1. Autismo em crianças. 2. Psicoses em crianças. 3. Psicanálise infantil. I. Título. II. Série CDD: CDU:

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4 Copyright Ágalma para a língua portuguesa, 2008 Copyright da autora, a edição: outubro de 2008 Projeto gráfico da capa e primeiras páginas Homem de Melo & Troia Design Editor Marcus do Rio Teixeira Diretora desta coleção Daniele de Brito Wanderley Revisão Cida Lopes Depósito legal Impresso no Brasil / Printed in Brazil Todos os direitos reservados Av. Anita Garibaldi, 1815 Centro Médico Empresarial, Bloco B, sala Salvador-Bahia, Brasil Telefax: (71) Tel: (71) agalma@agalma.com.br Site: CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S232e Santoro, Isabela Espelho, espelho meu : a psicanálise e o tratamento precoce do autismo e outras psicopatologias graves / Isabela Santoro ; [prefácio Angela Vorcaro]. - Salvador, BA : Ágalma, (Calças curtas ; n.8) Inclui bibliografia ISBN Autismo em crianças. 2. Psicoses em crianças. 3. Psicanálise infantil. I. Título. II. Série CDD: CDU:

5 A Pedro, Ana, Matheus, Cecília, Isabela, Arthur, Carolina e Ana Paula. Com amor. Dedico este trabalho também às crianças Francesca, John, Lucio, Maurício, Rafael, e a tantas outras que não estão neste trabalho, mas que muito me ensinaram.

6 O poético está no ouvido de quem ouve. Marie-Christine Laznik Ela gorjeia... Então, com sua voz mais terna Cobrindo com os olhos a criança que Deus fez raiar Buscando o nome mais doce que possa dar À sua alegria, a seu anjo em flor, à sua quimera Acordaste, horror, diz-lhe a mãe. Victor Hugo

7 Agradecimentos A Marie-Christine Laznik, cuja obra mudou especialmente minha clínica, pela disponibilidade e generosidade em partilhar seu saber. Ao meu orientador Jeferson Machado Pinto, que me incentivou a fazer o mestrado. A Angela Vorcaro pela co-orientação extra- oficial. A Oscar Cirino, que orientou meu primeiro trabalho sobre o autismo em A Angélica Bastos e Antônio Teixeira pelas participações enriquecedoras na Banca Examinadora. A Hélio Lauar, pela ajuda pontual fundamental na organização da estrutura final dos capítulos. A Cláudio David, pela Monografia A Linguagem Sonora. Aos professores da Pós-Graduação em Psicologia da UFMG. Novamente, agradeço a meus pacientes; agradeço também a seus pais. À gerente do Centro de Saúde Tia Amância, Eliana Miranda e Silva Moreira, sábia nos conselhos e na política. À G1 da Regional Centro-Sul, Regina Helena Lemos da Silva, pelo apoio. À Coordenação de Saúde Mental da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, pela implantação do projeto Intervenção a tempo no município. Aos amigos e colegas do Centro de Saúde Tia Amância, onde desenvolvi a parte prática do projeto. À Equipe Complementar Barreiro, equipe maravilhosa, com a qual trabalhei por muitos anos e tanto aprendi, e de onde trago um caso clínico para este livro. À Equipe Complementar do Centro de Saúde Itamarati, pela detecção do primeiro caso de risco de autismo da rede municipal de Belo Horizonte. Aos professores e supervisores que foram especiais em minha formação; meu carinho a Antonio Ribeiro (in memoriam) e Gilda Paoliello.

8 Aos meus ex-analistas Eliana Rodrigues e André Carneiro. Ao meu analista Eduardo Vidal. Aos amigos e colegas do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, onde fiz minha formação em psicanálise Aos amigos e colegas do Campo Lacaniano de Belo Horizonte, especialmente Ângela Diniz, Fernando Grossi e Zilda Machado, pelas discussões teóricas sobre meu tema. Aos amigos e colegas do IPSEMG, especialmente Laís Valadares, que propiciou meu primeiro encontro pessoal com Laznik. Aos amigos, colegas e preceptores do Raul Soares, onde fiz minha formação em psiquiatria. Aos amigos, colegas e preceptores do Centropsicopedagógico (atual Cepai), onde fiz minha formação em Psiquiatria Infantil. E por último, mas primeiro em meu coração, agradeço à minha família e aos meus amigos: ao Nafa, parce qu on besoin de s aimer pour guérrire. A minha mãe Vanessa, que me ensinou a ir atrás de meus porquês. A meu pai Rubens. A meu padrasto Arlindo. Aos meus avós (in memoriam). Aos meus irmãos Pedro, Flávia, Luciana, Marco Aurélio e Adriano, meu carinho e a esperança de tempos melhores para todos. Aos primos-irmãos Juliana e Roberto. Aos meus sobrinhos e afilhados Pedro, Ana, Matheus, Cecília, Isabela, Arthur, Carolina e Ana Paula, com todo o afeto. Ao amigo e mestre Gil. Aos amigos de todas as horas, alguns mesmo à distância, Si, Fatinha, Vanessa, Waninha, Suzana, Carol, Dani, Simone, Cláudia, Anna Carolina, Chico, Alessandra, Kitt, Daniele, Cinthia, Cristina, Angela, Juliane, Inês, Flávia e Luciana. À eterna criança que habita em mim e que quer saber por quê. E, sobretudo, a Deus, muito obrigada por tudo, pois mesmo depois de tocada pela psicanálise, não deixei de acreditar Nele.

9 Sumário Prefácio, 11 Introdução Partindo de dificuldades clínicas, procuramos avançar teoricamente, 15 1-Autismo e risco de autismo: da psiquiatria à psicanálise: da fenomenologia desenvolvimentista à metapsicologia, Autismo e psiquiatria, Psicogênese ou organogênese: uma questão estéril, Características clínicas segundo a psicologia do desenvolvimento, Autismo e psicanálise, O Caso Dick por Melanie Klein, O Caso Timmy por Donald Meltzer, O Caso Marie-Françoise por Robert e Rosine Lefort, O Caso Marina por Marie-Christine Laznik, Autismo e sujeito: problemas conceituais : questões que o autismo nos coloca acerca do aparecimento do sujeito, O proto-sujeito acéfalo da pulsão, A alienação e a separação, A holófrase e sua incidência na clínica da primeira infância, É novo ver aparecer um sujeito, Voltando a Maurício, A voz da sereia. O manhês e a subjetivação, A música da fala, A capacidade de se surpreender do Outro primordial, O brincar e a constituição do sujeito, A importância da suposição de sujeito na passagem do infante ao falasser, 109

10 3- A suposição de sujeito: caminho privilegiado na clínica da intervenção precoce, O Caso John ou sobre um colo que não consegue sustentar uma singularidade em instalação, Algumas considerações acerca do risco de autismo, O caso Rafael. Será algum dia possível ler entre as linhas?, A debilidade mental na psicanálise, O caso Lúcio ou o que fazer quando se apresenta uma simbiose?, As psicoses não decididas da infância, Aceitando nossa Douta Ignorância, quem sabe possamos ir mais além?, Prevenção ou antecipação?, Considerações acerca do tempo na infância, Um contraponto à dissolução da infância, 145 A título de conclusão, 147 Referências bibilográficas, 153

11 Prefácio Angela Vorcaro UFMG/ALI Há muito estamos familiarizados com a afirmação freudiana de que a coincidência de investigação e tratamento no trabalho analítico é sem dúvida um dos títulos de glória deste último. Entretanto, a técnica que serve ao segundo contrapõese, até certo ponto, à da primeira. 1 Enigmática, passível de muitas respostas, tal afirmação produz a tensão necessária para manter interrogado o trabalho de pesquisa acadêmica do psicanalista. Afinal, trata-se de problematizar as modalidades pelas quais o psicanalista sustenta a alternância entre a exigência clínica da atenção flutuante e a produção de saber que qualquer pesquisa fisga. Trata-se de o psicanalista enfrentar o desafio de transpor a atenção flutuante para ocupar a posição de analisante e nela retornar, indo e vindo. Será possível? Por mais paradoxal que seja, quando o de que se trata nesta clínica e nesta pesquisa é a criança, outras perguntas ganham lugar. A condição de criança mantém flancos de impasse para a 1 Freud, S.(1912) - Cosejos al médico sobre el tratamento psicoanalítico, O.C., vol.xii, Buenos Aires, Amorrortu, p

12 12 ESPELHO, ESPELHO MEU psicanálise, que demarcou a determinação da incidência do infantil nas formações psicopatológicas. Se constatamos que tais flancos são implicados pelas próprias cavilhas que constituem a condição de criança, sendo, portanto, desveladores de sua especificidade, eles deixam resvalar a dificuldade de demarcar seja o que é criança, seja o que é a clínica psicanalítica de crianças. A criança tornou-se mina de ideais preciosos encarnando, no nosso tempo, alentos e mistérios franqueados por uma devoção quase religiosa. Foi delegado à criança responder pelo futuro, função investida desde a polimetria do narcisismo parental até sua atualização pelos dispositivos sociais asseguradores desse projeto. Este fato localiza a criança na fronteira da capacidade operatória da psicanálise, e se confirma em grande parte das aproximações clínicas à criança capturados por esse projeto, onde algo insiste em escapar por mais que se possa descrever ou significar suas manifestações. Quando a formação do clínico é em psiquiatria, as condições de possibilidade de articular clínica psicanalítica e pesquisa são ainda mais complexas. A criança da psiquiatria é individualidade empírica observável, correspondente a uma codificação generalizável e à imputação de sentidos intuídos mesmo que vestidos de científicos. Esta criança psiquiátrica deve ser reconstruída pelo clínico psicanalista para considerar que ela, a criança, é afetada por um inconsciente, e que, portanto, a despeito de coincidir com sua individualidade, lhe é radicalmente heterogênea. Esta imparidade em que o sujeito do inconsciente distingue-se do indivíduo implicará assumir uma prática clínica em que a atenção flutuante visará outra coisa que não a redução das igualdades que os métodos de observação podem identificar. Acresce-se ainda a estas dificuldades as condições que o autismo e a psicose em crianças impõem. Em geral circulando na linguagem, ou seja, definidas pelas posições atribuídas a elas pelos discursos médico e pedagógico, mesmo que façam, com seu corpo, obstáculo à tal adaptação, não chegam a realizar a especificidade da fala: destacar-se, ou seja, diferenciar-se de qualquer outro

13 PREFÁCIO servindo-se da linguagem que é comum a todos. Como, nestas circunstâncias, resgatar algum esboço de subjetivação, de modo a estendê-lo, desdobrá-lo a ponto de produzir alguma estabilidade reconhecível? Será preciso constituir uma operação clínica capaz de resgatar a realidade psíquica da criança 2. E isto é possível, desde que tal operação parta da hipótese de que as manifestações da criança são atos de escrita do texto que cifra a leitura de sua relação com a alteridade. Se seus atos resgatam o equacionamento da sua condição de estruturação que a implica numa impossibilidade do acesso à plenitude do gozo e que intimam imperativamente a desejá-lo sem que nada o assegure, suas manifestações estruturamse como uma linguagem e constituem o texto que ordena essa realidade. Decifrar esse texto comportará situá-lo aquém da imediaticidade de sentido a que se ofereceria e além do que, desta cifragem, pode ser transcrito. Afinal, considerar o defeito de gozo que causa um sujeito desejante implica tomar o máximo de sentido como nonsense. Não se trata, portanto, de resolver o seu sentido, mas de encontrar a lógica do ciframento que esse fosso produz. É o que restitui a dignidade de enigma às cifras constituintes da subjetivação que a criança realiza em seus atos, na leitura em que compõe a própria estrutura de seu funcionamento. A formatação simbólica que preside e sustenta a imparidade entre o ser e a alteridade denuncia o trabalho de leitura e ciframento que inclui, no próprio tecido da rede das suas manifestações, uma leitura da relação à alteridade. Essa incisão do leitor no funcionamento do organismo é condição da fundação do sujeito do inconsciente, condição precipitadora e sustentadora deste. Estas afirmações supõem que a escrita é capaz de orientar operação analítica, como Lacan localiza: o inconsciente trabalha sem pensar, nem calcular, nem julgar, e portanto, o fruto é esse: um saber que só se trata de decifrar, porque consiste unicamente na cifragem. A que serve essa cifragem?[...] Freud chega a 2 Cf. Tratei pormenorizadamente do tema no livro A criança na clínica psicanalítica, Rio de Janeiro: Cia de Freud,

14 14 ESPELHO, ESPELHO MEU indicar, e indica isso, que ela não serve a nada, que não é da ordem do útil, é da ordem do gozo. E o passo seguinte está para ser feito e é justamente aquele que, sendo da ordem do gozo, é nisso que ele faz obstáculo à relação sexual estabelecida. E é isso que implica que a linguagem não faça jamais outro traço senão desse gozo, que esse só atinge não uma relação, mas a um ato sexual por uma chicana infinita. É em que o estabelecimento da estrutura dessa chicana seria uma coisa capital[...] a questão é saber se o discurso analítico poderia permitir um pouco mais, a saber, introduzir isso que o inconsciente não põe: um pouco de cálculo.[...] na interpretação, nisso que nos parece ser o suporte mesmo do sentido, [...] os efeitos são incalculáveis. Não é isso que aloja nosso saber, por conseqüência, se saber, como se diz, é prever. A coisa que é saber do analista, é que há um saber que não calcula nem pensa nem julga, mas que cifra, e que é isso que é o inconsciente. 3 Seja pelas arestas entre pesquisa e clínica em psicanálise, seja pela configuração da criança, seja pela confrontação psiquiatria-psicanálise, seja pelo mal-estar que a psicopatologia da criança anuncia, Isabela se impôs estes desafios no curso de seu trabalho clínico e de pesquisa. Este mérito vale a leitura deste livro que anuncia, ainda, novas perspectivas conceituais nas quais o leitor pode se engajar, pois, cabe lembrar que é conseqüência mesmo do escopo da psicanálise que a autora não tenha tratado de todas as conseqüências destes desafios. Se Isabela, causada pela urgência da clínica, resgatou alguns dos elementos que lhe pareceram suficientes para orientar sua clínica e sua pesquisa, ela faz o convite para novos engajamentos, desdobramentos e inovações. Afinal, a autora demarca que teoria e clínica coincidem na estrutura que inclui o incomensurável que se impõe a cada caso, subtraindo do universo a singularidade do um. Belo Horizonte, julho de Lacan, J. - Lettres de L Ecole n. XV, Congres de L E.F.P., Montpellier, novembro de 1973.