A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE URBANA
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- Pietra Figueiroa Galindo
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1 A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE URBANA Carolina Tavares Assis 1 Emerson de Morais Granado 2 SUMÁRIO Introdução; 1 O direito de propriedade; 2 A função social da propriedade; 3 A supremacia do interesse público sobre o privado; 4 A política urbana e o Estatuto da Cidade; 4.1 Parcelamento ou Edificação Compulsória; 4.2 Imposto sobre a propriedade e território urbano progressivo no tempo; 4.3 Desapropriação por interesse social urbano; Considerações finais; Referência das fontes citadas. RESUMO O presente artigo científico tem como objetivo analisar a aplicabilidade do princípio da função social da propriedade urbana e os meios que o Estado utiliza para que determinada função se cumpra. Com isso, objetiva-se demonstrar a evolução do direito à propriedade e a observação constitucional quanto à sua utilização em prol do bem-estar coletivo. A averiguação será realizada com a utilização do método indutivo e o procedimento será baseado na doutrina, legislação e jurisprudência nacional. Observou-se, como resultado desta pesquisa, que o Estado detém o dever de cumprir com a função social da propriedade urbana, impondo condições e penalidades permitidas pela legislação. Palavras-chave: Direito de propriedade. Função social da propriedade. Desapropriação. Política urbana INTRODUÇÃO O presente artigo tem como objeto de estudo a propriedade urbana, mais especificamente sua idéia de função social imposta ao proprietário para que usufrua do bem não para sua satisfação exclusiva, mas em benefício da coletividade. Buscase demonstrar como a propriedade urbana cumpre sua função social, através do uso pelo particular, e as conseqüências do seu descumprimento. Inicialmente, traz uma pequena abordagem histórica do direito de propriedade e como a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 o trouxe com nova abrangência e finalidade. 1 Acadêmica do 10º Período Noturno do Curso de Direito da UNIVALI Campus Itajaí. 2 Mestre em Ciência Jurídica pelo CPCJ/Univali. Professor da Univali. Advogado. 382
2 A função social da propriedade é analisada em seu aspecto urbano, trazendo consigo a supremacia do interesse público sobre o interesse privado ao condicionar o uso do bem pelo proprietário ao cumprimento e garantia do bem-estar coletivo. Por fim, analisa-se as diretrizes contidas no Estatuto da Cidade, através da Política Urbana, que apontam importantes condições para o uso da propriedade e suas limitações. 1 O DIREITO À PROPRIEDADE Até o século passado, a propriedade era concebida como um fundamental elemento a fim de garantir a subsistência do indivíduo mantendo-se inteiramente sujeita à vontade deste. O proprietário detinha caráter exclusivo sobre a coisa, ou seja, o jus utendi, fruendi et abutendi, quais sejam, os poderes de usar, gozar e dispor da coisa 3. Como bem observa CALIXTO SALOMÃO FILHO 4, a Constituição alemã de Weimar de 1919 foi pioneira ao trazer um elemento adicional à garantia da propriedade e ao reconhecê-la como direito fundamental, dada a sua função de proteção pessoal. A referida Constituição alemã, em seu art. 153, estabelece que a propriedade e o direito de sucessão hereditária são garantidos. A sua natureza e os seus limites são regulados por lei. A propriedade obriga. O seu uso deve ao mesmo tempo servir ao bem-estar geral. O advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 CRFB/88 trouxe aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no território nacional a garantia da inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (art. 5º, caput, CRFB/88) 5. Todos exaltados ao nível de direito fundamental, nos dizeres de MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO: 3 ARAÚJO, Edmir Netto de. Curso de direito administrativo. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p SALOMÃO FILHO, Calixto. Função social do contrato: primeiras anotações. Revista de Direito Mercantil. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 7 5 BRASIL. Constituição [1988]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. DF: Senado, 1988, artigo. 5º. 383
3 Ao assegurar a propriedade como direito fundamental, o texto de 88 estabeleceu uma garantia, entendida não como remédio ou meio de defesa dos direitos, mas como barreira à ação dos Poderes Políticos, inclusive o legislativo, a fim de manter íntegro o direito reconhecido 6. O conceito de propriedade, no tocante à abrangência, também atravessou por uma intensa mudança, abarcando não apenas os bens móveis e imóveis mas, também, determinados valores patrimoniais. Como sublinha CELSO RIBEIRO BASTOS: O conceito constitucional de propriedade é mais lato do que aquele de que se serve o direito privado. É que do ponto de vista da Lei Maior tornou-se necessário estender a mesma proteção, que, no inicio, só se conferia à relação do homem com as coisas, à titularidade de exploração de inventos e criações artísticas de obras literárias e ate mesmo a direitos em geral que hoje não o são à medida que haja uma devida indenização de sua expressão econômica 7. A CRFB/88 elevou o direito à propriedade ao status de princípio e, concomitantemente, desbotou o antigo pensamento individualista e privado que recaía sobre a propriedade. Com a supremacia do interesse público, bem como a predominância deste sobre o do particular, a propriedade passou a atender sua função social, trazendo benefícios para a coletividade e não somente para o proprietário. 2 A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE O Capítulo I da CRFB/88 que trata dos direitos e deveres individuais e coletivos, em seu art. 5º, incisos XXII e XXIII, condiciona o direito de propriedade a uma função social. Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; (...) 6 FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Comentário à constituição brasileira. São Paulo: Saraiva, 1975, p BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1989, v. 2, p
4 Apesar de não esclarecer o que vem a ser a função social da propriedade, o Capítulo II da CRFB/88, que trata da Política Urbana, estabelece fundamentais diretrizes para que seja cumprida determinada função social. A função social da propriedade atingiu, também, o status de princípio para auxiliar a ordem econômica determinada no Título VII, art. 170, da CRFB/88. Entende-se que, ao tempo que a Constituição concede ao proprietário o direito de manter-se na propriedade, também diz que esta deverá cumprir sua função social. JOSÉ AFONSO DA SILVA discorre a respeito: (...) o princípio da função social não autoriza a suprimir, por via legislativa, a instituição da propriedade privada. Contudo, parece-nos que pode fundamentar até mesmo a socialização de algum tipo de propriedade, onde precisamente isso se torne necessário à realização do princípio, que se põe acima do interesse individual. Por isso é que se conclui que o direito de propriedade não pode mais ser tido como um direito individual 8. CELSO RIBEIRO BASTOS registra: (...) o direito de propriedade está, assim, condicionado a dois fatores independentes; o fator aquisitivo da propriedade, segundo o qual será proprietário aquele que a adquirir de forma legítima, conforme a lei, e um fator de caráter contínuo, segundo o qual é preciso que o proprietário use esta propriedade de forma condizente com os fins sociais a que ela se preordena 9. O diploma constitucional dá garantia e seguridade ao direito subjetivo da propriedade, contudo, regula que a mesma deverá atender a sua função social. Desta sorte, impõe-se deveres para dirimir as situações que possam surgir com o uso individualista que o proprietário venha dar à sua propriedade. Com isso, a sansão do Estado recai ao proprietário quando este não concede à propriedade a referida função social e, assim, perdera a proteção jurídica do bem, sendo punido com as sansões impostas pelo Estado. A CRFB/88, em seu art. 182, 4ª, faculta ao Poder Público municipal exigir do proprietário do solo urbano a promoção de seu adequado aproveitamento, 8 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 13. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1997, p BASTOS, Celso Ribeiro. A função social da propriedade. Revista da procuradoria geral do Estado de São Paulo. p
5 sob pena de sofrer limitações na propriedade, como o parcelamento ou edificação compulsória, o IPTU progressivo no tempo e a desapropriação mediante pagamento em títulos da dívida com prazo de resgate de até dez anos. Para que a propriedade cumpra a sua função social, segundo o Diploma Constitucional, deve seguir ao determinado no plano diretor da cidade, que aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. 10 Gize-se, ademais, que a função social não recai apenas sobre a propriedade urbana. O constituinte cuidou de, no Capítulo III do diploma constitucional, discorrer sobre a política agrícola e fundiária e da reforma agrária, determinando o cumprimento da função social da propriedade rural no art. 186 e seus incisos, da CRFB/88, como salienta MÁRCIO PESTANA: Quando se dirigiu ao direito de propriedade envolvendo imóveis rurais, por sua vez, encareceu que essa espécie de bem cumpre a função social nas situações em que a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios de graus de exigência estabelecidos em lei, aos requisitos de: (i) aproveitamento racional e adequado; (ii) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; (iii) observância das disposições que regulam as relações de trabalho; (iv) exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores (art. 186 da Constituição Federal) 11. É sábio lembrar que a função social da propriedade não se confunde com suas limitações. As limitações administrativas são determinações que regulamentam o uso da propriedade e estão condicionadas ao cumprimento da função social. JOSÉ AFONSO SILVA explica que a função social da propriedade não se confunde com os sistemas de limitação da propriedade. Estes dizem respeito ao exercício do direito, ao proprietário; aquela, à estrutura do direito mesmo, à propriedade A SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO 10 BRASIL. Constituição [1988]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. DF: Senado, 1988, artigo PESTANA, Marcio. Direito Administrativo Brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, 22. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p
6 Ao tratar de função social, é inverossímil não se deparar com a predominância do interesse público sobre o interesse do particular, uma vez que a propriedade não deve atender, apenas, aos anseios do proprietário. Primeiramente, destaca-se que todos os atos da Administração Pública, para serem válidos, devem atender ao interesse público. CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO esclarece que o interesse público é resultante do conjunto dos interesses que os indivíduos pessoalmente têm quando considerados em sua qualidade de membros da Sociedade e pelo simples fato de o serem 13. Em suma, não configura o conjunto de interesses peculiares a cada indivíduo, mas sim, o interesse de todo o conjunto social. Destarte, o interesse público é aquele que satisfaz a defesa da coletividade, onde o destinatário dos atos da Administração Pública é o grupo social em um todo, e não apenas o indivíduo, como bem trata o aclamado professor: Trata-se de um verdadeiro axioma reconhecível no moderno Direito Publico. Proclama a superioridade do interesse da coletividade, firmando a prevalência dele sobre o do particular, como condição, até mesmo, da sobrevivência e asseguramento deste ultimo. 14 Deveras, a supremacia do interesse público não anula a existência do direito privado, não tem caráter absoluto. O que se tem é uma predominância do primeiro sobre o segundo. O princípio da supremacia do interesse público sobre o privado, no tocante à função social da propriedade urbana, busca o bem estar coletivo, onde o ambiente urbano em que se vive é capaz de assegurar a dignidade a todos. 4 A POLÍTICA URBANA E O ESTATUTO DA CIDADE Por volta de 1930 o Brasil sofreu grande processo de urbanização dado o desequilíbrio entre o meio rural e o urbano, acarretando nas migrações do campo para a cidade e gerando futuras conseqüências. Apos a 2ª Guerra Mundial, o 13 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2010, p MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 14. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2010, p
7 processo de expansão das cidades acelerou e foi necessário executar um planejamento para controlar e ordenar tamanho crescimento. 15 Dessa forma, surgiu o urbanismo que, nas palavras de HELY LOPES MEIRELLES, é o conjunto de medidas estatais destinadas a organizar os espaços habitáveis, de modo a propiciar melhores condições de vida ao homem na comunidade 16. As cidades continuaram a evoluir, e referidas medidas evoluíram em conjunto, dando origem ao direito urbanístico que consiste no conjunto de normas jurídicas reguladoras da atividade do Poder Publico destinada a ordenar os espaços habitáveis. 17 Foi então que o constituinte dedicou um capítulo da CRFB/88 à Política Urbana, que detém a finalidade de ordenar o amplo desenvolvimento das cidades garantindo a satisfação dos habitantes. A política urbana será desempenhada através de lei federal de competência da União, art. 21, XX da CFRB/88, e executada pelo município, obedecendo as condições estabelecidas pelo plano diretor, como estabelece o texto constitucional: Art A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. (...) 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social, quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade, expressas no plano diretor. CELSO RIBEIRO BASTOS destaca: No que diz respeito à propriedade urbana a Lei maior não é tão rica. Diz tão-somente que ela há de atender às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressa no plano diretor. A primeira conseqüência que se extrai é que a propriedade urbana não está sujeita a uma modalidade qualquer de exigência feita em nome de uma teórica concepção de que seja função social do imóvel. Só são admitidas exigências que digam respeito à ordenação da cidade, e mais, é necessário ainda que se trate de exigência inserida no plano 15 MUKAI,Toshio apud BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à constituição do Brasil, vol. VII. São Paulo: Saraiva, 1990, p MEIRELLES, Hely Lopes. Direito municipal brasileiro. São Paulo: Malheiros, 13. ed p SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico brasileiro. São Paulo: Malheiros. 3 ed. 2000, p
8 diretor. Conseqüentemente, há de se manter estreita consonância com a natureza deste, que, como o próprio 1º explicita, é um instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana 18. Nesse sentido, o plano diretor surge no papel de intermediário da política urbana que, para estipular a função social da propriedade, tem como objetivo atender às determinações da política local de cada município. O Estatuto da Cidade, Lei /2001, regulamenta a política urbana tratada no Capítulo II da CRFB/88 e estabelece normas de ordem pública e interesse social a fim de regular o uso da propriedade urbana em benefício do bem coletivo, da segurança e do bem estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. Infere-se, diante desse contexto constitucional que traz o Estatuto da Cidade, que a propriedade não é considerada apenas um imóvel para a incidência de impostos, mas determinada a atender o direito de moradia assegurado na CRFB/88, bem como a dignidade da pessoa humana Denota-se que o Estatuto da Cidade possibilita o aperfeiçoamento das cidades, com melhores condições de moradia, ordenamento e planejamento urbano e saneamento básico, para que as futuras gerações possam usufruir de um ambiente viável e sustentável pela coletividade. O Plano Diretor, previsto no Estatuto da Cidade, determina como os imóveis urbanos cumprirão sua função social e, de acordo com cada gestão pública, prevê as limitações, em forma de penalidade, para o imóvel que a descumprir. Referidas limitações foram regulamentadas pelo Estatuto da Cidade mas para terem validade, devem estar previstas no Plano Diretor do Município. Desta forma, a propriedade que não cumprir sua função social pode sofrer limitações na forma de parcelamento ou edificações compulsórios, imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo e a desapropriação com pagamento mediante títulos de divida publica. 4.1 Parcelamento ou edificação compulsória 18 BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à constituição do Brasil. p
9 O parcelamento ou edificação compulsória seguirão os critérios estabelecidos pelo Plano Diretor ou lei complementar do Município, onde este pode notificar o proprietário de determinado imóvel não edificado, subutilizado ou não utilizado, para que apresente proposta de correta utilização, conforme determinado no art. 5º do Estatuto da Cidade: Art. 5 o Lei municipal específica para área incluída no plano diretor poderá determinar o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, devendo fixar as condições e os prazos para implementação da referida obrigação. Ao ser notificado, nas formas do art. 5º, 3º do citado Estatuto, o proprietário dispõe de um ano para protocolar um projeto de edificação da propriedade no órgão municipal competente. Sendo o projeto aprovado, deverá iniciar as obras do empreendimento em dois anos. É sábio lembrar que caso ocorra a transmissão do imóvel após a data da notificação, seja por ato inter vivos ou causa mortis, as obrigações previstas no citado art. 5º, são transferidas sem qualquer interrupção nos prazos estipulados pelo Poder Executivo municipal. 4.2 Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana Progressivo no Tempo Do descumprimento das condições ou prazos estabelecidos para o parcelamento ou edificação do imóvel citadas, segundo o art. 7º do Estatuto da cidade, aplica-se o imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana IPTU, progressivo no tempo. Incide sobre o imóvel urbano objeto da penalidade, pelo prazo de cinco anos consecutivos mediante majoração da alíquota. CELSO ANTÔNIO PACHECO FIORILLO, ressalta: Como ensina de forma clara e precisa Elizabeth Nazar Carrazza, a progressividade no tempo do IPTU é um mecanismo que a Constituição colocou à disposição dos Municípios, para que imponham aos munícipes a observância de regras urbanísticas, contidas nas leis locais. Tem caráter nitidamente sancionatório FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Estatuto da cidade comentado. Lei /2001: Lei do meio ambiente artificial. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p
10 Ao decorrer cinco anos da aplicação do imposto progressivo, e ainda assim o proprietário tenha se negado a cumprir as determinações do art. 5º do Estatuto da Cidade supracitado, o Poder Público poderá aplicar um dos instrumentos mais utilizados para que a função social da propriedade urbana se cumpra: a desapropriação. Desta forma, referido tributo acarreta uma função extrafiscal, dada sua progressividade, haja vista que é um instrumento usado pelo Estado para intervir no domínio social, não se limitando somente à formação do erário municipal. 4.3 Desapropriação por interesse social urbano A desapropriação por interesse social urbano está prevista no art. 8º do Estatuto da Cidade e é considerado um principal instrumento para que a função social da propriedade urbana seja alcançada. HELY LOPES MEIRELLES elucida com propriedade a respeito: Desapropriação ou expropriação é a transferência compulsória da propriedade particular (ou pública, de entidade de grau inferior para superior) para o Poder Publico ou seus delegados, por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante previa e justa indenização em dinheiro, e, ainda, por desatendimento a normas do Plano Diretor (desapropriação-sanção art. 182, 4º, III da CF), este caso com pagamento em títulos da divida pública municipal. 20 O Poder Público está autorizado a desapropriar o imóvel quando o proprietário se nega a cumprir com a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização do imóvel, decorridos os cinco anos da cobrança do IPTU progressivo no tempo. Deverá, contudo, ressarcir o proprietário em títulos da dívida pública 21. Em suma, o diploma constitucional determina que a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição MEIRELLES, Hely Lopes. Direito municipal brasileiro. 13. ed. São Paulo: Malheiros, p BRASIL. Constituição [1988]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. DF: Senado, 1988, artigo. 182, 4º. 22 BRASIL. Constituição [1988]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. DF: Senado, 1988, artigo. 5º, XXIV. 391
11 MARÇAL JUSTEN FILHO, ressalta que a indenização deve sempre ser justa, ainda quando não seja paga previamente em dinheiro 23. Desta forma, não podemos negar que o Estado possui o compromisso de fazer valer o que determina a Carta Magna, o principio da função social da propriedade urbana, utilizando-se de todo o arsenal jurídico que a lei disponibiliza. CONSIDERAÇÕES FINAIS Verificou-se ao longo da presente pesquisa que a evolução do conceito de propriedade, ao atingir o status de direito fundamental, trouxe a colisão com o interesse coletivo e o bem-estar social, tutelados pela função social limitados, no presente artigo, à propriedade urbana. De forma clara, pode-se perceber que a supremacia do interesse público sobre o interesse privado que recai sobre a função social da propriedade, não nasceu para reprimir o proprietário individual. Colhe-se o entendimento de que surte o efeito de limitar o uso da propriedade a fim de não causar dano ou perturbação à sociedade e ao interesse de todo o coletivo. Ademais, analisou-se a aplicabilidade da Política Urbana, através do Estatuto da Cidade, no tocante às limitações que recaem sobre a propriedade, dado o descumprimento da função social. Conclui-se que o Estado, por intermédio da Administração Pública, pretende harmonizar o convívio em sociedade e, concomitantemente, promover o melhor proveito do solo urbano. Por certo, percebeu-se o dever do Estado em fazer com que o proprietário cumpra a função social da propriedade urbana, sendo facultada a imposição de penalidades nas condições estabelecidas na legislação especial, mas sempre com a premissa de fazer prevalecer o bem-estar coletivo. REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ARAÚJO, Edmir Netto de. Curso de direito administrativo. 4 ed. São Paulo: Saraiva, JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p
12 BASTOS, Celso Ribeiro. A função social da propriedade. Revista da procuradoria geral do Estado de São Paulo. BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. v. 2. São Paulo: Saraiva, BRASIL. Constituição [1988]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. DF: Senado, BRASIL. Lei no de 10 de Julho de Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Comentário à constituição brasileira. v. III. São Paulo: Saraiva, FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Estatuto da cidade comentado. Lei /2001: Lei do meio ambiente artificial. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, MEIRELLES, Hely Lopes. Direito municipal brasileiro. 13. ed. São Paulo: Malheiros, MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Malheiros Editores, MUKAI,Toshio apud BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à constituição do Brasil, vol. VII. São Paulo: Saraiva, PESTANA, Marcio. Direito Administrativo Brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, SALOMÃO FILHO, Calixto. Função social do contrato: primeiras anotações. Revista de Direito Mercantil, v São Paulo: Malheiros, SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 13. ed. São Paulo: Malheiros Editores, SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico brasileiro. São Paulo: Malheiros. 3 ed
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