PSICOPEDAGOGO: QUAL É A SUA FUNÇÃO?
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- Raquel Pinto Damásio
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1 PSICOPEDAGOGO: QUAL É A SUA FUNÇÃO? Élida Mara de Jesus Dias (PUC-SP) Resumo Este artigo tem como objetivo analisar a atuação do psicopedagogo frente às dificuldades no processo ensino-aprendizagem na instituição escolar e, para nos referirmos a essa atuação, fiz menção a situação referente à regulamentação da profissão, quando surge a Psicopedagogia e quais são suas características aqui no Brasil e, ainda que breve, mas não menos importante, a atuação do psicopedagogo em âmbitos diferentes, como: Empresarial e Clínico para constatarmos as diferenças e a real atuação do profissional de Psicopedagogia em diferentes contextos. Palavras-chave: Psicopedagogia. Educação. Ensino. Aprendizagem. Instituição escolar. Introdução Sou professora de Inglês da Educação Infantil ao Ensino Fundamental II em duas Instituições Privadas de ensino. Há alguns dias, a coordenadora de uma das escolas em que leciono encaminhou aos professores um relatório de uma aluna do 3º ano, o qual foi enviado à escola pela psicopedagoga da criança. A partir do recebimento do relatório, levantei alguns questionamentos que deram origem a este artigo. A coordenadora nos enviou o documento com o intuito de que nosso olhar com relação à criança seja mais cuidadoso e que sejamos mais criteriosos ao elaborar nossas aulas na turma em que a criança estuda, uma vez que no relatório apresentado pela psicopedagoga consta que a criança apresenta algumas dificuldades na leitura, escrita, dificuldade motora e Artigo apresentado à Universidade Nove de Julho para obtenção do grau de especialista do curso de Psicopedagogia Clínica e Institucional, sob orientação da Profª Ms. Ivana Moraes de Alencar, em Graduada em Língua Portuguesa e Língua Inglesa. Especialista em Língua Portuguesa pelo programa de Pós- Graduação/Especialização na PUC-SP. 1
2 de locomoção, trocas de letras como: t pelo d e d pelo b, lateralidade e dificuldade em lidar com frustrações. Após ter lido o documento surgiram algumas inquietações, porque nele constavam apenas os sintomas da criança, sem nenhuma orientação ou subsídios de como auxiliá-la e tornar o processo ensino-aprendizagem mais significativo, levando em conta as dificuldades da criança, e isso me fez repensar a atuação do psicopedagogo, pois essa postura difere do que é preconizado pelo curso de Psicopedagogia. Dividindo essa experiência com outros professores, os mesmos disseram ter passado por experiências parecidas em que o psicopedagogo apresenta os sintomas por meio de um relatório, mas não orienta ou oferece subsídios para atuarmos de modo mais significativo no aprendizado de alunos com dificuldades. Atuação do psicopedagogo A Psicopedagogia surgiu primeiramente na Europa, onde os primeiros Centros psicopedagógicos foram fundados, em Na Argentina, a Psicopedagogia surgiu há mais de 30 anos e foi Buenos Aires, sua capital, a primeira cidade a oferecer o curso de Psicopedagogia. Na década de 70 surgiram em Buenos Aires os Centros de Saúde Mental, onde equipes de psicopedagogos atuavam, fazendo diagnóstico e tratamento. Na Argentina, a Psicopedagogia tem um caráter diferenciado da Psicopedagogia no Brasil. São aplicados testes de uso corrente, [...] alguns dos quais não sendo permitidos aos brasileiros [...] (BOSSA, 2000, p. 42) por ser considerados de uso exclusivo dos psicólogos (BOSSA, 2000, p. 58). [...] os instrumentos empregados são mais variados, recorrendo o psicopedagogo argentino, em geral, a provas de inteligência, provas de nível de pensamento; avaliação do nível pedagógico; avaliação perceptomotora; testes projetivos [...] (BOSSA, 2000, p. 42). A Psicopedagogia chegou ao Brasil, também na década de 70, inicialmente sendo uma ação subsidiada da Medicina e da Psicologia, perfilando-se posteriormente como um conhecimento independente e complementar, possuída de um objeto de estudo, denominado de processo de aprendizagem, e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios (VISCA apud BOSSA, 2000, p. 21). 2
3 Com essa visão de uma formação independente, porém complementar destas duas áreas, o Brasil recebeu contribuições para o desenvolvimento da área psicopedagógica, de profissionais argentinos, tais como: Sara Pain, Jacob Feldmann, Ana Maria Muniz, Jorge Visca, dentre outros. No Brasil, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial desde a década de 70 em instituições universitárias de renome. Esta formação foi regulamentada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) em cursos de pós-graduação e especialização, com carga horária mínima de 360h. O curso deve atender às exigências mínimas do Conselho Federal de Educação quanto à carga horária, critérios de avaliação, corpo docente e outras. Não há normas e critérios para a estrutura curricular, o que leva a uma grande diversificação na formação. Embora a profissão tenha sido regulamentada, ainda não foi reconhecida e a lei que trata do reconhecimento da profissão de psicopedagogo está na Câmara dos Deputados federais, ainda em discussão. O psicopedagogo pode atuar em diferentes áreas, como: Clínica, Empresarial e Educacional para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, mas em cada âmbito sua atuação é diferenciada. Psicopedagogia clínica Na Clínica, o psicopedagogo terá o indivíduo como paciente, portanto poderá diagnosticar e acompanhar o processo de aprendizagem do paciente e cabe ao profissional encaminhar a devolução do diagnóstico com o elemento da equipe escolar. É preciso que a devolução se encerre clarificando o Modelo de Aprendizagem do paciente e de sua família junto à escola, suas facetas saudáveis e suas dificuldades, bem como as possibilidades de mudança na busca do prazer e eficiência no aprender (WEISS, 2008, p. 142). Considerando a citação de WEISS (2008) referente à devolutiva do diagnóstico para a equipe escolar, fica claro então que não é restrito ao psicopedagogo clínico apenas diagnosticar e informar tal diagnóstico à equipe escolar, sem que o psicopedagogo aponte por meio da devolutiva como é a aquisição do saber do paciente, suas facilidades e dificuldades no processo ensino-aprendizagem, e também apontar possibilidades de mudança na 3
4 metodologia de ensino para que, a partir disso, a escola possa então analisar suas práticas em sala de aula considerando os aspectos levantados pelo psicopedagogo, oferecendo ao aluno várias possibilidades na aquisição do saber. É preciso também que a escola tenha uma estrutura de apoio material e pedagógico juntamente com uma equipe de profissionais qualificada que encontre prazer em ensinar, para que possibilite o prazer de aprender e para que o aprendizado seja mais atrativo. Psicopedagogia empresarial No âmbito empresarial, o psicopedagogo pode contribuir com as relações, ou seja, com a melhoria da qualidade das relações inter e intrapessoais dos indivíduos que trabalham na empresa. Muitas mudanças estão acontecendo no desenvolvimento das organizações, determinadas ora pelas imposições do mercado, ora pela necessidade de reorganização do ambiente interno organizacional. O conhecimento humano surge como principal fonte de vantagem competitiva para as organizações. Isso pede uma série de mudanças organizacionais que possibilitem o compartilhamento do conhecimento por meio de adaptação do ambiente e, principalmente pela mudança de comportamento das pessoas. Um dos grandes desafios das organizações do futuro é o de saber usar o conhecimento de cada colaborador, saber somá-los e criar um ambiente de sinergia que lhes garanta o sucesso. As organizações passam a ser, portanto, espaços de processos de aprendizagem efetivos e, saber a forma individual como as pessoas constroem conhecimentos e como os utilizam para explicar a realidade e resolver problemas do cotidiano da organização, passa a ser imprescindível. Stewart (1998) define o processo de aprendizagem organizacional como uma continuação do processo individual, caracterizando-a como A capacidade de gerar novas ideias, multiplicada pela capacidade de generalizá-las por toda a empresa (STEWART, 1998, p. 56). A aprendizagem organizacional corresponde, assim, à forma pela qual as organizações constroem, mantêm, melhoram e organizam o conhecimento e a rotina em torno de suas atividades e culturas, a fim de utilizar as aptidões e habilidades de sua força de trabalho de modo cada vez mais eficiente. 4
5 É nesse cenário, acompanhando o aprender a aprender constante no ambiente organizacional, que o psicopedagogo assume papel significativo ao lado dos profissionais de recursos humanos. Sua ação se dá no sentido de facilitar a construção e o compartilhamento do conhecimento, incentivando novas formas de relacionamentos, criando sinergia entre o comportamento de gestores e colaboradores. Sua contribuição no planejamento, gestão, controle e avaliação de aprendizagens, favorece a qualidade dos processos de recrutamento, seleção e organização de pessoal. A Psicopedagogia, dentro da organização, pode orientar ações avaliando a aprendizagem profissional, propondo e coordenando cursos de atualização que atendam as necessidades específicas desse espaço, além de estabelecer princípios técnicos e metodológicos. É importante ressaltar que a Psicopedagogia é uma área multidisciplinar que não atua sozinha, dependendo e enriquecendo outras áreas de atuação e trabalhando em parceria com os diversos profissionais da organização. Psicopedagogo na instituição escolar O psicopedagogo institucional, como um profissional qualificado, está apto a trabalhar na área da educação, dando assistência aos professores e a outros profissionais da instituição escolar para melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos problemas de aprendizagem. O psicopedagogo possibilita uma intervenção psicopedagógica visando a solução de problemas de aprendizagem em espaços institucionais. Juntamente com toda a equipe escolar, está mobilizado na construção de um espaço adequado às condições de aprendizagem de forma a evitar comprometimentos (defasagens). Elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de facilitar e/ou desobstruir tal processo. Os desafios que surgem para o psicopedagogo dentro da instituição escolar relacionam-se de modo significativo. A sua formação pessoal e profissional implicam a configuração de uma identidade própria e singular que seja capaz de reunir qualidades, habilidades e competências de atuação na instituição escolar. A Psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e com os problemas decorrentes. Acreditamos que se existissem nas escolas psicopedagogos trabalhando com essas dificuldades, o número de crianças com problemas seria bem menor. 5
6 Cabe ao psicopedagogo escolar orientar professores, ou melhor, todo o corpo escolar e a família. O Psicopedagogo é uma peça importante na equipe multidisciplinar encaminhando o paciente, por meio de um relatório, quando necessário, para outros profissionais - psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, etc. que realizam diagnóstico especializado e exames complementares com o intuito de favorecer o desenvolvimento da potencialização humana no processo de aquisição do saber. Segundo Dembo (apud FERMINO et al., 1994, p. 57) "Evidências sugerem que um grande número de alunos possui características que requerem atenção educacional diferenciada". Nesse sentido, um trabalho psicopedagógico pode contribuir muito, auxiliando educadores a aprofundarem seus conhecimentos sobre as teorias do ensino-aprendizagem e as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento, redefinindo-as e sintetizando-as numa ação educativa. Esse trabalho permite que o educador se olhe como aprendente e como ensinante. Além do já mencionado, o psicopedagogo está preparado para auxiliar os educadores contribuindo para a compreensão de problemas na sala de aula, permitindo ao professor ver alternativas de ação e ver como as demais técnicas podem intervir positivamente no processo de aquisição do saber. Para o psicopedagogo, a experiência de intervenção junto ao professor, num processo de parceria, possibilita uma aprendizagem muito importante e enriquecedora, principalmente se os professores forem especialistas nas suas disciplinas. Não só a sua intervenção junto ao professor é positiva. Também é importante a sua participação em reuniões de pais, esclarecendo o desenvolvimento dos filhos; em conselhos de classe, avaliando o processo metodológico; na escola como um todo, acompanhando a relação professor e aluno, aluno e aluno, aluno que vem de outra escola, sugerindo atividades, buscando estratégias e apoio. Cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou da própria ensinagem. (BOSSA, 1994, p. 23) 6
7 O estudo psicopedagógico atinge seus objetivos quando, ampliando a compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem de determinado aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos para atender às necessidades de aprendizagem. Para isso, deve analisar o Projeto Político-Pedagógico, sobretudo quais as suas propostas de ensino e o que é valorizado como aprendizagem. Desta forma, o fazer psicopedagógico se transforma podendo se tornar uma ferramenta poderosa no auxílio de aprendizagem. Metodologia Para a compreensão deste tema foi realizada uma pesquisa qualitativa bibliográfica baseada nos livros pesquisados e sites que constam da bibliografia. A pesquisa qualitativa adota métodos diversificados de investigação que implica numa partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem o objeto de estudo para extrair dessa partilha os significados visíveis e latentes de forma sensível, a partir disso o autor interpreta e traduz em um texto os significados patentes ou ocultos do objeto pesquisado. Considerações finais A profissão do psicopedagogo não está regulamentada, mas se encontra na Comissão de Constituição, Justiça e Redação, na Câmara dos Deputados Federais, para ser aprovada. Enquanto isso, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial em cursos de pós-graduação oferecidos por instituições devidamente autorizadas ou credenciadas. A Psicopedagogia surgiu da necessidade de melhor compreensão do processo de aprendizagem, comprometido com a transformação da realidade escolar, na medida em que possibilita, mediante dinâmicas em sala de aula, contemplar a interdisciplinaridade, juntamente com outros profissionais da escola. O psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações interpessoais, o estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de ensino compatíveis com as mais recentes concepções a respeito desse processo. Procura envolver a equipe escolar, ajudando-a a ampliar o olhar em torno do aluno e das circunstâncias de produção do conhecimento, ajudando o aluno a superar os obstáculos que se interpõem ao pleno domínio das ferramentas necessárias à leitura do mundo. 7
8 A aprendizagem humana é determinada pela interação entre o indivíduo e o meio, da qual participam os aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Dentro dos aspectos biológicos, a criança apresenta uma série de características que lhe permitem, ou não, o desenvolvimento de conhecimentos. As características psicológicas são consequentes da história individual, de interações com o ambiente e com a família, o que influenciará as experiências futuras, como, por exemplo, o conceito de si próprio, insegurança, interações sociais, etc. Diante desse contexto, é possível concluir que embora a profissão do psicopedagogo não esteja regulamentada, fica claro qual é a sua função e como deve proceder em diferentes áreas de atuação. É imprescindível que o psicopedagogo institucional auxilie toda a instituição escolar como: professores, coordenadores e demais profissionais desse corpo, principalmente os professores, acompanhando a relação professor-aluno, aluno-aluno, aluno que vem de outra escola, sugerindo atividades, buscando estratégias e apoio. Se não seguem os procedimentos adequados, como informado no início deste artigo, esses profissionais não devem ter conhecimento do papel do psicopedagogo institucional e como atuar. Por isso, atuam de maneira inadequada, tornando-se maus profissionais. Portando, a Psicopedagogia pode fazer um trabalho entre os muitos profissionais, visando à descoberta e o desenvolvimento das capacidades da criança, bem como pode contribuir para que os alunos sejam capazes de olhar o mundo em que vivem, saber interpretálo e de nele ter condições de interferir com segurança e competência. Assim, o psicopedagogo não só contribuirá com o desenvolvimento da criança, como também contribuirá com a evolução de um mundo que melhore as condições de vida da maioria da humanidade. Referências bibliográficas BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, BOSSA, Nádia. Avaliação Psicopedagógica da Criança de sete a onze anos. São Paulo: Vozes, CHAMAT, Leila Sara José. Técnicas de Diagnóstico Psicopedagógico: O diagnóstico clínico na abordagem interacionista. São Paulo: Vetor,
9 FELDMANN, Juliane. A Importância Do Psicopedagogo. Publicado 14/06/2006 por Juliane Feldmann em PAIN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, RUBINSTEIN, Edith (Org.). Psicopedagogia uma prática, diferentes estilos. São Paulo: Casa do Psicólogo, RUBINSTEIN, Edith. O estilo de aprendizagem e a queixa escolar: entre o saber e o conhecer. São Paulo: Casa do Psicólogo, STEWART, T. A. Capital Intelectual: A nova vantagem competitiva das empresas. Rio de Janeiro: Campus, WEISS, Maria. Psicopedagogia Clínica: Uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro, Lamparina,
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