contato com estes elementos mediante exploração, sua escuta e percepção possibilitam a descoberta e a busca nesta relação inata da necessidade e do desejo de aprender com o que existe no ambiente, atingindo sua maturação e raciocínio, em construção fluente de seu pensamento. Enfatizamos a importância da criação de um ambiente na sala de aula que possibilite a pesquisa, a improvisação e a construção de instrumentos musicais. Um espaço onde a criança pode ouvir música, cantar, dançar, confeccionar e manipular materiais bibliográficos sobre música. Uma das alternativas à facilitação do aprendizado, a luteria tem implicações na construção da integridade humana enquanto inspiradora da criação, referendando o pensamento do psicanalista e educador Rubem Alves: Há um tipo de inteligência criadora. Ela inventa o novo e introduz no mundo algo que não existia. Quem inventa não pode ter medo de errar, pois vai se meter em terras desconhecidas ainda não mapeadas. A estimulação da oficina apóia-se na disponibilidade de horário dos alunos, e das vagas; na formação de grupos e sua interação ao final do evento. Estende-se à comunidade escolar, entre pais, professores e funcionários, e às comunidades escolares em parceria com este Conservatório. O momento mais esperado da oficina é aquele voltado às possibilidades de criação, onde os sujeitos exploram o material, selecionam e organizam os elementos sonoros encontrados na natureza (sementes, folhas secas, pedrinhas, gravetos), como também os recicláveis (latas, papelão, garrafas pet, lacres e tampas de garrafas) entre outros objetos utilizados (panela velha, coador, urupema, caixinhas de filme fotográfico). Ao inventar seus instrumentos musicais o educando nomeia-os, elege regras para o jogo musical, evoca experiências mais remotas e libera a emoção rumo à consciência.
5 Neste aspecto a abordagem ativa de Piaget esclarece que é conhecendo, estabelecendo relações, experimentando, organizando, transformando e construindo que o aprendente descobre sua forma de pensar e desenvolve sua maneira de agir. Sobre este aspecto, Gainza refere-se à música como aquilo que simboliza, representa ou evoca, além de objeto sonoro, concreto, específico e autônomo. Para ela a participação ativa do sujeito na musicalização mobiliza aspectos mentais conscientes que conduzem a uma apreciação objetiva da música, mas também uma gama ampla e difusa de sentimentos e tendências pessoais. Sekeff complementa, enfatizando a dimensão psicológica das funções educacionais da musica, estimular, satisfazer, criar necessidades, mobilizar, criar condições para o desenvolvimento do educando. A confecção dos instrumentos constitui-se do segundo momento da oficina cujo planejamento atende aos diversos aspectos do desenvolvimento humano. Promover individualização, socialização, cognição, criatividade e consciência de cidadania do educando de acordo com objetivos que atendam às diversas necessidades como autonomia, percepção, comunicação, atenção, concentração, afinação, ritmo, melodia, estrutura harmônica: o fazer musical. Nesta parte ressaltamos a importância dos resultados da LUTEARTE referentes à criação, à vivência e à informação musical, onde a realidade de cada situação se diferencia a partir dos interesses, dos desejos, das necessidades e da bagagem cultural. Mostrando-nos uma riqueza de temas que envolvem ritmos e expressões culturais através dos quais exploramos o canto, o movimento corporal, a improvisação, a execução dos instrumentos construídos e a criatividade plástica, ligando a atividade lúdica ao conhecimento teórico, de forma que, enquanto brincam, os educandos aprendem. Referências ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. São Paulo: ARS Poética,1994. COCKX, Théo. Em busca de um desenvolvimento da educação musical. In: PORCHER, Louis. Educação artística - luxo ou necessidade? Tradução de Yara Michalski. São Paulo: Summus, GAINZA, Violeta H. Estudos de psicopedagogia musical. Buenos Aires: Paidos, JEANDOT, Nicole. Explorando o universo da música. São Paulo: Scipione, 1990.
6 SEKEFF, Maria de Lourdes. Da música: seus usos e recursos. São Paulo: Unesp, WADSWORTH, Barry J. Piaget para o professor da pré-escola e 1º grau. Tradução de Marília Zanella Sanvicente. 2ª edição. São Paulo: Pioneira, 1987.
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