A FORMAÇÃO EM CONTEXTO COMO APOIO A PROCESSO DE MUDANÇAS NO FAZER PEDAGÓGICO: UM ESTUDO DE CASO Mª.

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1 A FORMAÇÃO EM CONTEXTO COMO APOIO A PROCESSO DE MUDANÇAS NO FAZER PEDAGÓGICO: UM ESTUDO DE CASO Mª. Edilma Costa Negreiros Vasconcelos SME-Natal-RN edilmavasconcelos@hotmail.com Dra. Heles Cristina Ferreira de Souza SME-NATAL-RN/UMINHO-PT helescris@hotmail.com RESUMO Este trabalho é uma experiência de formação em contexto realizada com professoras da educação infantil no município de Natal (Brasil) entre 2009 e A experiência voltou-se para um processo de formação em contexto, como elemento decisivo na redefinição do agir profissional, apoiada pela pedagogia construtivista e pela metodologia do modelo High-Scope, a fim de que essa formação constituísse verdadeiros espaços de aprendizado e crescimento profissional, ligados à melhoria da qualidade da educação infantil. Em síntese, preocupa-se com a formação continua de professores(as) da educação infantil. Por sua natureza, caracteriza-se como um estudo de caso construtivista numa perspectiva de investigação-ação, pois houve um mergulho no universo do centro de educação infantil e nas práticas das educadoras para conhecê-las e acompanhá-las, sendo possível assim investigar elementos que subsidiassem o plano investigativo. Nessa delimitação, a questão central da investigação, bem como os propósitos que foram delineando-se, conduziu ao principal objetivo: Investigar e implantar um processo de formação em contexto com educadoras da educação infantil do CMEI Marilanda Bezerra de Paiva no Município de Natal/RN/Brasil que promova mudanças desta realidade educativa. Constatou-se no decorrer da experiência que uma formação em contexto, materializada por diferentes estratégias de reflexão e voltada para mudanças da prática, é um processo complexo, lento e por vezes doloroso, mas possível de ser realizado. Pelo exposto, observa-se que este estudo de caso, no âmbito de uma metodologia de investigaçãoação, compreendeu dois aspectos que se entrelaçaram: de um lado, a prática investigativa de formação em contexto com caráter colaborativo; de outro, a atividade de investigação propriamente dita, que simultaneamente revelava implicações e desafios da formação.(craveiro,2007) Os resultados evidenciaram a vivência de um processo de transformação e crescimento profissional das professoras, motivando a buscar mudanças no contexto de trabalho, a partir da elaboração de propostas em equipe. Também motivou as crianças a trabalharem com renovado entusiasmo, com liberdade para optar por atividades que contemplem seus interesses e necessidades. A experiência com as educadoras, igualmente, motivou-as a dar continuidade ao trabalho, transformando a experiência em atividade efetiva na escola, através da formação do grupo de estudo para modificar a prática pedagógica. Quanto aos pais, diversos foram os relatos de avanços e modificações no

2 2 comportamento das crianças e, de modo geral, de todos os envolvidos no processo de transformação através dos espaços das salas de experiências. Palavras-chave: Crianças. Formação em contexto. Educação Infantil. Pedagogia em participação. DESENVOLVIMENTO O processo investigativo proposto e descrito neste trabalho diz respeito a uma experiência de formação em contexto realizada junto à prática de duas professoras da educação infantil da Rede Municipal de Natal/RN/Brasil no decorrer de 2009 e Sua realização parte de uma formação no processo e no próprio ambiente de trabalho, buscando uma reflexão na prática e sobre a prática docente, com o objetivo principal de fornecer subsídios para se lograr a melhoria da qualidade da educação infantil acreditando que para isso era preciso criar oportunidades de formação a essas. Nesta investigação, denominada A Formação em Contexto como Apoio a Processos de Mudança no Fazer Pedagógico: um estudo de caso, objetivou-se contribuir, como o próprio título do trabalho já sugere, com a formação em contexto de duas num Centro de Educação Infantil (CMEI) do Município de Natal/RN/Brasil na tentativa de que essa formação constitua verdadeiros espaços de aprendizado e crescimento profissional e promova mudanças nesta realidade educativa. O título da tese define também o tema central deste estudo, que coloca a formação em contexto como eixo estruturante de uma investigação que interliga dois temas complexos: a formação em contexto, tema da obra de Oliveira-Formosinho (2001) acerca da Associação Criança, considerando essa formação como fator de desenvolvimento profissional e a mudança nas práticas dessas a partir da organização de espaços da educação infantil. Este trabalho tem como finalidade promover a melhoria da qualidade da educação das crianças e, para cumprir esse

3 3 objetivo, fundamenta-se na pedagogia construtivista e utiliza em grande parte o modelo curricular High/Scope. É importante explicitar aqui que a escolha ou o interesse em pesquisar sobre o tema Educação Infantil surgiu há algum tempo quando a pesquisadora integrava um grupo de formadoras da Rede Municipal de Ensino de Natal. Esse grupo tinha o objetivo de desenvolver a formação de professores da educação infantil da rede Municípal de Ensino da já referida cidade. Para isso, promovia cursos de aperfeiçoamentos e encontros de formação para professores desse nível de ensino. Sendo assim, foi a partir de uma experiência pessoal que surgiram duas razões motivadoras e, principalmente, impulsionadoras desta investigação: 1º) a formação desenvolvida pela Equipe de Educação Infantil a qual se integrava; 2º) as implicações dessa formação na prática de professores da educação infantil. No entanto, em relação ao primeiro aspecto, havia uma grande preocupação: a complexidade da educação de crianças. Desenvolver um trabalho eficaz nessa etapa de ensino exige maior qualificação, leitura crítica e capacidade intelectual e estreita relação com sua prática. Por isso, apesar dos esforços empreendidos, percebia-se que pelo modo como esses cursos eram realizados (por períodos ou épocas estanques) não era possível atingir os objetivos propostos de revisão e reflexão da teoria, defendidos por Formosinho (2002, p. 27): Uma fundamentação teórica mais sólida da acção educativa deve visar as capacidades de concepção e organização do próprio trabalho[...]. Seguindo esse pensamento, a pretensão, no projeto do doutoramento, era analisar até que ponto o modelo de formação da Secretaria Municipal de Educação de Natal influenciava e concretizava-se de forma qualitativa na prática pedagógica dos(as) professores da educação infantil. Além disso, na primeira fase de investigação, desejou-se ampliar a metodologia de investigação com base na coleta inicial de dados (observação, análise

4 4 de documentos), questionando se realmente aquele seria o melhor modo de se chegar a uma tese que contribuísse efetivamente para um avanço na formação de professores da educação infantil. As inquietações daí decorrentes encaminharam ao segundo aspecto motivador: a possibilidade de realizar uma investigação-ação que contemplasse a formação em contexto de professores da educação infantil, pois só assim se sentia que de fato se realizaria uma investigação sobre as implicações de uma formação com professores e consequentemente, se poderia contribuir para uma mudança efetiva em sua prática. Nesse sentido, esta investigação preocupa-se mormente com a formação de professores, mais concretamente da formação de professores da educação infantil, e é impulsionada por uma problemática inicial que se tornou a questão central da investigação: como realizar um processo de formação em contexto com professores da educação infantil que promova e/ou contribua para mudanças desta realidade educativa? Tal questão, em consonância com as motivações expostas anteriormente, levou ao objeto deste estudo: a formação em contexto de trabalho de professores da educação infantil do Município de Natal/RN/Brasil. Nessa situação, privilegiou-se a formação em contexto de duas de um Centro de Educação Infantil (CMEI) na tentativa de que essa formação pudesse constituir verdadeiros espaços de aprendizado e crescimento profissional à medida que contribuiria para a melhoria da qualidade da educação infantil, pois acreditamos que criar oportunidades às crianças requer criar oportunidades aos (as) professores. Essa intenção esteve consubstanciada no dizer de Formosinho (2002) quando enfatiza a importância da formação dos (as) professores da educação infantil: É preciso promover social e profissionalmente os profissionais da educação de crianças. Esta promoção é um instrumento para a melhoria da qualidade do atendimento educacional às crianças, não é um fim em si. Pressupõe-se o reconhecimento de que estes

5 5 profissionais são dos mais importantes agentes profissionais do sistema educativo, pelo facto de serem os primeiros com que a criança contacta, por serem os que lhe revelam uma imagem de escola e de vivência escolar, por serem os que ensinam de modo sistemático as aprendizagens básicas nos domínios cognitivo, sociomoral e afectivo. (FORMOSINHO, 2002, p. 27) Um estudo com tais propósitos tem seu nível de complexidade ao procurar captar e compreender o processo de aprendizagem das docentes, tentando mobilizar o seu pensamento e ação profissional, vislumbrando mudanças na forma de trabalhar e atuar na educação infantil. Para o desenvolvimento da investigação, optou-se por um estudo de caso de caráter construtivista realizado numa perspectiva de investigação-ação (OLIVEIRA- FORMOSINHO ; CRAVEIRO,2007), voltada para a formação em contexto de duas de um Centro de Educação Infantil no Município de Natal/RN/Brasil, com foco nas pedagogias participativas em que se consideram a participação dos sujeitos no seu processo de desenvolvimento e a reflexão da própria prática no contexto de trabalho. Nessa delimitação, a questão central da investigação, bem como os propósitos que foram delineando-se, conduziu aos objetivos da pesquisa, os quais se apresentam a seguir. Objetivo Geral: Investigar e implantar um processo de formação em contexto com da educação infantil do CMEI Marilanda Bezerra de Paiva no Município de Natal/RN/Brasil que promova mudanças desta realidade educativa. Objetivos Específicos: Conhecer as percepções das sobre o seu processo de formação inicial e sobre as suas próprias práticas;

6 6 Desvelar e revelar os meandros de uma investigação que contemplou um processo de formação em contexto de duas da educação infantil do CMEI Marilanda Bezerra de Paiva no Município de Natal/RN/Brasil; Analisar o processo de formação em contexto na tentativa de revelar os possíveis avanços/recuos que uma formação dessa natureza poderá promover na prática pedagógica das professoras; Promover a organização de atividades de duas salas de educação infantil segundo os atributos da pedagogia construtivista utilizando como elementos dessa pedagogia o modelo High-Scope; Desenvolver ciclos de formação em contexto para prosseguir com os objetivos da intervenção na prática. Pelo exposto, observa-se que este estudo de caso, no âmbito de uma metodologia de investigação-ação, compreendeu dois aspectos que se entrelaçaram: de um lado, a prática investigativa de formação em contexto com caráter colaborativo; de outro, a atividade de investigação propriamente dita, que simultaneamente revelava implicações e desafios da formação.(craveiro,2007) Nesse sentido, a participação ativa e a presença do investigador em todas as fases, compartilhando o trabalho junto aos atores, proporcionam melhores elementos para a investigação e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento de um processo de auxílio mútuo, que contribui para a efetividade do trabalho realizado. Isto posto, compreende-se que a realização desta investigação poderá unir o que Casal (1996) considera imprescindíveis no campo da pesquisa em ciências sociais: significação, interesse e valor, evidenciando assim três finalidades fundamentais deste trabalho: a investigação, a formação e a contribuição para a mudança do contexto investigado. Sendo assim, a decisão de implantar um processo de formação em contexto para a construção de práticas alternativas de educação infantil com base na

7 7 pedagogia construtivista localiza esta investigação entre a teoria da formação em contexto de professores e a pedagogia da infância. Para analisar as teorias sobre formação de professores, recorreu-se ao campo de pesquisa sobre formação de professores da educação infantil, principalmente sobre formação em contexto discutido nos trabalhos de Oliveira-Formosinho (2001, 2007a, 2009). A necessidade de aprofundar conhecimentos acerca das perspectivas de formação em contexto de professores da educação infantil, como estratégia de melhoria das práticas pedagógicas dessa etapa da educação, fundamenta a decisão de desenvolver um programa de formação contínua em contexto capaz de assegurar uma ligação entre os objetivos da formação e a prática profissional dos (as) professores, incluindo, portanto, as suas experiências de trabalho no processo de formação. Outro foco presente no estudo está relacionado à Pedagogia da Infância e à Educação de Infância esta última entendida como o contexto onde ocorrem as práticas educacionais destinadas às crianças menores de seis anos. Nessa perspectiva, realiza-se um diálogo com os estudos de Dewey e Malaguzzi para compreender a ideia de infância, de criança e de educação infantil, bem como aprofundar o estudo sobre a Pedagogia-em-Participação e o modelo pedagógico, High-Scope, que apresentam relevantes contribuições à compreensão da educação infantil e suas particularidades. Nesse sentido houve ainda um diálogo com o trabalho da Associação Criança (Braga/PT), por meio dos estudos de Oliveira-Formosinho sobre a Associação, tratando da Pedagogia-em-Participação, o que possibilitou o estabelecimento de uma relação direta com o estudo. Esse campo de investigação tem focalizado também o papel dos(as) professores, tornando-se assim uma área especial na fundamentação e análise de nossa investigação. A partir dessas preocupações, após a experiência desenvolvida, foi organizado o trabalho em duas partes principais. Na primeira parte apresenta-se o quadro teórico,

8 8 que está subdividido em três capítulos. Na segunda parte descrevem-se a opção metodológica e o estudo de caso efetuado, além de apresentar, discutir e integrar as informações recolhidas. Outrossim, este registro não é linear. Sua natureza, de uma ótica particular, implica movimento de trocas e interações, de certezas e incertezas, de idas e vindas, de avanços e recuos característicos de todo e qualquer processo que almeje transformações. Dessa forma, escrever sobre o desenvolvido, mais do que fazer um relato do processo vivido, é organizá-lo reflexivamente, na tentativa de que possa servir como subsídio para outros trabalhos dessa natureza. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS DE FUTURO O esforço empreendido neste estudo foi para desenvolver um processo de formação em contexto com da Educação Infantil do município de Natal com vista a contribuir para a (re)definição de uma prática transmissiva, em favor de uma pedagogia participativa. Durante o trajeto, surgiram muitas inquietações e questionamentos, que impulsionaram o desenvolvimento deste trabalho. Essas indagações visavam averiguar se a concretização de uma proposta dessa natureza seria possível, verificar quais estratégias necessárias à efetivação do processo, descobrir quais recursos necessários para se atingir o objetivo da formação, e constatar os obstáculos que certamente dificultariam tal processo. Considerando a experiência realizada, podemos afirmar que é possível sim desenvolver um processo de formação em contexto que desencadeie um processo de (re)definição da prática pedagógica na Educação Infantil, embora esse processo seja difícil, singular e apresente-se como desafio que precisa de acompanhamento e de sistematização.

9 9 Dessa compreensão, é importante evidenciar um conjunto de ideias, resultados, constatações e os achados emergidos no decorrer do processo, que se caracterizou como um processo eminentemente vivo, dinâmico, educativo e, sobretudo, dialético. Uma das constatações, nesse sentido, é que qualquer modelo de formação em contexto direcionado à prática, num movimento de reflexão sobre a ação, pode tornar-se difícil à medida que evidencia elementos para uma análise da prática que, consequentemente, provocará o desencadeamento de um processo de redimensionamento dessa mesma prática, realidade ainda pouco comum no processo de ensino-aprendizagem do Brasil. Também se evidencia que promover um processo de formação dessa natureza requer dos envolvidos disposição para críticas e para autoavaliação, que espontaneamente fluirão nesse processo. Isso se justifica pelo fato de que um processo de formação em contexto pode desencadear resistência, não só das participantes do processo, mas também da própria escola. Essa resistência sinaliza a ameaça que o processo de revisão/reflexão, inerentes à formação, acarreta. Da mesma forma, evidenciou-se que qualquer processo de intervenção na prática das não deve ocorrer isoladamente porque pode se tornar inútil. Por isso, deve se voltar para o contexto onde ocorre a prática pedagógica, incluindo toda a escola, seu projeto político-pedagógico e o trabalho coletivo que ela possa desenvolver. Assim, a formação em contexto deve ser encarada como processo individual e coletivo. Individual quando se coloca como transformação de representações, de valores e de comportamentos por parte das ; e coletivo quando estas coletivamente aprendem, produzindo novas formas de ação no ambiente de trabalho. A mudança na escola implica mudar a ação individual e o modo de pensar essa ação, sobretudo, o modo como essas ações individuais se articulam entre si, num

10 10 quadro de interdependência dos atores. Trata-se, em suma, de mudar os processos de interação social dentro da escola, que, no caso específico das da Educação Infantil, significa substituir uma cultura fortemente individualista por uma cultura baseada no trabalho de equipe. De qualquer forma, o projeto educativo da escola pode contribuir para que ocorram ou não as mudanças num processo de formação pautado nos interesses das crianças. Por isso, constitui-se num instrumento essencial, pois sem respaldo institucional as sentem-se sozinhas e isoladas. Na verdade, o fato de se ter penetrado num contexto real e de se ter como objeto a formação em contexto de duas nos levou a um envolvimento muito grande com os sujeitos da investigação: as colaboradoras. Contudo, esse entrosamento não comprometeu a objetividade do estudo, pelo contrário, tornou-se fundamental para que aflorasse certa intimidade, facilitando a revelação de determinados elementos das práticas das. Alguns desses elementos ficaram claros quando as, inicialmente, apesar de sinalizarem um discurso de superação do tradicional, apresentavam uma prática que contrazia os discursos, aproximando-se mais de uma prática essencialmente transmissiva. Ao mesmo tempo, sinalizavam um desejo crescente de mudança, motivo que as impulsionou a enfrentar o desafio da formação em contexto. Os desafios consistiam na análise de suas práticas, nos momentos em que vivenciavam a experiência de modificação dos espaços ou quando eram apresentadas teoricamente aos textos estudados sobre a pedagogia participativa. Outro elemento importante é o fato de que as apresentavam segurança nas experiências proporcionadas pelo processo de formação em contexto. Porém, diante do grupo da escola, se recolhiam por se sentirem intimidadas. Essa conduta só se modificou no final da investigação.

11 11 Durante a investigação, ainda, cada educadora revelou percursos e envolvimentos diferentes no processo de formação, o que é natural, uma vez que as experiências e o modo como elas são apreendidas dependem da história e do processo individual de formação de cada uma. Revelavam, em determinados momentos, insegurança com a mudança e a organização dos espaços e da rotina, principalmente, porque sentiam falta das atividades previamente elaboradas. Era como se essas atividades sustentassem suas práticas e, sem elas, não poderia existir prática pedagógica. Todas essas questões revelam a fragilidade e a inconsistência da formação inicial das e apontam a importância de se desenvolver trabalhos que possibilitem maior aproximação da prática e da reflexão na ação. Nesse sentido, as contribuições do processo de formação em contexto, reveladas nas observações, produtos das crianças, entrevistas e análise do PIP, para a prática das da Educação Infantil foram várias. Uma das contribuições foi o estímulo à autorreflexão, favorecendo a percepção de si mesma como ser histórico capaz de (re)construir permanentemente a sua prática superando os desafios. Significativo também foi o aporte à problematização das representações das acerca da criança, da infância, do brincar, do cuidar, do ser educadora infantil, do proporcionar uma Educação Infantil de qualidade. Demonstraram, também, convencimento de que a educação de qualidade das crianças na Educação Infantil que promove uma Pedagogia-em-Participação perpassa por mudanças e organização dos espaços. Essa conscientização é ratificada na afirmação de Oliveira-Formosinho (2007a): Um dos maiores desafios perante os quais nos coloca a pedagogia da infância provém de ter mostrado que a construção do conhecimento pela criança necessita de um contexto social e pedagógico que sustente, promova, facilite, celebre a participação, de um contexto

12 12 que participe na construção da participação. (OLIVEIRA- FORMOSINHO, 2007a, p. 22) Foi também significativa a promoção de mudanças no contexto investigado, que corresponde ao desenvolvimento profissional na perspectiva institucional, pela qual esse desenvolvimento passa a ser uma resposta coletiva às necessidades e problemas da instituição (FORMOSINHO;OLIVEIRA- FORMOSINHO, 2001). Cabe assinalar que, entre as diversas contribuições desse processo, uma em especial merece destaque: a organização de um grupo de estudo a pedido das da escola. Esse grupo cujo tema era o tempo, o espaço e a avaliação na Educação Infantil como alicerces da qualidade na aprendizagem das crianças surgiu da necessidade do próprio Centro, que se fundamentou na experiência de formação desenvolvida com as duas. Essa experiência teve tamanha repercussão que todas as, incluindo a direção, participaram do grupo, realizado em horário posterior ao do Centro de Educação Infantil. A criação do grupo de estudo, como necessidade das demais da instituição, corrobora mais uma vez o conceito de desenvolvimento profissional na perspectiva institucional (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2002c). Essa atitude se configurou para nós numa vitória. E tomar a decisão de organizar e estar à frente do grupo (por mais que demandasse tempo e dedicação extra ao trabalho de investigação) era mais um desafio e uma decisão que implicaria numa contribuição da nossa investigação à escola, talvez estivesse aí nosso comprometimento político. Por outro lado, o processo de intervenção/formação em contexto sinalizou alguns aspectos considerados obstáculos, tais como a formação inicial deficitária das dificulta um desenvolvimento profissional ou retarda os avanços; a existência de

13 13 apenas uma educadora por sala para atender entre 20 e 25 crianças; a escassez de materiais limitam a criatividade das crianças; a experiência com referencial e prática não conhecidos pelas e o uso de instrumentos também não conhecidos, como a construção do portfólio, dificultaram seu processo de realização; a resistência pelo grupo das que não participavam da experiência; a dificuldade em adequar a rotina da escola à rotina das salas que viveram a experiência. Mesmo assim, pode-se afirmar (embora se corra o risco de exageros) que a experiência apresentou mais avanços do que recuos, por isso valeu a pena vivenciar um processo de transformação da prática e crescimento profissional das expressado principalmente na tentativa de promover mudanças no contexto de trabalho a partir da elaboração em equipe. Igualmente, foi extremamente enriquecedor quando as crianças se mostravam felizes e realmente trabalhavam com entusiasmo, podendo fazer suas escolhas na áreas de trabalho a partir de seus verdadeiros interesses e necessidades. Os resultados, ao término da experiência, foram gratificantes, quando as optaram por continuar o trabalho, demonstrando interesse em fazer dessa experiência uma prática efetiva na escola e aderindo o projeto para 2010 e, sobretudo, quando a própria escola nos solicitou a formação do grupo de estudo como necessidade de se mudar a prática pedagógica. Em relação aos pais, comprovou-se que todo o trabalho foi satisfatório, ao se verificar sua satisfação quando relataram os avanços das crianças e a mudança no comportamento delas e, em relação a todos os adultos (pais, funcionários e ) ao comentarem que queriam ter tido uma escola com espaços como os das salas das experiências. Finalmente, conclui-se que qualquer estratégia de formação não deve ser vista como um processo finalizado e acabado por sua previsão legal, mas sim como valorização abrangente, humana, contínua e em constante

14 14 aprimoramento, estendendo-se para o resgate da autoestima e da autoconfiança necessárias para que o(a) próprio(a) educador(a) valorize a si mesmo, à sua profissão e as crianças, em busca da garantia de políticas publicas que tanto se propõem tanto no que diz respeito aos direitos da criança quanto à qualidade da educação. No entanto na prática essas promessas não são garantidas e que muito é preciso reinvindicar em relação aos direitos, até mesmo os sustentados por lei. É fundamental, nesse cenário, que os docentes possam continuamente refletir sobre sua prática pedagógica e questionar o seu papel social, as formas de execução dos conteúdos, métodos aplicados, a postura ética frente às questões que envolvem o cotidiano de suas práticas. O grande desafio a ser enfrentando, na continuação de um estudo dessa natureza, portanto, é favorecer o conhecimento pessoal e o conhecimento mútuo, além da apreciação das diferentes formas culturais como a melhor via para compreender a própria cultura e, a partir dela, realizar mudanças e promover a educação verdadeira. Trata-se, portanto, de capacitar os professores em estratégias de comunicação, de diálogo, de reflexão, tais como o contraste de valores culturais, o autodescobrimento, valorizações positivas, percepções e interpretações, formulação de hipóteses, fomento da empatia e do diálogo, com o aporte de uma ampla gama de atividades que investiguem fatores sociais e políticos, referências estabelecidas e realidades novas, possíveis. REFERÊNCIAS

15 15 CASAL, A. Y. Da explicação à compreensão. In:. Para uma epistemologia do discurso e da prática antropológica. Lisboa: Cosmos, CRAVEIRO, M. C. F. G. V. Formação em contexto: um estudo de caso no âmbito da pedagogia da infância Tese (Doutoramento em Estudos da Criança) Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho, Braga, FORMOSINHO, J. A formação prática de professores: da prática docente na instituição de formação à prática pedagógica nas escolas. In: CAMPOS, B. P. (Org.). A formação de professores no ensino superior. [S.I.]: Cadernos da Formação de Professores, FORMOSINHO, J. A academização da formação dos professores de crianças. Revista Infância e Educação Investigação e Práticas, n. 4, p , OLIVEIRA-FORMOSINHO, J. Do Projeto Infância à Associação Criança: da formação escolar à formação em contexto. In: OLIVEIRA-FORMOSINHO, J.; FORMOSINHO, J. (Org.). Associação Criança: um contexto de formação em contexto. Braga: Livraria do Minho, OLIVEIRA-FORMOSINHO, J. O desenvolvimento profissional das de infância: entre saberes e os afectos, entre a sala e o mundo. In: MACHADO, M. L. (Org.). Encontros e desencontros em educação infantil. São Paulo: Cortez, 2002c. OLIVEIRA-FORMOSINHO, J. Pedagogia(s) da infância: reconstruindo uma práxis de participação. In: OLIVEIRA-FORMOSINHO, J.; KISHIMOTO, T. M.; PINAZZA, M. A. (Org.). Pedagogia(s) da infância: dialogando com o passado e construindo o futuro. Porto Alegre: Artmed, 2007a. OLIVEIRA-FORMOSINHO, J. (Org.). Desenvolvendo a qualidade em parcerias. Lisboa: Ministério da Educação de Portugal, p